Coleção pessoal de giselleconfidenti
Triste daquele que discursa sobre o amor e não se sente amado.
Não sabe o ingênuo que amor não se diz ou pode ser ensinado.
Os olhos dela...
Antes flores e perfumes, agora cimento duro.
Antes terra fértil, agora deserto
Antes maresia e pássaros, agora silêncio e solidão.
Eram os olhos dela
Eles cheios de substância
E ânsia
Eles que eram como faróis
Mas era dia
E não importava
Se fosse noite
Eu bem o queria
Que não fosse dia
Que me importa
O quê quero,
É que tenha vida!
Vi a morte de perto,
a olhei nos olhos,
Senti seu cheiro,
A beijei ternamente,
Senti seu suspiro
Como ela era linda, linda, linda
Senti desejo de morrer
E ser ninada em seus braços
Senti medo de morrer
E ser enterrada em seus laços.
MEU AVÔ
A morte nos ensina muito. Ver a morte se apossando lentamente de alguém, é um aprendizado sofrido, eu diria. É como se Deus, ou quem quer que seja, escancarasse na nossa frente, a nossa fragilidade perante o mundo, perante tudo. Aprendi muito com meu avô e sua espera da morte. Meu vô Zé, um lindo senhorzinho que se foi a pouco tempo. Aprendi com ele e na verdade, aprendi sobre mim e sobre todos. Por que estamos todos à espera da morte. Estamos todos sentados em cima de uma cama, esperando a morte chegar. O que nos diferencia, é como esperamos esta morte. Por que é certo, é definitivamente certo que ela virá. E nos cobrirá os olhos com seu manto negro. Somos todos mortais. E de uma hora pra outra, ser mortal parece uma afronta.
Risível. Sim, é de rir. É de rir, nos ver afrontados com o divino pela morte. Vê-la nos olhos de outra pessoa e agir com ira e insanidade. Por que? Alguém sempre pergunta. E outro responde: Por que é injusto! Embora, ninguém nos tivesse dito, que seria o contrário.
A morte nos aproxima dos nossos, nos une, nos fragiliza e nos fortalece ao mesmo tempo. Uma grande ironia. De certo isto foi pensado por um ser maior? Por Deus? Quem responderia estas perguntas? Quem poderia nos dizer como e quais caminhos e que ventos nos levam à morte? E quais os motivos? E se devem haver motivos?
Sei que nos olhos de minha família, houve tamanho sofrimento. Muito sofrimento. Por que aquele que gostaríamos de ter conosco, teve que ir. Esta dor transforma. Une. Mesmo que as relações antes, estivessem rompidas, trincadas. A morte, esta vilã, uniu, transformou. Que ironia, isto tudo.
Pra mim, viver é uma grande ironia. E a morte a única certeza.
"Neste oceano de incertezas,
Neste espaço cheio de dúvidas,
Entre as estrelas,
Enlouquecida por este mistério,
Eu, argonauta,
Eu, mulher."
Escute os pássaros, eles falam por mim, sinta o vento, ele toca seu rosto e dança nos seus cabelos como minhas mãos desejam.
"No início era tudo uma coisa só, uma bola, um amontoado de matéria. Que reagia instintivamente com o meio. Sujeita à tudo, levada pelo tempo, pelo vento, um corpo sem memória, perdida no tempo e no espaço. Quando dei por mim, de que havia algo, foi por que ouvi uma voz. Escutei mas não entendi, deveria deixar de ser um amontoado de matéria, para compreender o que ouvia. Então o fiz...
Atentei os meus sentidos. Senti braços, pernas, pele, pele, pele, pele...
Me olhei com o dedos dos outros. Bom, devo admitir. Era necessário ver agora, de novas perspectivas. Já achei que podia tudo. Mas ao levantar pés do chão, vi que eles estavam grudados à superfície. Pela força e pela raiva, o forcei, gritei, briguei e eles continuavam ali, fixos, como estátuas.
Por um instante desisti, não pensei em nada, me rendi.
E foi aí, que me desprendi. Voei, perto do chão, admito, mas os meus olhos se voltaram para o que era maior. Para o que me era desconhecido.
E nesta certeza de conhecer, de descobrir, de ser melhor, é nesta certeza que me lanço no buraco negro da vida."