Coleção pessoal de GinoPedro

Encontrados 6 pensamentos na coleção de GinoPedro

⁠Bailar entre os destroços

Somos feitos de pedaços,
e não há como negar.
Estamos neste espaço belo,
cheios de pessoas raras,
mas o mundo? O mundo está em ruínas.
Seja aqui, na Palestina,
ou na solidão das nossas almas,
o peso é difícil de carregar.

A arte não ergue paredes,
não reconstrói cidades,
mas ergue o instante.
E isso já basta.
Estamos aqui
para encontrar um compasso
no caos,
para dançar entre os destroços
sem sufocar na poeira.

Cada qual com suas mãos.
O médico luta contra o tempo,
o professor contra a ignorância,
e nós? Nós salvamos o instante,
um respiro,
um sorriso,
uma fagulha que brilha
na escuridão de alguém.

E isso, meu amigo,
já é o bastante.

Gino Pedro

O Diálogo Eterno

No princípio, Thales contemplou o mar,
"tudo é água", o mundo a flutuar.
Parmênides contestou, com ousadia:
"o ser é imutável, a mudança é utopia."

Heráclito, no fluxo, ergueu sua voz:
"tudo flui, nada permanece em nós."
Platão buscou o ideal, além da visão,
"o mundo das ideias é a perfeição."

Aristóteles, atento, fez sua objeção:
"o real é a substância, a causa e a ação."
Santo Agostinho, em prece, refletiu:
"amo-te, verdade, tardia, mas foste o que insistiu."

São Tomás, da razão e fé defensor,
clamou: "a causa primeira é o Criador."
Maquiavel, ao poder fez seu louvor:
"o fim justifica os meios", disse com ardor.

Descartes duvidou, firme em sua missão:
"penso, logo existo" — a base da razão.
Locke, na tábula rasa, escreveu o saber:
"somos moldados pela vida e o aprender."

Schopenhauer lamentou, com profundo pesar:
"o mundo é vontade que nos faz penar."
Kant, do dever, trouxe nova lição:
"age como lei universal tua ação."

Hegel viu o mundo em dialética erguido:
"tese e antítese, o real é um tecido."
Nietzsche, no eco, um desafio deixou:
"torna-te quem és" — assim ele ensinou.

Beauvoir, na igualdade, desafiou o viver:
"não se nasce mulher, torna-se ao crescer."
E Sócrates, sereno, em sua ironia,
deixou: "só sei que nada sei," como guia.

E assim, no ciclo, a filosofia caminha,
do eterno perguntar ao que nos aninha.
No fim, todos juntos, num coro a ensinar,
que pensar é existir e, no existir, amar.

GinoPedro

⁠Agora!

Ah, mas eu amo o agora,
o que pulsa e não se apaga,
a dor que se entrega e acalma
mas nunca é sombra vaga.

Não busco o que já passou,
nem o erro, nem o engano—
é o hoje que me deixou
com marcas, fio e plano.

O ontem é pó no chão,
que se varre e se esquece,
mas o presente em minha mão
é o tempo que me tece.

Não voou, nem se perdeu
o que hoje sou, que em mim vive.
Tudo que foi já morreu,
mas o agora é chama ardente, é livre.

Gino Pedro

⁠Companheirismo

A palmeira vai subindo
E o angico se entrelaçando
E assim, os dois abraçados
A natureza vai mostrando
Que um depende do outro
Pois a vida é passageira
As diferenças são somadas
As igualdades compartilhadas
Pra subir não é preciso rasteira
no outro que também sonha
Temos que aprender juntos
o segredo da gentileza
Se um cai, o outro despenca
É a lei da natureza
E o homem vai aprendendo
pelo exemplo bem certinho
da palmeira de coquinho
E do angico sem espinho

Gino Pedro - Araçuaí-MG

⁠Relato Tupi

Fui guerreiro, no passado
da grande "Nação Tupi"
Um tronco dos mais fortes
na grande terra de Pindorama
Não lutei contra a opressão
aceitei a dominação
Os jesuítas, "homens bons"
me ensinaram a rezar
Orei a seu Deus
e me esqueci dos meus.
Eu bebi do aguardente
e livrei-me do cauim.
Minha lingua esquecí
nem sei mais o que é "JACI".
Não quero tangas de sapé...
quero é terno de cetim.
O chão desta terra era sujo
botaram sandálias em mim.
Meus cocares e colares
troquei por um crucifixo
pois, com ele sou cristão
fora isso...sou pagão!
Sei que pago até hoje
pelos erros do passado
pois, naquele dia lindo
quando avistei as caravelas
eu devia é ter corrido
lá pro meio da floresta
reunido o meu o meu povo...
e ter conquistado o branco!

GINO PEDRO

⁠Pois é...(Releitura)

Sou carne,
pele,
desejo,
fome:
plural de nada.

Essência do sabor da vida.

Sou ardor,
sou paixão,
e...
também sou amor.

Simples assim.

Sabe quando a gente tá
com medo,
num sei de quê...
fome,
num sei de quê...
sede,
num sei de quê...
vontade,
num sei de quê...

Raiva,
num sei de quem...
saudade,
num sei de quem...
irritado,
num sei porque...
alegre,
num sei porque...

Quer ir,
e num sabe onde...
quer voltar,
mas num sabe quando...

E de repente,
como um vento,
tudo isso passa,
num sei como?

Isso é fome...de alguma coisa!!