Coleção pessoal de ITOPEDRAGRANDE
Breve e quase inútil observação acerca de nós e as redes sociais: na toada que vamos, seremos todos doutores em Achismonomia Replicada.
EM AGOSTO
Um pé de jacarandá para o outro:
-- Não aguento esse povo me chamando de ipê!
-- Não liga! Faz pose para a foto. O importante é aparecer.
Síntese nada otimista de hoje: quem sabe a direção não sabe aonde chegar; e quem sabe aonde chegar não sabe a direção. E pior ainda: este não conversa com a aquele.
Como a polarização atual, monstros, por anos adormecidos, se despertam e levantam. Na verdade, dormiam com os olhos abertos.
LIBERDADE
Após anos, a porta da gaiola, enfim, abria-se.
-- Liberdade para todos! -- disse, de fora, uma voz imponente.
Pularam com decisão. Caíram no abismo.
As asas estavam atrofiadas.
(Ito pedragrande)
Breve manifesto acerca da pretensa objetivação da propagação efusiva oncológica dos meandros sociais e demais segmentos estratificados propensos a necessários reparos com vistas a se perpetuarem pelas linhas transversais de tomos ideológicos inerentes de conceitos gradativos prontamente postos pelas nuances dogmáticas concernentes ao presente aspecto enviesado e pluridirecional da condição velada e também exposta adstringente ao cotidiano atemporal divido em camadas grossas de ignorâncias e certezas insanas no qual sempre habitam e habitarão riscos de toda natureza:
1. Acreditemos na ciência.
Toda experiência que a gente adquire é um mero empréstimo, cuja serventia devia ser mais coletiva que individual. Talvez isso explique o porquê de estarmos tão desengonçados.
Uns Cortes
Começou primeiro a cortar mesa e cadeiras, sofá, televisão, depois raque, filtro de água, fogão, carros, em seguida árvores, e por fim animais e gentes. As lâminas vazavam tudo, sem dó nem piedade, a mando de uma mulherona mandona que observava de certa distância com fúria nos olhos.
— Corto também essa carne podre pendurada nas suas costas? — perguntou-lhe o sujeito com a máquina na mão.
— Não, isso não. De jeito nenhum. Está louco?
E caminhando em direção a ele:
— Dá aqui essa máquina, você também já não me serve mais.
— Ziu!
Cinco pras Seis
Soa o despertador. Deu vontade de quebrá-lo ou atirá-lo contra a parede ou retirar a bateria ou engoli-lo. Programou para voltar a tocar em cinco minutos, voltou a dormir e sonhou. Falta de ar. Sangue escorrendo. Corpo esfriando. A morte chegando. Nem um minuto mais lhe restaria. Ao tocar pela segunda vez, de sobressalto pôs-se sentado, beijou o aparelho e jurou, ainda ofegante, amor eterno.
Os pezinhos pisam as areias frescas, brincando numa distância mais segura, longe da podridão da maldade humana.