Coleção pessoal de Islaforfatter

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Tentando um novo amor

Para curar uma dor de amor, digam o que quiserem, só conheço um remédio: um amor novinho em folha. Enquanto nosso coração não encontrar outro pretendente, ficaremos cultivando o velho amor, alimentando-o diariamente, sofrendo por ele e, no fundo, bem no fundinho, felizes por ter para quem dedicar nossos ais e nossa insônia. A gente só enterra mesmo o defunto quando outra pessoa surge para ocupar o posto.

Se isso lhe parece uma teoria simplista, toque aqui. É simplista sim. Isso de enterrar o defunto do dia pra noite só funciona quando o defunto era apenas uma paixonite, um entusiasmo, fogo de palha. Porém, se era algo realmente profundo, um sentimento maduro, aí o efeito do novo amor pode revelar-se um belo tiro pela culatra. Ele acabará servindo apenas para dar a você a total certeza de que aquele amor anterior era realmente um bem durável. E a dor voltará redobrada.

Um beijo que deveria inaugurar uma nova fase em sua vida pode trazer à tona lembranças fortes do passado, e nem é preciso comparar os beijos, apenas as sensações provocadas. Quem já vivenciou isso sabe o constrangimento que é beijar alguém e morrer de saudades do antecessor.

Um novo amor pode transformar o que era opaco em transparência: você não sabia exatamente o que sentia pelo ex, se era amor ou não, então surge outra pessoa e você descobre que sim, era amor, caso contrário não sentiria esse abandono, essa perturbação, essa forte impressão de que está fazendo uma tentativa inútil, de que não conseguirá ir adiante.

Mas o que fazer? Encarar uma vida monástica, celibatária? Nada disso. Viva as tentativas inúteis! Uma, duas, três, até que alguma delas consiga superar de vez a inquietação do passado, que venha realmente inaugurar uma nova fase em sua agenda amorosa, que deixe você tranqüilo em relação ao que viveu e ao que deve viver daqui pra frente.

No entanto, quanto mais escrevo, mais me dou conta de que não há fórmula que dê garantia para nossas atitudes, de que não há pessoa neste mundo que não possa nos surpreender, de que tudo o que vivemos são tentativas, e que inútil, inútil mesmo, nenhuma é.

⁠Era noite de junho,
Já é manhã de fevereiro.
Era doce,
Agora é azedo.
Foi vivo,
Mas não há luz no corredor.
Era poesia,
Deixaram papéis na pia.
Declarações de amor feitas às pressas com guardanapos usados.
Nem a maçã de Eva continha tamanha maldição.
Vinho vira vinagre,
Me armo com o que sobrou dos abraços,
Inevitável clamar um milagre,
Por que ainda ouço seus passos?
Era entrega,
Hoje é punição.
Foram poucas horas,
E eu não sei quantas mais ficarei aprisionada no eterno talvez fracassado.
Era uma corrida contra o tempo
E hoje suplico para que a ampulheta cesse sem embaraço o fluxo dos grãos.
Um dia foi vida,
Hoje melancolicamente é poesia.
Um dia fui eu e você,
Hoje sou eu e alguém que estou usando para te esquecer.
Era Brasil, hoje é Estocolmo.
- De Brasil a Estocolmo



Casas cheias de gente,
Vazias de pessoas sólidas.
Substâncias voláteis se movimentam pelos cômodos,
Saem pela porta,
Até que eu fique só de novo
Procurando a cura para uma doença que não sei o nome.
Uma fórmula para tornar a casa de gente em casa de pessoas.

- Casa química