Coleção pessoal de Ianethome
Dias atrás te aclamei o céu
Em tão pouco tempo te tornastes meu féu
Mas eu engulo a seco
Não posso reconhecer
Que eu vi meu peito
Bordado a você
A noite me atordoou
Será que te aludi simpatia?
Mas meu cansaço logo te perdoou
Fiz do teu peito minha companhia
Eis que o tempo foi passando
O teu encanto também
Tu enxugaste o meu pranto
E me chamaste de meu bem
Já era tarde e eu não sentia
Eu não queria estar ali
Mas fui covarde, por covardia
Tomei tua mão e prossegui
E tua mão fria já não doía
Logo no peito eu percebi
Que amar podia, em cantoria
Porque amor não havia por ti
O amor não enxerga cor
Sequer enxerga a dor que lhe há de causar
O amor não enxerga a altura da queda
Horas é vôo alto
Horas é no asfalto que se deixa encontrar
O amor é vertiginoso
É insistir no vergonhoso
É um coração bondoso a se doar
O amor é Ícaro
Inebriado pela sensação de liberdade e poder
Deixou a cera das asas derreter
E caiu ao mar
Era tarde, e a rua estava cheia de pessoas vazias. E na costa marítima ele vinha ao meu encontro. Haviam tantos rostos estranhos em busca do meu, pensei ter visto o seu. Talvez. Às vezes, as noites frias me fazem lembrar você.
Ele não é o cara mais bonito ou foda que eu já conheci, mas ele é doce e bondoso. Costuma cumprir tudo o que promete, tem garra e é bom no que faz. Ele não é acomodado, e sabe inflar meu ego até nos dias chuvosos. É tão seguro, o que não o faz ser soberbo. Ele conhece o próprio potencial. Ele me faz ter de volta os tempos de infância, e eu esqueço como é chato ser adulta, às vezes. Quando ele sorri, os anjos sorriem juntos, e eu também. Que sorriso lindo. Ah sim, ele supre todas minhas expectativas sobre o que é ser um homem.
É uma pena que a vida não possa ser um romance, e que nos dias de hoje não se fabriquem as paixões de antes.
São 5:46 da manhã, do dia 27 de julho e ainda não dormi. Não consigo acreditar, chegar a ser algo surreal. Eu olho pro céu e penso "será que mereço?" e então as lágrimas escorrem e me vejo chorando de felicidade. Deus, meu Deus, que imensidão é essa dentro de mim? Sinto vontade de correr e gritar mundo afora que sou a mulher mais feliz da face da terra. Mas me contento em deitar sorrindo. Embora inquieta, não me preocupo em cair no sono. Na verdade preciso disso pra acordar no pleno carnaval de perceber que nada foi sonho, mas tudo real.
Eu lembro que vi, há um tempo atrás, um ônibus no qual estava escrito: Nosso amor é mais forte. E eu me perguntei: Será? Mas eu sabia que sim. Hoje pedi a Deus que o tornasse tão forte, mas tão forte a ponto de nos colocar no caminho que nos traz de volta um para o outro. Eu sei que ele me escutou.
A esperança não é nem realidade nem quimera. É como os caminhos da terra: na terra não havia caminhos; foram feitos pelo grande número de passantes.
Tomara
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore, se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho
Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...
No amor ninguém pode machucar ninguém; cada um é responsável por aquilo que sente e não podemos culpar o outro por isso... Já me senti ferida quando perdi o homem por quem me apaixonei... Hoje estou convencida de que ninguém perde ninguém, porque ninguém possui ninguém... Essa é a verdadeira experiência de ser livre: ter a coisa mais importante do mundo sem possuí-la.
Tarde demais
Conheço uma mulher, já quase cinqüentona, que passou boa parte da sua vida apaixonada pelo primeiro namorado. Eles tiveram um romance caliente lá nos seus 18 anos, depois se separaram e cada um tomou seu rumo. Ele casou e teve filhos, ela casou e teve filhos. Nas raras vezes em que se cruzavam pelas ruas da cidade, cumprimentavam-se, perguntavam como andava a vida de um e de outro, mas nada além disso. A verdade é que ela preservou o sentimento que tinha por ele por muitos anos, mesmo sendo feliz no seu casamento. Era um amor de estimação. Até que esse amor, tão sem ressonância, tão sem retribuição, tão sem aditivos, um dia evaporou. Perdeu o prazo de validade. Expirou.
Dia desses esta mulher recebeu um telefonema. Era ele. Oi, tudo bom? Há quanto tempo? Trivialidades de quem não se fala há anos. Ela perguntou: o que você conta? Ele respondeu que estava ligando para dizer uma única coisa: eu te amo.
Corta. Não teve happy end. Ela agradeceu o telefonema, desligaram e ambos seguiram suas vidas. Conversando com ela sobre isso, senti sua felicidade e desilusão ao mesmo tempo. Felicidade, logicamente, por ter deixado marcas profundas no coração dele: nem em sonhos ela imaginou que ele também tivesse levado esse sentimento tão adiante. E a tristeza veio da falta de ressonância, mais uma vez. Por que a demora? Por que a falta de sincronia? Como teria sido se ele houvesse dito isso alguns anos antes? Agora já não adiantava.
A beleza e a tristeza da vida podem estar em situações como esta: descobrir, tarde demais, que se ama uma pessoa. Pode acontecer até com quem está ao nosso lado neste instante. Parece que é um amor morno e sem graça, e que se acabar, tanto faz, e só daqui a muitos anos descobrir que nada era mais forte e raro do que este sentimento. Tarde demais é uma expressão cruel. Tarde demais é uma hora morta. Tarde demais é longe à beça. Não é lá que devemos deixar florecer nossas descobertas.
Ninguém disse que seria tão difícil ficar. Não oscilar. Manter-se firme. Mas também ninguém disse que seria fácil seguir. Como lutar contra a maré quando as ondas te levam para onde você deveria ir?
Hoje você o ama. Amanhã você ama outro. Depois outro, e outro, outro... e você ama a tantos, e já amou tanto, que um dia sei lá quando sequer sabe se já amou.