Coleção pessoal de giovannasilveira
Já andaste demais com os mesmos sapatos, já caíste muitas vezes no mesmo buraco. Já acreditaste inúmeras vezes na mesma mentira, já caminhaste por estes caminhos tortos, que sempre te levarão ao mesmo lugar. Já gastaste muito tempo com coisas que não valiam nem o pior de ti. Trocaste aquelas velhas sapatilhas pelo seu surrado par de tênis. Agora, menina, é hora de mudar. Parar de se machucar, que maravilhoso seria, não? Então troque de vida. Troque estes sapatos gastos, essas roupas rasgadas. Vá para outros lugares, conheça pessoas melhores, ame pessoas melhores. Ah, a quanto tempo não admiraste o mundo ao seu redor com este olhar ? […] Abra os braços, deixe entrar em sua alma e levar todos aqueles medos que andavam lado a lado contigo.
Não quero desprender-me de ti. Tornou-se tão reconfortante, tão acomodante ter-te aqui. Estar contigo era como deitar-se numa rede ao fim da tarde, ou observar o maravilhoso pôr do sol que se forma todos os dias de nossa existência. Era como brigadeiro de panela no inverno, como observar uma borboleta. Como escutar o barulho das ondas, indo e vindo sem parar, eternamente. Barulho de chuva batendo no chão. Cheiro de bolo saindo do forno, cheiro de felicidade, ar de alegria. Ar de calmaria, de coisa boa. Aquelas coisas que te trazem paz, que te dão a sensação de maré calma. Tudo aquilo me lembra de ti. E espero que daqui para frente, seja assim. Sensações de mais, memórias de menos. Coisas reais, concretas, sólidas como gelo. Sei que um dia vão derreter, que vão acabar-se. Mas gosto disso, desses desafios.
O que acontece com a felicidade? Com o Sol, com as flores? Com as cores nos amores? Sempre falavam-me que amor era tudo maravilhoso, tudo colorido, que eram só alegrias do começo ao… Bem, ao fim que não deveria existir. Mas então encontro-me com essa coisa estranha e percebo que nada é o que parece. Enquanto existe, pode ser a melhor coisa do mundo, com Sol e sorrisos, com cores e flores. Mas e depois? Quando tudo acaba? Tristeza, chuva. Sempre pensei, eu mim, em ti, abraçadinhos no frio. Assistindo um filme bem bobinho, mas sem nem importar-nos com o filme. Disputando um pote de pipoca, disputando uma pipoca. Saindo juntos, só nós dois. Esse foi o meu problema. Misturei as palavras, confundi “ti” com “nós”. Generalizei, inventei, amei. Queria-te comigo num final feliz, num enredo sem tristeza.
Mas a tua vida nunca vai ser completa, nunca vai ser uma história perfeita. Sempre vão haver retalhos, remendos, costuras. Sempre vai ter algo que foi consertado, lágrimas que foram escondidas, palavras que foram faladas pela metade, sorrisos que foram abertos falsamente. Sei que deixas essa incerteza, esse constante mistério no fundo de tudo para não teres que mentir, apenas falar meias-verdades. Mas sempre vão existir erros, sempre vão existir rasgos. Mas conserta-os, com tua bondade, costura-os, com teus dedos que já deixaram tantas coisas escaparem… Que tudo vai dar certo, moça. Eu garanto a ti. Só pares de pensar na perfeição, comece a pensar em como o não-perfeito pode ser maravilhoso. Como pode ser diferente.
Mas tu eras como uma rosa para mim. Olhava-te, observava-te, mas nunca me aproximava. Tinha medo de me machucar, de que fizesse-me triste, de que ferisse-me. Era aquelas coisas que somente contemplas, mas na verdade, o que mais queres é vê-la de perto, tocá-la, senti-la. Tens medo de desmanchá-la, achas que ela é demais para ti. E mais uma vez, o impossível, ou um improvável me acanha, me chama. É como se estivessem me provocando esses desafios, esses errados. É como se estivesses me testando, esse tal de “ti”.