Coleção pessoal de lavinialins
O problema não é enxergar a realidade, mas sustentar o "horror" que se percebe no encontro com ela...
A gente foge. Foge porque não suporta encarar o real. Não suporta porque suportar tem a ver sustentar, conviver com ele, e dar corpo ao que, antes, parecia não existir. As sombras que povoam o outro e a nós mesmos/as são presença constante. Não dá pra fugir delas. Só não vê quem não "quer". Cada um/a no seu tempo...
"Há duas belezas na poesia:
a que todo mundo vê
e a que eu vejo.
Na primeira, o belo é a rima.
Na segunda, a minha sobrevivência".
Todos os dias. Pouco a pouco. Em silêncio. Estamos adoecendo.
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Estamos adoecendo enquanto cuidamos de outras pessoas. Estamos adoecendo porque, sobretudo, cuidamos de outras pessoas enquanto deixamos de cuidar de nós.
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Que matemática é essa?
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Nos ensinaram a dividir os brinquedos, sem nos perguntar o impacto disso em nós. Nos ensinaram que pessoas "boas" são as que servem, sem cessar. Nos ensinaram que o perdão deve ser ofertado a todo tempo, mas que os pesos e as medidas, quando se trata de nós, nem sempre são os mesmos.
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O mundo espera de nós. Nós exigimos de nós. E a gente vai ficando aos pedaços. Por vezes, tão pequenininhos, que a gente deixa de se ver. E, por isso, vai sumindo, e sumindo.
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É preciso revisitar os limites do doar-se. É preciso revisitar-se...
Vivemos na escravidão - daquilo que somos, do que nos disseram que somos, e do que acreditamos que somos. Somos, em um número tão diverso, mas nos consumimos na tentativa de ser um só. Queremos andar em linha reta, mas esquecemos que o terreno onde pisamos, por vezes, é arenoso, movediço. A gente cai, e quando cai, investe mais tempo cobrando a conta da gente, tentando entender como caímos, mas pouco queremos saber do que está por trás do que nos levou ao solo. Há momentos em que encontrar o chão, quando numa queda, é forma de acalentar as dores de quem parece andar demais, sem pausa. Há quedas que são descanso. Não tente entender tudo. Não busque respostas para todas as coisas. Atente-se às perguntas. Tem mais nas entrelinhas do que não se sabe do que naquilo que se supõe saber...
A gente quer atalhos. A gente quer fórmulas prontas. A gente sente uma necessidade quase que desenfreada e tentadora de acelerar o controle remoto da vida, só pra ter certeza do que vem depois.
Mas, não dá. Isso não está disponível. Nada disso está.
Se você quiser saber o que vem depois, vai ter que esperar. E, nem sempre, deitado ou sentado. Vai ter que entrar no jogo, dançar a música, se sujar. Vai ter que investir. Vai ter que fazer força. Suar. Chorar. Sofrer. Estar na vida implica sentir. Ninguém vai te "salvar" - não porque não haja quem pense ter esse poder, ou até mesmo quem não se coloque à disposição para tentar, ainda que isso seja "impossível". Ocorre que, como dizia Freud: "Não há regra de ouro que se aplique a todos: todo homem tem de descobrir por si mesmo de que modo específico ele pode ser salvo”.
E a gente se salva tentando, ao menos tentando, querendo tentar, se salvar.
Não há nada pronto. Não há teoria que nos salve. Técnica. Métrica. Talvez, apenas talvez, cientes, ou tendo alguma notícia disso, que parte de nós não busque certos processos ou experiências - como até a da psicoterapia ou da análise -, ou sinta frustração, quando da tentativa mal sucedida nesses casos, em que, originalmente, buscava-se alguma "salvação" - ofertada a nós por um ser outro, mágico, poderoso.
É que não está nas coisas. Nas outras pessoas. Está em algo que, somente em você, pode ser construído. Numa possibilidade, mesmo que do tamanho de um grão de mostarda, que faz morada em algum lugar remoto em você. Ainda assim, em você.
Ninguém salva ninguém.
A gente que tem que descobrir, em nós, uma estrada, um traço, um risco, um rabisco, seja lá o que for, e, quem sabe, fazer disso um caminho para se salvar. É artesanal. E personalíssimo.
A gente acha que sabe muito sobre o outro, até perceber que, mesmo sobre nós, as notícias são remotas...
A gente sabe sobre o outro tão menos quanto o que não queremos saber sobre nós. Somos esse mix de incongruências difíceis de admitir. Somos o "x" da questão a que, nem sempre, "damos conta" de chegar...
Feito teu sangue, que fala sobre você, mas não ousa te dizer.
Que te indica a algo, mas não define o teu caminho.
Que te dá uma qualidade,
mas nada calcula do teu valor.
Cuja cor não se questiona. Cuja forma não importa, nem quantas curvas faz para te habitar.
Assim, teu corpo.
Que, só teu, e, de tão teu, não carece de ser outro.
A não ser que o outro seja um desenho teu, para caber num desejo teu, pra fazer mais felizes esses tantos que há em ti.
Pela escrita ou pela fala,
Sou sílaba que não se separa.
Sou muitas de mim.
Sou palavra não inventada...
O processo de análise é um mergulho profundo em águas mistas. Entre as amargas e as doces, haverá outros (dis)sabores. É você quem escolhe: segue, aprendendo a ritmar o fôlego, ou foge, alimentando aqueles ciclos nocivos que, assim, nunca terão fim...
Quando não realizo, sonho.
E é lá que vivo aquilo que o meu consciente não suporta, mas que o meu inconsciente não cansa de desejar...
Eu, passeando em mim...
Nas sombras que não quero ver, nos sonhos reveladores do sem fim.
Sou estranha garça que sobrevoa a própria escuridão. Que fecha os olhos, com medo do real que me assola os dias.
Voo pela superfície, por não suportar a dor de quem sou.
Não mergulho, pois sei que, à falta do ar, me entregaria ao chão...
As coisas que você esconde de si mesma/o não somem. Elas encontram um lugar escuro e silencioso para morar. Mas, volta e meia, emergem, só para te lembrar que seguem ali, te acompanhando dia a dia...
Quando a dor é na alma, não há melhor remédio que aquele presente na fala. A palavra cura. Cura a gente da gente mesma/o...
Mais do que para "descobrir", a gente leva tempo para "assumir" o que está por trás das nossas próprias "verdades".
Vi nos seus olhos o que, em você, ainda há de mim.O brilho é igual... segue o frescor das brisas matinais. Se o tempo fosse meu amigo, nele viajaria, e te traria de volta aos braços de que sempre fostes o dono.
Então, acordo...
Já não é mais manhã nos meus sonhos...
Não permita que as pessoas usem as palavras delas para falar das dores que são suas...
Aproprie-se do que é seu. Valide e legitime o que lhe atravessa.