Coleção pessoal de LaecioMalta
A tudo em minha vida sou grato!
Apesar do peso e responsabilidade do existir, a tudo em minha vida sou grato!
Pelos presentes vividos e os não vindos... Aos amores e paixões que tive (as quais me permitiram perceber o quão bom é amar alguém!) e as que possivelmente virão; às poucas e proveitosas leituras, e ao pouco que sei; às lágrimas e sorrisos; aos beijos e abraços apertados; às loucuras e meias loucuras; aos poucos momentos de aparente normalidade; aos esquecimentos e reminiscências; às ideias e ao coração, estas criaturas inquietas e indomáveis; ao leite materno, terno e doce, o qual me possibilitou vida!; ao colo macio e aconchegante; aos olhares atentos e cuidadosos que me cercam; aos muitos conselhos e poucos sermões; aos amigos, estes malucos por não perceberem a periculosidade que é estar ao meu lado; aos parentes e achegados(risos); aos que me levam na lembrança ou no esquecimento; aos meus mestres do Saber; aos que me inspiram e me motivam; aos que me criticam, pois, me corrigem; aos meus aluninhos, estes grandes sábios sempre a me ensinar; aos deuses todos a me proteger, em especial a Vênus, deusa do Amor, a quem me faço eterno escravo nas artes do Amar, e à senhora Morte, a qual, ansiosa espera minha chegada. A tudo que me traspassa e me afeta sou grato!
O imprevisível Amar
Por ventura escolhem os corações a quem amar?
Não seriam estes insondáveis e imprevisíveis?
Abre-se, pois, e te entrega num constante Amar
Amar e ser amado
Amar sem ser amado
Amar e ser lançado na incerteza do Amor
Amar ainda que sem o Amor
Enfim, Amar ...
O ser poeta que há em meu Eu possível, sobre o qual não tenho como reter ou guardar, reger ou dominar, restando-me apenas poder externá-lo e o tornar conhecido pelos que me cercam.
No dia em que me amares, ama-me intensamente...
Que teus beijos sejam ardentes de paixão,
Que teus lábios desejem se unirem aos meus,
Que teu corpo ao encontrar o meu, se entregue...
Que teus olhos quando em direção aos meus, brilhem como as estrelas
E que tua pele arrepie-se ao perceber minha presença.
Mas, se por ventura desejares partir, vai...
E se em tua ida encontrares um outro ser
A quem seja digno a contemplação de teu sorriso,
Do amparo e acolhimento do calor de teus braços,
E cuja boca seja merecedora do descobrir os prazeres de Vênus. Vai...
Com toda alegria e te entrega verdadeiramente.
Ama-o com todas as tuas forças, pois,
Não há maior dor que a incerteza do amar e ser ou não amado.
E não há maior transgressão,
Que o de não entregar-se totalmente aos desejos dos deuses do amar.
Porém, se por onde fores,
Não encontrares quem te deseje com paixão e amor
Mais elevados que meu amar por ti, e decidires retornar,
Saberei que sois minha, pois, pudestes ir
E no entanto, retornastes para os beijos e abraços meus...
L.Malta
Era uma vez... "A Sociedade do vazio", nela viviam homens solitários que vagavam por entre uma multidão de seres e coisas. Andavam para lá e para cá com as cabeças sempre baixas, tinham em suas mãos um objeto luminoso cujos dedos em um movimento mecanizado quase que não descansavam. Os olhos dessa gente nunca encaravam os olhos daqueles que a elas se aproximavam. Em seus ouvidos, ao invés de recepcionarem as vozes de quem vêm ao seu encontro, o qual deseja compartilhar as emoções do dia, havia aparelhos que traziam consigo sons diferentes dentro de si e impunham um silêncio. Os lábios estavam cerrados sem expressarem sorriso algum. Suas faces eram indecifráveis. Essa gente não se abeirava, o toque, o entrelaçamento das mãos, o abraço, o encontro mágico dos corpos era quase que inexistente. Quando diziam estar com alguém, em poucos dias se distanciavam, como quem se desfaz de algo sem valor. Os seres dessa terra confundiam as pessoas com as coisas. O que elas eram não tinha relevância e sim o que possuíam, ou aparentavam possuir...
Existe uma grande diferença entre "ESTAR" apaixonado" e "SER" apaixonado, assim também entre "ESTAR" amando e "AMAR". Enquanto o primeiro exprime um estado transitório, efêmero, o segundo expressa uma existência real, um estado constante...
Ainda que nossos lábios não se encontrem, nosso olhar silencioso diminui a distância entre nossa boca, e por longo tempo nosso pensamento nos faz sentir as mais profundas sensações do beijo...
Dormir para mim, é entrar em contato com o meu inconsciente, desvendar o obscuro e me espantar nesse mundo mágico de ideias e complexo do meu Eu, e enfim, encantar-me com os sentimentos vividos, ainda que apenas sonhados...
E por um momento toda razão isentou-se de nós, causando-nos uma imensa alegria, abriu-se os nossos olhos, secou-se a boca, atraiam-se os lábios, o coração acelerava, e já não nos percebíamos enquanto dois, éramos apenas Um. Um só amar com a mesma intensidade sobre nós...
Amar...
Por um momento pensei que tê-la fosse a minha alegria, mas ao voltar para dentro de mim, percebi o quão feliz eu seria se eu não a tivesse, por que o prazer não estava em tê-la, mas, em amá-la, e nisso consiste o amar, que é a alegria suprema em si mesmo!
Por que os abraços são frios?
Por que os sorrisos escondem a maldade?
Porque os corações permanecem vazios?
Por que a distancia não gera mais saudade?
Porque os amores são fáceis?
Por que o amar é efêmero?
Por que os olhares não brilham?
Por que as palavras ferem?
E outros porquês tantos
É necessário que os sentimentos sejam os mais verdadeiros possíveis. É necessário vivê-los intensamente, em grande proporção, deixar transbordar, como se fossem a primeira e última experiência humana de nossa vida. Se assim não for deixaremos de ser humanos, e teremos que aprender novamente a nos humanizar.
A lama...
Ao sentir e perceber a chuva cair solitária e silenciosa sobre o chão inerte e firme, me coloquei a pensar o que seria a lama a se formar a partir da maravilhosa e harmoniosa união de três elementos: a terra, o ar e a água. Percebi que a
Terra é passividade, é acolhimento feminino, ternura e encanto, é a fertilidade e a reprodução da vida, de experiências, subjetividades, amores e emoções. É o calor materno que nos aquece, e que quando distantes de nós, nos faz verter lágrimas por toda a face imortal humana, por nos sentirmos desamparados, desprotegidos na imensidão do mundo, obscuro, mundo este, ainda por nós não totalmente desvendado e conhecido. É também a sepultura de nossas vivências, mas também permanência e lembrança eterna.
Ar é sopro, vento que leva o vivido e já experimentado, mas também, traz as reminiscências amargas do passado, e as doçuras presentes apenas em vagas e alegres marcas na profundidade da imaginação, o lugar invisível aos olhos carnais, que visita o tempo ido e não mais vivido, a fim de buscar inspiração para prosseguir em direção ao futuro.
Água é fragilidade a percorrer a vida humana, intensidade a nos envolver em sua limpidez. Água, onde nada em sua superfície se esconde, entretanto, sua profundidade guarda os mais insondáveis mistérios. Seu leve e constante movimento, a nos mostrar a efemeridade da vida, dos sentimentos, das ideias, dos amores, dos encantos, percorridos por todo o sempre do nada a se construir no agora, somando-se no presente e constituindo-se no tudo. Sua brancura e brilho a lavar as manchas humanas e suas imperfeições, renovam os espíritos presos em matérias mortalmente adiadas.
A lama é a união desses amantes, preciosa, e muitas vezes não observada, despercebida, mas presente, fruto da relação e do amor da terra, do ar e da água, que se unem por um instante, e que ao se separarem desejam logo em breve se encontrar e se envolverem na magia da natureza.
"Eu te amo"... Uma não verdade existente. Não se ama. Não há um só ser que tenha tal capacidade. Quando se diz “Eu te amo”, esse “Eu” se isola do Amor, distanciando-se do Amar, e direcionando a grandiosidade que é o Amor, a um só ser. Amor é uma relação na qual se envolve. Só somos capazes de Amar, quando nos envolvemos no Amor. Saber Amar, não é direcionar o Amor a um objeto, ou pessoa apenas. Quem assim pensa, não se envolveu ainda no Amar. Ama-se... E esse Amar não pode ser entregue a um só ser, pois, assim, esse Amor será dissipado. Mas, quando o Amor é transfundido no mundo, nos seres, nas coisas, o Amar segue existindo e envolvendo-nos...
Partindo... sei que ainda permaneço em vós, e o EU de um que em sua complexidade torna-se presente a cada instante, na verdade são vários EUS a se comunicarem, estando em plena sintonia com outros tantos EUS...
Não é sempre que se escreve e não é sempre que se fala o que está em nosso pensamento, pois nem sempre o que pensamos pode ser escrito, assim também como nem sempre o que pensamos pode ser falado. A escrita e a fala muitas vezes não são capazes de representar o que pensamos. Os sentidos assumem um importante papel na representação dos nossos pensamentos. O Olhar...O Ouvir... O Deliciar... O Aspirar... e O Tocar... O SENTIR...
Nada é posto ao fim...ainda que cerremos as gargantas e colemos as línguas dentro da boca, ou que nossas falanges não mais se movimentem sobre letras... os nossos corações inquietos põe-se a indagar e a refletir.
Poucas foram as flechas lançadas, e as que atingiram o seu alvo...Vênus as impôs aos seus servos. Pobres servos! cujos destinos serão amargos e árduos, cujas lágrimas serão ácidas, a percorrer a face, deixando suas marcas permanentes. As feridas em suas almas amantes, não serão mais curadas e outras novas serão abertas... Vivêreis até o último dia de suas vidas, rendendo-se a Vênus e ferindo-se...
Os amantes vivem na constante incerteza de não ser pelo outro amado com a mesma intensidade do Amar.
NÓS...
Entrego-me totalmente a ti
Invado teu ser permanecendo em mim mesmo
Contemplo a ti por completa
Vejo-me em ti como a mim
Envolvo-me com o olhar sobre mim mesmo e vejo a ti
Na tensão que encontro entre mim e ti
Está a união do meu EU com o seu EU
E percebo que já não somos um, mas NÓS...
Em defesa dos loucos
O louco é aquele que fez sua morada nas ideias, que se lança na incerteza do acaso, aproximando o espaço-tempo no instante do encontrar dos cílios. É suspiro eterno a marcar vidas. É interromper o andamento dos acontecimentos, mudando os caminhos com seu traçar vias imaginárias presentes no real, como dedos infantis, que põe as cores sem consentimento da razão e da métrica. O louco é o retirante em rumo a lugar algum, que entra com ímpeto no instante, como amantes em meio à chuva, a desejar a eternidade da paixão fervorosa, permanecendo no acolhimento do abraço. Loucura, Persistência ininterrupta da negação e afirmação do Ser, raios solares a propagar espanto e a envolver os nãos surpreendidos. A loucura é o “Eu” interior, a não permanecer no desfazer-se em si mesmo, inconsciente, desejoso por satisfazer suas pulsões e a lançar-se nas efêmeras paixões. É entregar-se nos mistérios das experiências humanas, lago profundo e obscuro, pleno de incertezas, prazeres e aflições. O louco é sorriso eterno, a incomodar a apatia e inércia da morada dos sentidos, recomeço sucessivo, entrega imprudente de si nos presentes ainda não vividos, a trazer consigo, no agora, as asperezas das vivências passada.