Coleção pessoal de Josefernando

Encontrados 8 pensamentos na coleção de Josefernando

CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL

Latas pregadas em paus
fixados na terra
fazem a casa

Os farrapos completam
a paisagem íntima

O sol atravessando as frestas
acorda o seu habitante

Depois as doze horas de trabalho escravo

Britar pedra
acarretar pedra
britar pedra
acarretar pedra
ao sol
à chuva
britar pedra
acarretar pedra

A velhice vem cedo

Uma esteira nas noites escuras
basta para ele morrer
grato
e de fome.

NOITE
Eu vivo
nos bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.

Vou pelas ruas
às apalpadelas
encostado aos meus informes sonhos
tropeçando na escravidão
ao meu desejo de ser.

São bairros de escravos
mundos de miséria
bairros escuros.

Onde as vontades se diluíram
e os homens se confundiram
com as coisas.

Ando aos trambulhoes
pelas ruas sem luz
desconhecidas
pejadas de mística e terror
de braço dado com fantasmas.

Também a noite é escura.

Eu vivo
nos bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.

NÃO ME PEÇAS SORRISOS

Não me exijas glórias
que ainda transpiro
os ais
dos feridos nas batalhas

Não me exijas glórias
que sou eu o soldado desconhecido
da humanidade

As honras cabem aos generais

A minha glória
é tudo o que padeço
e que sofri
Os meus sorrisos
tudo o que chorei

Nem sorrisos nem glória

Apenas um rosto duro
de quem constrói a estrada
pedra após pedra
em terreno difícil

Um rosto triste
pelo tanto esforço perdido
- o esforço dos tenazes que se cansam
á tarde
depois do trabalho

Uma cabeça sem louros
porque não me encontro por ora
no catálogo das glórias humanas

Não me descobri na vida
e selvas desbravadas
escondem os caminhos
por que hei-de passar

Mas hei-de encontrá-los
e segui-los
seja qual for o preço

Então
num novo catálogo
mostrar-te-ei o meu rosto
coroado de ramos de palmeira

E terei para ti
os sorrisos que me pedes.

Na minha história
existe o paradoxo do homem disperso

Os musseques são bairros humildes
de gente humilde

PARTIDA PARA O CONTRATO
O rosto retrata a alma
amarfanhada pelo sofrimento

Nesta hora de pranto
vespertina e ensanguentada
Manuel
o seu amor
partiu para S. Tomé
para lá do mar


Até quando?


Além no horizonte repentinos
o sol e o barco
se afogam
no mar
escurecendo a terra
e a alma da mulher

Não há luz
não há estrelas no céu escuro
Tudo na terra é sombra

Não há luz
não há norte na alma da mulher

Negrura
Só negrura…

De certo modo nós somos europeus, de certo modo os europeus são africanos. Não podemos esquecer os latinos-americanos, que de certo são africanos e nós tambem somos de certo modo latino-americanos. não podemos esquecer os asiáticos porque de certo modo são tambem africanos e de certo modo nós tambem somos asiáticos. Nós somos uma ecruzilhada de civilizações