Coleção pessoal de honneybaby
Ter certeza das coisas nunca foi uma das minhas características. O incerto é arriscado, é emocionante e eu sempre acabo apostando nele.
Apesar de tudo, eu me orgulho de mim. Sempre que acordo, penso: "Mais um dia, eu consegui!".
Nem sempre me senti bem em estar viva, então cada dia pra mim é uma conquista. Um mérito meu que nada pode substituir e/ou apagar.
Eu não queria morrer. Eu só queria que a dor parasse.
Por um motivo -um alguém- me afastei de tudo e de todos, e descobri que a mesma distância que destrói e faz sofrer, protege e conserva.
Meu mundo é feito de palavras, de música, de coisas que só eu sei. Pessoas não são bem vindas por aqui.
Cansada de tanta ausência, parada num lugar em que tudo se abstém de brilho, trancada aqui, onde não há cor.
Eu não tenho certeza se acredito em amizades verdadeiras. Aliás, ultimamente eu não tenho certeza de nada.
As coisas são sempre assim, tão iguais. Gostaria que algo diferente acontecesse. Algo diferente o suficiente.
Algo que evoque de mim novas sensações, novos gostos.
Fico pensando se isso é possível. Mas acho que não. Vou me conformando, ou fingindo, não sei; não sei.
Esse "não saber" anda me definindo muito bem.
Entenda se puder.
Eu queria ir contigo, pra onde quer que você fosse.
Queria poder te seguir e te guiar. Mas não.
É uma droga isso de ter que decidir, ter que fazer isso ou aquilo, não poder ser tudo... não poder ser nada.
Quero ficar, mas quero ir contigo - simultâneamente.
Quero te prender em mim mas quero te deixar livre pra escolher.
Quero que escolha bem; mas o bem é relativo! Ou talvez não seja, não sei, talvez nem queira.
Que as tuas mãos sejam leves para acariciar; mas nem tanto.
Que tenhas boa aparência; mas não muita.
E ainda que saiba dançar, só que não muito bem.
Eu sei o que quero de ti! Te quero inteiro, assim, por nada.
Também gosto das nossas metades e dos seus "inacabados",
quero esse teu nada - que significa tudo.
Talvez eu te queira mal, talvez não saiba como te quero.
Só sei que te quero bem.
Honey Baby
Calma.Respira. A vida não é tão dura assim. O que de pior pode nos acontecer além de que o pior sempre pode nos acontecer? Relaxa, menina. A vida não é tão dura assim.
Aproveita! Aproveita o que tem. Se não tem nada, aproveita também.
Todo tempo é bom, tudo é proveitoso.
O passado não existe, tampouco o futuro. O futuro é hoje. O futuro é todos os dias. Não há motivo para preocupação.
Tudo é tão breve, o tempo todo. Piscou, não viu?! Acabou. Aproveita enquanto pode, aproveita a vida. Enquanto tem.
Agora, respira fundo e continua, algo está para acontecer, algo maravilhoso! E você, definitivamente não pode perder.
Incertezas.
Outro dia, estava eu na estação da Luz esperando o trem para ir trabalhar, quando no meio daquela multidão, uma moça me chamou a atenção.
Ela não era bonita nem bem vestida, muito menos parecia saudável ou simpática. Era séria, cara amarrada! Expressão sombria. Parecia até personagem de filme de terror!
Fique receosa de observá-la, parecia tão mal! Magrela, meio curvada, a cara da fraqueza! Pele bem branca, aparência de morta, cabelo bem preto, opaco. Talvez ela viesse de algum enterro...
Algo horroroso cercava aquela garota! Havia uma nuvem negra acima de sua cabeça e era quase visível.
Mais alguns minutos esperando o trem, eu a fitava mais fixamente. Fiquei pensando o que levava aquela jovem àquele estado! Tão triste, evidentemente doente! Mil pensamentos me invadiram. Criei mil vidas e mil desgraças para cada vida. "Que terrível! Que dó!" - O barulho que anunciava a chegada do trem calou meus pensamentos.
O trem finalmente abriu as portas e lá estava a garota, caminhando depressa. Notei algo diferente: ela tinha uma tatuagem, nas costas, em cima. Bem visível.
Tinta preta (que parecia ainda mais escura ressaltada em sua pele pálida), letras grossas e redondas. Três palavras: "tudo vai passar".
Tudo-vai-passar. Me atingiu como um soco de direita!
Talvez ela estivesse suportando aquilo com todas as forças e quem sou eu para julgá-la?! Talvez aquela fosse sua cruz. E eu? Posso ser a garota triste do trem amanhã. Será que eu, justamente eu, que pensei mil coisas a respeito da garota, suportaria? Percebi que diferente de mim, a garota de pele branca e cabelos negros tinha a convicção de que toda a dor passaria e logo logo estaria bem.
Envergonhada, abaixei a cabeça e entrei no outro vagão, onde percebi que uma moça com olhos espertos me olhava evidentemente com pena da minha perturbação. Eu não teria uma tatuagem para fazê-la perceber mas talvez um dia, ela também aprenda: cada um suporta - ou não - como pode.
As portas se fecharam.
Eu sou vazia.
Isso me enche.
Ninguém compreende
Minha escuridão.
"Eu sou vazia"
- digo em vão.
Ninguém conhece
Meu coração.
Eu sou sozinha!
Como explicar?
Ninguém acompanha
O meu andar.
Sozinha e só:
Essa sou eu.
Levando a vida
Que Deus me deu.
Se for assim, eu não quero.
Eu poderia começar garantindo uma bela história mas seria mentira. Poderia também dizer que sou dotada de grande criatividade, mas também seria mentira. Criatividade tem a ver com otimismo e otimismo, definitivamente, não tem nada a ver comigo.
Pois bem. As coisas não são como sonhamos. Não existe príncipe encantado, muito menos pote de ouro no fim do arco-íris. Aliás, arco-íris?! Se tu teve a sorte de ver um, algum dia, vai lembrar também de que ele desaparece muito rápido, antes mesmo de ti PENSAR onde ficava o início dele. A vida é assim.
As coisas nunca dão certo e esse papo de que "no fim tudo se resolve" é furado. No fim, tu sofre por estar acabando, não aceita e fica frustrado se perguntando o que fez de errado, querendo voltar ao começo ou ao meio, ou àquela época em que tu "era feliz e não sabia".
Desde criança você ouve que deve vencer e ser alguém na vida. Mas quem disse que o soldado aqui quer ir à guerra? Quem me entitulou um combatente? Ninguém pediu minha opinião.
E se eu não quiser vencer? E se eu quiser viver em paz? Quem começou esse maldito conflito afinal??! Eu não. E se eu não quiser fazer parte disso? É! E se eu não quiser? Não quero.
O show não pode parar então comece a dançar. Mostre para eles! Desista da sua vida, querido, porque seus valores e ideais pouco importam.
Use muito brilho e ligue os holofotes. Beleza e alienação, é isso que o mundo pede. Então que assim seja.
Repito: desista. Da sua vida, dos seus sonhos e objetivos. Aprenda a ser obscuro e a jogar sujo. É assim que se chega longe. Todos terão orgulho de ti, mesmo que se sinta infeliz. Afinal, a infelicidade é a parte essencial do sucesso.
Sabe a luz no fim do túnel? Tu não precisa dela. As sombras são mais atraentes, mais convenientes e estará cansado demais para pensar nisso.
As aparências não enganam. Tudo é exatamente como parece ser, assim, tão fútil e superficial. É assim que tem que ser. É assim que se vence a batalha, que se chega ao topo, que se provoca inveja! É desse jeito que se deve desistir.
Não se preocupe, tu acostuma. Acaba esquecendo de quem era, de quem te ajudou e o que realmente importa perde a importância. O passado passa e tu avança em direção ao nada.
A vida é sua e apesar de não ser por conta da morte, tens sim o direito de desistir dela: siga esse caminho.
Ignore seus valores, seja corrupto, desfaça dos seus amigos (vínculos só atrapalham), finja e torne-se inabalável.
A realidade é feia! Esse mundo é plástico. Boa sorte nesse teu caminho. Se for assim, eu não quero.
O Amor e as Estações.
Então chegou o outono.
As manhãs estão frias e o calor ardente das noites cessou. O sol já não brilha como antes, a rede está sempre vazia e as folhas secas como nunca!
Os dias passaram... e como passaram. De vez em quando penso em você. Não em "nós" mas em você! Penso em todas as promessas e naquelas tardes ensolaradas. Olhos preguiçosos, café ao meio-dia... Mas então chegou o outono.
O impacto foi grande: a vidraça da sala quebrou e molha uma parte do sofá! Mas a chuva sempre, sempre, acaba com a pintura da parede! Eu sei, eu sei: "o que importa é a estrutura e não a aparência". Percebe? Suas palavras ficaram...
A chuva. Ela vem anunciada por trovões feios e céu cinza. Diferente da de verão, ela vem e insiste. Persiste até que eu desisto de contê-la. Preciso de um vidro mais forte. Um que resista tanto o brilho do sol quanto a fúria da chuva. Então chegou o outono.
Não me divirto mais com video-games ou banhos de chuva, agora leio jornal e lavo louça. Não faço mais careta na frente do espelho nem mostro língua, agora eu arrumo a gola da camisa e faço retoques na maquiagem. Chocolate, batata frita?! Não, não. Salada e comida congelada. Agora eu sou séria, como bem deve ser o outono.
Uma hora ou outra me pego em devaneios e desvarios - sim, porque essência não muda - mas contenho os agudos e dancinhas ridículas quando me perco nos fones. É claro que ainda bebo todos aqueles duplos e mais claro ainda que ao final de 7 ou 8 copos me encontro completamente bêbada, em meu pior estado, largada no sofá molhado de chuva, rindo de cada desgraça e até da minha própria sombra. Então penso em você e no verão que passou. Culpa, será? Não sei. É estranho estar tão feliz em pleno frio de outono, enquanto te bate o vento...
Não existem mais discussões, ironias ou farpas... Sozinha não tem graça! Não existe mais "nós". Porque então chegou o outono! Nós sabíamos que ele chegaria. Mas sabe?! O inverno está chegando e será bem pior! E se eu passar - e passarei - por ele, vou me deliciar na primavera!
O frio vai passar, as flores vão aparecer! O verão vai acontecer de novo. Nós querendo ou não, vai acontecer para mim e para você.
O inverno pode ser rigoroso mas ele acaba. Chega então o colorido da próxima estação, tudo se renova! E você - e eu - e nós -, estaremos perdidos mais uma vez no calor do verão.
Então que passe. Que venham mais e mais verões e que estejamos prontos para futuros e eventuais outonos e invernos...
Para toda estação, que haja proveito. Que hajam festas florais e cobertores, que hajam beijos molhados e abraços causados por relâmpagos! Então que hajam dores e amores. E mais amores!
E que o mundo gire mais uma vez.