Coleção pessoal de JKalil

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⁠Entre Marte e a Lua.

77.790.000 km de distância,
E nos encontramos no meio do caminho.
A terra que nos separava
Nos uniu nesse plano,
Fundiu nossos destinos.
E aí? - falamos.
Nos reconhecemos.
Nos reencontramos.
Era lua cheia.
E o céu tava lindo!
Igual aquela que nos fez sair do "e, aí"
Dileto estranho
De conversas sem sentido.
Eu sou interplanetário,
Você, ser da lua. Lunática...
Enquanto eu sigo sendo mistério,
Você segue brilhando minha galáxia.

⁠O medo, segredo e dor
Calado, falta aparo
Abraço, cuidado, calor
Amor, é sobre ser linha
Sem dar nó
Só nós, a sós
Nossos lençóis sabem bem
Meu bem, te fiz essa essa
Para que soubesse
Que me afasto
Piro, saio da linha
Mas te amo, sem espaço
Sem tempo, você sabe bem!
Enfim.
Desculpa!
Eu sei, meu fardo é pesado
Te poupo, me calo.
Outra vez, entende, me afasto!

“Não sejas doce demais, para não seres devorado. Nem sejas amargo demais, para não seres cuspido fora.”

⁠Amor Fati
Eu já vivi tudo isso! A vida é um eterno retorno.
Toda dor, mortificação e, melancolia devem receber uma apreciação digna! Como é hospedeiro tamanho sofrimento, de que modo posso ignorar a beleza dessa notável, mas por vez indesejável solidão?

Duvida da luz dos astros,
De que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor.

AMOR COMERCIAL:

É fria e úmida a chuva que cai
Madrugada adentro.
E eu a senti-la aqui sozinho
Encontro esse poema, meu alento,
Esse poema comercial... Ele versa o amor
Fala do amor? Ou de amor?
Ah! Quem falar do amor seria capaz?
Sobre a vidraça em brumas que nos separa
Eu posso exprimir seu rosto,
Meu sonho é comercial!...
Porque assim são iguais todos os textos,
Todas as cenas, e todos os temas,
De amor... São iguais.
Do amor que se expele que se explicita.
Eterno (...). Que como o ódio, e como a libido,
O homem prova para reprovar
E falar de amor é comercial.
Também é comercial,
A criatura que não é do criador.
Deveras minha poesia é comercial.

Quantos assistiram ao enterro da nossa última quimera?

Estamos numa ponte da qual se pode vislumbrar a próxima paragem. Será tranquila? De construção institucional e interpessoal? De harmonia? Que surpresas nos aguardam, se é que ainda possam existir surpresas nessa terra de Deus, onde cada um tenta ser seu próprio deus ou dos poucos servilóides que o cercam.
Tentanto parafrasear Augusto, talvez até com tristezas e azedumes similares, repito para mim mesma: “acostuma-te ao caos que te espera”, porque tácitos e inertes, agarrados ao seu suposto quinhão ou de saco vazio e doidos pra enchê-los, silenciaram todos na proposição do enterro de muitas quimeras.
Acho até que não seja saudável estar-se a lamentar quando se tem a facilidade de transmutar receios em poesia e, à baila, exaltar o poeta que, embora tenha contemplado o sepultar de sua última quimera, soube, com inigualável aparelhamento poético, rimá-lo com “a necessidade de ser também ser fera”, reconhecendo que se vive, miseravelmente, no meio de feras.
Parando para mergulhar nos versos ‘dos Anjos’, que não denotam terem inspirado esse vulto sagrado da literatura, vamos refletir e, sem delongas, revestirmo-nos com o que der e vier , sem que invertamos as coisas...
Tentarei navegar mais e me confundir com o mar de Cecília Meireles, olhando para um dos seus barquinhos* cujo nome sugere alternativas e isso alivia: ou ISTO ou AQUILO. Pelo menos existe a alternativas dos poemas.

⁠ÚLTIMA PÁGINA

Chegando à última página da estória
nossa, o que era uma curiosa quimera
agora tão sofrida, e tão vazia de glória
sinto o aroma de quem nada espera

Sensação que chora, que desespera
quanta ilusão perdida, agora memória
sombreada de uma apagada oratória
tal as flores desbotadas da primavera

Pois me perdi no ter-te como deveria
na companhia, lembrança e encanto
o amor é uma necessária doce poesia

Eis o meu maior pesar, tanto... tanto!
não ter querido mais! Como eu queria...
Nesta última página larguei meu pranto!

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Araguari, MG - 30/07/2021, 20’06”

Você

Vês, vês, vês a última quimera,
meu sono adormecido da vida,
e meu ser abandonado na espera,
de você, apenas você sem despedida,

O amor é ausente, é sol quente,
a espera de água mijada de chuva,
é boca rachada e dormente,
é sua voz que não mais se escuta.

E o sol irá despontar no horizonte,
com estrelas e lua em um céu incolor,
e seu beijo na madrugada se esconde,
a procura de você, amor!

Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

⁠A ÚLTIMA QUIMERA:

São duas as estradas
Que me tomam, afinal.
Ambas paralelas, bifurcais.
A de ser tua,
Conduz-me a teu final.
Logo deixo a outra, abstrata
Sem a luz de teus sinais.