Coleção pessoal de Gladstonjunior
“Envolto em meus pensamentos, estive durante todo este outono. Os dias transpassavam por mim tal qual o tempo, pelo amor. O tempo e o amor unem-se sob o pretexto de pertencerem um ao outro, mas, por si sóis, não se revestem de autonomia e interdependência, isto é, não se sabe se o tempo sustenta o amor ou se este é quem alimenta o tempo.”
“Quando se está a cumprir anos, e eles já não se estão tão cumpridos como outrora estiveram, percebe-se o tamanho colossal do que ficou para trás em detrimento do ínfimo sobejo que há pela proa. Medo do desconhecido? Jamais... Vive-se cada dia como se único fosse, porquanto de fato o é, tendo em vista a certeza premente e inescapável do fim. Ou seria de um recomeço?”
“Hoje sei um pouco mais que ontem... pelas minhas contas, embora seja de humanas, em aproximadamente duzentos anos, poderei me considerar um homem sábio; mesmo porque, com uma pitada de sorte, todos que hoje vivem junto a mim, certamente continuarão a fazê-lo, ainda que seja para conferir essa premissa.”
“Saber que entre a semente e a flor, inexoravelmente, há o transcorrer do tempo, que flui através de todos nós sem qualquer cerimônia ou responsabilidade, sendo apenas o que é: tempo.”
“Que o açodamento às intempéries de nosso relacionamento, bem como a incúria desmedida de suas ações, não sejam capazes de apartar nosso amor, pois ele sobrepujará, agora e sempre, qualquer óbice que se ponha em nosso caminho. Oxalá, sejamos prudentes como um garçom com Parkinson ou precisos como um cirurgião plástico cego, pois, desse modo, chamaremos um ao outro de meu bem.”
“Se tristeza ao meu peito invade, de alegria me arvoro e a esperança pede passagem. Transcende minha alma amiúde; não sabes se permanece ou se a abandona de vez. Tento debalde perscrutar seus desideratos mais ocultos, todavia não os compreendo como deveria, em que pese jactar-me ser um mancebo buliçoso de atitudes anfibológicas e airosas. Desistir? Não! Não sou desses incautos de cujas virtudes poderia prescindir em prol do amor almejado. Ao revés, finco meus pés no chão, sólido a não mais ser, a esperar pela vinda do ser que me faz ser quem sou.”
“houve um momento, que de tão afável, parecia um algodão, em que pus-me a deslindar, ou ao menos tentar, ainda que de esgueio, alguns mistérios comezinhos da vida. Uma vivência extremamente intensa pôs-se a me rodear, sem qualquer timidez ou zelo. Senti que tinha algo a dizer. Algo que pudesse desvendar qualquer dúvida, ainda que diminuta, sobre anseios e projeções futuras. Eis-me aqui. O instante se foi envolto de incertezas e sobressaltos e tudo o que permaneceu foi sua imagem indelével em minha retina tão carcomida pela degeneração macular. Crias que sou só um simples ser humano, daqueles de que as pessoas, crasso modo, não desgostam nem desdenham, mas, malgrado impressões mal interpretadas, continuo sendo o mesmo homem mortal que morre de amores pela sua amada. Não me tenhas em mau conta simplesmente pelas minhas inquietudes corriqueiras, visto que estas também, como todas as outras, definem-me e guiam-me pari passo ao seu coração. Compreendas, muito embora saiba do vulto da dificuldade, a necessidade premente que tenho de inspirar liberdade e transpirar autonomia. A desorganização episódica e circunstancial dada aos que amam, acredite, aqui e ali, não foi e jamais será terra arrasada, ou seja, dentro da mixórdia descompensada dos meus desideratos, frise-se em todos eles, estará você.”
“Não! Não vou ir mais à sua alcova. Há de haver o dia em que te terei por inteira. Lá vem você... vem vindo sorrateira a me torturar. Hão de existir, ainda que episodicamente, ocasiões nas quais me tornarei teu. Não apenas de parcela de mim, mas de um modo pleno. E constante. E para sempre.”
“A intelecção de sonhar e o desiderato de transformar, em análise sucinta, insuflam o real, dilatam as fronteiras do possível e, sem qualquer cerimônia, embaralham as cartas do provável e caminham de mãos dadas com o acaso. Enquanto a gana por mudança e o surgimento do novo estão em jogo — no mais das vezes, de azar —, resignar-se a um pusilânime e suposto protetivo realismo é condenar-se ao passado de há muito e à repetição medíocre do que não se vivera. Caso o sonho distraído da realidade seja baldio, a realidade desprovida de sonho será tão ou mais deserta. Na ambiência das inter-relações humanas, o futuro adere à vontade e à ousadia de nosso querer/poder. O desiderato move. A ânsia impulsiona. O amor acompanha.”
“Não me tornarei um pária do mundo moderno, pelo simples e induvidoso fato de não me enquadrar em dogmas e convenções, digamos, em fria análise, obsoletas. Para tanto, creio no poder indiscernível da autonomia, da liberdade, e da independência, sem prejuízo do livre arbítrio dado a todos.”
“Enganei-me profundamente quando confundi um ser humano com um ser angelical. Um anjo de luz, cujo permanente halo ofusca meus olhos, lumia todo o caminho a ser percorrido, deixando um laivo de intensa presença que se opõe à sua desforme ausência. Quando houve convite ao salto, encorajei-me de súbito, pois confiava cegamente em suas asas e, malgrado fora-da-lei não fosse, olvidei-me completamente que a gravidade pudesse exercer qualquer efeito sob nós. Não... não sob os anjos. Não sob os que amam, muito menos aos que tomam anjos por ser humano e vice-versa.”
“Pronto! Não sofro nunca mais por não saber o que é amar alguém de verdade ou, a um só tempo, desconhecer o que é esse troço, até então completamente intangível, denominado amor. Para que o sofrimento de mim não se aproxime, basta manter o meu amor por perto, ainda que a saudade seja lugar certo.”
“Não peça permissão para voar, pois, crasso modo, as asas são suas e, a título de obtemperação, o céu é de todos que o desejarem flanar.”
“Meu amor tem cor, mais que apenas as sete do arco-íris... Meu amor tem coragem, mas não qualquer delas senão aquela encontrada no âmago dos vencedores... Meu amor tem tom, para além dos 50 tons de cinza do best seller... Meu amor tem corpo, que além de prestá-la a cortesia de conduzi-la aonde quer que vá, de um só tempo, ainda me permite o adesismo mais concupiscente só dado aos amantes que sucumbem ao ser amado.. por corolário, para que não me deixe ser tragado pelo espírito da prolixidade, Meu amor tem todas virtudes atribuídas àqueles que aderem à embarcação do amor como se fosse o último trem com destino à felicidade.”
“Viva e sinta as dores inexoráveis da disciplina para que não tenha de conviver com as mazelas intransponíveis do arrependimento.”
“O Direito sempre estará adstrito à ética, à moral, à filosofia, à sociologia, à epistemologia, à antropologia, entre outros, pois, em frígida análise, são ambiências que se complementam entre si, nutrindo-se mutuamente uma das outras.”
“O tempo não corre, tampouco permanece estanque; trata com açoite os que temem à morte e maltrata com desdém os que invejam aos amantes.”
“Um misto de enxugar-se e espalhar-se atomizado perante hesitações e excitações aonde quer que vá, sem porquês nem senões, afigura-se sua imagem a me rodear, insistentemente, a me torturar.”
“Aos que sonha e, a despeito dos óbices impostos pelos medíocres, propõem-se em perseguir seus sonhos, não permitam que um senão impeça-os de descobrir os porquês da vida.”