Coleção pessoal de jessicabarreto
Esquecer não é uma questão de escolha, nunca foi. Não é como expulsar alguém porta à fora, é ter que expulsar do porão, lá onde as coisas estão guardadas, escondidas, não querem sair. Quanto mais importante foi, mais difícil fica, torturante, dolorido, como se quisesse pular pra fora em todas as formas possíveis, em forma de lágrimas, murros, gritos .. Não dá pra escolher , e mesmo que desse, eu escolheria não esquecer, por mais dolorido que seja, eu fui feliz.
Quando você sente escorrendo tudo pelos dedos, todo o tempo, as palavras , os sentimentos. Não adianta, a gente sempre perde para ganhar lá na frente, não há espaço pra tudo ao mesmo tempo.
Assim, meio assim. Que seja doce,doce,doce. De verdade. Intenso. Não precisa ser tudo bonito sempre, mas seja sincero. Profundo, como as águas paradas. Mergulhe, sinta o cheiro, descubra como é lá no fundo, não tenha medo, é gelado mas você se acostuma, acaba ficando quentinho, confortável, aconchegante, moldado pra caber você, só você.
E que seja doce, leve, bonito, sereno, amável, amor, mais que amor, mais que isso tudo, que seja o que ninguém consegue ver ou entender, que seja sublime, inconfundível pra nós, confundível pros outros, afinal, ninguém precisa entender. Esse tipo de coisa não se entende, não é pra entender, é pra apreciar, e suspirar, suspirar, suspirar de tão bonito que é.
Desejo. Quer mais dependente que ele ? Mais viciante, mais cego, mais louco, mais apressado, mais urgente. É bom. Não é. Te prende, você nem pisca, como numa camisa de forças, só que dessa você não tem vontade de sair.
É como num jardim. Tudo que tem lá só cresce e fica bonito se você cuidar, regar , dar atenção e observar todos os dias. Como você quer que sentimentos fiquem grandes e bonitos se você não cuida ?
Se entregar , se entregar , se entregar . Tento me convencer de que é a melhor coisa a se fazer todos os dias, essa repetição não é em vão. Não que eu não tenha medo, é o que mais tenho , se entregar implica em riscos , de se magoar, de se perder, de chorar , de morrer. Morrer de solidão, de saudade, de vontade, de arrependimento. Mas eu não costumo me arrepender, se é que me entende , porque eu teria medo então ? Medo de depois de ter feito tudo , de ter me rendido, você resolver colocar tudo na gaveta, trancar, esquecer lá. Não esqueça. Não me esqueça. Não se deixe esquecer. Sim, parece que tô pedindo. Não, tô implorando. Ah, já nem sei , só não dê ouvidos a meus devaneios, sou confusa demais até pra mim mesma. Ou dê, é em meio as palavras sem sentido que digo o quanto é importante pra mim. Tente desvendar, eu sei que você consegue.
Sabe aquele segredo que você quer e tenta, tenta desvendar ? Quer cochichar, pra ninguém ver , ninguém descobrir. Quer esconder , debaixo de sete chaves. Aliás, sete não, é pouco, sete vezes vinte e sete, é isso, fica mais seguro. Assim não corro o risco de ter que gritá-lo para achar, caso alguém encontre. Não corro o risco de gritar seu nome pra todo mundo ouvir, todo mundo saber, todo mundo achar, porque é bom assim, baixinho, escondido, só meu. Segredos não são pra se contar, coisas boas a gente não divide, com ninguém.
Incrível essa quantidade de histórias que vagam soltas por aí, dentro de cada corpo. São histórias diferentes, que combinam entre si, são almas em busca de outras que as completem. E mais extraordinário é quando essas histórias diferentes se encontram e se unem achando que são iguais, se ligam dando nós, se compreendem e se escondem uma na outra. É o que torna tudo mais motivador, saber que não precisa ser igual , basta achar que é, e se emaranhar, se enlaçar, se entregar, dar nós e mais nós, dar mais de nós.
Se eu tivesse o direito de ter um super poder por um dia ? Com certeza, ler pensamentos. Pra tirar algumas dúvidas, ter algumas certezas, matar curiosidades. Mas só se fosse por um dia, um dia só, mais que isso não teria graça. Não abro mão do mistério, daquele ar de suspense por não saber o que se passa dentro do outro. Não abro mão da descoberta, de se infiltrar pelos buracos que a vida deixou, de sair vasculhando os bueiros, de conquistar. Não, eu não abro mão disso.
Enjoei dessa velha cápsula onde todo mundo já acostumou em se esconder. Não gosto do igual, não quero me prender, gosto de ser livre, solta, sozinha, sem prisões. Não precisa me segurar, eu volto, sempre volto. Sim, costumo prometer, mas saiba que pra mim promessas não são contratos, são apenas provas de carinho, de atenção. Cumprir o que promete não tem que ser uma obrigação, mas uma demonstração de respeito e de amor, principalmente. Te dou minha palavra, e se quiser minha vida, mas não precisa ter medo de me perder, eu não me perco, eu não me deixo, eu não me largo, eu sempre volto.
Sentiu e se entregou de ponta a ponta, estremecia e arrepiava, sorria e chorava, vivia jogando sorrisos bobos ao vento, como quem não tem medo de perdê-los.
Quando a felicidade bater na sua porta, pergunte antes quem é, e quanto tempo pretende ficar. Essa de felicidade instantânea já passou da validade, traz efeitos colaterais, não serve mais.
Gosto muito do meu mundinho aqui pra ter que dividir ele com qualquer pessoa. Gosto do meu desarrumado, do meu estranho e inesperado jeito de ser. Se você não provocar qualquer reação em mim, nem espere retorno, não sou movida a teorias, gosto de práticas. Não diga, faça. Gosto de conforto, mas perigo também é reconfortante as vezes. Do que adianta pular um muro sem furar o braço ? O que vai ter pra contar ? Como vai provar que pulou ? Me provoque, não tenho medo de muros altos, muito pelo contrário, o que mais gosto de fazer é tentar destruí-los. Sou do tipo que corre atrás, se gosto. Se não vou, já sabe. Aliás, eu também quero que venham atrás de mim, eu gosto, preciso de vez em nunca. Dizem que o silêncio se hospeda onde não há palavras, mas não pela falta delas, e sim justamente pela fartura, por serem tantas que se atropelariam umas nas outras se tentassem sair todas ao mesmo tempo. Não me julgue pelo silêncio, que na verdade não é silêncio, é essa abundância de não saber como falar, é mais sentir do que dizer, se você sente, então não precisa que eu explique.
Essa história de contos de fadas, onde o príncipe sempre aparece no final e a princesa consegue acabar com a dor de todo mundo é uma grande mentira. Quando que isso vai parar de iludir ? Isso não existe. Nem todo final tem um príncipe, nem toda dor pode ser curada, nem toda princesa precisa de um príncipe e nem todo príncipe precisa aparecer só no final. Pegue sua dor, vai, coloca no lugar da dele, que guardou a dele no bolso pra olhar apenas pra sua. Anda, tira essas adagas da frente, quem faz seu final feliz é você, o príncipe não precisa necessariamente ser um príncipe, nem um namorado, mas pode ser aquele ou aquela que vai te salvar, que troca a própria dor pela sua. Mas não fique olhando pro nada enquanto ele estiver aí, porque uma hora ele cansa.
Adoro o cheiro, o mistério, os pensamentos, os olhares, a essência, o não saber, o pensar que sabe demais. Pessoas são estranhas, mas explorá-las pode ser a experiência mais satisfatória e arrebatadora. Por mais que não me dê tão bem socialmente, gosto de olhá-las, conhecê-las. É um mistério pra mim o que se passa por trás de cada olhar, é um labirinto que nunca tem fim, nem resposta. Não que eu queira desvendar, não, não cabe a mim, mas conhecer não arranca pedaço. Quer dizer, depende. Conhecer sem se envolver. Todos têm seus pedaços arrancados, diariamente, em todos os lugares. Somos todos feitos de restos, pedaços de outras pessoas, ninguém se constrói sozinho.
E essa vontade, onde eu ponho ? No bolso ? E a saudade ? O que faço com ela ? Escondo ? É sim, saudade, não sabia ? Essa urgência que me tira do sério às vezes por não poder fazer nada em relação a isso. Vem me buscar ? Eu prometo que deixo tudo pronto pra quando você chegar, deixo a casa arrumada, com pulmão e coração bem cuidados, porque sei que quando te sentirem perto de mim irão querer fazer um baile de carnaval aqui dentro, e vai bagunçar tudo de novo, como sempre. Só não fala nada, só me olha por enquanto, sua voz me causa sensações esquisitas, viciantes, tipo droga, daquelas que você fica louco quando não tem, e a casa já desarrumou demais pra isso, eu não ia saber como arrumar. Mas, se você disser que me ajuda, eu tiro tudo que tem nela pra caber você, pra se aconchegar de corpo e alma aqui, e pode fechar a porta e queimar a chave, ela não precisará ser aberta de novo depois que você estiver aqui dentro.
E esses maus bocados que a vida apronta, hein ? Eu que ando com as mãos nos bolsos e cabeça no mundo da lua, precisando de um tapa nas costas de vez em quando, agora me vi equilibrada. Só me vi, não que eu me sinta, sabe como é que é. As janelas e portas se escancararam à espera de novos ares, quem sabe não trazem também alguns pássaros e flores, esses que ando precisando tanto ultimamente. E ah, aquele sussurro também, o vento sabe de qual eu estou falando, podia até trazer nas costas de tão leve e doce que é, aquele que mora longe, aquele, só aquele.