Coleção pessoal de GiovannyXavier
O Peso do Renascer
Como é se sentir calada
Mesmo falando
Como é se sentir podada
Mesmo lutando
Como é depois da dor do parto
Sentir a dor do pranto e do abandono
É preciso ser forte
Para nascer e crescer
Por dentro das magoas
E juntar aos poucos as lagrimas
Pra fazer florescer
Pois só tu carregas o dom dos dons
O dom da vida
A dadiva divina
Que mantém o mundo
Caráter sem conhecimento é desperdício de caráter, e conhecimento sem caráter é uma falha maior ainda.
A tarde em que sai de casa
A tarde em que sai de casa
Eu esqueci
Esqueci que não havia comido
Esqueci que poderia chover
Esqueci que faria frio
Esqueci que ficaria escuro e eu não teria um lugar pra voltar
E esqueci que tinha medo do escuro
E também esqueci que ninguém estaria ao me lado
Para dizer "Oi, esta tudo bem, eu estou aqui"
E esqueci aonde deixei aquela liberdade
Aquela que tanto procurava
Até que se passou a primeira noite
E eu sobrevivi
Então pensei "se sobrevivi a está noite, posso ir adiante"
Até que um dia esqueci daquela tarde
Conversa com Deus
- Eu abdiquei da virtude de amar.
- Tu sofrestes a amargura de ser um homem bom.
- Mas e o porquê dessa vida? O porquê dessa chuva? Essa barbaria que se molha, mas não limpa.
- Eu vos criei em corpo, alma e maldade. Essa tempestade vem para acabar com a segregação entre os homens.
- Eles vão matá- lo novamente, sua presença se faz necessária entre os que menos sofrem.
- Não julgue- me em suas dúvidas, mas me ame se for esta a sua certeza.
- Por obsequio, digai- vos, esse seria mais um recomeço ou outro começo sem fim?
- Dar- te- ei outra chance, fale para que todos se façam no amor.
- E esse será outro adeus?
Comovido como o Diabo
A poesia enchia o coração
Esse coração que queria esvaziar
Eu senti o beijo, senti os sentimentos
Mas esses já não eram meus
Na verdade esses nunca foram
Então andei, tanto andei que vaguei
Tanto vaguei que o corpo e alma
Estavam na sintonia do coração
O mesmo ritmo
A mesma fraqueza
Os mesmos passos sem destino
Nessa hora Drummond me sussurra
"Amar se aprende amando"
Mas não foi desse jeito
Que eu aprendi a amar
O Sonho e a Morte
A morte me levou
E tudo ficou diferente
O amor ficou mais puro
Nas nuvens o céu mais sorridente
A morte me levou
Pra onde me levou?
Eu não sei
Mas fui de bom grado
A vida aqui me traz
Um breve contentamento
Dias de lampejos
Mais alegria, menos dissabor
Até que me perguntei
Aonde eu estou?
Que lugar é esse?
De uma beleza tão diferente
Até que percebi
Que estava acordado
E pra minha infelicidade
Eu estava dentro de casa
A quinta estação
A nova estação chegou
Mas não trouxe o amor
Trouxe o sol, trouxe a chuva
O caminho no caminho ficou
Veio o frio mais tropical
A estação mais florescente
Mas floresceu rapidamente
A planta do dissabor
Caiu a ultima pétala
Os frutos e folhas secas
E o vento vem de mansinho
E nunca traz o que leva
O mundo muda
As estações mudam
Só não muda o meu amor
A muda que não virou flor
A quinta estação do nosso amor
As pessoas que acham que muito sabem, sem consentimento deixam que a mais ínfima manifestação de sabedoria alimente o seu ego de um modo tão superior, arrogante e corruptível que acabam se envaginando em seu próprio mundo sem perspectivas, cheios de verdades e analises totalmente vazias.
Fácil
Difícil é ver o tempo passar
Difícil é não aceitar que o tempo passou
Difícil é sentir saudades
Difícil é não querer sentir saudades
Difícil é ver que tudo mudou
Difícil é acreditar no que mudou
Difícil é olhar para o próprio ego
Que morre em cada um de nós
A essência da alma que precisa de caridade
Difícil é ver a esperança
Que a chuva abençoou
E nos mostrou inocentemente
Com os olhos de uma criança
O difícil que na verdade
Era muito fácil
A Traição
Mil palavras a lançar
Mas elas nunca nos alcançam
Elas não alcançam o nosso orgulho
Que por traz é muito grande
Mil beijos a trocar
Mas são apenas duas bocas nervosas
Bocas que na verdade
Nunca se encontram
A cama desarrumada
A xícara que triste carrega
O café que está frio
O dia que está quente
Mas não se vê nenhum sorriso
É uma euforia de desejos
No fundo de cada palavra
Vem consigo um desafio
Um ombro amigo
Ou uma fuga da castidade?
Sempre vêm a resposta infiel
A fuga que nos alcança lentamente
Mas quando vêm invade e destrói
Sabe aonde vai chegar
Retira as palavras
Os beijos, as respostas
Retira tanto e tudo
Que retirou isto de mim
Choro da Despedida
Eu demorei pra ter ver
Você não me viu
Meu coração te enxergou
A sua boca se calou
E disse a minha boca
O que ela nunca dizia
Sua mão acenava um "Olá"
Quando na verdade era uma despedida
Seus passos se distanciavam da minha visão
Mas estavam ao meu lado nos choros e poesias
Parte do seu carinho está em mim
Parte do meu carinho está em nós
Por mais que eu pudesse dizer
As palavras não diriam
E por mais que eu tente esconder
Essas palavras dizem
A cicatriz
O meu fardo segue ileso
No vespertino e na manhã
Estou entre a cruz e a esperança
Esperando o cair da espada
Ao mais correto e ao mais bonito
Ao infinito e tudo além disso
Além de tudo vou guardar minhas palavras
Entre o ar seco e o céu puro
Entre nós dois e a escuridão
Eu me mantenho sempre alerta
E as palavras vêm com pressa
Pra me tirar toda razão
Nas ruas vêm homens marchando
E na alegria transformando
O que não temos de melhor
Passos pálidos grosseiros
Vem sem calma, vencem o medo
Estendem braços já sem mãos
A nossa história é de longe
Luta e vitória prometida
Eu estou em suas mãos
Corpo, alma e brasão
Eu vou lutar por existir
Hoje nós acordamos cedo
Com corpo e alma indiferentes
Ainda estamos afastados, acreditamos na mudança
E por toda a nossa fé, estamos esperando
O que? O que eu ainda não sei
Da nossa glória e nosso pão
Hoje eu não vejo mais ninguém
O ego incha a dor corrói
Mentem no que faz enxergar
Somos escravos e reféns
Da nossa crença no ideal
Descendentes de Macunaíma
Duelo das Armas
Duelo das artes
Desunião por ambas as partes
Ir contra quem não era pra ir
Na poesia do povo que não fala
O que eu te entrego
Não é a verdade
São possibilidades de infelicidade
De situações da nova idade
Da humanidade de amanhã
O mais novo dos seus dois irmãos
Que morreu pela fé na utopia
A construção de heróis sem caráter
Na capa de revistas da classe operária
Nas aspirações do Estado Novo
O professor na elite do povo
Cuspindo em minha cara
Um latim bem vulgar
Meu Querido Tupi
Regressei à aldeia de velhos sábios
Que nas meias verdades
Escondiam palavras
Que regridem aos mais velhos sonhos
E escondem a coragem
Que na língua tupi
Se entende o que fala
Não sou poeta tupi
Mas se falo tupi guarani
À aldeia tenho que ir
Para ver o poeta despido
De todo mal do século
No litoral frio que o escraviza
Ôh que malvados colonos!
E de longe
Miragens erguiam bandeiras
Gritavam vitória
Ancorando em vossos corações
A mentira e falsas conquistas
Na terra dos mais belos mestiços
Aqui não falo mais
Minha língua proibida
Que não foi salva pelos Jesuítas
Aqui morrem meus poemas
Românticos e modernistas
Não explorem mais minha língua
Pois nela meu povo habita
Um povo morto, mas agora livre
O Poeta, o Norte e a Estrela
Você é magia
Alegria, folia
Faz que desfaz
Em mim se refaz
O que me levou
Ôh meu grande amor
Que vem esquece o pudor
Me faz velejar
Aqui não navega
Mas aqui já morou
Minha estrela brilhou
Para o norte rumou
E contigo ficou
O meu grande amor
O que tu deixou
Nem saudade nem dor
Aqui tu ficou
Então me retorne
Traga você e minha estrela
Vem divina, vivida
Vem sem pressa
Em mim recomeça
A velha paixão
Desse novo poeta
Ôh minha emoção
Ôh meu grande amor
Ao Trovador Solitário
Quero ser mais do que sou
Mas não sei como, se consigo entender
Que os sonhos também passam
Por pessoas solitárias
Que discutem com paredes
A alegria de não serem mais vistas
Trabalhando dias, para recriar
A realidade que não participam
Escondendo os detalhes da imperfeição
E da confiança que não confia em ninguém
Que não confia em ninguém
Eu quase cai pra trás
Quando vi o ódio
Chorando por um pouco de amor
Batendo na porta do desespero
E quem abriu não viu
Que além da dor não há
Lugar pra se esconder
Que se possa achar