Coleção pessoal de justtext

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⁠"Não sabe fazer nada sozinha?" A frase dita a pouco tempo atrás surge em minha cabeça que está mais encharcada de shampoo do que de água. Enquanto deixo a água correr em minhas costas, sigo massageando meu couro cabeludo para relaxar e tentar limpar meu cabelo que necessita de hidratação.

Toc Toc. Ouço o barulho vindo da madeira grossa como consequência da minha quebra de promessa sobre deixar a porta do banheiro destrancada para minha mãe entrar no banheiro. Me inclino sobre o vaso sanitário e as roupas no chão e abro a porta.

"Pensei que cê' fosse deixá' aberta." Minha mãe diz ao entrar. Emito um gemido em forma de resposta.

Cinco segundos apenas ouvindo o barulho do chuveiro.

"Ainda não acredito que cê' amassou minha lixêra', é fácil estragar as coisas das outras pessoas..." Ela começa a falar e automaticamente começo a reproduzir a primeira música clássica que vem em minha mente. Meus olhos começam a arder agressivamente e não sei o motivo, talvez fosse pelo o shampoo barato que escorria de meu cabelo. Gotas caem dos meus olhos descendo pelas bochechas e se misturando com a água. Não sabia se eram lagrimas ou apenas água.

Ela não percebeu. Um sorriso surge em meu rosto. Minha mãe me olha incrédula, como se eu fosse a pessoa mais insensível do mundo mas logo sua expressão se normaliza. Está se acostumando com minha frieza.
"Eu falo sozinha nessa casa. Termina logo de lavar o cabelo e vai jantar."
Ela sai do banheiro e fecha a porta.

Termino de enxaguar o cabelo que estava com uma máscara de hidratação em todo o comprimento e me seco saindo do banheiro de olhos fechados. Assim que os abro, minha visão fica embaçada pela fumaça esbranquiçada que sai junto de mim do banheiro e caio na cama em frente a mim. O sono me consome.

Meus olhos ardem novamente. Desta vez, não foi culpa do shampoo barato...