Coleção pessoal de JulhaL
o que conto nunca é só aquilo que digo
ouça meu silencio
me enxergue no teu próprio reflexo
em moldura de ouroboros vive o olhar
espelho d’alma
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e se for para ir, que vá
para dentro de si e bem longe de mim
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volte quando souber cantar a harmonia do meu silencio
para então dançarmos, juntas, nas chamas que crescem do incêndio acometido sobre o véu de seu recalque
sonhei que você me procurava
despertou meu corpo de uma longa jornada,
como quem diz:
“pare, não me olhe, não me ache!”
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distância, vá buscar meu bem-querer
e a leve contigo.
já a mim, não deixe vestígios:
eu a matei para não morrer afogada.
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sonhei que você me procurava,
explicava a insignificância da espera,
à ser desejada,
da importância do desapego,
ven-ce a alma frustrada.
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distância, vá buscar meu bem-querer,
a leve contigo sem dizer o porquê.
não precisa procurar muito
ela faz da minha estima sua morada,
portanto a encontrará logo ali, no buraco que se instalou em minh’alma.
o desencaixe perfeito.
para longe de mim!
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fujo com o carro em direção ao cantar,
entro no mar e
danço meu próprio longar.
a matei para que eu não morresse afogada.
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como quem me procura para dizer:
“pare, não me olhe, não me ache!
mas ouça meu cantar,
pois pretendo te prender,
te escravizar
à minha sedução,
para meu ego massagear.”
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para longe de mim!
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me resguardo na falta…
talvez, um dia, eu te contemple novamente,
da altura que hoje possuis.
uma única vez, quando meu bater de asas, os anos despertar,
para, então, me libertar.
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não sou capaz de te odiar,
mas, por favor, se for para ir, que vá.
para além dos anos que nos separam,
para além da notícia, da tragédia déjà anunciada.
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se for para ir, que vá para dentro de si,
e bem longe de mim!
à Ela,
musa de diversas obras
ainda que suas próprias lentes sejam as únicas capazes de documentar com fidelidade
sua inebriante liberdade
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ela que deveria se dedicar ao romance autobiográfico da constante mutação que é sua vida,
não confia em si mesma para tal
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eis que shiva desce de seu pedestal para dançar despretensiosamente entre meros mortais,
mas se depara apenas com narcisos. mergulhados em si mesmos. egocêntricos, alimentados pela falsa certeza de um autocontrole.
esses seriam os primeiros a morrer.
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ela questiona o nível de veracidade na tal liberdade do artista
ao descobrir que nem mesmo os poetas seriam capazes de suportar tamanha vulnerabilidade ao serem confrontados por sua presença
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fracos!
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basta uma dança
e daí, o entendimento de sua liberdade em plenitude
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et ça ce n'est qu'une joie, sans la souffrance pour ceux qui marchent à sa côté,
para aqueles que não esperam nada além Dela, como é
e como sempre será
“Lettre à ma maitresse”
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Por causa dela,
Não me importo mais com cães
Gosto das mãos das mulheres
Mas não como quase nada
Nos alimentamos de maçãs
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Graças a ela,
Eu ouço ópera e mijo na varanda
Nós jogamos bacará, mas ela nunca ganha
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Graças a ela,
Eu gosto de Bach
De tango, e também de violoncelo
Por causa dela, graças a ela
Passei a ir ao cinema em Roma ou em Honfleur
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Ela diz que não devemos ter vergonha do choro
Eu não gosto muito disso
Eu não suporto os gritos
E há gritos!
Há lágrimas e risos
Ela diz “Serà lo qué serà”
E vamos fingir que…
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Eu deito bem perto dela
Meus olhos negros carvão,
pintados com rímel,
sonham com carne
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Graças a ela, passei a gostar de cigarros
A fuga para o fim
E ja não tanto de biscoitos
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Escuto suas longas conversas pelo corredor
Anseio por testemunhar sua doce evolução
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Graças a ela, eu não sou mais um cachorro
Eu ando em seus passos
E quando ela me diz “Venha!”
Então todo o meu coração bate ao mesmo ritmo que o dela
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Por causa dela, eu sei de tudo
No entanto, eu não digo nada
Quem é ela, o que ela faz?
Sempre o que lhe agrada
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Ela só ama o preto
Eu sou toda branca
Nossos corpos à noite se revelam
Sem distinção de status
Adentrando os jardins
Deitando pelos bancos
Esquecendo nossas tristezas
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Ela é sem fé, nem lei
Graças a mim, graças a mim
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De Jean-Michel Bernard.
Traduzida por Julha, a partir da Interpretação de Fanny Ardant.
A arte de perder
A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero, A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas.
E um império Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério
Cheiro de Amor
De repente ficou rindo à toa sem saber por que
E vem a vontade de sonhar de novo te encontrar
Foi tudo tão de repente, eu não consigo esquecer
E, confesso, tive medo, quase disse não
Mas o seu jeito de me olhar, a fala mansa meio rouca
Foi me deixando quase louca já não podia mais pensar
Eu me dei toda para você
De repente fico rindo à toa sem saber por que
E vem a vontade de sonhar de novo te encontrar
Foi tudo tão de repente, eu não consigo esquecer
E, confesso, tive medo, quase disse não
E, meio louca de prazer, lembro teu corpo no espelho
E vem o cheiro de amor, eu te sinto tão presente...
Volte logo, meu amor
O tempo que passa nos dá golpes muito duros, nossos rostos não se estragam como os dos lutadores de boxe, mas é a mesma coisa e acontece comigo como com todo mundo. Não aceito a degradação da vida, ou antes, não aceito que o amor se acomode a isso.
DAQUI PRA FRENTE
daqui pra frente
vou ignorar seu olhar
talvez sorrir de volta
você vai estranhar
vai olhar mais fundo
em meus olhos
quem sabe verá uma lágrima invisível
mesmo que não olhe pra ela
ela vai lhe contar que magoou
você cortou minha carne
depois comeu meu coração
irá dizer que senti a mordida sádica e gostei
em cada palavra daquela crítica
minimamente dizia o quanto se vinga das mulheres da sua vida
eu sinto cada uma delas vivas dentro de ti
sinto mesmo que esteja a distância
talvez eu esteja louca, distraída, iludida, apaixonada
eu tinha pelo menos achado que tinha achado a paz ao seu lado
meu olhar será uma navalha para os seus olhos
em silêncio
irei em paz sem mais nem menos
sumirei da sua vida,
eu não sou capaz de te fazer feliz
daí acordei na sua cama
a partir de agora me libero
com o tom galáctico da felicidade
abro os caminhos e desperto
para meu amor próprio interno
minha idéia de ida para frente e além
levando o que trazia antes apenas
nas lembranças que foram importantes
para o meu crescimento
deixando para trás aquilo que não é meu
nem jamais pertenceu
pois sei que tenho sorte e onde quer que eu vá
cercada de luz eu vou estar
essa luz me protegerá de pensar
sonhar e querer mais uma vez estar
ao lado de quem não me ama
não me conhece, não me sabe
nem percebe, finge que ama
me julga e me confunde
sou mais eu
e mais ainda quem me quer bem
assim seja
amém