Coleção pessoal de JorgeVasconcelos
CAMPO DE MIOSÓTIS
Lembro um campo de miosótis
Dormir nele até o sol se deitar
Pensar naqueles dias azuis
Que foi o começo do nosso amar
Recordo esses dias passados
Já postos na bruma dos dias
Que tempos, sermos amados,
Sem fugas, sem relações ínvias
Olhar para o céu até a vista cansar
Ver um bando de pássaros
Em grupo, alinhados, sem chocar
Discutindo os nossos toques raros
Sabendo que aquele campo azul
De miosótis nascidos e plantado
Já não existe, emigrou para sul
E com ele, o lascivo, fugiu apavorado
O amor que nasceu ali, com ele,
Que tanto prazer deu ao físico
Ébrios de tanto querer na pele
Felizes do sentir paradisíaco
Mas nem tudo é eterno
Fundamental não o ignorar
O que se passou naquele Inverno
É sem dúvida para guardar
Amar num campo de miosótis
É um luxo nunca visto, é achar
Um conjunto de gostos subtis
Um acto para mais tarde recordar
Autor:
©Jorge Vasconcelos
O AMOR SABE SEMPRE A POUCO
O amor é uma dádiva
Recebe-se por existir
Basta ter vida activa
Para que o consigas sentir
Nunca ao amor digas não
Não feches a boca ao beijo
Porque vives uma paixão
Deixa que te invada o desejo
E se porventura entenderes
Que deste cálice podes beber
Como és parte dum amor louco
Vem amar-me perdidamente
Ficando aqui bem presente:
O amor sabe sempre a pouco
Autor:
©Jorge Vasconcelos
AMOR ESCRITO
Separação ou
Amor a menos?
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Escrevia,
Mas as palavras bailavam
À frente dos meus olhos, e
Nada saía…
Juravam
Que nada valeria a pena
Mencionar.
As palavras eram amargas,
Queriam fazer lembrar
As chagas
Que moravam no coração.
Pela separação,
Que mais se poderia dizer
Dum acto indesejável,
Lamentável,
Para quem não quer
Aquela cisão?
No chão, um cesto,
Amarrotados,
Os papéis espalhados
Ao seu redor,
Continham pedaços de amor
Escondendo uma paixão.
De frente,
Uma janela aberta
Indiferente,
Deixava entrar o vento
Numa forte oferta
De recuperação.
E se houvesse regresso
Que faria dos papéis
Que relatavam factos,
Memoráveis,
Dum desgosto confesso?
O melhor seria deixar
Que o vento os fizesse voar,
Para não mais recordar
O dia seguinte à separação.
Autor:
Jorge Vasconcelos
A FONTE
A água é um bem indispensável
À vida quer ela seja humana ou não…
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Se vejo uma fonte no caminho
Há coisa a que não resisto
Beber daquela água devagarinho
Tratando-a como uma dádiva de Cristo
Benzo-me antes de o fazer
Mas, ontem, algo raro aconteceu…
Após um trago daquela água beber
Cegou-me uma luz vinda do céu
Alojou-se no granito negro como breu
Que decorava agora aquela nascente
E que outrora teria atingido o seu apogeu
Iluminando tudo o que estava ao seu redor
Soltando muito calor,
Imparável, contagiante, dormente
Coisa estranha, pensei
A esta hora, com tanta luz do dia?
O que poderá ser, interroguei…
O que brilhará, com tanta teimosia?
Mas nenhuma resposta surgiu
Algo divino não seria para mim
O meu ombro uma mão sentiu,
Leve, doce, macia como cetim
Rapidamente uma ave se escapou
Veloz, branca e em surdina voou.
Mas a luz não se apagou
No alto daquela fonte
Onde casualmente parei
Milhares de luzinhas notei
Projectadas no horizonte
Saídas da luz
Que naquela fonte entrou.
Tudo o que puder dar
Ou receber
Nunca será suficiente
NUNCA SERÁ SUFICIENTE
Nunca será suficiente
O meu olhar com que te firo
O meu beijo que te cobre
A tua voz impaciente
Tudo o que por ti eu sinto
A carícia que me sobre
Nunca será suficiente
Nunca será suficiente
O que antevejo em ti
Os teus olhos, o firmamento
O vento que me açoita
O perigo da pernoita
Nos teus lábios o beijo lento
Nunca será suficiente
Nunca será suficiente
O que me fará esperar-te
A ternura que me exige amar-te
O desejo que me consome
A vontade de te amar sem fome
O amor que me revolve a mente
Nunca será suficiente
Nunca será suficiente
A miríade de beijos que te devo
A tua formosura
O suor que exibe a minha testa
Os frutos silvestres da floresta
O enlevo da tua candura
A aflição com que me atrevo
A dizer-te para sempre
Nunca será suficiente
Nunca será suficiente
O abraço que te prometo
O deslizar do meu corpo nos teus braços
O sentir-me num projeto
Que não terá princípio nem fim
E considerar-te uma prenda de marfim
Nunca será suficiente
AMOR CELESTIAL
Amar não é fácil…
Que o diga quem amou.
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Dança comigo
Até que as luzes se apaguem,
E se acendam
Estrelas cintilantes neste céu.
E diz-me se ouves
Os anjos sussurrarem
A pedir-nos
Que continuemos a dançar, tu e eu.
Gostam de nos ver
Abraçados, enamorados,
Ansiando por um momento
Mais íntimo, de amor.
Pensando que aquela dança
Vivida em passos dados,
Terá como objectivo
Beijos e um abraço com vigor.
Um privilégio estar contigo
Nesta dança celestial.
Sentir que o amor
Vem lá de cima, livre, devagar
E o acto de o fazer,
Lindo, doce, tem muito de especial.
Os sinos tocam,
Os beijos dão-se,
E eu quero amar.