Coleção pessoal de Ondeahistoriatermina
As vezes me pergunto se realmente te amo, ou se o que eu senti não foi apenas ressaca moral.
Porque me entreguei tanto em alguns momentos, e em outros neguei tanto o que eu sentia.
E dormia, sonhava e acordava pensando em você. E detestava te amar tanto assim.
Mas em outros momentos me esquecia de você.
Ou não sentia nada ao mencionar seu nome.
E me sentia egoísta, por te deixar morrer aos poucos dentro de mim.
Eu não era fumante antes de te conhecer.
Eu não vivia vício, de te ter ativo em minhas memórias mais banais do cotidiano.
Eu não era obcecada pela liberdade de me aventurar no poço mais profundo, que minha alma resguarda em sua memória.
Mas eu também não seria eu, se eu não tivesse entrado naquele ônibus e te visto partir de mãos vazias.
Desde então eu trago;
Sua lembrança no peito.
Trago o maço mais barato para que em um único suspiro eu te liberte de mim.
Da minha memória, nas cores singulares que vejo pela rua e que sempre acabam se tornando cinzas.
Com esse trago tento te trazer de volta, sabendo que você sempre estará à um trago de distância do meu peito.
E tem dias que eu bebo;
Pra esquecer que preciso de um cigarro pra aquecer meu corpo, nestes dias de descontrole minha alma anda solta, e talvez assim ela volte para casa um pouco menos vazia.
Eu trago;
E espero no escuro meu cigarro se apagar.
Aquela necessidade de você queimar e virar cinza.
E pensar que a nicotina não me mata mas te asfixia dentro de mim, sendo preciso pela última vez, trazer você comigo.
E se eu pensasse sempre assim, não precisaria de amigos e nem me sentiria só.
Estaria ocupada demais para notar a solidão... Descobrindo a multidão dentro de mim.
Eu calorosamente bato na porta
Me deixem entrar suplico.
Enquanto espero, o tempo passa
A primavera se vai,
As folhas caem
A chuva me molha
O céu escurece.
Bato outra vez
Por favor alguém,
Me deixem entrar
A minha voz ecoa sob o patio ao meu redor,
Fora, do lado,
Dentro de mim.
Eu lhe peço pela ultima vez.
Está escurecendo,
Os dias se passam
O sol quebra sua promessa e não vem.
Uma brisa violenta passeia pela casa
E vai reto em direção a colina
Meus pelos se arrepiam
Meu pulmão falha
Meus braços tremem
Eu caio
Frio que vem
Frio que vem de fora
Ao redor
Ao redor de mim
Frio que me leva
Frio que me devolve
Frio que vem de dentro
E finalmente
Me deixa ir.
Oi, perdi minha alma.
Hoje chove e ela ainda deve de estar por aí.
E se você me batesse ouviria o eco que sai de mim, estou vazia, estou me afogando na minha própria seca.
Estou chorando lágrimas que não descem, estou despejando palavras não minhas.
É que esse nada, se acumula facilmente como se fosse um tudo.
Dele estou repleta, este passeia por minhas veias e artérias procurando algo mais importante que o coração que bate fraco.
Marquei de encontrá-la aqui, nessa esquina onde jamais deveria te-la soltado.
Espero por alguém que não vêm, eu deixei que a levassem de mim.
É que minha alma, precisava de você, e agora te segue por todos os cantos para que se sinta próxima o bastante.
Por favor me diga que ela chegou bem e que a convidou para entrar.
Não a deixe caminhar...
Até a floresta das almas abandonadas.
Numa caixinha.
Numa caixinha cabe meu ego, tão pequeno quanto o ânimo, nessa mesma caixinha cabe a alegria do cotidiano, cabe a aproximação do bem saber ou bem sentir.
Numa enorme caixa, sobra espaço para todos os sintomas de uma inconsequente.
Cabe a dúvida o desespero, a raiva, a tristeza, a mágoa e o rancor.
Não troque a caixa certa, por sentimentos errados.