Coleção pessoal de Ildasio
Quem é você?
Quem é você?
Manhã de sol
Ou dia de tempestade?
É você uma entrada?
Uma saída de emergência
Ou um labirinto pro nada?
Felicidade
Ou melancolia?
Para prometer-me distração
E pôr minha razão a serviço do coração!
Quem é você?
Vício benfazejo
Ou virtude incestuosa?
É você um truque?
Magia
Ou feitiçaria?
Deusa libertina
Ou, afinal, diaba puritana?
Porque não posso mais respirar
Sem ter você por perto!
Quem é você?
Alarido?
Melodia ou silêncio?
É você um desafio?
Uma certeza grandiloquente
Ou uma dúvida insanável?
Produto da tolice
Ou obra genial do acaso?
Pois é-me um sonho sempiterno,
Mistério insondável do universo!
Afaste-se
E ao mesmo tempo fique ao meu lado.
Vá embora,
E jamais me largue!
Quem é você?
03/03/2019
Ildasio Beserra
Não quer ser lacaio da ignorância?
Não quer ser escravo da pobreza?
Então busque conhecimento,
Tenha objetivos e pretensões
E dê tudo de si para chegar lá.
INVEJA
Nunca está bem,
o que temos é pouco,
desejamos o que o outro tem!
Mas, sem esforço,
não há como não parar
no fundo do poço!
Antítese
Ando sob este disco de fogo no céu,
Do qual os raios flamejantes,
Com todo o poderio e glória,
Espraiam-se pelas matérias todas.
Não fossem as preocupações,
Os temores e os anseios,
Talvez pudesse contemplar
O nascer e o pôr desse Sol perfeito!
Mais do que isso até,
Poderia sentir todo seu calor,
Não fosse levado a tremer
Com o ar frio da gente em volta.
E, de fato, fico quase indistinguível,
Enregelado de corpo e alma,
Com a maldade e a deturpação
De quem não se fez sob luz benigna.
CABEÇA, CORPO, ALMA
A alma está espraiada no corpo
E está o corpo cansado
Porque tem padecido a cabeça.
Está opressa a alma
Envelopada até o último suspiro
Já que no corpo está pendida a cabeça!
Eles não se enlaçam
Nem a cabeça ao corpo
Nem o corpo ou a cabeça à alma
Diverseria
Nas pradarias encontro-me
Perdido no nada.
Quem terá tirado minha humanidade?
Os parvos desta vida
Ou os deuses da eternidade?
Porque nada mais me surpreende...
Os horrores não me marcam
Nem a beleza me prende.
Vivi o verso e o reverso!
O drama eloquente
E o romance, nem tanto atraente.
Provei o doce imbuído em amargura
E o amargo enjoado em doçura,
O bom do insosso e o salgado sem graça.
Fiquei ruim com poucos copos de água,
E bom, exacerbando a cachaça.
Ganhei na escassez, perdi nos excessos,
Ora teimando nos erros
Ora fazendo progressos.
Tive pavor de lugar aberto,
E conforto em recinto fechado e coberto.
Aguerrido em menino,
Menos ferino mais tarde.
Um vilão difundido,
Um herói sem alarde!
Fui gênio, fui louco.
Fui muito, fui pouco!
Chorei de alegria,
Sorri de tristeza.
Hipocrisia? Pureza?
Deram,
Tiraram-me!
Se hoje eu chego,
Em retirada já bato.
Tenho interesse em tudo
E não me motivo com nada.
Fé
Sim... eu vou!
Vou esperar aqui
Como quem previamente sabe
Que é cedo
Para esperar
E já tarde
Para ter ilusões e acreditar!
Mas sim... eu vou!
Vou esperar aqui
Sem me importar com o tempo
Porque existe
Dentro de mim
Um paciente
Embora exteriormente ausente.
Exiba-se
Por uma poção de amor e carinho,
Querida, sou louco e carente,
Cuide bem desse seu paciente,
É detestável adoecer sozinho.
Apresente-se à minha frente
E simplesmente sorria
Para esta minha hipocondria,
Que ser-me-á já proficiente!
E para ajudar no tratamento,
Reprima a hesitação,
Acionando os pinos da volição,
Que instigam o avivamento.
Sim, querida! abuse da ousadia,
Exiba seu corpo, seu rosto,
Que os tomarei com gosto,
Como panaceia todo dia!
Peço: só não me manipule o vício,
Disponha de sua liberdade
Amando-me de verdade,
Respeitando esse santo ofício.
Senão, ponha-se pela porta afora
E não me veja agonizar,
Pois vou me esvaziar,
Transmudar-me numa abóbora.
Nós dois
Podia ser que o palpável,
Deste nosso relance,
Fosse um romance,
Um amor irretocável!
Mas, um átimo depois,
Desviou-se e já não será,
Jamais haverá
Frente e verso de nós dois.
E me aperta, e me envolve,
Mas não há mão nem braço,
E sim um nó, um laço
De saudade que me revolve...
Fico que nem criança,
Esperneando ao pé da cama,
Com a felicidade que me chama
Composta de lembrança!
Saudade
Ninguém sabe o quanto dói,
Abrindo no peito um tão grande
Buraco que me destrói!
Fico que nem criança,
Esperneando ao pé da cama,
Com a felicidade que me chama
Composta de lembrança!
E me aperta, e me envolve,
Mas não há mão nem braço,
E sim um nó, um laço
De saudade que me revolve...
Aos solavancos vou resistindo,
Com esta bomba sem pino...
Detonada, que vai me consumindo.
Mãe
Se a mãe severamente fala,
Você não responde.
Você apenas ouve e cala!
A mãe não está sendo chata,
Está usando a intuição
E a sua sabedoria inata.
A mãe educa e corrige,
Fingindo não ter
A dor que a devora e aflige!
Se ela censura e fustiga,
É preparando pro mundo,
Que mais duro castiga!
A mãe se doa e se sacrifica,
Todos vão embora...
Já a mãe... fica!
A mãe chora sem você ver,
A mãe morre,
Pra que você possa viver!
A esse amor, quem se opõe?
Não existe outro
Senão o amor de mãe!