Coleção pessoal de grazieladias
"Ultimamente tem sido assim; acordar e querer voltar para a cama. Eu sei, parece drama, mas não é. Existe algo acontecendo dentro de mim, uma mistura de procura e desencontro, estou completamente perdida em mim mesma. E tenho me sentido assim todos os dias. Vivendo a base de sonos mal dormidos e comidas esquecidas no prato. Não estou a procura da luz no fim do túnel, e sim, do discernimento estonteante do sentir".
Me canso tão rápido das pessoas que as vezes não dá tempo para se apegar a elas, e estou dizendo isso a você, porque parece ser o único que não se importa em ser amigo de alguém que não poderá ser boa para lhe dar conselhos.
Acho que meu antigo eu sempre foi me trazendo para o que sou hoje, porque você sabe, as pessoas nunca me agradaram, e acho que sou idiota por isso.
...Porque eu queria não acreditar em nada e não sentir nada como você, isso parece eletrizando, mas eu sou feita de sentimentos, e normalmente isso incomoda e doí muito. Porque no dia a dia, as pessoas irão te magoar e te decepcionar, e se você estiver ligado a elas por sentimentos, será bastante doloroso se despedir. E eu só não sinto isso, por não ter tido a chance de se decepcionar, pelo simples fato de que nunca tive alguém...
(...) Deixei-me elucidar para você, é que aos poucos perdi a excitação da vida, por simplesmente me achar grande demais para esse mundo...
(...)Qualquer coisa que não fosse me deprimir seria o suficiente para suprimir os sentimentos paralelos sobre coisas que ainda não vivenciei.
Na noite da dor, esqueceu de sentir algo, e as vezes não sentia, só mantinha sua cara fechada para todos. Sentava no seu canto e lia seu livro, e ninguém lhe notava, a não ser os que a achavam estranha demais, estranha por não ser extravagante, estranha por não ter amigos e por ser deprimente demais. E ela era muito deprimente, e todos lhe diziam isso, e eu acho que essa é a segunda vez que lhe conto isso, mas acho que é porque ela estava bastante deprimente naquele dia, quando finalmente tomou coragem e atirou na própria cabeça, com o rifle de seu pai, que vivia mostrando a arma por todo canto. E a morte veio, e ela era mais deprimente do que a garota, que em cima do balcão da cozinha, deixou um bilhete. E o bilhete dizia coisas lindas, e eu queria ter lido, mas só pude ouvir, e eu queria ter visto como ela escreveu, porque ela escreve bem, e eu chorei quando ouvi suas palavras, chorei porque acho que também sou deprimente. E acho que sou mais deprimida do que ela, porque eu estou observando seu corpo ser enterrado, e acho que vi seus olhos abrirem, e vi sua dor, e suas lagrimas, e acho que sinto muito, porque chorei, e ninguém podia me ver, porque além de tudo, sou apenas um estado da mente. E eu morri também.
(...) Deixou a musica tocar e se enrolou na cama, queria ter algo para fazer, como todos na sua idade, mas não tinha. E o motivo de chorar tanto era ser muito sensível e não queria ser sensível porque normalmente é deprimente. E ela já era deprimente demais. E todos lhe diziam isso. E ela sempre se esforçava para não ser.
Porque não tinha ninguém e porque não queria conversar com seu psiquiatra sobre suicídio. E ela não tinha coragem de se suicidar, porque tinha medo de tudo aquilo que não conhecia. E queria conhecer a morte, que tantas e tantas vezes lhe deu Tchau.
E eu queria te agradecer, não por tudo, mas pelo nada que ficou desde que você se foi. Isso me fez pensar em mim mesma.
Não pense nem por um momento que estou penejando por você. Eu apenas estou escrevendo sobre você, porque é algo do qual tenho muito a falar. Não queria que as coisas fossem dessa forma, eu poderia te ligar hoje, mas felizmente já exclui seu numero para o caso de essa vontade vir. As vezes é legal parar de ser completamente abismado e questionador, você deveria experimentar.