Coleção pessoal de Jose_Alexandre_1

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⁠VELHO HOMEM
Sentado infeliz
numa gaiola
pendurado sob a corda
de velhos espíritos
e então
vomita mares agitados
povoados de tigres amarelos...
Velho homem!
imortal aprisionado
esperando o seu retorno
pássaro solitário
de olhar sombrio
frio
monstro
de sorriso nefasto
e que percorre o caminho
isolado
para dentro de si mesmo
transportando cruzes e
todos os pecados
velho homem!
interpreta os dias nocturnos
e transborda
como a morte o encanto pelo escuro
tendo consigo
vícios adormecidos
armado até aos dentes
com a infâmia dos prazes vagueantes
destruído
eternamente pelos próprios sonhos.
velho homem!

“ Gostaria de desconhecer metade das pessoas que conheço, mesmo que isso me custasse um esforço bruto de trocar de nome, ou mudar de cidade. Porque, pôrra, cansa levar pessoas de um lado pro outro, na mente, de lá e pra cá, quando tudo o que nos resta delas são belos momentos juntos enterrados na memória, mas que já não significam nada. Cansa ter a agenda preenchida de contactos que nunca ligaremos, cansa ter a mente abarrotada de nomes de pessoas sem significado, e que connosco partilham de forma paralela a tristeza doce e infinita de uma solidão que nos abraça. Gostaria de poder ser outro, em outro lugar, sem essas crises constantes de desistência, e essa mania dóida de fazer os pensamentos sobre a morte uma ideia fixa. Talvez eu seja triste, acho que é isso ─ ou depressivo. Ou talvez só tenha entendido que todos, nalgum momento, precisamos recomeçar, mesmo que isso signifique que tenhamos que mergulhar perdidamente nos nossos pensamentos mais loucos. Gostaria de ser um fluxo contínuo, e para alguém significar mais do que um livro do qual se cansaram, uma pessoa que não gostam mais, ou um cigarro jogado no asfalto. Se eu pudesse conhecer alguém, gostaria que me olhasse nos olhos, e me lembrasse que as pessoas são isso, abutres, devoradores emocionais, nos dizendo que pode ser a última vez e que devemos amá-las com tudo o que temos. Ou que me recordasse que por mais que no presente as pessoas nos dêem tanta importância, um dia seremos lembrança, e noutro seremos menos que um pedaço cigarro jogado no asfalto.”
__ José Alexandre

"Mais uma discussão boba, em que não percebemos como ideias sem sentido puderam estragar uma relação que durou anos. Como expressões ditas de boca pra fora em pleno nervosismo nos afastaram um do outro. Mas, darling, ainda é cedo pra colocar um ponto final nisso. Essa história que começou sem querer não pode acabar da mesma forma. Os seus dedos ainda estão sobre os meus cabelos, e eu aqui sozinho nesse cenário triste povoado por milhares de fantasmas que você deixou quando me deixou. Eu fui ao supermercado hoje de manhã, e foi estranho pagar a conta e falar com aquela senhora idosa que sempre fica lá, porque ela é sua, e isso de falar com as pessoas também é seu. Não soube exatamente o que comprar. Agora eu tenho aqui um monte de frascos que podem ser veneno de ratos e que têm desenho de tomates mas que pode ser sangue. Isso era seu. E esse quarto agora é um mundo sem você aqui. E eu estou perdido nele com essas sacolas repletas de comidas que nunca chegarei a cozinhar, porque não sei. E o meu pijama do Bob Esponja como se eu tivesse sempre a acordar mesmo sem dormir. Ontem te procurei por todas as ruas, te liguei em todos os telefones, e além disso, mergulhei sozinho nessa cama que ainda tem o seu cheiro e tudo o mais que você deixou. Darling, não permita que a magia que encontrei nos seus olhos pertença a alguém que nunca vai te conhecer como eu. Nem que outra pessoa venha cozinhar para mim essas comidas desses frascos que parecem sangue. E depois, o que será de mim sem ti...? o que será dessas paredes em cinza e amarelo que pintamos no natal, o que será dessas luzes que intermitentemente acendem e apagam como se te chamassem de volta aqui, o que farei com as músicas em inglês que tocarão no rádio se não sei dançar sozinho, o que fará aquela dona do mercado ao lado com as conversas que ficaram pendentes, e com a tristeza de não te ver mais, o que será de mim sem ti, darling, se não sei viver sozinho nesse mundo que cada vez mais cresce... because i miss u!"

⁠"Nem sei mais quem somos. Vejo muitas pessoas iguais à ti, iguais à mim, no mundo, e então imagino como é fácil se perder em outros rostos. Ter a vida alheia como minha ou ver uma outra me consumir por inteiro. Se não fosse a noite, se num outro tempo pássaros voassem como lacraus, se houvesse numa outra vida uma porta para o fim do mundo, eu ainda te teria aqui, no silêncio. No encalço de alguma patologia lúcida que me consome. Revivendo ensanguentadas lembranças de abraços na escuridão. E amanhã, eu sei. Você sabe. Nada mais importaria. Eu seria algum tipo de saudade antes do adeus. E talvez se tornasses pra mim uma espécie de lembrança viva de alguém que nunca conheci. Um baralho absorto sobre a mesa, um desenho de sorrisos mortos, gastos, machucados num retrato qualquer. Talvez isso. Talvez. Ou teríamos nos cruzado numa rua qualquer, e trocado olhares, e seguiríamos nossos caminhos com tanto medo de sermos algo, um pro outro, por milhões de receios instalados na alma, sub-carregados por traumas de vidas passadas, e medo que se abra outra vez uma ferida que já cicatrizou."

⁠“Não confie em mim pra guardar flores, amor, não confie em mim. Eu podia ser a sua melhor opção e realizaria todos os teus sonhos. Mas como se diz isso pra alguém, sem que flechas nos atinjam primeiro? Fiz do meu orgulho o único lugar seguro, pois, a cada vez que me aproximava da distância irretratável que nos separava eu sentia facas a me trespassar. Eu queria não ter que colocar uma corda no pescoço todo dia como prova do que sinto por ti. Agora aqui, nessa UTI, com todos esses analgésicos e todos esses fármacos que sustentam o meu corpo cansado, eu só consigo sonhar uma coisa. E esse sonho se repete tantas vezes, tantas que a realidade aos poucos começa a se tornar um pesadelo. E tudo que eu consigo me lembrar agora são todos os momentos infelizes juntos: das discussões calorosas ao amanhecer, das coisas voando de um lugar pro outro e dos teus olhos. E eu estou tão triste, amor, que você nem sabe como eu só consigo pensar em fazer um rio com essas lágrimas que escorrem dos meus olhos e te buscar, onde você estiver. Guardei por tanto tempo essas flores que acabaram por murchar nas minhas mãos, eu estou tão cansado que nem consigo morrer.”

⁠“A corda balançava num movimento pendular, e para o corpo inerte sobre ela, não pesava mais nada: nem dor, nem o abandono e muito menos o tempo. Na parte de fora, você podia ser alguém dentro de um carro, ouvindo música, ou alguém enfeitado à rigor, comprando flores que morrerão depois de uma noite perfeita, um regulador de transito estérico direcionando carros repletos por outras milhares de pessoas que poderiam ser você, e que desconhecem a tragédia instalada numa casa ao lado, à 30 metros dali. Tão perto e, ao mesmo tempo, tão distantes. Puxa, que merda, né!? O mundo seguiu. Em frente como sempre. O velho e bom mundo seguiu em frente. E seguirá quando for a sua vez. Não parará quando estiveres numa forca, ou na sarjeta, ou se contorcendo em algum canto escuro, à dois passos do fim. Talvez após o fim o mundo pare... talvez você pare, engravatado, ansioso por um encontro perfeito, com uma dúzia de flores na mão e que morrerão, talvez você pare de direcionar carros para um destino que você nem conhece e, se você realmente parar, depois do fim, faça mais do que perguntar “por quê?”, é ridículo. Porque os mortos não voltarão para lhe responder nada, seu idiota. E, mesmo que voltarem, é inútil esperar que o mundo compreenda uma dor que não é sua.”

⁠Só é longe se tiver de ir na marra; Só é difícil se desafia suas habilidades; Só é impossível se ultrapassa sua criatividade; e só é perda de tempo se não lhe ensina nada.

“Se eu te disser que estou perdido, você vai me procurar? Se te disser que ontem foi mais uma noite daquelas e que hoje acordei cansado e com vontade de desistir, e que até as coisas mais belas da vida se tornaram pútridas diante da minha angústia, o que você fará? Você vai me procurar? Com aqueles olhos mortos de tristeza, me pedindo pra parar, ou com aquele pose divino de garota alemã, na crença de que a sua presença ainda move o meu mundo? Você suportará a imagem esquálida da minha presença em desgaste? Suportará a ideia de que tenho pensado em suicídio o tempo todo e que é por uma outra pessoa? Sabe o que é se sentir insignificante e trocado? Sabe o que é não ter forças pra levantar da cama numa tarde chuvosa enquanto a casa toda é inundada pelas águas? Não poder arrumar os lençóis, as roupas espalhadas, os talheres, as latas e as garrafas de bebidas inacabadas, os livros na estante, não poder arrumar nem a própria alma que se decompõe, sabe o que é isso? Não sabe, amor, você não sabe. Porque há sentimentos que só se entendem experimentando, não se aprendem na terceira pessoa.”
___ José Alexandre

Me senti leve, quando acordei sem a necessidade de dizer pras pessoas uma nova mentira sobre como eu me sentia. Não senti a necessidade de seguir o roteiro, nem ensaiei humores. Foi tudo num clique, porque, por mais que não pareça, cansa parecer feliz. Forjar um sorriso de uma ponta à outra, para me deixarem seguir sossegado, sem me desgastarem com questões que também venho buscando respostas. Talvez você me entenda, porque, como eu, também estejas cansado de acordar e seguir acordando no mesmo corpo, sendo a mesma pessoa, enfrentando os mesmos desafios quotidianos, nessa rotina árdua e maçante que nos sufoca. Hoje não foi difícil levantar, hoje fluí, li o jornal, tomei café, e segui fazendo os afazeres que me esperavam. Não tive vergonha por estar triste, apenas aceitei que não podia triunfar sobre a vida se continuasse carregando a minha arma com balas de festins, e que se não quisesse continuar caindo refém das coisas que fugia, tinha de parar de mentir para mim mesmo. Mas eu não sei se consigo, porque ainda caminho com esse coração esburacado onde escondo gritos, escondo choros, escondo madrugadas infinitas ao sabor de derrotas amorosas que me devastam, escondo ser apenas um falhado que apegou-se à um outro olhar porque tem medo de morrer sozinho, escondo um mundo amplo e vazio sempre que digo uma mentira capaz de me salvar das perguntas, porque sou fraco demais pra dizer que não está tudo bem.

Sou humano e preciso de amor como todo mundo. Então invento um sumiço, fico um tempo no meu esconderijo e torço para que pelo menos alguém sinta a minha falta. Mas ninguém sente. É difícil explicar pras pessoas uma necessidade tão simples sem parecer idiota. Mas, os amores que eu amo amam outros amores, e ninguém me procura mesmo quando me escondo à vista de todos. No silêncio do quarto, escuto o barulho da alegria que vem de longe, então eu percebo que se há sorriso lá fora é porque o mundo fica melhor sem mim. Deixo passar semanas, meses, mas ninguém vem. Só quero que alguém me procure, estou cansado de ser a única pessoa a bater a porta de uma casa em que eu já estou dentro.
__ José Alexandre

Nunca nos lembrarémos de
quem precisa estar enquanto
esteja. As pessoas ainda não
desenvolveram métodos pra
isso. Preferem a dor final do
que a alegria de um
reconhecimento. Espero que
não te iludas. Ninguém vai falar
que te ama ou sente a sua falta
enquanto não tiveres
sucumbido. Pessoas gostam de
chorar rios de lágrimas e
manifestar suas dores depois
de serem decepcionadas, se
arrependem depois que é
tarde. Acho que é isso, é mais
fácil celebrar do que chorar por
uma coisa que ainda não se
perdeu."
__José Alexandre

Tempo. Precisamos nos sentir completos de novo pra recomeçar. E não importa de onde. Ou como. Nosso único ponto de partida se situa na nossa alma. Enfrentar os fantasmas do passado. Começar algo novo. Esperar o tiro da largada e torcer para que dessa vez a corrida seja justa. Sem se importar com o estado do tempo. Ou da vida. Ou do tempo de vida. Escalar a montanha dos horrores sem uma corda pra nos segurar, e olhar o Sol de uma perspectiva em que os raios não nos toquem mais.

__ José Alexandre

É mais fácil celebrar do que chorar por
uma coisa que ainda não se
perdeu."
__José Alexandre

Não deixa eles me
acharem aqui
nem agora
e nem
quando a lua chegar
Já parti meu coração
várias vezes
Me sinto vazio
Não deixe eles me acharem
Diz pra lua que te
amei como
ninguém
e que
Senti suas tristezas me
tocarem como
nunca me tocaram as minhas
E
sobre ontem
me desculpa
me desculpa por
seguir em frente e
não te esperar
Gosto mais da lua quando você não está...
Vivo acelerado
Sempre
Só por uma vez
descanserei
e será pra sempre
Não deixa eles me
acharem aqui
Posso rasgar meu peito
pra provar
que você mora lá
Nos dias de chuva
Desligo as luzes do
quarto e
te espero perto da janela
Gosto mais de ti
que de mim mesmo
Você vê?
Como eu olho pros teus
olhos quando eles
chovem...
Você vê?
Sei que você vê
Minha alma é o
Cemitério em que te
deitas todas as noites
Não deixa eles me acharem aqui
Dê um tiro na
própria cabeça se
não poder mentir
só não deixa me acharem
só não deixa me acharem
Vá pra bem longe
enquanto
tento
não explodir
Meu amor é frio
e eu sou venenoso
demais
pra alguém como você
e
mesmo que gritasse
agora
só me ouviriam os mortos
é muito tarde pra recuar...
Estou há tanto tempo
sozinho
que desconheço
minha própria voz...
Então
diga pra alguém
que eu
existi.
__ José Alexandre
(Morto e sozinho)

É egoísmo. Eu sei. Se você disser que te procuro menos que merecia. E não existe desculpa. Me desculpei demais e as desculpas acabaram. E vou entender se parecer estranho, mas esse é o único tipo de amor que posso dar. Cheio de buracos. Esfarrapado. Com muito medo de se ferir de novo e de acreditar em promessas que não se cumprem. Magoado pela mais pura guerra. E o grande problema do coração é que ele nunca se ergue depois que cai. Sempre permanece no chão, Inerte, e nunca é mais puro o amor que vem de lá. Te olho de algum lugar distante, agora. Observo seus passos oscilantes. O rosto baixo como quem perdeu algo. Os olhos dormentes como quem esperou algo que não chegou. Não encontro formas de me aproximar. Minha covardia me diz pra regressar pro meu quarto escuro e esperar ter forças pra dizer alguma coisa amanhã. Ou depois de amanhã. Ou no ano que vem.
__ José Alexandre

Um silêncio inóspito, com palavras cortantes. O coração sai pela boca porque o amor inundou o peito. A luz que entra pela janela me queima os olhos. Me entrego à solidão de braços abertos, esperando conseguir um tipo de consolo que nunca recebi. Me doei inteiramente e o único retorno que veio da outra pessoa foi a distância. Passei noites em claro a espera que mensagens envadissem o telefone, e que você procurasse saber como estou. Mas eu cansei. Só o que aprendi com tudo isso é que eu deveria me amar mais, já que eu era a única pessoa que pensava em mim.
__ José Alexandre

Aproximação desinteressada é mais cruel que a insensibilidade. A arma a ser disparada ou a corda que sela o último acto, nunca vem de quem oferece o motivo, mas de quem ouve a história e segue o seu caminho, como se nada tivesse acontecido. Nos disseram que falar alivia, que era um óptimo analgésico para angústia e que afugentava os demónios que povoam o nosso interior. Só não nos contaram que podia ser a última arma contra nós mesmos, caso encontrassemos alguém mais interessado na história do que na nossa dor.

__ José Alexandre

Falar pouco ajuda muito.

__José Alexandre

Sentimentos verdadeiros não se expressam com palavras. Devíamos nos preocupar com quem parou de falar, com quem vive deixando o mundo girar , com quem vive fugindo desse estresse diário e adota uma vida repleta de privações excessivas. Pessoas caladas podem estar dizendo adeus sem que ninguém perceba.
__José Alexandre