Coleção pessoal de JoyceSantana

1 - 20 do total de 21 pensamentos na coleção de JoyceSantana

- Sabe, talvez isso tudo seja proposital de sua parte. - Sophie tomou seu lugar no lado preferido da cama e arrumou o cobertor na altura do tórax, sendo minunciosamente seguida por Ben, que ainda permanecia de pé, na porta do banheiro - Talvez você não queira que eu te entenda. Cria essa barreira entre nós por pura comodidade e sequer se importa em ser compreendido. Sai andando por aí com seus mistérios e confusões, mas não se interessa em desvendá-los. Quer torná-los amigos? Por experiência própria, posso te dizer. Essa é a maior idiotice que você pode fazer."

Não é só Deus que escreve certo por linhas tortas, você também pode escrever. Contanto que você entenda o que está escrito, o resto é apenas resto. Você pode escrever algo lindo, acredite."

Numa dessas mini epifanias da madrugada, peguei-me perguntando para o escuro porque raios tudo se fixa sob o fingimento. Porque raios uma pessoa assume uma personalidade que não é sua, engavetando a vontade própria em busca de aceitação. Finge ser forte, grossa, única, passando-se linda e inteiramente igual a todas as outras. Logo, entro numa contradição de tudo que ouço. "Foda-se essa sociedade", "Desculpe sociedade, mas eu não concordo com isso". E vejo, sem hesitação, que concorda sim. Que concorda, aplaude, abaixa a cabeça e assina embaixo. Vê os problemas e não move um dedo em busca da solução, mas clama pela ação dos outros demandando, ordenando. Fingimento de personalidade, fingimento de caráter, fingimento de vontade própria. Uma busca ridícula por algo raso, sem conteúdo. Incompreendidos são aqueles que não mentem um gosto bizarro, um costume estranho ou uma falha humana. Todos falham. Ninguém é de ferro. Todos fazemos parte da sociedade e fodemos ela de forma igual. Não há problema algum em ser o que você quer ser, independente do que os outros pensam. E, sob as palavras sábias de Pink: "Levante seu copo se estiver errado de todas as maneiras certas", eu adormeço. E se você acha que eu sou estúpido por não usar uma frase clássica, aqui vai uma: Um belíssimo e estrondoso foda-se para você, mon petit aliéné."

- Você pode estar certa. - concordei num tom presunçoso, fazendo-a rir - Está sorrindo bastante.
- Perdão? - perguntou, talvez não havia compreendido minha última fala.
- Você. Está sorrindo bastante. Isso me deixa satisfeito."

Brigas por estilos musicais? Pelo amor de Deus. A música não foi feita pra você colocar na sua testa e tentar impor uma hierarquia falso-moralista em que "isso aqui é melhor do que você tá ouvindo, então eu sou melhor que você". Sério? Então meu gosto musical interfere diretamente no que eu sou? Não tem nada a ver com os valores que eu aprendi em casa, com meus pais, durante todos esses anos? A música me fez assim? Por favor. A pessoa mexe com assuntos tão complexos que nem mesmo consegue se explicar. Tudo isso foi feito pra você se sentir bem quando estiver pra baixo, te ajudar a passar por momentos complicados, se identificar com o conteúdo. É pra isso que toda essa dimensão de entretenimento tá ai. Agora, ficar gastando um tempo onde você poderia estar lendo ou limpando sua casa ou lavando sua louça ou tirando a porcaria do seu sapato do meio da sala pra ficar dando discursinho ridículo sobre o que o outro deveria gostar? Pelo amor de Deus. A irrelevância de certas opiniões para os outros é tão grande que deveria ser simplesmente desconsiderada. Você não gosta do que eu gosto? Beleza. Guarda pra você. Eu não pedi pra você esculachar o que eu curto, isso não vai te trazer benefício algum e vai ser uma perda de tempo pra você, porque minha opinião vai continuar intacta. E isso é e vai ser recíproco. É preciso parar de tentar resgatar a atenção que não te dão e transformam num discurso velho e repetitivo de que "o adolescente precisa de mais cultura". Se o adolescente tá assim hoje, é porque idiotas como esses intimidam ele a ponto de ter que deixar de gostar daquilo que pode estar salvando ele de uma depressão, pra se adaptar "ao que todo mundo gosta e é normal". Ridículo. Se fosse pra todo mundo gostar da mesma coisa, seríamos robôs e não humanos. Todo mundo na mesma rotina chata sem diversidade, originalidade. Então... Não é problema seu se eu curto pop e você curte algum rock por aí. Me faz bem e me ajuda. O que você curte faz bem e te ajuda? É pra isso que a música tá ai. Pra ajudar, pra confortar, pra alegrar. Não pra criar falso moralista-hierárquico que acha que só porque tem uma camiseta de banda e ouve metal pode criar todo um novo conceito sobre valores familiares e humanos. Quer fazer isso? Vai estudar. Não ficar ouvindo duas ou três músicas da sua banda favorita e acabar com as menininhas nos fóruns da Internet pra depois cair num sono profundo e perceber que não valeu de nada e não te trouxe benefício algum."

Nossos problemas, na verdade, são paraísos ocultos que não conseguimos entender, desvendar de primeira. São as últimas peças daquele quebra-cabeça irritantemente complicado que, depois de tantas tentativas cansativas e frustradas de como montá-lo corretamente, acabamos deixando de lado, completamente desistentes de mais uma tentativa. Tal qual, talvez, pode realmente resolver tudo, clarear nossos caminhos. Isso pode, com certeza, implicar-se à nossa vida. Sempre tentamos mas nunca vamos ao nosso limite. Nunca saímos da maldita zona de conforto, sempre querendo acomodar tudo e todos às nossas vontades. Temos medo de pôr nossa cara a tapa, mesmo sabendo que este é o único jeito de crescer, amadurecer e criar valores importantes. Precisamos de quedas, empecilhos, obstáculos, pois só assim seremos capazes de levantar e seguir em frente. Quem erra uma vez não erra duas, e sim desvia do erro. Agradeço a todos os santos, abençoados ou não, por finalmente compreender tal virtude. Por finalmente compreender a vida e as coisas mais importantes dela."

Quer se destacar? Seja feliz. Pessimismo virou tendência. Criticar virou pauta de jornal, capa de revista, assunto de mesa redonda. Quer se sobressair? Simplesmente veja o copo meio cheio. Contra os depressivos crônico-passivos de plantão, colha os frutos positivos de uma vida um pouco mais saudável e leve.

Não me permito pensar em ficar sem você por um período considerado eterno. Não sei como as coisas do outro lado funcionam, mas se não posso ter você, não quero mais nada.

Esta questão de finidade chega a me irritar. Porque não tenho cura? Que tipo é esse de doença que mastiga meus órgãos sem dó? Porque sou obrigado a morrer, andar em fila indiana acelerada para o tão temido fim?

Porém, depois de alguns minutos, sua angústia passou a escorrer pelas bochechas. Lágrimas. Ela estava chorando? Ela estava chorando. Droga, porque ela estava chorando? Eu, como um paranoico ridículo e inflexível, larguei tudo que estava em minhas mãos e fui até ela, não sabendo se a abraçava como a conduta social comum de consolo ou se dava leves tapinhas em seu ombro, como... Bom... Como um idiota que eu era.

Tentei parecer o mais normal possível, para que ela não pensasse que eu apenas queria tocar seus cabelos absurdamente sedosos em forma de interesse. O que não era mentira, claro. Mas ela não precisava saber.

Mas que droga, por que raios eu não podia puxá-lo para um beijo ali mesmo? Maldita conduta social.

Entre olhadas rápidas, fulminantes, indícios de desmaio e falta de ar, ela sorria brevemente ao encontro de nossos olhos. E claro, eu estava radiante com isso. De moribundo no elevador para merecedor de um sorriso, o progresso aí é significativo.

As imagens na tevê continuaram parecendo borrões dançantes até a hora de dormir, onde finalmente pude criar meus cenários sem interrupções, por horas seguidas e o melhor, - e ao mesmo tempo pior - como se fosse reais.

- Acredita em destino ou não?

Não pude responder de primeira. Quer dizer, eu sabia o que era destino - ou as teorias que me rodearam desde criança -, mas isso nunca foi tão interessante assim para me fazer parar e refletir sobre, apostar minhas crenças. Talvez fosse algo interessante, uma espécie de vidência da... Vida, sei lá. Eu não sabia se acreditava. Toda essa coisa mística me assustava, então eu preferia ficar neutro a fazer alguma besteira, ou esperar que a vida fizesse isso por mim. O que não era tão incomum, se fosse colocado em análise.

Era como se ela estivesse envolta numa aura amarelada, reluzindo na escuridão que se formava. Tive uma leve vontade de rir, nem quando eu sofria um ataque meu corpo a rebaixava da condição de completamente perfeita e adorável.

Minha mente e todo o resto gritavam para que fosse mentira, mas convenhamos, nunca fui a pessoa mais sortuda do mundo.

O que viria depois?
Eu tinha medo do que podia vir depois.

- Nenhuma outra pessoa se encaixa tão bem assim. Não há flexibilidade em minhas escolhas. Não mais. - meu cérebro dopou meus sentidos psicológicos com seus olhos, aqueles olhos castanhos provavelmente contemplados com diamantes dando-me a certeza de que eu não encontraria alguém melhor do que ele.

Vários por cento dessa nossa paranoia crônica são psicológicos. Tudo isso, todo esse sofrimento, toda essa angústia, toda essa raiva, é da nossa cabeça. Nossa mente é terrivelmente, maravilhosamente e assustadoramente poderosa. Milagrosa e perigosa ao mesmo tempo. É importante que nos aprofundemos em seus mistérios, nos conhecendo cada vez mais. Extremamente importante. Mas, é como uma armadilha. Nós somos os ratinhos famintos. A mente, o grande pedaço de queijo. Se soubéssemos a facilidade de nos perder na imensidão de nossa cabeça, talvez fôssemos mais espertos e nadaríamos até a superfície a tempo. Mas é tão… Agradável, não? Tão… Fascinante todo aquele universo de pensamentos, e lembranças, e momentos, e alegrias, e tristezas, tudo misturado com nossa inseguranças, certezas e incertezas… A solução está ali! Nós sabemos disso! Todas as chaves pra esse bendito sofrimento que tira a fome e o sono estão ali! Estão perto, não estão? Claro que estão, ou então, não perderíamos tanto tempo em lembranças, momentos que passaram e fazem falta. O que não sabemos, é que estão longe demais para uma jornada só. Não se pode fazer tudo de uma vez. Sobrecarregando a mente, sobrecarrega-se a matéria. Parando, respirando, esperando, conseguimos recomeçar. Parando, respirando, esperando, conseguimos nos desvendar, e perceber que, realmente, precisamos levar uma coisa de cada vez.