Coleção pessoal de LeidyBrunna

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⁠O Lavar

Escrevo ainda com gotas de água na pele, resultado da breve chuva que me atingiu no caminho da padaria/verdurão até em casa.
As sensações que me invadiram nesse momento a minha adolescência tem uma memória mais vívida, porém a repentina plenitude pareceu ser a leveza necessária para ausentar o luto, a ansiedade dos últimos dias, que é o assunto desse pequeno texto.
A raridade das coisas nos coloca sem saber como processar. Dediquei minhas palavras sobre o período da quarentena e sobre perder há alguns dias atrás para um projeto literário coletivo e me faltou processar como nossa sociedade ocidental, com raras excessões culturais, não sabe lidar com perda, com morte. Prova são as inúmeras obras artísticas das diversas manifestações que se dedicam em mostrar o quanto é péssimo.
Deixar ir significa que vamos ficar e a ideia em si parece solitária demais. Não temos como hábito guardar as emoções e memórias das pessoas quando ainda estamos com elas e revisitar de tempos em tempos. De repente não é possível mais construir e vem o desespero de procurar o que ficou nos baús da mente.
Agora irei secar essa água que veio de cima, talvez não a mais limpa, mas permitiu em meio ao caos o egoísmo de dizer que me senti bem, viva para as possibilidades que buscarei construir. Obrigada pela força renovada pois a luta continua não só por mim, mas por todos nós.

JAZZ

que bom te beijar
é como fosse o sol se refrescando ao mar
e é só começar, depois nem lembramos o que se quer
beijo sortido, beijo que desejo, beijo da mulher

Beijo de todas as formas, barulhentos, em silencio
calmos, tortos, lindos e incendiantes
beijos de todas as formas, amorosas, casuais, sorrateiros
de amores, casos, contratados e de amantes

beijo de quem se deseja, planeja ou beijo roubado
beijo de quem está longe, ou sempre viveu ao seu lado
beijo molhado, mordido, sedutor, bandido e até vampiro
daqueles que nos sugam o instante, beijo partido

beijo pra acender, apagar ou mesmo só de protocolo
beijo dos sonhos daqueles em que sempre sonhou beijar
beijo que fala mais que poemas e acalenta mais que colo
beijos que nos fazem perder o chão e delirar

beijo e só beijo onde tudo começa e nunca tem fim
beijo e beijo gostoso é sempre o melhor pra mim
beijo e beijando sentimos o tudo e vamos além
beijos sonhadores, beijos que começam e terminam bem

Beijando e beijando beijamos o beijo e somos beijados
beijos rápidos, quentes, ou tímidos ou beijos demorados
beijos de chagada, beijos de partida, beijos para uma vida
beijos mortais e beijos fingidos

beijos na boca, beijos no pescoço, beijos no ouvido
beijo pra quem beija é mais que uma oração
beijo que esquenta a boca
beijo que acende o coração

Tenho medo do claro
Deixo sempre a porta aberto, mas não nego quando a fecham.
Amo o silêncio,
Mas não vivo sem os meus mundos.

Música, letra e pensamento.
Tenho problemas, paixões, dilemas.
As coisas.. Ô as coisas...
Vibro até com os elementos.

Mas o costume é criado com uma primeira vez
Que má sorte a minha.
Podendo evitar, coloquei gente na minha vida.
Ganhei vidas e perdi a sensatez.

Absorve, transborda, não entendo.
O que acontece com meus pensamentos.
Perdidos, obscuros, iludidos.
Amando, vivendo sorrindo.
Chorando, sofrendo, pedindo.
Mantendo o controle perdido.
Uma vez

Sinto-me estranha, não me conheço, não sei se conheço as pessoas que conheço ou é mais uma vez só um sonho.
Ultimamente a realidade está entranhada no meu inconsciente e não consigo mais discernir. Quando penso que estou dormindo, um choque me trás até a realidade. Não é você quem eu sempre pensei, sempre quis escrever, e sim você real, você que sorri, que tem mau-humor, que se exalta, se liberta.
Não preciso dizer meu nome, às vezes a voz some quando tento dizer o seu, sua definição. Não espero que entenda, mas peço que tenha atenção, a minha falha me completa, o meu apegar me afasta, o meu medo me aproxima.
Não quero que participe dessa confusão, mas sou egoísta de não deixar você ir. Espero que passe e que não seja um ciclo, que eu olhe pra trás e veja só o mar, e não a onda me puxando sem chão pra apoiar.
Eu quero colher dessa árvore, ver a vida, e poder sentar-me debaixo da sobra, descansar e que minha mente esteja ali, sem pensar em uma serra e dias depois a encontrar.

"Eu quero o tempo do infinito enquanto dure de volta".

Sobre hoje

Uma imensa e vazia utopia
Um emaranhado de sensações dormentes
Descontento-me com a minha súbita alegria
Não tanto bem que esta dor me faz

Uma rosa murcha eu vi
Nunca algo tão belo assim me definiu antes
Sou sim um rompante de emoções, instantes
Por isso deito o pensamento em pé aqui

E ouvi,
Antes de ver, sua voz
Veloz o sangue segue o seu caminho
E eu finjo estar tudo doze por oito
Enquanto o coma e a adrenalina
Invadem o meu corpo
Hoje.

Não vai acontecer
Pois tenho medo de estragar essa frágil amizade
em pedaços
Prefiro inteiro
Inteiramente a você
Me ofereço pra te dar o melhor de mim
E esses apreço ninguém põe um fim!

Aquela bendita rua

Ele passou mais uma vez pela minha rua
Mas desta vez ele olhou pra minha janela
Sua expressão suavizou de séria
Para de quem quer fazer da minha vida a sua.

Não consigo descrever a emoção
Quando ele atravessou o meu portão
Depois de um passo segurou a minha mão
E disse que agora ia dar certo.

Perguntei num sussurro o que éramos
Ele disse que eu tenho o seu amor e que era sincero
"Não precisamos rotular o que sentimos"
Foi o que ele disse quando se aproximou devagarinho.

Deu-me um beijo na face e sentamos na rede
Naquela tarde me senti só dele
Quando o beijo aconteceu eu prometi pra mim
Que mesmo que acabasse um dia
Essa lembrança nunca teria um fim.

Essência

Era uma tarde, era um dia que começou como qualquer outro, numa pracinha abandonada, aparentemente sem vida, apenas com uma grande mangueira que dava sombra, quando ela, Tracy, viu um botão de rosa no chão.
Intrigou-se e foi até onde estava a rosa e a pegou e então sentiu um perfume, uma essência que de início julgou ser da flor, mas se surpreendeu com uma voz atrás de si.
- Perdão, eu a deixei cair.
Ela virou para trás e viu um jovem alto, usando óculos de grau com um buquê na mão e no seu olhar havia uma dor que mesmo sem o conhecer já sentia uma necessidade de arrancá-la dele.
Ele se aproximou e estendeu a mão em cumprimento.
- Meu nome é Daniel e o seu...?
- Tracy. Desculpa ter pegado, é que a vi no chão e me intriguei.
Estendi a mão para lhe entregar a rosa, mas ele recusou.
- Podemos sentar? - Perguntou Daniel apontando para um banco onde havia sombra. E assim foram.
- Desculpa perguntar, mas porque você está com um buquê na mão e um semblante tão triste?
Ele a olhou profundamente por breves segundos e então decidiu se abrir: Fui atrás de um começo e encontrei o fim.
Tracy se comoveu com o rapaz e audaciosamente segurou sua mão para confortá-lo e para sua surpresa ele não recusou o toque.
- Tenho certeza de que ela se arrependerá do fez. Talvez pudesse acontecer algo pior e a vida te poupou.
- Não acredito nessas coisas.
- Pois eu sim. Estava aqui sentada olhando o tempo, sentindo o vento e me perguntando quando eu encontraria a essência da vida.
Ele me examinou e pela primeira vez, sorriu.
- Profundo isso, não?
- Desculpe-me. É que sou meio assim às vezes.
- Sabe, foi muito bom ter te encontrado e como gratidão quero lhe dá esse buquê. Receba como a joia que foram suas palavras para mim.
Ela ficou estática no momento. Nunca recebeu algo tão belo e significativo assim de alguém. Aquele cheiro, aquela voz e aquele gesto nunca mais seriam esquecidos e assim Tracy encontrou não a essência da vida, mas a vida em uma essência.

Um dia olhei através da janela do meu quarto e fiquei estática! O brilho intenso, a densidade, o poder, o luar...
Não sei quanto tempo fiquei ali, parada, encarando aquele espetáculo no céu. Gosto de olhar as estrelas, mas naquele dia, a lua me capturou.
Sentei na cama e vi o vazio a minha volta. Por que? Não sei dizer. O que sei é que olhando aquela lua eu pensei em você.
Você que me deixou, você que nem notou a minha existência, você que nunca me perdoou por só te querer por perto, você que me amou como nunca ninguém; você que me quis e eu não pude ser o seu alguém, você que me perdeu e eu me dei a você...
São tantos vocês, mas não que seja várias pessoas. Você também é quem não conheci e já consigo pensar se a vida vai ser cruel assim de novo.
Então veio a nuvem e escondeu minha inspiração, meu pensamento, a minha lua, e me pergunto: Onde está você agora?

Será que é tão difícil aceitar alguém?
Será que é tão difícil cuidar de alguém?
A paz no coração não paga?
O fogo não consome a palha da solidão?

Será que é tão difícil suspirar?
Esse brilho que vislumbra
Traz uma calma absurda. Vê.

Será que é tão mais fácil divagar?
Será que é tão mais fácil não tentar?
A vida não espera, o medo escraviza
Quando você vai se levantar e seguir a minha?
-Vida

Queria te dar o que há de mais bonito
Queria ser um instante no seu infinito
Queria alcançar as estrelas pra você
Queria o seu amor
Porque o meu eu já te dei.

Era uma vez
O mercador e o freguês

Num belo dia
O chapéu e a titia

Saíram para passear
A brisa e o mar

Um casal de antas
Dois leopardos e dois pandas

Quando de repente
O preá e a serpente

Surgiu um caçador
Um netinho e um avô

Correram em disparada
De manhã, de madrugada

Fugiram do perigo
Eu com tu, você comigo

E viveram felizes para sempre
E tudo que rimar com sempre.

Grita sem ter medo
Imagine um mundo sem medo? Sem dor? Para muitos seria a realização de um sonho, o paraíso, mas veja bem, como saberíamos quão bom é o prazer, os momentos de felicidade, a emoção de uma conquista, se nunca houvéssemos chorado, sofrido, perdido...
O conforto é sempre muito bom e desejável, mas porque eles são tão ambicionados assim? A consciência de que tudo nessa vida é válido, tudo faz parte de um processo, poucos têm em mente, no entanto talvez com uma espreita pela janela, através dessa mensagem, seja possível ao menos o começo de um entendimento.
Quantas pessoas você deixou de cumprimentar hoje? Quantos “eu te amo” estão escondidos e você não teve coragem de mostrá-los? Quantos “perdões” não ditos e quantos não escutados?
Quantos abraços recebidos, sem avisos, que trouxe tanto alívio e conforto? E aquele olhar que desmancha a sua alma e fala mais que as palavras?
A vida só existe com a morte, a dor com o alento, o amor com o sofrer. Cada passo que você faz ou deixa de fazer interfere diretamente no seu futuro, que também não deixa de lembrar do passado. Ou seja, assim como viver, a moeda consiste-se em duas faces.
O que vale mesmo, de verdade, é sentir que cada momento é importante e único em nossa passagem vital. Não há um só objetivo. Às vezes mudar pode nos levar ao mesmo lugar, até porque em certas situações o nome disso é atalho. Então sendo assim, a vida é um atalho? Não, a vida é sua.

Mulheres. Quem são?

Ando pelas ruas e vejo rostos. Sinto o ar se abster do meu corpo assim como as palavras para descrever tais criaturas inacreditáveis. Não as conheço, mas sei que mesmo que sejam estrangeiras, existe uma língua que é universal para compô-las: Mistério.
O clichê, ninguém é igual a ninguém, criteriosamente aqui se aplica. A uma, o poder do olhar, que petrifica o ar, a outra, as mais lascivas e intrigantes palavras, também há aquela que simplesmente surge, sem gesto e sem palavra e zera, faz renascer todo o seu senso de mundo, e claro, as que ninguém sabe o seu poder, até que no segundo seguinte não se consegue mais achar a saída desse labirinto.
E onde estão os outros seres? Tolos, obcecados tolos. Estes espreitam pelas janelas, se armam atrás de muros, mas de nada vale o esforço de evitar a luz. Essa luz inebriante e tênue que atrai antes que se perceba, antes até de surgir, pois só o fato de existir devora, entrega.

Vejo luz
Na ausência da presença solidão
A pior delas
Estando em meio a multidão
Nada me faz sentir
Só vejo você

Eu te vejo
Como a mim
Como reflexo no espelho
Mas como água entre os dedos
Te vejo partir

O amor não é uma simples adição 1 + 1. E mesmo se fosse, o seu sinal negativo resulta tudo em nada.

“Eu não acho que seja possível preencher um espaço vazio com aquilo que você perdeu. Não acho que nossos pedaços perdidos caibam mais dentro da gente depois que eles se perdem. Agora foi a minha ficha que caiu: se eu de alguma forma a tivesse de volta, ela não encheria o buraco que a perda dela deixou.”

Quem olha pra baixo ou pra trás geralmente procura algo ou está vivendo no passado, mas eu, só olho pra frente e pra cima, onde vejo Deus e o meu sucesso.