Coleção pessoal de gustavo_barauna
Fujo, corro e me escondo.
Olho ao redor e me sinto cada vez pior. Não há motivos para não fazer nada, mas ainda assim, me deixo em estado de total inércia. Me sinto cansado de tanta gente, de tantas coisas, de tantos planos. Preciso de um novo rumo, de um norte ou talvez precise apenas parar de pensar no que os outros vão achar disso ou daquilo. Devo parar de me importar com o que eu fiz, não há mais volta, nunca mais terá. Daqui pra frente só o amanhã importa, e onde você quer estar amanhã?
Sem mágoas ou ressentimentos, viverei um dia de cada vez. Serei uma pessoa feliz, sem criar expectativas, sem me deixar levar na onda da euforia. Tenho medo de ser um cara chato, tenho muitos medos que me deixam presos em minha mente sem limites. Entro em um modo onde na minha mente tudo realizo, mas na prática tenho deixado muitas delas mal acabadas. Não consigo por em prática meus sonhos mais simples, nem uma dieta eu sigo sem ter que me boicotar e me vejo alimentando um Eu que não quero ser.
Não deixo as pessoas boas se aproximarem, não me aproximo das ruins, e sigo a caminhar só e sem olhar pra trás. Cantarolando uma canção antiga, imagino tudo outra vez e me acalmo, entro novamente na minha mente e nela me perco, rodeado de pensamentos e sonhos, vivo num local que não existe para mais ninguém. Tenho o meu mundo, dele sobrevivo e nele não posso mais permanecer.
Mesmo depois de tantas frustrações eu sigo nesse ritmo manso, sem reclamar e sem querer ouvir reclamação de ninguém, fugindo das pessoas negativas, correndo sem rumo de olhos fechados, escondido na frente de todos que me vêem e não sabem quem sou. Aqui estou querendo ser normal, querendo não ser apenas mais um, ficando cada vez mais distante de todos que me desejam o bem. Sem rascunhos, sem reler o que escrevo, desabafo, e me sinto melhor sozinho... Eu e essa tela em branco. Olhando um para o outro até que o vazio seja preenchido por silêncio ou... Deixa pra lá.
Amanhã é tudo que importa. E onde você vai querer estar amanhã?
"Sempre tive medo de amar, medo de me machucar, e por isso eu construí uma fortaleza, invisível, imperceptível, intocável, inacessível aos outros, e dentro dela, um local onde o meu eu verdadeiro ficava sempre escondido e protegido dos olhares e julgamentos alheios, um local sagrado, que não se abre facilmente aos curiosos de plantão. Mas que quando se abre, expõe todos os meus segredos e mostra quem verdadeiramente sou.
Uma pessoa que vive em contradição com o mundo interno e com o mundo ao redor. Já que mesmo cercado de amigos não consegue se abrir de verdade e nem deixa que os amigos se aproximem demais da entrada da fortaleza, e que por isso, vive só dentro de si mesmo. Enche-se de duvidas, de medos e de sentimentos, e guarda tudo pra si, e na angustia por algo novo, continua sempre absorvendo mais e mais. E que por agir assim, acumula muito sofrimento, muito medo e muita desconfiança, não consegue confiar nem mesmo nos mais próximos, não consegue sequer dizer quanto desprezo tem por alguns, mas que também, não consegue se desfazer deles, que são uma espécie de cordão umbilical, que nutre essa curiosidade sem fim, essa vontade de absorver tudo.
Eu sei que não posso manter isso por muito tempo, e que isso me envenena a cada minuto, cada vez mais. Nesse ritmo eu irei explodir, não há mais espaço pra tristeza, solidão e medos dentro dessa fortaleza. Mas não encontro uma maneira para bombear esse veneno para fora, e cada dia absorvo mais e mais, como se fosse a primeira vez que provasse o seu sabor doce. Sinto que eu vou entrar em colapso, tenho que agir rápido novamente. Mas não sei o que fazer. Essa sede, essa vontade de absorver tudo, é minha maior fraqueza e minha maior arma, quando usada no momento certo. Preciso de uma espécie de filtro, para evitar que eu absorva e acumule mais veneno a cada dia. Isso me faz forte e conseqüentemente me faz fraco. No fundo eu não quero que as pessoas olhem em meus olhos e vejam o que sinto. A minha fortaleza sempre teve boas janelas, com uma película que bloqueia tudo acontece dentro dela. Mas que capta tudo ao seu redor como um radar super avançado.
Hoje o meu medo não é me machucar, tenho medo que comece a fazer o que realmente eu quero, porque agora eu sei que posso falar o que penso sobre as pessoas, mas para a sorte delas essa minha fortaleza agora tem outro papel, de proteger quem está ao meu redor, de um monstro que tenho dentro de mim. Não sei quando me dei conta do que havia ocorrido comigo, tampouco sei se eu controlo o monstro ou se sou vitima de minha própria criação, um monstro. Monstro esse que atende pelo meu nome e que compartilha esse corpo comigo."