Coleção pessoal de JosedoCarmoAlves
O AMOR
É um mergulho na imensidão que não se tem acesso,
Um voo rasante e suicida sem temor
Um voz interna, uma lanterna, um réu confesso!
Um ser, uma razão e uma flor.
É um paraíso que encanta
Um canto, uma brisa, um alimento
Uma sede e uma inquietude e tanta
O mais profundo e intenso sentimento.
Uma bússola em pane
Uma película fina, transparente, flexível e resistente
Um medo, um segredo,
Um grito urgente!
Um tempero.
Um desespero elegante,
Uma aventura fascinante!
QUANDO TE VEJO
Quando te vejo, vejo como se a confirmar o encanto
E se seu olhar me permite, nossa!
Fogos, risos, luzes e estrondos tomam conta!
O corpo estremece, a voz fica muda por segundos
E por segundos permaneço em estado de choque!
Isso é o impacto desejando um pacto.
PESADELO
Sonhei que eu tinha dinheiro.
Era tanto dinheiro, que nem queria contar!
No sonho, eu tinha até preguiça de ligar para a Suiça e ver o Saldo de lá!
Sonhei que eu era respeitado, era muito mimado e tinha muito poder.
Tinha quatro aviões a jato, mas que chato! Eu não tinha você!
Sonhei que eu era o tal! O fenomenal, que eu era o cara!
Sabia tudo de tudo e tudo que tocava virava joia rara.
Sonhei que eu era o dono do mar para poder navegar para aonde bem entender!
No sonho, eu era o dono do mundo. Tinha de tudo, mas eu não tinha você!
Foi pesadelo. Querida!
Acordei bastante assustando,
Prefiro a dureza da vida,
Do que não te ter do meu lado!
Arriscando na poesia
Por simples ausência
De quando em vez arisco-me na poesia.
Lanço-me sem receios no único abismo encantado que me fascina!
Momento que viver sem chão,
Parece-me um porto seguro,
Compacto, intenso!
E para que não seja em vão,
A macheza de lançar-me ao vento,
Numa correnteza invisível que me anima,
Não fito a direção do encantamento,
Mas encantado sigo a minha sina!
HORIZONTE
Se a vista falha, não me apavoro! Ele está logo ali, sempre!
Posso não vê-lo, mas sei exatamente aonde fica, por que é lá que sinto o meu pulsar!
É lá que fica o meu queijo, meu rumo, meu foco!
FALSA FLOR
Sinto-me um beija-flor num jardim de plástico
Beijando a falsa flor carente sem me contentar,
Meu pensamento sob efeito elástico,
Vaga sonso,
E volta tolo, pro mesmo lugar!
Na ilusão de encontrar o néctar da flor real,
Disparo-me em voos rasantes e suicidas sem temer a dor
Pois, conviver com a dor carnal;
É melhor que a dor de amor!
A minha relação com o dinheiro foi sempre muito superficial. Nunca desejei ser o homem mais rico do cemitério.