Coleção pessoal de LehSerra
Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que então nunca fiz parte de clubes ou de associações? Porque não é isso o que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso, é por exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertencesse. Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado com papel enfeitado de presente nas mãos – e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, então raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.
O medo sempre me guiou para o que eu quero; e, porque eu quero, temo. Muitas vezes foi o medo quem me tomou pela mão e me levou. O medo me leva ao perigo. E tudo o que eu amo é arriscado.
O que eu sinto eu não ajo. O que ajo não penso. O que penso não sinto. Do que sei sou ignorante. Do que sinto não ignoro. Não me entendo e ajo como se me entendesse.
Tudo o que dorme é criança de novo. Talvez porque no sono não se possa fazer mal, e se não se dá conta da vida, o maior criminoso, o mais fechado egoísta, é sagrado, por uma magia natural, enquanto dorme. Entre matar quem dorme e matar uma criança não conheço diferença que se sinta.
É assim porque é assim. Existe no mundo outra resposta? Se alguém sabe de uma melhor, que se apresente e diga, estou há anos esperando.
Se o teu beijo doesse e torturasse,
transmitisse um veneno e uma doença,
inoculasse o germe da descrença
e destruísse a fé que não renasce!
Se o teu beijo ferisse e condenasse,
fosse um pecado, um crime e uma sentença;
se eu te beijasse e, numa angústia imensa,
fosse ficando negro de uma face!
Se o teu beijo deixasse ferida
e meus lábios sangrassem toda a vida
e eu tombasse murchando sobre o pó...
Tu serias o horror de toda a gente!
Mas eu te ampararia docemente
e pediria, em troca, um beijo, um só!
Manhã - Soneto XXIX
Vens da pobreza das casas do SUL,
das regiões duras com frio e terremotos
que quando até seus deuses rodaram à morte
nos deram a lição da vida na greda.
És um cavalinha de greda negra, um beijo
de barro escuro, amor, papoula de greda,
pomba do crepúsculo que voou nos caminhos,
alcanzia com lágrimas de nossa pobre infância.
Moça, conservaste teu coração de pobre,
teus pés de pobre acostumados às pedras,
tua boca que nem sempre teve pão ou delícia.
És do pobre Sul, de onde vem minha alma:
em seu céu tua mãe segue lavando roupa
com minha mãe. Por isso te escolhi, companheira.
Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieto e agitado: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração.
O Pequeno Príncipe
Estou aqui não porque deva estar, nem porque me sinto cativo nesta situação, mas porque prefiro estar contigo a estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo.
Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança
Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade
Canção de ninar meu bem
Hoje a lua despiu seu véu
E flutua a dormir no céu
Na canção que de mim nasceu
Meu amado adormeceu
Meu amado adormeceu
Dorme, meu amor
Como no céu a lua
Tu serás sempre meu
E eu só tua
Dorme, amigo, que a poesia
É um mistério que não tem fim
Dorme em calma
Que assim, um dia
Dormirás para sempre em mim
Dormirás para sempre em mim
Atrás da porta
Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
No teu peito, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua
(...) O tempo passou, eu continuei acordando e indo dormir todos os dias querendo ser mais feliz para ele, mais bonita para ele, mais mulher para ele. Até que algo sensacional aconteceu. Um belo dia eu acordei tão bonita, tão feliz, tão realizada, tão mulher que eu acabei me tornando mulher demais para ele.(...)
Antes fosse uma tempestade, com trovões e chuva forte, mas não, é só um dia cinzento, aliás, são todos os dias cinzentos: sete segundas feiras por semana...
Melancolia
É um estado de espírito ou do corpo,
Melancolia é aquele que está na inércia e
Esta é, propriamente a melancolia universal.
Estar ou sentir não faz mal, porém,
Acaba com o ânimo que é a alma.
Ela, a melancolia, se instaura em nossa almas,
Nos trás sentimentos reflexivos,
Saudosismos inexistentes,
Propostas inconcebíveis.
É nela, que escrevo,
É por ela, que penso e,
Principalmente,
Pensando nela,
A explico:
Só se é melancólico, quando o mundo interno
Ao qual vivemos, não é comportado pelo
Mundo externo da maioria dos humanos.
Ela é a prisão, do prisioneiro,
Ela á a Mãe do órfão
E,
Sobretudo,
É a incompreensão do incompreendido.
Estado de espírito
Ando ultimamente assim:
Tão calada
Romântica
Desligada
Pensando
Quem sabe...
De repente...
Destino me prega uma peça,
Dando a felicidade que
Só amostra apontou.
Quem sabe...
Da plena alegria,
Desfrute um dia.
Ou será que não merecia
O sincero e mais profundo
Amor?
O estado de espírito de negação precede frequentemente a ocasião de negar. Antes que tenhas falado, se me és antipático, a minha negação está pronta, digas o que disseres – pois é a ti que eu nego.