Coleção pessoal de GutembergdeMoura
Medo de Mim mesmo???
(Um micro-conto surrealista.)
Estranha sensação de estar andando por horas a fio, sem perceber paisagem alguma. Não havia nada. Não há nada para ser visto?
Que estranho!!!
E repentinamente o tudo se faz.
O ar é pesado, o céu num misto surreal de cinza e laranja, e a frente um sem fim por caminho. Andando, andando, andan...
Uma pedra? É sim, é a minha pedra. Corro em sua direção, quero descansar na pedra. Aquela que fica no meio do caminho....
Sentei, agora estou seguro, protegido. Mas do que mesmo? Também não sei. Ah deixa pra lá, OK?
De repente a pedra se agiganta, monte, montanha. Agora estreita-se, e ergue-se tal qual um obelisco e sobe aos céus tal qual a Torre de Babel (Babel= Rebelião). Eu aqui de cima vejo tudo, vejo abismos colossais. Não, não são abismos, não passam de rachaduras no solo, meras ranhuras no solo árido. Rios, é isso são rios, olhe os corpos em curso. Corpos de que mesmo? Tanto faz, são só invólucros, apenas casulos de algo maior. Ou será que não? Hum?
O que? Eu falando? Ah sim, as estrelas, são realmente belas. Quais? As do mar? Ou as do firmamento? Que diferença faz? Se Eu quiser alcançar as do mar, lanço-me ao profundo mergulho. Se for as do firmamento lanço-me ao destemido vôo. De qualquer forma será uma bela experiência.
Este céu, este céu me amedronta, me oprime, mas também me conforta, me acolhe, gosto de estar sozinho, perdi o medo e o vento quente é gostoso.
Eu não estou bem, acho que estou alucinando!
Surgem três luzes piscantes, inicialmente muito tênues, mas logo se firmam, e começam a se movimentarem freneticamente no céu alaranjado.
O medo voltou, quero correr, mas para onde, minha pedra me traiu se Eu me mexer caio em queda sem fim...
As luzes! Elas pararam, agora rolam sobre si transformando-se, de círculos pequenos em linhas horizontais e paralelas, duas em cima lado a lado e uma logo abaixo.
Três riscos no céu, que se abrem e rasgam o firmamento. Os dois de cima assumem formas de olhos, gigantescos olhos. O de baixo assume a forma de uma boca que acompanha a proporção dos olhos, não ouso me mover, não consigo nem respirar, não tenho noção de mais nada, nem sei se estou vivo. Que horror!!!
Encarando esses olhos que me encaravam, Dês’javu. Sim Eu os conheço, são os meus olhos, meu olhar. Minha cabeça gira, estou tão confuso, onde estou mesmo?
- O que teme tanto homenzinho tolo?
A bocarra falou, e falou num coro de três vozes em uníssono. Uma grave e profunda, gutural, uma suave e aveludada, a última seca, metálica e gelada. Três vozes em uma só voz que saia de uma boca que percebi ser a minha boca. E repetiu a pergunta, tirando-me dos devaneios e me assustando novamente.
- O que teme tanto homenzinho tolo?
- Você, eu temo você, não sei o que é e me assusta.
- A sua ignorância o faz temer a si mesmo.
- Como posso temer a mim mesmo?
- Pois ainda não percebeu que sou você?
Quero acordar, me tirem daqui, estou ficando louco. E ainda não dá para fugir. Sumiu? A pedra sumiu, caindo,caindo, cain...
Minha feição voltara a ser riscos, que voltaram a ser círculos luminosos, que acompanhavam minha vertiginosa queda, em um espiral de luzes e Eu em seu centro.
Senti um impacto, mas não doeu, acho que nem senti, apenas percebi.
Levanto-me e procuro-me, as luzes sumiram. Sem roupas? Que vergonha! Estou nu! As luzes voltaram, surgem a minha frente, do nada, uma bem a minha frente, uma a minha direita e uma a minha esquerda. Tomam formas humanas, e atrás deles tronos formam-se a partir do solo.
Sentam-se, e de cabeças baixas permanecem. Eles vestem apenas uma túnica negra que lhes cobrem por inteiro.
Não conseguia ver seus rostos, nem seus gestos, pois não se moviam.
Toda essa situação continuava a ser assustadora, não havia nada entre nós a não ser o vazio, não saberia dizer se Eu estava de cabeça para cima ou para baixo, e essa situação causava-me caos. Por quê? Por que causa confusão e angústia viver uma situação onde não conseguimos nos situarmos nem ter certeza de nossa posição!
- Ouça-nos.
E mais uma vez sou tirado de meus devaneios com susto. A voz que havia falado era diferente, era uma única, era a mais grave e profunda, nesse momento quase soou paternalmente.
- Ouça-nos e guarde-nos.
A voz pertencia ao ser que estava a minha frente, sim, era a minha voz que eu ouvia, sim era a minha voz mesmo, mas bem diferente.
- Ouça-nos e guarde-nos, você precisa entender que....
- Acorda!!! Guto!!! Acorda!!!
- Hã, o que foi, o que aconteceu???
- Você desmaiou e ficou um tempão desacordado.
- Mas, mas e agora!!! Como vou saber o que Ele ia-me dizer?
- Ele? Ele quem? Será que você bateu a cabeça ao cair?
- Quer saber??? Deixa para lá você não entenderia nem acreditaria!!!
A Jornada
(Um micro-conto surreal)
Empreendi uma jornada.
Uma jornada para dentro de mim mesmo.
Uma jornada para conhecer meu Ser.
Quando entrei em Mim, arrepiei-me.
Não sabia que Eu era tão sombrio.
Escuro, cheio de corredores e portas.
Estátuas... Ruídos... Vultos.
Que isso? Um choro?
Espiono por detrás de uma pilastra.
E eis que Me vejo sentado, abraçado aos joelhos, chorando convulsivamente entre soluços.
Não sabia por que, não me lembrava daquela cena.
Olhei por mais um tempo, me comovi.
Continuei andando, vez por outra me assustava com os ruídos e os vultos que eram constantes.
Meio perdido neste labirinto de Mim mesmo.
Ouvi gargalhadas... algazarra...pilhérias...
Muito curioso fui observar o que era.
Em uma sala pequena e abafada, com um ar avermelhado e opaco.
Estava Eu, a inebriar-me com cânhamo e muito vinho.
Rodeado de mulheres despudoradas e devassas.
Promiscuidade... inferninho...ebriedade...
Fiquei com asco de Mim mesmo, sai correndo.
Correndo...correndo...corren...
Parei, estava cansado, sentei-me num canto.
Que como tudo por aqui, também é escuro
Cochilei, fui desperto por umas batidas violentas.
Fui procurar de onde viam, viam de perto.
Aproximei-me, as batida se intensificaram.
E Eu com muito medo perguntei:
Quem está ai dentro?
- Me solta!!! Me solta!!! Me solta!!!
- Eu não sou louco!!! Eu não sou louco!!! Eu não sou louco!!!
- Ninguém Me entende??? Só quero Ser livre!!!
Reconheci-me de imediato, em um dos meus piores momentos.
Não, Eu não queria ficar ali, sai correndo novamente.
Fugindo de Mim mesmo dentro de Mim mesmo.
Quando parei de correr, percebi que estava em um lugar diferente.
Havia uma tênue luz de tons lilases, e o ar cheirava a jasmim.
Até que em fim! Um lugar que não seja tão sombrio.
De repente, ouço vozes, elas discutem.
Fiquei escondido em um canto, só a observar.
Era um casal, espera ai!!! Sou EU e Ela!!!
- Não, não dá mais Guto!!!
- Por que não???
- Você é muito confuso, tem muitos altos e baixos, hora está deprimido hora está eufórico!!!
- Mas você sabe que não é culpa Minha, é culpa da Bipolaridade!!!
- E não é só isso, você com esse negócio de Espiritualidade, de Intelectualismo, sem falar que você vive Filosofando e fazendo Poesias, você vive no Mundo da Lua não no Mundo Real, pra mim chega, eu não quero esta Vida para mim!!!
- Mas, mas como, você sempre gostou do Meu jeito!!!
- Pode ser que no inicio sim, mas cansei, para você tudo é motivo para Filosofar... Blá..Blá...Blá...chega eu quero é vida “Real”, Adeus, não me procure que não vou te atender!!!
E Eu ali observando, de repente as nuances lilases sumiram dando lugar as mais densas trevas, e o aroma de jasmim deu lugar a um cheiro putrefato.
Fiquei triste, melancólico, sai dali me arrastando ouvindo os ecos de Meu próprio choro.
Andei... andei...and...Por dentro de Mim mesmo, uma Jornada.
Andando pelos corredores, me deparei com algo que Eu lembrava mas não queria lembrar.
Eu estava sozinho em um quarto, com uma idéia fixa, “Vou me matar”.
Sim, Eu me lembro bem, esta idéia fixa e meio litro de soda cáustica.
Em um impulso irrefletido... Glup...Glup...Glup...foi-se a soda cáustica.
Vômito, estava vomitando a Mim Mesmo, Minha carne, Meu sangue.
Queimava, ardia, arrependera-se, mas é tarde, vai morrer!!!
Não, lembro-me de ter sido socorrido a tempo.
Fui salvo por cinco minutos, cinco minutos me separaram da Morte.
Basta, não quero mais lembrar, isto é passado!!!
Continuei minha viagem pelos corredores.
Acho que vaguei por horas Me explorando.
Quando cheguei a determinado lugar, percebi uma luz alaranjada.
Segui em direção luz, que aumentava de intensidade de acordo com minha aproximação.
Cheguei ao que me pareceu ser uma câmara, estava toda iluminada de luz laranja.
De repente, tudo virou Fogo, Fogo vivo.
E o Fogo falou:
- Gutemberg ouça-me!!!
Neste momento entrei em pânico, ajoelhei-me, prostrei-me ao chão
- Eis-me aqui Meu Senhor!!!
Sua voz tinha a potência de um trovão, era com o rolar de mil cachoeiras
- Entre em Mim, que sou Fogo Consumidor
Mais que depressa obedeci, levantei-me e entrei no Fogo, enquanto estava ali, sendo consumido pelo Fogo, Ele dizia:
- Eu sou o Alfa e o Omega, o Princípio e o Fim... Eu sou o Verbo Divino, eu sou a Palavra, por meio de Mim é que fostes criado, e saiba que és conhecido desde o ventre de sua Mãe, agora seja consumido pelo Fogo de Ruach HaKodesh e renasça, renasça para uma vida nova, tiveste coragem para se aventurar em você Mesmo, mas há muito mais a ser desvelado, por hora basta, já encontraste-me, Tu me aceitas???
- Oh, sim Meu Senhor eu o aceito de todo Meu Coração!!!
- Então vá, endireite tuas veredas e Nunca se esqueça de quem sou!!!
- Eu Sou o Que Sou...
...YESHUA HÁ MASHIACH...
O unigênito de...
...YHWH ELOHIM SABAOTH ...
Pensamentos
Meus pensamentos, minhas sensações, meus sentimentos.
Que em meu Ser, afloram e se proliferam.
São ávidos por liberdade, pois quando se aprisiono um ou outro.
Estes apodrecem e causam-me envenenamento.
E são essas dores angustiantes causadas pelo envenenamento.
Que me lanço à escrita, “Ela” que é o antídoto do veneno.
Meu punho e minha caneta tornam-se instrumento dessa “Cura”.
E através de minha escrita, curo-me e liberto todos os “moribundos” de suas senzalas.
Revitalizo e os torno “Vivos” em linhas de páginas.
Que podem até, nunca virem a ser lidas.
Mas ainda assim serão livres e vivas.
Pensamentos estranhos!
Começo agora a escrever para não enlouquecer.
As linhas que se seguem não as tomem por arte ou qualquer coisa que o valha.
É somente uma ordem ditada pelo “Eu”, que quer dar a luz a pensamentos (De origem que a mim ainda é desconhecida), parindo-os em letras, caso contrário apodreceriam em minha mente, envenenando-me.
Terminaria por abortá-los em forma de sarcasmo agressivo nos picos de fúria, oops, quero dizer euforia, ou frases de um pessimismo cáustico e mórbido, produzidos pela apatia angustiante.
Já sacaram do que “Eu” estou falando?
Mas deixemos os motivos e as razões para lá, pois agora preciso dar atenção aos que nascem.
Pensamentos estranhos vieram a mim, quase tive medo de pensá-los tal era a natureza deles.
Tudo começou em um dia desses, de uma semana dessas, que chovia muito, parecia que o próprio Divino liquefazia-se.
Olhando para o céu deu-me a impressão que uma nuvem recusava-se a chover, e na verdade parecia que procurava abrigo da chuva.
Viagem minha? Pode ser, talvez. Quem sabe?
O fato é isso me impressionou muito, todavia, resolvi não matutar sobre isto, e acabei por esquecer.
Até que em um dia desses, em uma semana dessas, em que fazia muito calor, parecia que o próprio Divino ardia em febre.
Tentando olhar para o Sol, queria blasfemar contra Ele, oops, que é isso? Uma nova impressão, um raio de Sol fugia de Si mesmo, e procurava uma sombra!
Eu sei, é demais até para mim mesmo que estou acostumado a viver em meio aos devaneios, porém, sendo alucinação, viagem, delírio ou não, foi a partir dessas duas visões, que desconheço a origem, e da ligação que fiz entre elas é que fecundaram minha mente onde germinaram tais pensamentos.
Será que não fugimos também de nossa natureza? Será que não nos recusamos a chover ou a raiar? Fugimos ou não de nossa virtude, ou seja, fugimos da causa primária de nossa Existência, que seria:
Evoluirmos como somos?
Viva a Hipocrisia!
Às vezes me pego pensando.
“Oh, Deus porque me privaste do Dom da Ignorância”.
Pois me é demasiado sufocante perceber sem maquiagens as faces de meus “semelhantes”.
Suas intenções, suas dores, seu medos, suas vilezas.
Suas esperanças, suas benevolências, suas honestidades.
Não, não posso ser injusto, me comprazo quando vislumbro virtudes, não somente as destinadas ao meu Ser, porém a todos, em qualquer grau, e quanto mais hostil e perversa a situação, aos meus olhos se agigantam sua Abstração.
E quando observo a transcendência e o total desapego, que percebo nos gestos de alguns “seres raros” para com outros, causa-me um êxtase inefável.
Todavia, são raras tais materializações do “Divino”, o “Bem se materializando pelo Bem”.
Afundamo-nos com incrível rapidez e facilidade no mar ácido da ”Hipocrisia”. Principalmente naquelas praticadas pelos “Hipocristãos”.
Mas vivemos em um meio social, portanto a hipocrisia é de fundamental importância, é como costumo dizer “A ordem do caos”.
Sim demonstrarei em um exemplo, pois compreendo que nossa mente necessita de alegorias para entender fatos simples, tal qual uma criança necessita de associações, juntamente com uma voz infantil para lhe explicar o que é “Caca”, ou seja, sujeira que não se deve pegar.
Voltemos ao exemplo:
Estava Eu assistindo televisão (pois é não posso negar que me utilizo da máquina de fazer doidos) quando passando por um canal, algo me chamou a atenção.
Em um programa “Ecumênico” duma dessas L... qualquer coisa.
Havia uma música de fundo, do tipo feita para emocionar, um monte de crianças de cabeças raspadas,cabeças baixas, vestidas todas iguais (lembra alguma coisa?).
Andavam em fila indiana, para receber sua comida (ração).
Depois apareceu um Homem, de aparência muito refinada, com terno de corte impecável, e com uma fala mais impecável ainda.
Discorria sobre sua benevolência, e sobre como não havia pessoas que não fazia igual a Ele.
Discurso que acompanhei por uns dez minutos, depois veio propagandas sobre suas obras literárias (acho que de conteúdo duvidoso), e logo após apareceram na tela provérbios de “Grande sabedoria” soltos a esmo, todos atribuídos a Ele mesmo.
Depois disto, afirmei:
- Ai está o Bem pela “Glória”. Da soberba de ser Virtuoso e Humilde, apontando os vícios e a arrogância de outros!!!
Um viva à Hipocrisia!!!
Aplaudamos de pé a Hipocrisia!!!
Aos Homens raros (Humanos)
Homens que se entendem, que se procuram, que se vislumbram.
Homens que ao se encontrarem acabam encontrando o próprio Deus criador.
Homens que sabem que são apenas homens, e não procuram nada a não ser, serem homens melhores.
Homens que entenderam uma razão maior, para sua Existência, e já não mais lutam contra a mesma.
Homens que sentem o pulsar da vida, enérgico e vibrante, que hora lhe faz o mais Totais dos seres, que hora lhe faz o mais vazio dos Potes.
Homens que mesmo assim, amam a vida a todo o momento, que aprende a amar e conviver com a dor, assim como amam e procuram o êxtase.
Homens que conseguiram ultrapassar o abismo interpessoal, que os tornavam tão Frios.
Homens que tentam tornar Objetivo toda sua gama de belos sentimentos Subjetivos.
Homens que perceberam as benevolência do Ódio, e que perceberam as vilezas do Amor.
Homens que entenderam que a Existência é algo sério e grandioso demais para que da mesma se faça piada.
Homens que entenderam que não respeitar-se, que trair-se, a falta de respeito pelo próximo, não respeitar o Individuo é mesmo que desrespeitar a própria Existência.