Coleção pessoal de JeanLuca

Encontrados 5 pensamentos na coleção de JeanLuca

Sereieu

Sinônimos de mim mesmo
São aqueles que fui no passado
Pra mim, deixo o legado
De nunca ser mais ninguém;
Aquele que fora em outrora,
Alguém bem mais que iludido
Um tolo, pobre perdido
Vagando sempre além;
No som de outros silêncios
Na luz de outras idades
No espaço, ficou a saudade
Do tempo que nunca esperei;
Mas falta não fez a falácia
De crer em outra verdade
Mentir por pura vontade
Praquele que nunca fui eu;
Porém, de ser mais que demais
Me basta ser tão presente
Que sente sempre ausente
O leito que me recolheu;
Aquele que foi, não importa
Não vive quem já esqueceu
Que habita quem nunca morreu
Meu peito aberto a vencer;

Sacro Ofício

Se já não podes falar nada
Menina da voz mais suave,
Deixe que exalo poesias
Na minha já bem mais grave

E se não fores mais capaz
De me ouvir recitar o refrão,
Deixe que canto por gestos
Com dedos de pura canção.

Se dedos não mais me restarem
Pra te carregar pela mão
Menina branca de neve
Me leve no coração.

Mas se por descaso não possa
No peito me carregar
Te peço que nunca te esqueças
Me leve no seu lembrar.

Entretanto se for sacrifício,
Residir em teu pensamento
Deserdo este fardo e ofício
Não nego, haverá sofrimento
Desmonto em pedra e silício
E imploro com ar de lamento:
Menina branca de neve,
Me leve no esquecimento.

A Culpa do Corpo

Tu, corpo, não mais te aguenta
Se te exprime o limiar
Se desaba sobre o andar
Se soma não mais se enfrenta

O osso, o aço, a mania
Se entope tua narina
Debate, implora aspirina
Calada, se faz afonia

Fibras, câimbras, ruínas
Tuas formas de expressão
Não mais te grita o refrão
Do verso de outras esquinas

No fim, o corpo de outrora
Que expulsa, escuta, doutrina
Que culpa, acumula, se ensina
Agora, nao vê, não se implora

Te sente, nunca te esquece
Tu, corpo só de passagem
De tanto fazer-se miragem
Enchergas que tu te merece

Vê se comporta tua sina!
Tu, corpo, te afoga em malicia
Te tenta não ser mais polícia
Que atenta tua causa divina

Tu, corpo, não há quem te ensine
Não tenhas outras triagens
Pra ascender-se a outras imagens
Quando fraca te faz sublime.

Pois tens o que mais necessita:
Tuas torres de vigia
Teu peito, a sombra sombria
Tu, corpo, não mais te limita.

Querer-te(r)

Queria era ter tentado,
Tentar o que nunca tentei;
Das coisas, deixei de lado
O que nunca experimentei.

Queria gritar bem mais alto:
Berrar, estourar o ouvido;
Pois quem fala meio errado,
Sempre grita distorcido.

Perigo foi ter caminhado,
Tentando achar um porém;
No escuro, vagava insensato
Até, que enfim, te encontrei;

Passei a querer, aliás,
Querer que me queiras também;
Querendo, te quis demais,
Te tendo, não vi mais ninguém.

Mas como explicar o querer,
Se "querer" nunca diz "não"?
Ele é só mais um dicionário,
Esperando uma tradução!

É simples querer te querer;
Juro, é quase uma romaria:
É só querer te ter,
Em vez de falar "te queria"

Insimplesficar

No cerne de minha intensidade, abracei tua causa com força igual a imensa dor que sentira quando não me fiz capaz de te sustentar. Cego, surdo, torto, elevei no mais alto pilar tua mazela e de tanto pesada, agarrei-me com unhas e dentes ao volúvel e catatônico pedestal. De tudo, me restava apenas ter notado que o ser que repousava ao meu lado reivindicava de meus ruidosos afagos mais que tua causa os necessitava...
Como onda manante, tua prazia, circundante e magnética me arrebatara de imediato. Se nas horas de luto foste forte para afagar-me em teu colo, que de tanto sustentar-se em si mesmo, se fez inquebrável, nas de júbilo antagonizava-se às costas do mundo, ao desdém daqueles dogmas displicentes.
Fio a fio, enovelava-se em nosso tear a mais sublime trama. Imóveis, adjacentes, pairamos em nosso próprio enredo, suspensos um no outro. Linha por linha, anexávamos a nossa infinda teia mais e mais carretéis. Cada segredo de seda, cada sonho de algodão, cada desejo de cetim, abrilhantava nosso tecido. Mas de ser resiliente, também se bastava da sensibilidade. Assim sendo, de contraponto a gumes e unhas agudas, adotamos luvas do mais puro algodão.
Mas se por tão profundo e pulsátil coração, te arrebatei, por tão exasperas e pontiagudas mãos te esfarrapei a trama. Inerte, despencávamos agora ao chão em lascas e debulhas, aturdidos pelo impacto. Desnorteado, em frangalhos, de olhos furados, passei a exaurir oxigênio a tua procura, sem saber que te encontrava em tão pior estado. Desfigurada era agora tua causa e intangível era agora tua alma, e de ser impossível explicitar tamanha tua dor, caminhaste a passos de formiga na direção contrária. Lamentos ao vento, era a gota D’agua. Por segurança, em saudosas lágrimas e afastando-se, deixou o tolo debulhado a esganiçar sozinho.
E hoje, na residência de uma mente inconstante, no brilho eterno de um passado ausente repousa a soturna lembrança. A reminiscência da nossa trama, nossa eterna e quente trama, que de ser razão de meu calor em épocas primaveris, tornou-se lamúria de minha incapacidade em invernos agora sempre presentes.