Coleção pessoal de layarasarti
Compartilho o que pouco sei do mundo com estes caros leitores que andam percorrer a vista por essas linhas desastrosas feitas por uma autora qualquer que escreve apenas pelo prazer de transpor o que sabe, o que sente e o que vive. Mas o fundamental, pelo respeito a regra básica instituída a mim há anos atrás, de que vale o conhecimento se o mesmo não pode ser passado adiante. É inútil, irrelevante, a graça de ensinar falece sem a petulância da perpetuação do saber; das experiências. Sejam dolorosas ou boas, a emoção de fazer um ser acertar o que antes insistia com tua ignorância cravada escorrendo pelo corpo. Os antigos filósofos já sabiam de tudo, tiram-me todo dinheiro; os filhos; queimam-me a casa e jogue meus bens no mar; afaste-me de todos os coisas materiais. Só não podem destruir o que sei, o conhecimento que obtive ao longo dos percalços e desalentos da vida. Porque no fim tudo é a mesma coisa, não haveria graça, nem vida se não existisse a luta; a tristeza e a dor. Nem sequer haveriam falar de felicidade e se ouvissem murmúrios ousariam perguntar entre si se seria alimento, de nada valeria a vida sem o sofrimento; sem as provas e as lutas. Que doa até a morte e corroa tudo que exista no interior, imagine o pior sofrimento. A perda de um ente querido, dói não é? Eu sei que dói muito, dor que não se pode transcrever de tão complexa que seja. Em um dia tudo está bom, no outro parece que o chão não existe, todos te amparam dando algumas humildes palavras de consolo para descansar o coração. Mas tudo se torna inválido. De nada valeria o esforço se apenas existisse a felicidade, é sentar na cadeira às oito da manhã e estudar o dia todo para aquela prova que tantos almejam em passar. Mas você é o único responsável pelo sucesso da sua vida, se desejas ser arquiteto; médico ou engenheiro. Então lute pelo o que tanto sonha, acredite em si mesmo. Ninguém nunca conseguiu nada sentado esperando o milagre cair do céu, a vitória vem com ajuda de Deus. É claro, mas necessita-se de suor, transpiração e esforço. Não se limite com aquele ditado para incapazes e preguiçosos “Ah, não adianta, não consigo, não sou inteligente” Na verdade, inteligência é de menos, se lutar pelo que sonha conseguirás. Boas coisas acontecem para pessoas boas. “Eu faço de tudo, sou uma boa pessoa e só me ferro na vida”. Há tempo para tudo, tempo para abraçar, tempo de se afastar; tempo de espalhar pedras e tempo de recolhê-las.Olhe no espelho dos teus olhos e examine a sua vida, pense e reflita, se tudo está difícil e nada dar certo mesmo doando todo esforço de si guardado no teu âmago. Acalma-se, para tudo há um propósito certo esquematizado perfeitamente por Deus, ele não desampara aqueles que ama, confie em mim. Por mais que não pareça, tudo vai dar certo no final. Ele está só te preparando e moldando para que no futuro seja uma pessoa brilhante e forte. Deus te ama e te ouve mesmo quando pensa que estás só, quando chora antes de dormir Ele recolhe todas as tuas lágrimas, segurando fortemente em sua mão e hoje Ele mesmo está dizendo. Não desista nunca, seja forte cada vez mais, lute e persista pelo que sonha. No final dará certo, eu sei que sim.
Sabíamos que algo horripilante estava preste a acontecer, pelos sussurros da brisa fui entender. A realidade impiedosa que nos inquietava ao longo do silêncio noturno; apavorados pela melodia assombrosa que o vento fazia ao correr por entre as árvores; chacoalhando as últimas folhas que restavam nas antigas macieiras. O ardor da nossa pele travava o limite da existência de seres viventes correndo a nossa volta. As cortinas azuis sobre as janelas de vidro do meu quarto tremiam suavemente em uma dança quase poética. Ouviam-se os estrondos vindos da rua; as pisadas quebrando as folhas de outono caídas no chão; sombras negras voavam rapidamente, de um lado para o outro, figuras humanas correndo sem medo como estivessem se divertindo ao redor da casa. Teus lábios infrenes procuravam os meus, em um beijo sorrateiro e apertado enquanto desgastava-me de temores reais que nos espreitavam. Tuas mãos tateavam a minha face preenchida de medos e chamuscada de lágrimas apavoradas. Acoplavam-se ao meu terror infausto, nossas mãos se juntavam e os dedos se entrelaçavam em um encaixe perfeito, olhava-te e sabia muito bem o que queria, mesmo que nossos corpos viessem a falecer, o que nos unia não podia ser exterminado, seríamos eu e você para todo sempre, nem a morte podia destruir. Disse-me bem baixinho ao pé do ouvido que tudo daria certo, sairíamos vivos desta, mas nós dois sabíamos que era apenas uma daquelas mentiras que se contam antes de um desastre acontecer, uma mentira bonita bem elaborada e pacífica. A nossa sede de amor não cessava, mesmo no pior momento em que me encontrava, contraía meus lábios com força aos teus, segurava-te em meus abraços quietamente e lhe lançava mais alguns beijos, estava preste a deitar-me contra ti e um rangido suave saiu da porta da sala, passos morosos estavam a se escutar, o ranger do assoalho de madeira nos avisara a presença de visitantes incômodos, renascia o terror guardado em mim. Nesse filme de suspense que ao acaso fomos escolhidos para sermos os protagonistas, corremos para o canto da parede ao lado da arca cor de madeira, aninhávamos nossas mãos e esperávamos a chegada. A maçaneta foi pressionada e a porta sendo aberta bem devagar, lá estava o nosso medo a nossa frente, um homem alto com uma jaqueta preta e uma máscara negra sobre o rosto, empenhando na mão esquerda uma faca de corte. Como bichos assustados, era assim o nosso presente momento, agarrou-me pelos cabelos e jogou-me no chão com toda a força, destroçava-me com socos pesados na barriga enquanto gritava de dor e olhava meu amado gritando junto comigo, derramando as mesmas lágrimas que eu derramara. Vi-o correndo a minha direção, mas foi afastado com um soco violento no rosto, outro homem passou pela porta, vestindo os mesmos trajes que o outro. Falecendo aos poucos, vi-o sendo torturado pelo outro homem, antes de dar adeus a este mundo, olhei-o amavelmente e disse bem baixinho “Eu te amo” Pude ouvir os últimos gritos dele e apaguei para sempre.
Eu deveria estar sorrindo, mas não estou, eu deveria estar feliz, mas tampouco chego perto disso. Esse é o tal problema que me deixa em contradição, sorrisos extintos, felicidade passageira. “Mas o que foi garota, cadê seu sorriso?” Em tentativas perdidas, parecendo que estou verdadeiramente feliz, pontadas e socos perpetuando-se no estômago. “Querida melancolia, voltaste tão depressa que mal percebi sua saída.” Condeno-me por atitudes infaustas, esvaziando-se pouco a pouco, tão errada sou, por esse meu jeito, indecifrável e sistemática, totalmente problemática e com esse coração tolo que por qualquer coisa fica murchinho, todo desajeitado. Uma palavra mal interpretada, a entoação, frases mal elaboradas, falta de preposições ou complicações com o meu “eu”. Eu deveria […] Deveria fazer tantas coisas, algumas mudanças cairiam bem, desmentindo meus próprios dramas banais, insisto tanto neles que me esqueço de viver, taí o erro que modifica os resultados finais, não, de jeito nenhum, não há um erro, eu “sou” o erro.
Tranquila e suave como a brisa da tarde, via-se sempre envergonhada por tudo, soltava uma risada alta e suas bochechas gordas já estavam coradas. Preenchida de timidez, caminhava confiante, cantarolando com os rouxinóis pelas ruas, “Que moça bonita.” Todos pensavam alto. Um fino traço preto nos olhos e uma grossa camada de rímel completavam tua beleza esplêndida e rutilante. Saiu pelas ruas espalhando beleza aonde quer que passasse . Graciosa, encantadora e formidável, possuía um coração cheio de ternura e anseios, nunca havia amado, secretava teu coração esperando alguém que o despertasse.
Arrumou-se, enfeitou-se com um laço amarelo, toda bela. Era um delicioso dia de outono, as ruas cheias de folhas amareladas caídas no chão, um belo tapete. Andava em passos morosos e deliciava-se com o doce som que as folhas faziam quando eram amassadas pelos pés. Cantando baixinho, pisando firme e passando as mãos nas madeixas em uma tentativa inútil de arrumar os cabelos, sedosos como sempre, apenas ela que não acreditava.
Zé caminhando pela mesma calçada tranquilamente, embeveceu-se com tanta beleza e formosura nunca vista antes, passou ao lado da moça, olhou em teus olhos e amou a primeira vista. Tomou o hábito dela para si, todo dia fazia o mesmo percurso, no mesmo horário. Viu-a novamente e amou a segunda vista.
E foi no 5° amor, não aguentou mais, a moça cada vez mais bela, vestia um corpete creme com fitas azuis acoplados a um pano florido que vinha até as coxas, um lindo vestido primaveril e uma tiara azul clara na cabeça. Lábios carnudos rosados, tanta beleza que mal podia ser descrita por simples palavras. Zé queria conhecer teu interior, teu jeito, tuas manhas. Ansiava pelo teu amor.
Não sabia, mas já despertara o amor da moça, nunca acordado antes, teu coração disparava quando passava ao teu lado, enchia-se de arrepios só de olhar em teus olhos. Na 5° vez não suportou, com os lábios rosados e melados, olhou Zé de soslaio e deu-lhe um beijo. Zé envolveu teus braços ao corpo dela, apertou- a e não soltou mais
As notas musicais saindo pelo quarto escuro revelavam a menina escondida no meio da bagunça total, era assim, quase nada, quase tudo. Vivia sempre a beira de sentimentos explosivos, não por condenação, mas por vontade própria, adorava aquele gosto da adrenalina correndo em suas veias, o corpo quente, suando frio, desgastando seu fôlego, a sensação nunca foi uma das melhores, mas isso a saciava por completo. Transgredindo o sorriso que quase por momentâneas vezes aparecia, as escolhas erradas teriam arrancado o sorriso fácil de sua face, o doce que existia se tornara em algo amargo indesejoso, não fazia bem ao estômago, muito menos ao coração. As partituras recém escritas cautelosamente sobre o piano, ainda exalava o cheiro de grafite desgastado, a maçã mordida deixada de lado no canto. Os cachos completava-lhe a face corada coberta pelo sol transcendendo no ocidente, as bochechas tornando apenas manchas rosas, os olhos exaltados marcados por traços retos e obedientes. Contorcia-lhe cada vez mais, a barriga lhe causava dores imcompreendiveis, as borboletas inquietas no esconderijo, voavam para todos as cantos, queriam sair, abandonar o lugar, antes seu lar. As respostas que precisava estavam extintas, as dificuldades havia lhe ensinado algo quase raro, com papel e caneta tudo poderia ser feito, dar vida a qualquer coisa, as palavras fluíam, saiam com facilidade, sem preconceitos, sem problemas, sem defeitos. O quarto mal iluminado trazia pra si um ar de serenidade e dúvida, os raios solares batiam no vidro embaçado da janela. As vozes fracas ecoavam em sua cabeça, uma súplica, pedido de socorro, era voz em uníssono do seu coração junto com a certeza, sonhos e seus medos, era real o que estava acontecendo, pensou que louco seria se fosse ali apenas uma crônica criada entre cafés e muffins, as palavras não ditas, sem entender, as dores compactadas e guardada no coração, o sorriso meigo voltando ao seu lugar de origem, os olhos perolados claros semicerrados focava em algo, em um ponto deserto perdido pelas ruas ensolaradas. Tudo ia ficando mais claro, os pássaros voltavam a cantar pelos girassóis, as árvores fortaleciam-se com vitalidade, as delícias matinais, o sono da tarde, tudo se encaixa, não era perfeito, estava longe disso, mas pra ela, era diferente, era mágico, transitava entre formidável e magnífico. No silêncio inapto do quarto, voltou-se para as partituras, desenhando embaixo, no final da folha, uma pequena gota de lágrima, caída e perfeita, sem tristezas, apenas felicidade, assim pode ser interpretado, criado e entendido, era isso, apenas isso, completa, complexa e destemida.
Saía da boca palavras infaustas e melódicas, “Está tudo bem”. Meu amor perguntava “O que houve? Conte-me pequena, deixe teus temores, venha cá e deliberemos sobre o que te deixa tão inquieta, sabe, estou aqui para te ajudar, aconchegue-se no meu colo, mas pelo menos venha.” E por mais uma vez via-me contando lorotas para mim mesmo.”Estou bem, era só um pouco de cansaço e sono“, engodando-me mais e mais, exausta desse jogo de é ou não é, mentia descaradamente, a vítima era eu, sofria e pagava o pato.
Logo no alvorecer, atenuada a uma massa humana na cama, debulhada em dores mal resolvidas e outros afins, cansada de viver passando pela tangente, mal me viu e meu amado saiu correndo gritando meu nome em minha direção, socorrendo-me desse pesadelo, fitou em meus olhos e começou a dizer ao pé do meu ouvido. “O que foi pequena, o que aconteceu? Conte-me, tu sabes o quanto não suporto te ver desse jeito, que tristeza é essa que tanto te tortura? Meu amor, preocupo-me tanto contigo e mesmo assim não se permite a minha tentativa de ajudá-la, chega disso por favor, deixe-me te ajudar”. Rendi-me, cansada disso, dizendo com a voz rouca. “Amado meu, nada corre bem, tudo dá errado, minha vida está bagunçada, apenas abraça-me neste momento, tudo que minha alma anseia.” Agarrada ele, pude sentir minha existência tranquilizar-se cada segundo que passava, segurando fortemente em teus braços, lasquei um beijo em teus lábios finos e fui esquecendo desse pesadelo, meu amado tão afinco a mim estava há meu lado sempre, não havia nada melhor, apenas ele.
Um passo de cada vez, sem recuar, degrau por degrau, vamos devagarzinho nas pontas dos pés, segurando as mãos. Sem pressa e receios, deixando-te na frente, cortando os perigos, limpe o percurso, acenda a luz, tire as pedras do caminho para que eu não venha tropeçar. Por favor, meu amor, cuide de tudo, vá preparando nossas coisas deixa tudo certo para que nada nos atrapalhe. Hoje pela tarde tu chegaste cheio de alegria dizendo-me que já compraste nossa casinha, sorridente o meu amado. Ávida por um beijo, selei nosso futuro, cheia de esperanças e expectativas que estavam se cumprindo dia após dia. O abracei choramingando, tanta felicidade de estar realizando meus profundos sonhos, meu bem querer apertou fortemente segurando meus cabelos pelas mãos. Docemente singela amada por um nobre rapaz de um coração encantador, deixava correr as emoções nas veias, recorria ao passado nunca imaginando esse meu presente tão formidável, felicidade sorria pra mim, passou pelo meu lado, então em um ato heroico sem pensar, agarrei-a e não soltei nunca mais.
Regras, regras e mais regras, é assim mesmo, aceitando essa vida manipulada por outro alguém. Culpada sempre sou, atitudes minhas julgadas sempre como erradas, minha personalidade enganada, não me aceitam, desprezam o meu gene e odeiam meu cabelo. O meu melhor é sempre o pior, sem escolhas, mas todas essas burocracias me ferem por dentro, toda corroída, minha ferrugem grita, apenas feita de latão sem utilidade nenhuma, só mais uma coisa para atrapalhar. Procurando saídas, todas as portas fechadas, isolo-me deste louco mundo que me despreza, pensamentos só aparecem para torturar incessantemente. Desfalecendo pouco a pouco, minha vivacidade se escapando, tentativas de autocontrole são inúteis, enganando a mim mesma, deixando-me entorpecer com uma realidade imaginária. A estrada chama meu nome, desejo partir, mas eu devidamente não posso me atrever, ousadias há essa hora não me fariam bem. Perdoe-me minha existência desconcertada, culpo-me por tudo, a errada sou eu, sempre fui.
- Senhorita, o que desejas?
- O de sempre, por favor.
- Desculpe-me, poderia especificar?
- 2 doses de desapego e 1 de desprezo.
- Porque és tão amarga?
- Acredite já fui mais doce que o mel, amava muito, mesmo assim ganhava só desprezo e mais desprezo.
- Não faça isso!
- Fazer o quê?
- Não se torne fria.
- Tarde demais meu caro, já sou.
- É uma pena senhorita.
- Por quê?
- Tão jovem e bela e já estás com teu coração congelado.
- Uma hora ou outra teria que acontecer, só adiantei um pouco.
- E dói?
- O que?
- O coração?
- Guardei ele a 7 chaves para nunca mais sofrer.
- É muita mágoa?
- Acertou.
- Não queria estar na sua pele.
- Nem eu
Limitando-me a poucos adjetivos, deixei meu “eu” tão singular e particular satisfazer suas vontades. Vá ser feliz se quiser, sorria se precisar, deixe estas psicoses banais. Levante-se pela manhã, comece a cantarolar bem baixinho e devagar, depois suba o tom, vá arriscando em notas altas, sem medo. Faça teu café acompanhado de deliciosas torradas, engula tua cafeína esboçando sorrisos, depois caminhe até o jardim e esvazie-se, livre-se, liberte-se, não guarde mágoas passadas, elas são passageiras. Plante uma rosa no centro do jardim, faça uma cerquinha para protegê-la, dê-lhe amor todo dia e não a esqueça, aproveite o sol e dance com os rouxinóis cantando com mais afinco, levite, permita as carícias praticadas pelo vento, peça pro mar te banhar e desmanche-se em sorrisos singelos, felicidade duradoura. Alugue um filme, faça pipoca e o chame, abrace-o sem pensar no amanhã, impeça discussões tolas, permita a alegria transparecer, deixe-a vazar até inundar. Viva cada dia um pouco mais, permita-se experimentar coisas novas, não se apegue a tristezas amargosas, são tão cruéis, distancie delas mais e mais, passe longe e não meça distância. E quando estiver satisfeita, deite-se sorrindo e comece tudo de novo, que se faça um ciclo, sorrisos nunca foram demais.
Era só mais uma tarde de verão qualquer, antes do crepúsculo, as ondas do mar iam e viam calmamente sem restrições, um som tão delicioso de se ouvir, fazia carícias maravilhosas em ouvidos apurados. Tudo calmo e tranquilo, robustas gaivotas sobrevoavam pela praia, faziam um espetáculo solene, tão bonito de se ver, giravam em círculos, iam ao alto e desciam, era assim toda tarde, depois iam para bem longe e sumiam no horizonte. Perto da praia calma havia um parque tão lindo cheio de árvores gigantescas e velhas, algumas tinham o tronco grosso, largo, raízes e folhas veludosas estupidamente lindas, tantos tipos diferentes, árvores magras, gordas, pequenas, grandes, uma variedade. Existia uma que era bem mais especial, ficava no centro do parque, era a mais alta e fazia uma gigantesca sombra, ótima para passar a tarde toda sentada debaixo dela e lendo algum livro, em volta havia uma ciranda de orquídeas, lilases, amarelas, rosas, tudo tão maravilhoso que se enchia os olhos de encantamento só de ver, bem perto da árvore magnífica estava um pequeno banco do parque, todo de ferro com formatos florais no canto. Desceu da gigantesca árvore, um curioso animalzinho de patas pequenas e pele cinza amarronzada, um adorável esquilo em busca de alimento, parou em frente ao banco onde estava sentada uma garota.
Tão bela, era majestosa, olhos claros, pele pálida e alva, cheia de doces sardas nas bochechas, vestia um belo vestido de verão laranja, largo e leve. Engasgava-se em risos enquanto lia um livro de capa dura, aparentando ser antigo. Gostava dessas relíquias, cada verbo no pretérito mais que perfeito sempre amou, toda semana ia pela menos uma vez na biblioteca e pegava o livro mais velho, o cheiro de mofo a deixava entusiasmada, aproveitava cada frase, ora sorria com a história, ora deixava o riso correr solto, ria com graça com jeito majestoso que poucos têm. Vivia no passado embebedando-se de histórias antigas, ao mesmo tempo fugia dele, queria esquecer teu pretérito amargoso, cheio de renúncias, em que teu orgulho falava mais alto.
Pedro, Pedro, esse nome ecoava em sua cabeça, passava milhares de vezes todos os dias, por mais que tentasse esquecer, sair de órbita e entrar nos livros, começava a imaginar como seria se fosse diferente, se a escolha que pensasse ser a certa fosse à errada, tudo desmoronaria em cima de sua cabeça, lia um parágrafo inteiro e relia cinco vezes, tua concentração abria caminho para Pedro.
Voltava ao livro e esquecera-se do mundo, Pedro tão valente, a vinte metros do banco atrás da árvore, observava Ana cheia de vigor lendo. Garota tão ingênua, notou teu amado e soltou altos suspiros, não se sentia pronta para o temido encontro, não estava, por mais que entendesse, não queria aceitar, muito menos para voltar atrás. Teu orgulho gritava, vendo Pedro achegar-se a ti, cada vez mais perto. “Corra, depressa, fuja sem olhar para trás, tampe os ouvidos e secrete-se em algum lugar”, dizia a si mesmo, sem sombra de remorsos e traumas. Correu até as pernas não aguentarem mais, os pés queimavam e as coxas doíam, gotas de suor desciam pela nuca, chegou à praia e jogou-se na areia macia até seus nervos esfriarem.
Amava o modo de como a luz do sol perpetuava em sua pele, o jeito que o vento soprava, e a música feita pelas ondas, por um momento quase se esquecera o motivo que a fez chegar aqui. Sabia que estava errada, mas não queria, dizia em prantos para sim mesma: “NÃO, não posso fazer isso, estou errada, mas não me entenderia, não saberia lidar, eu tão cinza jamais poderei compreender o rosa, tal cor que me lembra de amor, afeto, sensibilidade.” “Desculpa, não consigo.” Abaixou a cabeça e os cabelos aninharam-se sob seu rosto, ressentida por ser tão dura consigo mesma, sentia-se incapaz e cruel com teu bem querer, amava Pedro secretamente, mas não queria revelar.
Afagos no cabelo a consolou, teu amado foi atrás de teu bem querer, cansada de resistir, se entregou de vez, esqueceu esse teu orgulho concentrado, dedos entrelaçados, corações em um só palpitar e lábios unidos. Pronto estava feito, de tanto ler histórias antigas de amores, teve coragem de fazer a sua própria, destemida, sim, ela é, e hoje em vez de pegar outras histórias na biblioteca começou a fazer a sua que iniciou com um nobre ato de coragem e terminou em um final feliz, que amor, que felicidade.
Vi-me vazia por dentro, a ausência de algo ou alguém me matara há pouco tempo atrás, hoje não digo o mesmo. Iniciei o meu caminho e percorri longos trechos, por vários momentos senti-me abandonada e seca, largada a própria sorte, vi a felicidade passar por mim diversas vezes, tão debilitada não tive forças para agarrá-la. Presa em um mundo surreal e exagerado, minhas utopias vacilavam a cada pisada, os pés doíam e queimavam, o calor forte me torturava, suor e os cabelos agarrados na nuca. Os pássaros não cantavam com o mesmo fervor, o crepúsculo perdeu sua magia e as manhãs já não eram as mesmas, as petúnias e margaridas não tinham o mesmo cheiro. Oh céus! Definhando um pouco mais a cada dia, caindo e ficando em algum buraco do meu subconsciente, não sabia o que pensar. Tão desiludida com a vida, vi meus sonhos murcharem ao meu lado, pobre esperança, jogada pelos cantos, tão fraquinha e débil, mal podia respirar. Fui deixando isso, abandonei esses pensamentos, me segurei em algo e peguei força, subindo, saindo do buraco que me encontrara presa, me erguendo novamente e cá estou eu com caneta não mão direita e papel debruçado sobre as coxas, fazendo um simples relato dos meus sonhos e esperanças que hoje andam tão livres, cantando e dançando pelo campo, que belo espetáculo.
Logo eu tão simples e cinza, vi-me encabulada rodeada de cores, rosa, vermelho, azul, verde, lilás, tudo tão mágico, resplandecendo encantamentos algum dia proferidos, ouvia-se cantos suaves saindo de algum lugar, a voz se escondia por alguns becos, não se podia achar, alegrei-me apenas em ouvir. Por um longo instante tinha achado que me perdi em algum arco-íris qualquer ou passei a visitar a lugares mágicos desconhecidos, só então percebi que não era nenhumas das hipóteses sugeridas, não tinha saído do lugar, estava bem no meu quarto deitada na minha cama, dei lugar aos meus loucos devaneios, sai de órbita por longos 10 minutos, tá vendo, olha só o que me acontece, é só pensar em você que acabo saindo deste mundo, boba eu, tola eu.
Sinta a energia correr pelo corpo, dancemos meu bem, conforme o compasso deixe o ritmo nos controlar, prendendo nosso vazio, entrelacemos nossas mãos em meio à calada da noite, o burburinho das vozes ecoadas na noite transitando entre nosso silêncio. Regue-me em beijos e sussurra amor nos meus ouvidos, seja doce e suave, entenda o meu desgaste emocional, seja paciente, minhas complexidades te ferem. Já fui muito doce, mas com as tormentas aprendi a ser fria e azeda, perdoe-me Zé, perdoe-me por tudo, sou tão complicada, ora sou feliz, ora entristecida, vou variando incessantemente, não me prendo a definições exatas. Sabe Zé, é esse meu jeito louco e doentio, mas, esqueça isso, chegue a mim e calemos nossos dramas e problemas banais, esqueça tudo. Tua energia oscilando atrás da minha, ofegante, viro-me, abraça-me Zé, só não desista de mim, chega de eu e você, eu quero nós.
Junta estas tuas lágrimas desinibidas e as joga em meio ao relento, despeja até o sol nascer e os grilos cantarem, corra dramas preconceituosos sobre a carne límpida e desgastada, ofereça-te felicidade e a resgate de uma viagem ou de um mundo perdido. Esqueça dessas dores mal interpretadas, se joga de vez nesse trem de alegria, vai, não conte problemas. Faz uma parada em um desses cybercafés e conte piadas desprevenidas, à noitinha usa um daqueles teus vestidos floridos de um rosa chá encantado, penteie com gosto enquanto solta risadas tolas, faça um penteando natural e coloque uma fita amarela fazendo um laço na ponta da cabeça, calce a sandália verde surrada pelo tempo, use teu perfume floral em cima da estante, atreva-se pelas noites, sem medo, com teu sorriso à mostra, corra pelas ruas atrevidas, iluminadas, curtas e sinta. Sentia-se tão só, deixa teus devaneios e vá ser feliz, sorri pro mundo que ele te espera, te aguarda e te move.
Um coração dilacerado e o resgate.
Nobre garota dos olhos de jabuticaba que escondia tormentas passadas secretadas somente a ela, tinha decidido de vez não sofrer mais, cansou das idealidades não respeitadas, arrancou teu coração em um só movimento brusco e rude, guardou em um baú com detalhes de ouro e prata, trancou a sete chaves, todas umas diferente da outra, na ponta havia um pequeno coração cravado de cor escarlate, um arame farpado envolveu todo baú e colocado dentro de uma caixa maior, trancou e o jogou no mar, foi afundando calmamente, indo para o fundo do oceano, escondendo-se. O vento lhe fazia carícias suaves, teu coração por mais doce que seja foi jogado no mar, só o mais nobre cavalheiro o resgataria e tomaria para si, por mais que odiasse fazer isso, era a coisa certa, era o que tinha que ser feito. Fantasiava todos os dias, que um dia apareceria alguém que salvasse teu coração, ria com gosto e chorava esperanças, tão só e solitária, perdida em seus dramas banais que lhe enchiam a cabeça durante as matinas e os crepúsculos. Em uma noite singular, pôde ter ouvido o barulho de uma pedrinha titilar em tua janela, agarrou-se no lençol florido, e colocou uma mão sob teus olhos, amedrontada, imaginou coisas insanas e de um mundo longínquo, uma segunda pedrinha foi lançada e em seguida viu a sombra de mãos refletindo na cortina, deveria ter pelo menos um ato de coragem, arrancou-se da cama, foi abrindo as cortinas, com as mãos tremendo incessantemente, fechou os olhos por alguns segundos e depois de a cortina estar toda aberta, foi abrindo os olhinhos devagarzinho. Oh céus! Difícil de acreditar, se alguém lhe contasse acharia que era lorota, mexeu nas mechas de cabelo e ajeitou o sorriso, jorrava esperança pelos teus olhos, voltou a acreditar no amor, teu coração fora resgatado das profundezas do mar. Zé estava todo molhado segurando o baú na frente dela, olhou-a no fundo dos olhos negros e balbuciou algumas palavras, eternizo-te Zé. Meu rapaz corajoso e destemido que se atreveu a explorar as profundezas do mar imaculadas, cura meu coração e o guarde contigo, beije-o suavemente e não o abandone. Sussurra amor nos ouvidos para quem deseja ouvir, grita felicidade e esqueça esse passado doentio e escrupuloso que andara me aterrorizando por várias noites inquietantes, se esconda pela casa, atrás das portas, perto das roseiras ou debaixo dos pisos, mas se esconda, para que minha ânsia de te encontrar todos os dias pela manhã não suma, que seja contínuo, quando pensar que estás atrás de mim, sentir teu calor chegando perto do meu corpo, entrarei em uma vertigem exagerada, duplique tua fragrância na cama, levantes primeiro e faça café, você ou eu, com pouco açúcar, nossa vida já é doce demais. Saia para trabalhar e prometa-me voltar e eu prometo te esperar, aguardando você, de certo e inquietante, tal amor acompanhado e de tal ternura, eu tão singular me vi plural.
Vamos deixar as coisas fluírem, que tudo corra leve, sem problemas, sem preceitos. Acorde menina abra os olhos e desperte para a vida, vamos comprar uma casinha pequena, juntarmos nossos livros em uma estante, juntemos nosso amor, nossos problemas, nossas tristezas. Nos amansaremos com o tempo, larguemos de vez nossas dúvidas, engole de vez esse teu coração orgulhoso, chega de traumas e hipocrisias, apenas sinta. Se compacta a mim e nunca mais vá embora, deixa teus medos de lado, quero te fazer feliz. Permita-me acariciar tua face pela manhã, cheirar tua pele e sentir teu corpo hesitante, tranquilize-se meu amado, ajunte-se a mim. Te faço comida quando quiser, te dou meu amor se tu quiseres. Deixa o sol invadir o quarto pela manhã, passando pelas cortinas entreabertas, o sol despertando-me do sono matinal, te acordarei com o cabelo desgrenhado, cada tufo fora do lugar, darei a ti beijos incessantes, meu amor, deixa tudo existir, deixa acontecer, sem dramas. Abraça-me e, por favor, não solte mais, segure em minha mão e não prometa felicidade, só esteja comigo e já me satisfaço. Acreditemos no nosso amor, espalhemos pela casa quadros e flores, compraremos um cachorro e colocaremos o nome de scooby, vamos amadurecendo e crescendo cada vez mais e mais, que nosso amor singelo vá aumentando. Corra para cá, sem pensar, vem me amar, sem hesitar, que demore, ou seja, rápido, mas que venha e que seja.
Havia uma história bem antiga que um dia alguém me contara quando eu era pequena, o tempo foi passando e eu nunca esqueci.
Era uma vez uma linda garota de cabelos castanhos, longos, ia até a cintura, os olhos eram da cor do mel, teus lábios eram macios, carnudos e doces que ninguém nunca provara, tinha a pele branca e as bochechas coravam facilmente, era desinibida, festiva, alegre e de bem com a vida, tinha todas as qualidades que qualquer garota sonhara em ter.
Na mesma cidade vivia João, um rapaz atraente e bem educado, 26 anos, inteligente e engraçado, gostava de bossa nova, era perfeccionista, amava comida mexicana, andava desacreditado no amor.
Anabelle cheia de encantos, moça bonita não fazia fita, morava em uma casinha de campo com seus pais, longe do centro da cidade, por mais que amasse morar com os pais, a pobre garota perdia-se em teu pensamentos a noite fazendo planos de se casar e ser feliz, fazia tantos planos que se esquecera que mesmo no auge dos seus doces dezesseis anos não sabia o que era amor. Olhou-se no espelhou e viu-se penteando os longos cabelos lisos e sedosos, quase se perdeu no tempo, disparara a porta, iria pegar o ônibus das 08:00h am.
João com todos teus problemas e dores levantara-se da cama, era um rapaz com um nobre coração, gostava de fazer mimos a quem amava, mas pobre coitado, sempre dava teu coração a pessoas erradas, e deixou isso de lado, arrancou teu coração fora e escondeu, em um lugar bem fundo e escuro para que não achassem tão facilmente. Já atrasado, saiu de casa e pegou o ônibus das 8:00h am.
Anabelle entrou e sentou na penúltima cadeira, passara do lado de João e teu coração pequeno disparou, ele com teu jeito poético e simplista fez o coração da garota bater mais forte, o que nunca lhe a acontecera. Pensou consigo: Que rapaz nobre e elegante, dever ser um cavalheiro encantador cheio de prosas e versos.
João se sentara em uma das primeiras cadeiras, quando viu Anabelle passar ao teu lado colocou um sorriso na face, encantou-se com tanta formosura disse para si: Meus olhos estão enfeitiçados com tanto encantamento, és tão bela, deixo meus devaneios, a nobre garota deve ser noiva e estar de casamento marcado.
Anabelle cheia de doçuras mal prestou atenção na aula, João lhe despertara um pequeno amor, passou o dia pensando nele, pensando se algum dia o encontraria novamente. E um dia desses qualquer, em que o sol já nasce quente e o dia amanhece sorrindo, João andava pelas ruas da cidade e esbarrou em alguém, era ela. Apresentaram-se e conheceram-se, os dois se amaram logo de cara, trocaram emails e telefones para não se perderem. João ligava todos os dias, não conseguia ficar sem ouvi-la, a voz dela era doce e suave e lhe trazia calma, com o tempo a pequena garota achou o esconderijo do coração de João e tomou para sim, cuidava tão bem e enchia o de amor.Apesar de se amarem tanto, um era diferente do outro, Anabelle gostava do azedo, do frio, era simpática e falava com todos, João gostava do doce, do quente, era tímido e tinha poucos amigos. Eram diferentes em tudo, mas se completavam, um não vivia sem o outro. O tempo correu e a garota com o teu sorriso sincero descobriu o que era amor e teus planos feitos pela noite se concretizaram, foram muito felizes juntos, ela se formou em medicina ele se tornou um ótimo engenheiro, tiveram 2 filhos, Ana e Carlos, contaram a eles a história dos dois, e foi se passando de geração em em geração, nunca houve casal mais apaixonado que aqueles dois, se amaram até o último suspiro.
Sempre meu
Tua sina, desatina
Formosa como um
Botão de rosa
Dizia em brisas.
O cheiro no cabelo
Era ameixa ou camomila
Assobiava ao vento
Nosa junção, nosso elo.
Carícias e abraços
Olhares e sorrisos
Era o esmalte vinho
E o batom desinibido.
Teu cheiro exalava
As lembranças vazias
E o presente acabado
Descendo pelo ralo.
Meu e teu
Nossa rosa murchara
Vagando desenfreada
E pelo mundo andara.
O futuro esvaindo-se
A água quente
Impura ou pura
Tudo rente, tudo sente.