Coleção pessoal de lailsoncastanha
A forma mais baixa que podemos conceber do universo de homens é aquela a que Heidegger chamou do mundo do "man", mundo em que nos deixamos aglomerar quando renunciamos a ser pessoas lúcidas e responsáveis; mundo da consciência sonolenta, dos instintos anônimos, das relações mundanas, de quotidiano, do conformismo social ou político, da mediocridade moral, da multidão, das massas anônimas, das organizações irresponsáveis. Mundo sem vitalidade e desolado, onde cada pessoa renunciou provisoriamente a sê-lo, para se transformar num qualquer, não interessa quem, de qualquer forma. O mundo do não constitui, nem um nós, nem um todo. Não está ligado a esta ou aquela forma social, antes é em todas elas uma maneira de ser. O primeiro ato duma vida pessoal é a tomada de consciência dessa vida anônima e a revolta contra a degradação que representa.
Todas as experiências conduzem ao mesmo ponto: impossível atingir a comunidade esquivando-se da pessoa, impossível fundar a comunidade sobre algo que não sobre pessoas solidamente constituídas.
E não sou um leve e soberano cogito no céu das ideias, mas este ser pesado cujo peso só será dado por uma expressão pesada; eu sou um eu-aqui-agora; seria preciso sobrecarregar ainda mais e dizer um eu-aqui-agora-assim-entre estes homens com este passado.
Tantos inocentes dilacerados, tantas inocências calçadas; esta criancinha, no dia a dia imolada, era talvez a nossa presença ao horror do tempo. Não podemos somente escrever livros. É preciso que a vida nos arranque periodicamente das artimanhas do pensamento.
Se a vocação suprema da pessoa é divinizar-se divinizando o mundo, personalizar-se sobrenaturalmente personalizando o mundo, seu Pão cotidiano não é mais penar ou se divertir, ou acumular riquezas, mas, hora a hora, criar próximos ao redor de si.
Designamos como materialista uma filosofia que, mesmo insistindo justamente sobre o humanismo do trabalho e da função fabricadora, considera como ilusória outras dimensões não menos essenciais do homem, principalmente a interioridade e a transcendência.
Tenho uma ideia muito nítida, sim, do sentido da minha vida. Compreendi, com isso, uma impulsão e uma luz antes que uma direção traçada.