Coleção pessoal de Heitor_Nogueira
As vezes me pego pensando naquilo que eu não disse. Nos poemas inacabados e nos pequenos pensamentos que viraram linhas rabiscadas em meus cadernos escolares; daqueles tipos que nunca tardam a serem amassados e jogados fora, mas que formam raízes difíceis de se retirar e que acabam por voltar à ponta do lápis de quando em quando.
Acho que as palavras tem vontade própria. As vezes parece que simplesmente não é a hora de escrevê-las. Nesses momentos, penso que elas estão se resguardando para a frase perfeita, esperando para tornarem-se aquelas palavras que, quando lidas no momento certo, estremecem a alma e transbordam o coração.
Não seriam dessas raízes que surgem as melhores poesias ?
Aquelas que conquistam o desejo dos olhos e se instalam no coração, mas escolhem o momento certo de perpetuarem-se no papel.
Mais próximo!
Olho para a escuridão profunda
Sinto a face de minha sombra
Fria, amarga
Disforme, ascosa
Ando pelos trilhos sozinho
O ranger do aço ferve o sangue
A luz esfumaçada vem ao meu encontro
Encontrar-me-ei no início
Na dívida
No pecado
Nos vermes
Os reais herdeiros da cobiça
Esperando para arrancar-me os olhos
Para agraciar-me com a cegueira branca
Feche as janelas do quarto
Quebre o porta retrato
Aqui não há lugar para a sua franqueza
Apenas para os prazeres caprichosos do isolamento
Crie mais uma fábula
Calma, não elabore tanto
Desse jeito, ninguém acreditará em você
Você sabe o que deve ser feito !
Sim, você é um mentiroso
Mas não importa !
Todos eles te amam
Você sabe o que deve ser feito !
Entre para o clube
É seu dever mantê-los felizes
Mas lembre-se de fazer tudo com bastante antecedência
Você sabe o que deve ser feito !
Até quando vc guardará este segredo ?
Não acha que eles já desconfiam ?
Apresse-se, o tempo está acabando
Você sabe o que deve ser feito !
Sim, você é um mentiroso
Mas olhe o sorriso no rosto deles
É assim que deve ser
Você sabe o que deve ser feito !
Mantenha-se afastado
Eles enxergarão, caso chegue mais perto.
Você deve terminar a fábula sem nenhum erro!
Consegue imaginar o parágrafo final?
Você sabe o que deve ser feito !
É hora de engolir as pílulas vermelhas
Apenas o suficiente para cruzar a linha de chegada
A verdade estará estampada em seus olhos
Você sabe o que deve ser feito !
É hora de cortar todos os laços
Até que o trabalho esteja pronto
Até que você cumpra o seu papel
Sua vitória não será comemorada, mas você já sabia disso
Não faça perguntas, as respostas não estão aí
Apenas vá
Na calada da noite
Fora do alcance daqueles que observam
Volte para a sua origem
Não olhe para trás
Percebe o significado do reflexo das sombras agora ?
Faz-me sua marionete
Você me controla
Dar-lhe-ei a minha cruzeta para que preenchas o meu vazio
Só então sentirei algo
Só então saberei que estou vivo
O fogo e o choro
A chuva e a angustia
Dissipado num espelho
No qual eu não me reconheço
Não mais
Nunca mais
À minha frente, eu vejo as nuvens carregadas
Elas anunciam o final dos tempos
A náusea e o erro
O eterno retorno
Nós não somos
Nós nunca seremos
Dois corpos
Ligados por polos distintos
Diferença substancial
Nós não somos
Nós nunca seremos
Então...
Empunhe o machado
Crave-o no animal de duas costas
Assista-o definhar
Sangrando as verdades que eu preferi ignorar
Submerja
Vá mais fundo
Ache a resposta
No mais profundo oceano
No centro da cidade
Então perceba
Você está sozinho
Novamente
Novamente ...
Dias obscuros
A grande fortaleza em ruínas
Tudo que eu amava
Tudo que eu acreditava
Eu vejo o meu rosto cair diante de mim
Eu encaro o Grande penhasco solitário
Emerge-se então a verdade
O que eu pensei desejar
A ideia que eu usei para me guiar
Agora meus caminhos não estão claros
E você não está mais aqui para me ajudar
Talvez você nunca estivesse.
Aquilo que eu criei
A dúvida que se instalou
Eu a vejo consumir-me
Eu caio em dias obscuros
Céu azul
Briza quente
Afaga a alma
Acalma a mente
Ponho-me a pensar
Meu Deus como era lindo aquele lugar
Acho que encontrei o caminho por onde trilhar
No leito do rio eu quero estar
Nas sombras das araucárias
No lar de Ubirajara
Ao leito do rio eu quero voltar
No meio da Mata
Onde canta a Jandaia
Oh meu Deus, leve-me de volta a aquele lugar
No leito do rio eu quero estar
Majestosa terra
Lar do mais puro ar
Fonte de vida
Do canto do sabiá
Casa da luz
Da terra vermelha
Oh meu Deus, leve-me de volta a aquele lugar
Torno-me grato a cada dia
Você é minha confiança e o meu carinho
Sua presença tornou-se o eco da felicidade em minha vida
Com você compartilhei meus acertos e reduzi o sofrimento
Hoje eu vejo, você sempre foi
A minha fonte de paz e acalento
Cansei-me do orgulho
Cansei-me da frieza
Cansei de privar-me do prazer da certeza
A certeza de que te amo
que te quero bem
Para todo o sempre
Minha amiga