Coleção pessoal de ivyivy

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santa tereza

ouviaduto
no viaduto

viaduto
no viaduto

haviaduto
no viaduto

tudo via
no viaduto

tudo havia
no viaduto

salvo conduto
no viaduto?

luto
no viaduto

(con)tato

dedilho improvisos
teu corpo jaz(z)ido
acorda blues

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Sensitiva

com o calor que me provocas
quando desperto
desabrocho

A Filosofia deve dizer tudo.

a poesia está morta

mas juro que não fui eu

eu até que tentei fazer o melhor que podia para salvá-la

imitei diligentemente augusto dos anjos paulo torres carlos drummond de andrade manuel bandeira murilo mendes vladmir maiakóvski joão cabral de melo neto paul éluard oswald de andrade guillaume appolinaire sosígenes costa bertolt brecht augusto de campos

não adiantou nada

em desespero de causa cheguei a imitar um certo (ou incerto)
josé paulo paes poeta de ribeirãozinho estrada de ferro
araraquarense

porém ribeirãozinho mudou de nome a estrada de ferro
araraquarense foi extinta e josé paulo paes parece nunca ter
existido

nem eu

(Poema "Acima de qualquer suspeita")

AMOR FEINHO
Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.

Doce fel

eu acho que já conheço
os seus passos
os seus abraços

mas eu me vejo só
tão só
sem nós
e com tantos nós

eu acho que te conheço
mas eu me vejo
no meu avesso
quando te procuro

não devo
e me atrevo
esperançar

espero o ar
poder te amar
sem amargar

Amores mal acabados

Hoje quero falar de amores.
Amores não terminados, mal acabados, até mal amados.
Amores sem cores, sem sabores, só de dores.
Amores onde não se sabe o que quer, se bem-me-quer ou mal-me-quer.
Amores de brigas, intrigas, onde há uma nova amiga.
Amores onde o sentimento foi se perdendo, se esvaindo e ao relento ficou.

O que acontece com esses amores, que ficam perdidos, abandonados e trumbicados?
Esses amores, inquestionados, desnorteados, desatinados e desapaixonados.
Ex-amores, ex-cobradores, descompromissados.


Amores mal acabados, precisam de um fim.
Esses amores pesados, com sofrimento, muito lamento...
E até que por um momento te fez feliz.

Alguns amores acabam, quando outros começam.
Amores mal acabados, saem do planejado.
Os nunca acabados, continuam amores!

Translúcida


Sobre tudo que aconteceu,
Agora paro para refletir.

Posso ter chorado, sofrido, te amado.
Tudo materializado por uma alma insana.

Buscando meu pico de centralidade,
Rodo como um pião afinando meu eixo.

A maturidade bate na porta.
Ajusta os ponteiros,
Calcula horas, dias e meses de desespero.

Com tanta desesperança,
Parece que o pique esconde é com a felicidade.
Que hoje vive em local incerto e não sabido.
Assim como um criminoso ou forasteiro,
Machuca pessoas, vem com data e hora para ir embora.
E some.

Nessa seca de verão,
Secou tudo.
Canal, afluentes e coração

Descrente com as águas de março,
Sigo sem salvação.

Terreno quando judiado pelo tempo,
Nasce flor com espinhos.

A arte de ser feliz

Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

O POETA

O poeta não gosta de palavras:
escreve para se ver livre delas.

A palavra
torna o poeta
pequeno e sem invenção.

Quando,
sobre o abismo da morte,
o poeta escreve terra,
na palavra ele se apaga
e suja a página de areia.

Quando escreve sangue
o poeta sangra
e a única veia que lhe dói
é aquela que ele não sente.

Com raiva,
o poeta inicia a escrita
como um rio desflorando o chão.
Cada palavra é um vidro em que se corta.

O poeta não quer escrever.
Apenas ser escrito.

Escrever, talvez,
apenas enquanto dorme.

Eu faço seus gostos
Faço seus desejos
Deixo fazer o que quer de mim
Não parece querer muito
Não parece querer nada
Talvez eu só não tenha entendido
Talvez eu me iluda porque é mais fácil
Talvez achar que isso seja amor seja mais fácil
Talvez esse amor seja minha bengala
Meu encosto
Meu impulso
Meu motivo
Talvez não exista mais nada
E eu só me alimente de lembranças

Que mocinha boba!
Mocinha tola
Mocinha infantil

Ah, como eu rio de você!
Como eu desprezo você!
E como ao meu tempo eu choro por amar você?!

Te odeio e te amo ao mesmo tempo
Me alimento e me destruo com você
Me lembro e me esqueço de mim

Sua idiota
Sua inconstante
Você ama!
E você sofre!

De novo e de novo

Você é o meu motivo
De cada dor a cada sorriso
Você pede que eu escreva coisas alegres
Mas o que eu escrevo é sobre nós

Me distraio e me acho pensando
Nisso tudo que um dia foi bom
Sofro ao pensar no futuro
Um amanhã que já foi o hoje
Um hoje que num instante se perdeu
Um passado que um dia foi bom
Um passado que eu vi escorrer
Por entre os dedos das minhas mãos

Hoje tenho você por um email
Saboreio da inconsistência do medo
Sou a pessoa por detrás da tela
Cheias de fraquezas
Mendigando um amor
Tentando dar a segurança que não sabe se tem

Sabe de uma coisa?
Ontem pensei em você
Hoje também
E me vejo por anos pensando na possibilidade do amanhã
Mas é certo:
Amanhã pensarei em você
Mais uma vez!

Eu só penso se está pensando em mim
Eu só quero ter o seu amor pra mim!
Quero ver seus olhos brilharem
Feliz por me ter ao seu lado
Quero chorar no seu peito
Sentir o conforto dos seus braços
Quero contemplar da delícia de apenas poder te olhar
E sentir o calor da nossa paixão

Nesse momento me sinto feliz
Tava pensando em você
Nesse mesmo segundo
A felicidade passou
Continuo pensando em você

Só por hoje vou te amar
Como se o próximo segundo não fosse existir

Chão que nada dá

Estou em pétadas
Caída no chão
E machucada por tantos espinhos

A angústia me sufoca
A tensão supera o meu sono
Acordada tenho mais pés nos chão
Como rosa em pedaços que sou
O que restou foram os pés
Até o aroma eu perdi

Hoje estou em luto
Em luto pela esperança
Não há mais luta!
Ex-pero
Só desespero
E me lembro que nada posso esperar!

Como ter forças se minhas pétalas secaram, verão?
O que verão?
Não verão a chegada da primavera
Nem a colheita dos frutos
Vamos sofrer a secura como um deserto
Com um jardim sem flor
A tristeza de um pé doente
A lembrança de uma rosa branca
Que você não ajudou a brotar

Espere na negação do cuidar!
Experimente a amargura de uma verdura
Que não teve o seu aguar
Encha seu vaso de flores
Com as flores de um jardim que não cuidou
Saboreie do néctar da fruta que você também não plantou
E dê de presente uma rosa
Que nunca pôde viver!

Ose rêver

Ouvir sua voz seria sublime. Ver como o
entrelaçar de suas palavras as aglutina.
Ver como você exprime seus sentimentos, seus
pensamentos com palavras singelas e uma fala
roufenha.
Uma imperfeição. Sua perfeição!
Nos seus sorrisos, lábios entreabertos.
Sua vontade de ganhar o mundo. Minha
vontade de fazer parte do seu mundo.
Tentei chamar sua atenção, tentei trazer você
para mim.
Não pude fazer muito.
Hoje sonhei com você. Estava lindo como
sempre.
Era a beleza de um sonho. Uma realidade que
eu inventei.
Acordei. Você não se foi. Você está aqui como
sempre esteve.
Não vou deixar que se vá.
Hoje você está mais vivo.
Amanhã será verdade.

Inebria

Naqueles dias em que só posso sentir a maresia
Ela passa por mim como brisa de uma onda vazia
Eu posso sentir você chegar
Eu perdi toda sinestesia
Que me aproxima do resto do mundo

Não há toque
Não há contato
Eu não consigo imaginar mais nada
Não sei se consigo sonhar a diante
Tem um mundo pela frente
E eu não sei se há força

Talvez!
Talvez...
Talvez o amanhã seja melhor

O horizonte não é só aquele que avisto ao sol se pôr
Eu estou lúcida procurando uma sinapse que reative o calor

Não passo de mais um ser perdido em si mesmo
Procurando uma razão para os seus medos
Sofrendo por não achar seu lugar
Perambulando, como um cachorro no lixo, buscando seu alimento

Os restos me poluem
Meus anseios só desorientam
Eu não sei esperar o amanhã

Talvez.
Talvez...
Talvez eu não permita o amanhã de planos

Os planejamentos me desnorteiam
Eu não consigo viver na angústia da sua expectativa

Sintomas

Ando meio chateada com tudo e com todos
Não acho meu lugar
Me sinto numa selva do lute pelo seu

Queria caminhar, queria sorrir, queria ser leve
Mas eu me sinto triste, perdida e sem rumo

Ouço músicas e sinto dor
Vejo pessoas e quero fugir
O cheiro de perfumes me faz ir pra longe

Eu busco o sabor das primaveras
As flores da manhã
O calor do café
A delícia do sorrir
E eu nada encontro

Fica um vazio em mim
Me sinto ausente de mim mesma
Não sei onde me achar
Não sei onde me procurar

Queria poder voar
Me permitir viajar no meu mundo
Queria tirar essa dor que me acomete
Essa angústia lasciva que me degenera
Essa prisão que me orbita

Eu crio meus demônios
Eles impedem minhas percepções
Eu projeto uma realidade inventada
Eu não sei mais o que é real
Eu estou sempre nos meus sonhos
E meu pião nunca para de rodar

Tudo que eu vejo é fantasia
Não há amor
Não há sabor
Não há euforia

Qual o sentido de existir?
Por que eu não consigo mais sorrir?
Vou continuar a ser um faquir?

Eu vejo o tempo na cara das pessoas
E como o tic-tac dos relógios
Ele persiste em fazer tudo agonizar
Ele sempre me cobra
E eu só consigo reparar

Me sinto agora, como uma neptunia plena ao anoitecer
Fico esperando cada manhã
Cada gota de orvalho secar
Cada sol nascer
Buscando incessantemente, algum calor que lubrifique

Sentidos

Queria descrever
Queria explicar
Queria externar
Mas o que mostrar?

Penso tanta coisa
Penso o tempo todo
E paro para pensar de novo
O que há de novo?

Nesse vai e vem
Eu tenho cem
E não tenho ninguém
Eu estaria aquém?

Começo a sonhar
Passo o dia a imaginar
Ele diz se apaixonar
Mas será que devo acreditar?

Eu não sei dizer
Eu não sei quem é você
Será que um dia vou saber?

Eu posso notar
Que tem algo no ar
E eu não sei falar
Afinal, a gente não resolveu se gostar
Mas o que é gostar?

Não posso medir
Não explico o sentir
Vou refletir

Agora só quero dizer
Que quero me deliciar com você
Quero ouvir seu aroma
Quero sentir seu sabor
E quero ver sua voz

Reencontro efêmero

Você é capaz
De reativar o meu amor
Transformar o morno em voraz
Me fazer ressentir o sabor
De uma paixão nada fugaz

Cada palavra
Cada olhar
Me motiva acreditar
Que esse amor nunca se acaba
E muita coisa vai rolar

Pode parecer inocente
Mas esse amor transcende
Quem foi maledicente
E ninguém compreende
O porque de voltar tão de repente

Parecia o fim
O estopim
De uma relação prematura
Ou seria madura?
Que não entrou na moldura

É fácil querer ser feliz
E esquecer que por um triz
Uma relação desaba
Não sobra nada
O amor parece que acaba
E ninguém faz nada

Depois começa o tormento
É só sofrimento
Cada um em seu desalento
Pensando que por um momento
Podia ter sido feliz