Coleção pessoal de Heinnelli
Futuro Incerto
Tentei ver pela neblina
Mas lá só vi um borrão
Talvez seja a verdade
Ou a minha imaginação
Me prendendo na arapuca
Pra que eu pare com a busca
Nessa imensa imensidão.
Olhar pro futuro dói
Justamente pelo risco
De se ver bem na pior
Como bem, feliz e rico
Aí que é o pulo do gato
Pra não cair que nem pato
Na furada, e não de brinco.
Mesmo com minha caneta
Ainda arde o coração
Mas assim que é o mundo
Não é doce ou jamelão
No fim, nada vai sobrar
Não adianta pensar
No que tá na escuridão.
À Procura de um Norte
Muita gente sai perdida
À procura de um norte
Procurando uma saída
Dependendo só da sorte
Não pensando nem um pouco
Chegam até a ficar loucos
Mais elétricos que poste.
Muita gente sai dengosa
À procura de um norte
Procurando uma saída
Não tentando nem ser forte
Achando que tudo é fácil
Se mostrando ser tão frágil
Não que eu tanto me importe.
Muita gente sai marrenta
À procura de um norte
Procurando uma saída
Cismando que é grande porte
Negando qualquer ajuda
Se fazendo de parruda
Sem precisar de suporte.
Muita gente sai cansada
À procura de um norte
Procurando uma saída
Pros problemas, passaporte
Mas largaram a esperança
Sobretudo, não avança
Crendo que nada conforte.
Também saio por aí
À procura de um norte
Procurando uma saída
Crio uma nota de corte
Eu também sou imperfeito
Então vou arranjar jeito
Mesmo que o medo me encoste.
A Ponte (Refeito)
Havia um guaxinim bobo
Que morava lá na mata
Era muito e bem amado
Tinha uma vida pacata.
Resolveu sair dali
Pois sempre onde passava
Não se via pertencente
Nem diversão enxergava.
Viajou pela cidade
Logo se foi a procurar
A peça que lhe faltava
Um dia terá de encontrar.
Questionou a sua escolha
Já estava a duvidar
De ter decidido errado
Ir embora do seu lar.
Chegou numa velha ponte
Tudo parecia cair
Mas teria um horizonte
Não podia desistir.
Escutou dela uma voz
Que dizia com fervor:
“Venha achar tua alegria”
Ele aceitou com louvor.
Com pressa foi pela ponte
Viu a hora de sorrir
Mas o tal não esperava
Que a ponte iria partir.
Pobre guaxinim ingênuo
Creu em palavras astutas
Assim tarde percebeu
Mentiras de pernas curtas.
De seu fim pode aprender
Algo que vivo pensando
Mais vale ter um só pássaro
Do que dois deles voando.
Senhor Espelho
Tentei evitar te ver
Mas até então, não deu
Tentei fugir de você
Fazer isso só doeu.
Sempre quis te afastar
Te deixar naquele canto
Mas você sempre fugia
Me fazia querer ser santo.
Mesmo te odiando assim
Não consigo fazer nada
Dores permanecem vivas
As atuais e as passadas.
Sinto que todos os outros
Têm algo a se orgulhar
Quando penso sobre mim
Sinto até a alma agulhar.
Dói demais ter que te olhar
E seguir os teus conselhos
Mas não tenho outra escolha
A não ser te amar, espelho.
Dor de um Final
Dói situar-se em um presente e futuro
Ambos pré-determinados.
Tentar mudá-los?
Passo.
Não é como se fosse algo fácil
Afinal, absolutamente nada é.
Hipocrisia minha?
Pois é, né?
Poderia tentar alterá-los
Já que o passado
Permanecerá o mesmo
Independente do quanto eu tente
Independente do que eu faça.
Apesar desse quesito
Eu sei que no fundo da minha alma
Seja por instinto ou pessimismo
Nesse ponto, há uma única coisa
A qual eu posso fazer:
Nada.
Esperança se esvaiu com o tempo
Penso, penso, penso
E acredito com toda a certeza
De que estou definitivamente certo.
Deixei de ser o protagonista há eras.
Me tornei a horrenda
Mórbida fera
Fera que eu temi desde sempre.
Talvez, o meu roteirista
Meu escritor
Já soubesse o que estava por vir
Será que é isso que eu sou?
Um fantoche
Este que nunca teve o controle.
Quem sabe
Isso é algo que eu sempre soube
Mas em momento algum
Tive pelo menos a coragem de admitir.
Em contraste, estava lá
Com o mínimo sinal.
Meu eu desonesto, indecifrável
E até mesmo boçal.
Entendi que
Além de não fazer algo a respeito
Dei o meu máximo
Para mais e mais me sabotar.
É tarde demais para voltar atrás.
Cometi o mesmo erro do guaxinim
Não da mesma forma, mas...
Só me resta aceitar
Mesmo que machuque
Mesmo que não cure
Fui um dos responsáveis
A fazer esse triste final
Infelizmente se concretizar.
O Paradoxo da Mudança
Mudanças... que coisa mais complicada.
Algo inevitável em nossa vida.
Mesmo não desejando,
nada pode mudar a mudança.
Às vezes gradual;
às vezes repentina.
Ela vem como as ondas do mar;
derrubam nosso castelinho
sem nenhum aviso prévio.
Não quero mudanças.
Quero continuar assim.
Vivendo uma vida da qual é
muito diferente do pretérito
em que eu vivia,
preso no meu mundinho.
Mas também, não quero continuar assim.
Pois é no tempo ruim,
que a mudança derruba um castelo
já destruído.
Tenho medo do que pode vir.
Tenho medo do que pode não vir.
Perder algo especial para mim
ou perder a oportunidade de ouro.
De novo, me vejo preso nesse paradoxo.
O mesmo que me faz dormir e levantar,
na esperança de um dia melhor,
na esperança de que um dia não seja pior.
Lembranças, há de resistirem.
Não importa o quanto o tempo passe
ou o quanto a situação mude.
Diante do Paradoxo da Mudança,
apenas a lembrança é imune.
Em Busca de uma Morada
Acharei uma morada?
Quem sabe.
Só espero não ter um infarte
de tanto andar e não encontrar nada.
Ou, minha residência já pode estar a vista
mas ainda sem o morador que
reside em nossas vidas,
e que nos diz aonde ir.
Foi assim que me tornei um nômade
tentando desvendar o que esconde
por trás da incompetência deste falso monge
em não aceitar a conhecer-se.
Não vai demorar muito.
pelo menos eu espero
caso contrário,
verei que estou no cúmulo da ignorância.
Como disse um sábio desconhecido
"Só aprende quando apanha",
apesar de que a maioria estranha
quando o aprendizado te torna um esquisito.
Um esquisito que muitas vezes
tem mais juízo do que as pessoas sãs,
das quais não conseguem ver o amanhã.
E pior, pensam que o destino não apronta.
Continuo a minha jornada.
Tento manter o otimismo.
Infelizmente sei: não importa o que eu faça,apenas eu posso seguir
neste solitário caminho.
A Melodia Interna
Tentei me encontrar e falhei.
Falhei em me encontrar, mas sei que tentei.
Ou será que não?
Talvez a ideia de que devemos nos encontrar
Seja só uma ilusão
E o que pensamos querer ou gostar
Seja fruto da nossa imaginação.
Tentamos encontrar uma lógica em tudo,
Entretanto até mesmo o mundo
Pode não ter nem precisar dela.
Gosto, não gosto.
Quero, não quero.
Às vezes percebo que o que provém do meu interesse
É apenas um consolo do meu subconsciente para me falar
Que é necessário que em algo eu seja bom.
A incerteza permanece até agora;
Escrevendo na frente da televisão,
Me preparando para ir à escola,
Crendo que essa é a decisão correta.
Tive medo de acabar arriscando meu precioso tempo,
Vendo ele partir ao vento que move meus cabelos.
Porém acho que não tem problema
Porque vejo atualmente como uma benção
O aproveitamento da vida enquanto posso.
Admito que grande parte dos poucos dilemas
Criados pela inspiração que provavelmente passará logo
Foi uma mentira, pelo menos quanto a minha pessoa
Mas não em relação às outras
E se assim foi, fico feliz pois
Saberei que finalmente fiz uma coisa boa.
É com isso que afirmo com toda certeza
Que cada palavra e cada verso
Não foi apenas da minha cabeça
Mas também do coração.
O Homem e o Relógio
Um homem encara um relógio, vendo cada tic tac ecoar pelo cômodo.
Tanto tempo se passa, ainda sem sentir incômodo.
Ele não desiste e insiste em encará-lo, ignorando o fato de que o ponteiro ainda se movia.
Foram anos e anos: os dois não pararam de se entreolhar, até que chegou o dia em que o homem morreu de ver o tempo passar.
Foi como um recado; mesmo observando cada segundo, bem lá no fundo tudo passou-se muito, muito rápido.
Lá se foi o homem inimigo do bom e velho tempo, do qual levou no relento todos aqueles que no mesmo caminho fossem.
Se Você Sente
Se você sente que precisa ser ouvido ou ouvida, se sente.
Esteja crente de que não é preciso ser querido ou querida por gente que se satisfaz da nossa tristeza.
Há pessoas que machucam e se machucam, criando espinhos em si mesmas, tais como os de uma roseira.
Essa mesma roseira perfura e cura com sua beleza, diante de sua ternura com aqueles que a merecem.
Por isso, só sabe amar o homem que cresce sabendo que mesmo que a situação aperte, o amor abre caminhos.
Se você sente que está sozinho, pense mais um pouquinho e verá que o "eu" ainda está aqui.
Às vezes a nossa mente engana, dizendo: "O lugar é por ali", fazendo a maior lambança nas cabecinhas tão ingênuas dos humanos.
Tenha noção de quem está ao seu lado; cada caso é um caso, mas não se acanhe: não perca a chance nem o prazo de se afastar e compreender o ditado de que estar sozinho é melhor do que mal acompanhado.
Se você sente que precisa se encontrar, recomendo procurar um pouco mais, porque nunca se sabe o que o universo nos dará algum dia.
Entenda: é normal ficar em dúvida, porém não duvide nunca de que sua vida é um espetáculo, e que nele você é o protagonista.
A Ponte
Havia um guaxinim que morava na floresta, do qual vivia uma vida sossegada.
Ele era conhecido e amado por todos os animais, porém algo que jamais pensariam era que o bicho não via a felicidade em nada.
"Oras, mas como? Se sua vida era boa assim; paz, amigos... por que ele era infeliz?"
Eis a questão: ele estava nesse mundo só por estar, sem saber como aproveitar tudo que estava em sua volta.
O animal se preparou, e então abriu a porta que o destino decidiu lhe reservar.
Saindo da floresta, ele opta por viajar pela cidade, achando que cedo ou tarde finalmente encontraria a peça que faltava.
Foram várias tentativas, uma mais fracassada que a outra, questionando se sua escolha teria sido a errada.
Chega um dia em que o guaxinim acaba por encontrar uma ponte velha que levava a um local ainda desconhecido.
Com a paciência já por um fio, a criatura desiste de tudo, não tendo ideia do que agora o espera.
Uma voz misteriosa pode ser ouvida: "Acha mesmo que esta é a saída? Passe. Passe pela ponte e terá a sua preciosa felicidade".
Ao escutar, ele começa a ter esperanças, sem nem mesmo pensar no quão estranha era a oferta, e se sequer era verdade.
Perguntando inocentemente o que era preciso fazer, a voz responde: "É como eu te disse, apenas passe pela ponte. Lá do outro lado é onde você poderá ser feliz".
Pareceu como um presente vindo dos céus; afinal, quais as chances de alguém ter uma oportunidade dessas tão de repente em um mundo tão cruel?
Após a resposta, o ansioso guaxinim passa pela famigerada ponte que estava caindo aos pedaços.
A cada passo, ele se sente cada vez mais baixo, enquanto tudo parecia ficar mais solto.
Neste momento, a esperança é substituída pelo medo e a felicidade por desespero, imediatamente tentando voltar.
O problema é que agora era tarde demais, e sem poder fazer mais nada, ele fecha os olhos e cai no abismo criado pelo erro de não perceber a hora de voltar atrás.