Coleção pessoal de joanaoviedo
Não importa se des-digo
O que já disse.
Mas a vida não é assim
Tão bela,
nem aos nossos olhos.
Nós nos enganamos
Para driblar a própria loucura.
Mas paguemos para ver.
Essa é a questão do "ser ou não ser."
Mãezinha, venha fazer o café
Da tarde! Está tão tarde!
A chaleira vazia
O chalé também.
Porque você não vem
Fazer o nosso cafezinho
Fresquinho?
A água borbulhava
Enqto vc coava o nosso café
E conversávamos sobre coisas qualquer.
O nosso café da tarde!
Agora ... A essa hora
Eu balanço a chaleira vazia
E olho sem coragem para o pó
E a água fria.
E o nosso café da tarde?
A vida ficou de tarde
Eu só tenho
A minha poesia
Para falar
Por mim
E ela não para
E não há silêncio
Ela não cala
Grita
Escancara!
Oh, poesia,
Sorria para mim!
Ou pelo menos,
Ria de mim!
Ou faça ao menos
Um esboço de canto
De boca.
Por vezes ela ouviu
Que era louca...
Louca, desvairada
E para que fosse ouvida
De louca se fez e gritava:
louca não sou!
Louco é quem deixa o amor
Envelhecer e morrer.
O amor perguntou
para os meus braços
o porquê de tanta dor...
E a resposta:
é de tanto "carregar"
e tentar "segurar" o amor.
A flor de setembro
Confundi o teu rosto
às belas flores de agosto
De setembro, outubro e novembro
Mas seu rosto era a flor de setembro
Flor que murchou sem piedade
Faltando-nos a clorofila nas folhas
E choramos... e nosso choro
Transformou nossos olhos em
Bolhas a bailar pelo ar.
Mas a vida não nos confundiu...
Não eram as bolhas de sabão da nossa infância
Passou-se contigo os risos de criança
E afogamos nas lágrimas sombrias
De nossos dias que se acabam
Feito as bolhas de sabão que se vão
E se desfazem no ar e são elas quase iguais
Às flores de setembro!
Não sabes quem sou e eu não sei quem és.
Talvez nunca saberemos, e fica a ruminação
do quem será, como seria?
E isso remete a nós mesmos,
do quanto não sabemos que somos,
cada qual perguntando de si próprio,
se deslocando ao outro.
Seria uma forma de projeção
em busca da nossa real essência,
da qual nem sobre ela temos o poder
do verdadeiro encontro?
Os iguais são também diferentes,
ainda que iguais,
pois é a essência que existe verdadeiramente,
e não a roupagem da essência.
DEVOLVA-ME
(E foi assim que um poeta virou livro. Inspirou outro poeta)
__Devolva-me as palavras doces
e as mais puras gargalhadas...
que te tocaram-lhe os ouvidos!
__Devolva-me !
__Devolvam-me os beijos que com sofreguidão te dei.
__Devolva-me!
As carícias que só eu soube (ou não soube),
mas que desenhei em seu corpo
as marcas da felicidade efêmera.
__Devolva-me!
E se quiseres, te devolverei também os beijos e os abraços.
__Conceda-me uma noite apenas!
E daquela estrada, peço que me retornes de onde parti contigo,
Pois não sei mais voltar, estou perdida.
__Devolva-me!
__Devolva-me a direção do caminho!
Eu sou a louca.
A que coleciona borboletas
transparentes e pretas na gaiola mágica
Sou a ninfeta que cortou
os cabelos de Maria Antonieta,
para ouvir de mansinho o tic tic da tesoura trágica.
Sou a desgraçada
Que veio ao mundo sem nada,
assim como Jó que veio do pó e,
ao mesmo pó hei de regressar,
sem tempo para re-pensar.
Eu sou a ostra da sereia
que hospedou areias e devolveu-lhe pérolas belas!
Eu sou a descomedida, a vida, ou a morte
que leva quem está desprovido de sorte.
Eu sou!
O que voou nas asas do serafim
ao encontro do seu próprio fim.
Mas também o que pousou nas entranhas
e de uma forma estranha decolou.
Eu sou a sina que assina tal sorte!
A vida vivida... A morte!
Sono
Não perturbe o sonos dos que dormem
Porque talvez amanha mesmo há de acordar.
Nina-os com uma flor e um pequeno sussurro
Do teu falar.
Não derrame sobre a tumba a lágrima
Quente dos teus olhos
Em que faz nascer abrolhos
No recôndito berço a descansar.
As sombras! Bastam-lhes as sombras
De arvores antigas e as raízes das urtigas
Tateando-lhes o rosto!
Nada é preciso senão a entrada triunfal
Do paraíso.
Deixem-nos dormir em paz.
BIPOLARIDADE
A casa do artista é seu recôndito secreto,
onde busca sua arte nos porões
e também no alto da infinitude.
É um subir,
e um constante
d
e
s
cer.
DEVIAS
Devias vir me abraçar
Devias!
Devias, nesta noite,
comigo fitar o luar
Até que o sol voltasse.
Devias vir sem teres
Ido embora ou a qualquer
Lugar.
Devias!
Fotografia no túmulo
Oh, quanto eras bela!
Chegaste à formosura
da juventude
E em uma aquerela
pousaste,
feito asas de borboletas
resequidas aos ventos!
Os olhos ainda é da juventude.
Paraste o tempo em plenitude
e recortaste o olhos de sua mãe
a pele do teu pai sobre as narinas!
E então pousou-se sobre um sepulcro
onde as aves revoam em vultos
cantoralando, quase um cordel
de rimas que se alcançam o céu.
Eras, pois a formosura da irmã
que antes de envelhecer
te oferecias o afã. da música sepulcral
a oferecer-te sob o véu.
E foi assim o tempo
com teu lamento de pássaros
em arrulhos, diferente do teu barulho
que agora deixa-te no silêncio.
Bela vida
A vida é bela
A vida é vela que se apaga
E que acende ao cantarolar das fadas.
A vida é bela!
É aquarela
É a cor do pincel
Da cor do céu,
as tintas com que se pinta.
__A vida é bela!
Caixa de pó
Seguro a caixa de pó de arroz
Como se guardasse prata, ouro e só.
Na falta do cheiro que inexiste
Ficou triste o tempo agora.
Apesar de as nuvens fazerem
No céu os mesmos desenhos
Tingem em nossas mentes
Momentos felizes de outrora
Em que os rostos pintávamos
De juventude
Mas o tempo e sua amplitude
Vai apagando nossas glórias
Fazendo da memória uma caixa
Vazia de pó e só.
Atravessei as fronteiras
do desconhecido
até me encontrar comigo.
Degladiei com medos
imaginários que só eu sei.
Mas sobrevivi. Venci.
Não me declinei.