Coleção pessoal de IngridLilianne
Escrevo-te toda inteira e sinto um sabor em ser e o sabor-a-ti é abstrato como o instante. é também com o corpo todo que pinto os meus quadros e na tela fixo o incorpóreo, eu corpo a corpo comigo mesma. Não se compreende música: ouve-se. Ouve-me então com teu corpo inteiro. Quando vieres a me ler
perguntarás por que não me restrinjo à pintura e às minhas exposições, já que escrevo tosco e sem ordem. É que agora sinto necessidade de palavras – e é novo para mim o que escrevo porque minha verdadeira palavra foi até agora intocada. A palavra é a minha quarta dimensão.
Declaro que, sem dúvida, não há prazer como a leitura! Como nos cansa depressa qualquer outra coisa que não seja um livro! Quando eu tiver minha própria casa, ficarei desolada se não tiver uma excelente biblioteca.
Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.
Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas, nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.
Queremos livros que nos afetem como um desastre. Um livro deve ser como um machado diante de um mar congelado em nós.
O homem é assombrado pela vastidão da eternidade. Então, perguntamos a nós mesmos: irão nossos atos ecoar através dos séculos? Muito tempo depois que tivermos partido, vão ouvir nossos nomes, vão querer saber quem éramos, com que coragem lutamos, o quanto amamos intensamente?
A glória é tanto mais tardia quanto mais duradoura há de ser, porque todo fruto delicioso amadurece lentamente.