Coleção pessoal de Incerto
Lembra de mim
Minhas mãos, procurando as tuas vazias, sem ação
você, vivendo das sobras de tempo que outro alguém traz em vão.
E eu? significo mesmo algo a ti? se nem tão pouco lembras que faz falta aqui?
Tudo brisado, calmo e em constante fluxo que deixa um sim e foge do não
essa vida lá fora com outros ocupa tanto espaço no teu
coração?
Sempre provável, talvez, à fora é sempre em sua vez
Minha fila não anda mas esta senha grita tentando derrubar um pouco deste muro de espaços que te colocam distante de mim
Se minha cabeça acostumou em te amar, não existe fim, nem vai acabar...
e essa contínua e imparável mulher não cansa de falar
que é sua mil vezes que não pode deixar
já que existem paredes pinto nelas um futuro pra você eternamente ficar
E se eu não existisse?
Parei pra pensar
como seria se eu não existisse
fiz a voz se calar como se a mente dormisse
E dos pensamentos fez-se trevas de escuridão
imagino que sem mim não há porque de sim e não
Como não há razão de ar nem fogo
penso eu que nunca morro
pois se morro não sinto quem sou
Aqui se vivo, aqui se mando em ação, corpo e alma
aqui se vejo , mato decisões da fala em forma de arma
Em meu mundo mudo que desperta a cada segundo eu decido
Se erro se acerto de olho ou finjo
É do fingir que nasce a atuação pra fugir da vida
E já que não quero me dar por vegetal
continuo descobrindo uma vida eterna em meu fluxo mental
Calma! Calma! Calma!
Por que pede calma? Se o faz com tanta impaciência.
Calma, enfim vegeta, ilude a ação, inibe o som
Acalme esta vontade de paz e liberte o sentido que traz
Trazendo esse furacão de fazeres que arranca a jornada contínua do ser
Essa vidinha que todos têm, que fazem como sempre, sem fúria
Coloca esta cabeça pesada no travesseiro e dorme como se não houvesse madrugada
Cala olhos, ouvidos e boca, cancela sentidos tão necessários
Medita uma vontade quase exterior
Faz dos medos sono, apenas sono
Traz esse sonho outra vez mórbido, calado
Num pesadelo cada vez mais silencioso
Não continua, mas para! Evita lançar à frente
Não há como ter calma, nem dormir
São três horas dessa batida e sons eufóricos
Dessa balada que não me deixou dormir
Contei até dez!
E o despertador fez o som finalizar o sono!
AQUELE DIA
Naquela mesma rua
Com o vento que cerra os olhos
Nos passos lentos e forçados
Quando a pressa deixa que os sons se façam diante do silêncio
E as pessoas, sorrisos, olhares em busca de um motivo.
O cotidiano que ao nosso redor acontece no prazer preciso
As várias formas de cumprimentar o que passa
E no futuro que rapidamente se torna passado
Nunca existiu presente
Essa mente que se preocupa com o futuro
É a mesma que está presa ao passado
Mas se não podemos voltar no tempo
Fingimos que podemos controlá-lo
E tiramos todas as xérox do que achamos que é permanente
Para que não esqueçamos, para nos iludir com um “pra sempre”.
E sempre voltamos, voltamos tentando resistir a nós mesmos.
E achamos que tudo, amanhã, será novo.
O depois não é diferente, é conseqüente.
SEMPRE FOI CEDO
A carta que chega
A resposta que se perde
A lagrima que cai
O sopro que pede
O beijo que distrói
O valor que empreende
O erro que dói
A fraqueza que se vende
A janela que conta
A boca que mente
O jogo que demora
Tudo é tão de repente....
Os minutos que pedimos sempre passam
O arrependimento não
Onde estão as palavras certas?
E as frases se vão
Olhar as fachadas
Nunca flutuar sobre os telhados
Nas coisas erradas
Nunca nos destinos trilhados
Afirmar
Negar
Fugir
Fingir
Erro
Nego?
Por que as horas estão correndo?
Onde está a luz no fim
Vejo muitas delas piscando para mim
A porta está fechada
Não encontro uma entrada
Cansei de procurar chaves
Identidades são apenas um verde impresso
Não vale sua liberdade
Não diz a verdade
E todos corremos para um final
O começo sempre acaba
Não existe apenas uma estrada
Olhe! Continua muito igual
Rasgou a lembrança
Queimou a esperança
Ninguém mais irá ler o que deve ser escondido
E vasculham o passado
Para dizer que se importaram
Com duas palavras escritas na incapacidade de falar
Os corpos estão separados no mesmo mundo
E se algo restar
O porquê vai se calar,
Meu “Te amo” agora é nulo.