Coleção pessoal de joaogch
relatos de um ex-marinheiro afogado
em seu complexo redor todo naufragado
destinos que havia sonhado
sua alma ali havia deixado
Atlântida, seu oásis enquanto cai
com um profundo abismo se distrai
belas palavras a alguém que nunca vai
reluzir o amor jamais vai
Netuno, rei dos mares, por onde Tu se escondes?
aos prantos do marinheiro, por que Tu não respondes?
êxitos conquistados por conta dos tremores
falta de fé será a harmonia de seus clamores
as águas vão afogando o ser
mas nunca acabarão com as suas dores
as águas matam o ser
mas ele sempre viverá por seus amores
cólera intolerável de uma mente descartável
nunca existirá um destino tão maleável
em que ninguém sabe onde toca
e ninguém sabe quem é o responsável
por todo esse paralelismo imutável
toda essa farsa da água que desloca
águia passivamente anti-libertadora
voando a negativos centímetros por hora
implorando inconscientemente para o ser que ora
em suas penas começar a pensar
distúrbios de um imaginário hiperativo
tudo o que penso é o tempo decorrido
um cérebro em lágrimas
e mais um organismo se esvaindo
lamaçal já seco, pantanal fantasioso
castelo que soa em um tom perigoso
reis e mordomos trêmulos
zero horas como um ser ocioso
vejo seres intermináveis e indestrutíveis
como essas vozes de validade temíveis
ruínas ainda estão sangrando
desabrochando a atual entropia das raízes
oniciosidade, o que de melhor existe
combustível de um coração que resiste
cálamo do papiro existencial
cálice cujo veneno sua queda assiste
se dois corpos não ocupam o mesmo espaço
o que é que sinto durante nosso abraço?
são as luzes de nossas almas se fundindo
fusão ferro-carbono que resultou em aço
asso então a lâmina de nosso destino
futuro resulta do presente, de cada pequeno passo
moldamos assim todo o nosso caminho
marteladas que sentenciam nossos laços
-mas eles são amigáveis ou amorosos?
perguntou-me em meu ouvido direito
sentimentos ainda duvidosos
"peço para que repita, com todo o respeito.
não ouço desse lado, tente falar com o lado racional...
ele será objetivo, mas é deficiente emocional"
a pessoa então se sente mal
mas que mal isso faz?
"é só falar no ouvido esquerdo, ele sabe o que faz"
por favor, essa pergunta jamais
isso é muito desprezível
peço que não me veja nunca mais
a dor é irreversível
é doloroso demais
mesmo que eu nunca mais te veja
lembre-se que estamos fundidos
para sempre, assim como dois metais
o destino é o que quer que seja
erros do passado já tornaram-se banais
e onde quer que você esteja
seus sentimentos são essenciais
para que então eu me proteja
de suas presentes atitudes boçais
e o futuro assim não será
no fim de um brilhoso altar
será dentro de uma capela
meu Eu melancólico sob a luz do luar
meus sentimentos se foram, e isso te surpreenderá:
não há o que fazer
as emoções morrem
a de todos também vai morrer
não precisa temer
não precisa chorar
e não adianta tentar correr
só adianta nunca mais amar
a embarcação já naufragada
ratos alados sobrevivem ao caos
essa foi só uma falsa jangada
uma psicose que levou ao mal
estar de viver nesse lugar
nascer, crescer e morrer
o irreal será a única realidade
e a mais pura de se contemplar
infinitas vidas, vida infinita
entao você realmente acredita
que a irrealidade da vida
que tantas idas e vindas
que tantas falas bonitas
se tornam farsas movidas
a ego?
egocentrismo, o maior dos erros
um vício, uma droga
os restos dos cinzeiros
cinza que acorda
o homem perdido
em seu abstrato canto
inconscientemente corroído
das chamas patológicas
das relações ilógicas
os segundos dos relógios
passam lentamente
lentos diálogos
estressando minha mente
desejos análogos
ao nosso podre presente
instantes oniscientes
onipotentes mas não
onipresentes
presença marcante
marcando o semblante
uma energia potente
potencialmente devastante
devastando toda a gente
que aqui viverá
que aqui deixará
a finita vida fluir
e repetições, e repetições
percebe por que afugento as emoções?
não a vejo mais ao meu lado
ja previa todas essas ações
devo ter te assustado, [pois]
nao sou marionete das suas decisões
de seu leigo fracasso
de suas fracas manipulações
de sua extrema beleza ou
de suas falsas provocações
só aviso que nao percorra
esse obscuro caminho
essa assustadora masmorra
que ilusionou um carinho
sentimentos em gangorra
formaram ja um ninho
de futuras decepções
mas dê-me sua delicada mão
segure muito forte
por favor, saia da escuridão
de todo falso afeto
e dessa precária situação
chegue mais perto
dê-me seu abraço
seu forte abraço
seu belo abraço
carinhoso abraço
que junta os estilhaços
cola aqueles pedaços
de nossa futura paixão
de nossos futuros retratos
o que odeio é a paz
a paz, não a guerra
a paz é uma maldição
uma maldita que enterra
meus sonhos, emoção
a finita emoção
efêmera emoção
zero emoção
interior em paz
um grito lá atrás
ele não aguenta mais
ele não quer sofrer mais
ele não quer não amar mais
mas o grito ja traz
consigo a emoção
infinita emoção
eterna emoção
eterno looping
mas que maldição
sentimento gasto
sentimento raso
escolhas que já fiz
escolhas que agora faço
o destino em um traço
um futuro tão escasso
caminhos que já andei
caminhos que agora eu passo
o coração mental
sem seu marcapasso
agora que torto o compasso
o céu em mormaço
nublando nosso abraço
"não desistirei mais"
sentimentos de aço
segure em meu braço
coração caiu no abismo
coração em pedaços
sentimentos em estilhaço
escolhas que nunca mais farei
que hoje ainda faço
Universo paralelo
Transcendendo a teoria das cordas
o que segura o universo
É na verdade um mar de rosas
Rosas murchas, espinhosas
Infelizmente frias, e também dolorosas
O princípio da incerteza
Dita-me com clareza
A exímia beleza
do não saber onde estou
com a velocidade em que estou
com o amor que Tu manifestou
Gato de Schrördinger
Revirando-se na caixa
Ele não sabe o que vê
Ele não sabe o que acha
Se o Universo irá morrer
Ou ainda há de viver
Viver como um ser
sem outro que se encaixa
Ardentes sons chuvosos são os que rasgam meus tímpanos
o que falar para uma pessoa que vive em ímpares?
Já não vivo mais sobre a harmonia dos outros humanos
Melodia da vida tocando em tons menores
Belas vidas acompanhando seus compassos
Claves de Sol iluminando suas vidas
Enquanto eu, tropeço a cada passo
Nem Clave de Fá é a base para a minha
Orquestra vazia tocando em uma artéria
no lado mais escuro da inexistente matéira
a passagem era bela, agora só é velha
assim como uma paixão, só é deletéria
quasi niente - Chego ao fim do espetáculo
Só restam os batimentos, Acapella do Oráculo
O tempo acabando: o violão parou
a tuba parou
o cello parou
a Bossa Nova acabou
Não restam batimentos, nem Acapella do Oráculo
Pobre homem novo
em seu deserto pessoal
Oasis pegando fogo
Fogo que queima o espiritual
Droga de miragem Infernal
O ideal que é imaterial
Torna-se utópico, no final
Um Demônio de areia
Sua mente incendeia
Em um trauma eternal
Areia movediça
Buraco negro mental
A mente não dá justiça
Para um pobre ser mortal
A mente é submissa
E o pobre homem já não é excepcional
No mais frio espaço existente
uma alcateia tenta correr
liderados por todos os lobos
Fazem o Ser então sobreviver:
- Aquele que mais a frente está
Traça um caminho abstrato
Em que o Ser pra algum lugar irá
Traça as lembraças de um retrato
Que o Ser para sempre lembrará
Quando naquele dia estavam os dois
Os dois sob a luz de um nublado luar
Achando que para sempre iria durar
O amor que ninguém jamais quis amar.
- Já o que estava mais pra trás
uma infeliz notícia tinha pra dizer
Que o caminho à frente se ofuscará
A alcateia vai dar a meia-volta, volver
Ou o Ser então, gravemente se machucará
Com a imagem daquela pessoa, aquela mesma
que com ele estava ao luar
Que encontrou um novo amor,
que encontrou alguém para amar.
- Dois lobos irmãos são os que tomam o meio
Sentem o Ser tocar, sentem o Ser morrer
Sentem o que é o amar
que o Ser nunca conseguiu ter
Porém, no vazio do frio ninguém brinca
Abaixo do zero, uma estaca em seu peito finca
Os irmãos sentem a dor
Os irmãos sentem o pavor
E eles também sentem a angústia
Quando a morte exala o seu odor
- E por fim, existem aqueles
aqueles que que beiram as laterais
Cada som do bárbaro frio que chega neles
Para o Ser, tornam-se fatais
A lástima de cada um de seus pais
Tempos que já não são normais
As luzes que já não brilham mais
Relações que já ficaram banais
Nenhuma delas essenciais
Para o Ser, tornaram-se fatais.
A alcateia então percorre
sua jornada centenária
Assim então o Ser morre
Essa jornada foi um porre
E os lobos são de uma mente imaginária
E a Tu que ficou morrendo pelas almas
que nunca iriam se acalmar:
-Uma de nós, inquieta, te salvas
daquela chama que não iria se apagar
daquela vez que Tu irá se lembrar
que quem você acha que ama
não iria mais amar
Eis o corpo - adoecendo de seu proprio Eu
Escuridão, relogio parando; tudo o que sofreu
É digerido pelo verme [quando morreu]
Vomita toda a podridao, mágoa e todo o ser que há pouco comeu
Resta o que, entao?
A nao ser as efemeras lagrimas ali derramadas
As lembranças jamais lembradas
Somente a auto-decepçao
Por nao ter cuidado, amado ou falado
Por ter afugentado-se de qualquer emoção
E o verme segue seu belo rumo
Em busca da nova morte, em busca do novo túmulo
Do novo sofredor que passou para o meu mundo
Outra especie amargurada de tudo
E lá nas profundezas de cada vazio
uma nova grande luz então se acende
Pensamentos gelados, a mente com frio
Abre-se o ser ao seu novo consciente
Onde o lado direito seria mais feliz
e o lado esquerdo tornaria-se então eloquente
Perdoa-se para todos, porém,
de seus neurônios tão hostis
O medo de calafrios é grande
Que até a mais linda flor-de-lis
Percebe que se arrepende
Quando aquilo que nunca diz
É o que mais torna-lhe infeliz
Nada digo eu para aquelas plumas
quando as vi caindo
Enquanto jogadas nas ruas
passava dançando, sorrindo
e nenhum pingo de mágoa escorria
E as noites foram passando
cada vez mais as plumas brilhando
E cada vez mais o corpo decaía
e nenhum sorriso mais -senão o delas-
naquelas ruas surgia
Uma alma nova então ascende
Mostrando toda sua beleza
Contra tudo que há na natureza
Acordando um antigo arcanjo
que costumava ficar em toda mente
Para o mal fazê-lo
e tu agora, o que farás?
quando o tom luar deste brilho
já não reluz mais seus cílios
já não sei como ficarás,
quiça, chorarás
então que tu olhes para si
busco a logicidade no buraco mais profundo
eu juro, no mais profundo, obscuro e abstruso
pôs-me tu em eterno frenesi
eterno conflito, efêmero amor
desapareceram já as infinitas cicatrizes
que a todo momento agonizavam com a dor
que já não sei quando criaram-se as raízes
profundas
diga-me as palavras que desejas
que sejam agradáveis, já não flamejas
mas mesmo que desagradáveis, despejas
uma última vez de ouvi-la será
para todos, um dia a mais se passa
por mim, um dia a menos que caça
em um breve futuro, minha alma escassa
quando é que tu virá, ó donzela vestindo preto?