Coleção pessoal de icaro_sales

Encontrados 10 pensamentos na coleção de icaro_sales

Velejo *icarus

Lancei meu barco contra o mar
venha o vento que vier
aponto a vela pro luar
e se virar? Seja o que Deus quiser

Antes de capitão sou só marujo
sou tão pequeno para velejar
não sou exemplo, eu somente fujo
querendo achar a ilha certa para ancorar

Navegador deste deserto
nada é tão seco quanto as águas
eu nunca sei se estou certo.

Vou me jogar junto da âncora
mergulhar... sair do mundo
é dúbio, insólito, é tudo, mas eu vou ficar lá no fundo.

Céus e terra

Que fique claro
que eu endoidei
não é tão raro
meu juízo sofreu de infarto e pequei

gritei tão puto
que rasguei
o céu, mar e a Terra
dividi tudo em três
agora vivo assim... é amor, paz ou guerra!
[ ]

Vivo cantando aos ventos
jogando notas no oxigênio
entoando canção de momentos

Que se dane o prêmio
ame meu gênio
ou peleje com meu maldito boêmio!

icarus-

Rendição *icarus

Estou jogando a toalha
já não dá mais para mim
tô fora! Joguei fora minha tralha
todo meu interior entrou em motim.

E então corro desesperado
o solo se abala a cada passo largo
meu choro inunda o chão abalado
vou tropeçando em cada soluço amargo

eu te peço perdão
companheiro
mas foi tudo em vão

eu te peço perdão
amor
mas foi só ilusão
eu desisto do meu coração.

Filho da mãe. Quando o poeta chora* icarus

Pode me culpar
sou eu o motivo da sua dor
faça-me pagar
pois atirei pedra no seu disco voador

pode me espancar
eu fiz um horror
faça-me chorar
pois atirei terra no seu ventilador.

Eu sei, eu entendo
então me arrebenta
eu fiz querendo
pode jogar-me até água benta

eu tenho este tom levado
foi eu quem quebrou a tevê
joguei água no seu cabelo pranchado
mas... mãe acredite eu fiz tudo isso por você.

Filho meu
és pequenino e traquino
futuro do meu eu
meu sonho de menino

eu não consigo te acusar
pois não vejo maldade
no seu traquinar
então filho... vai lá brincar

volte logo, vou fazer o jantar
- mãe você não tá brava?
não tem motivo, não demore a voltar

mãe...
Oi meu pequeno.
- eu não vou sair hoje
E por que não? - eu brinquei em casa
mas seu coração não sabe brincar, ele insiste em me amar

Luto dos astros *icarus

O Sol apontou mais alto que tudo
grandioso, acompanhado por uma halo dourada
brilhou o dia todo
e saiu sem dizer nada

A Lua passou a noite encabulada
escondeu-se sob as nuvens
afastou-se das estrelas e do mar
e a penumbra não teve luar

Ouviu-se do galo o canto
o Sol vem chorando
e o dia foi de pranto

A Lua desaba no chão
o Sol desbota em tons de cinza
e a Terra arrependida grita pedindo perdão, perdão!

Comunicado de falecimento*
último suspiro de icarus.

Hoje às 23 horas da noite suja
repleta de marginais
o poeta que dormia feito coruja
foi baleado no beco dos irracionais

e em seu leito de morte
escreve na agonia
sua última poesia
relata que a morte é evento de sorte
pois liberta a alma da dinastia
de residir na prisão

lutando contra as correntes
e grades da condenação
bebendo veneno das serpentes
comendo a desnutrição

rabiscando nas paredes da cela
anagramas de um prisioneiro
clareando o escuro da mente à luz de vela
pagando o salário do carcereiro

esquece a rima de lado
ao falar de amor
embora prefira morrer queimado
do que se expor

logo finge sua loucura
ateia fogo no próprio reino
alegando insanidade à realidade dura
rosna dizendo que não ama
e grita "roma!" do avesso
assim constrói sua fama
os poetas que conheço.

Nãos *icarus. Último dos seus.

Não, de novo não
não quero me perder
ficar à deriva no chão
me contradizer

não, não dessa vez
não quero esperar
a troco de um talvez

não, eu nego
deixo passar
não me entrego

não vem
que seu poema eu já conheço
dos seus versos já vi cem
tentativas de tropeço

a mesma boca que afaga
a sátira duma ilusão
também propaga
a tortura de um coração

veja você mesmo
os tantos sapatos descalços
já foram usados
por quem só sabia pisar

e caso queira alguém para amar
desculpa... hoje não dá
estou ocupado
te apresento alguém.

I.S.S

Interferência

Certo de que dei-te todos os meus sorrisos,
e também a atenção,
não esperei nada em troca,
muito menos o seu não.

Perdi a cor e o riso,
deixe-me ao menos só,
eu e o meu cenho siso,
cuja graça de mim tem dó.

Nem meu grito consegue alcançar lugar nenhum,
na amplidão desse espaço,
meu eco não chega a canto algum,
eu não sei o que faço.

Dar um tempo do mundo,
abrir o mar com a cabeça,
emergir minhas ideias lá no fundo,
té que um dia eu te esqueça.

I.S.S

Finado

Tenho medo de acreditar no que dizem as vozes,
não que eu escute alguém,
só às vezes,
o tom que entoam os cem, me vem.

Medito, tentando assim achar a paz,
mas a sina, vem e corta,
a sede, vem e mata,
a fome, vem e come.

Resisto a vontade que insiste,
em tomar posse de mim,
ideias estouram no que consiste,
em fazer coisa ruim, para mim.

Grita, afirmando a voz da incerteza,
com razão,
já que eu não suporto ser,
e as vezes não.

Habita em mim a sorte,
do último suspiro,
vir com um leve e fino corte,
ou com o peso de um tiro.

I.S.S

Angústia duma Rocha

Olha para mim, as cicatrizes em minha face,
as vê? Acha que é só um disfarce?
Que a dor não foi real?
Como esses estigmas que guardo,
o sofrimento ficou no passado,
mas o passado ficou em mim.

E a corrente presa em meu punho,
não vê que está enferrujada?
Meus olhos tremulos não te dizem nada?
Se estou certo, isso é só um rascunho,
o pior ainda está por vir.

Tem ideia da agonia que é gritar,
e ouvir o som ecoar no silêncio?
A razão por trás de um chorar,
a vaga esperança de um bom senso.

E você me pergunta a onde estão minhas lágrimas?
Foram petríficadas em meu rosto!
Não vê?
Eu sou só o que resta,
o estilhaço do que não presta,
a luz que esvaiu,
o mar que desertou,
a cruz que quebrou.

I.S.S