Coleção pessoal de gilbertobraga
Fácil é ouvir a música que toca. Difícil é ouvir a sua consciência. Acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas. Fácil é ditar regras. Difícil é segui-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção da vida dos outros.
Eu sou a profunda incerteza, sou grande e pequena, sou intensa.
Sou Primavera inconstante e Verão ardente, como as saudades do que passa e marca, quase sem sentir.
Sou mais doce que salgada, sou dos chocolates, do sorvete napolitano e das balas sortidas, que surpreendem o paladar.
Sou a insegurança que consome meus atos.
Sou a gargalhada histérica que fere o ouvido e simultaneamente o pranto silencioso; o sofrer calado daqueles que espalham atestados de felicidade.
Sou a busca constante, sou o "mais" ambicioso, sou dos livros, sou do estudo, sou da música, sou da vaidade.
Sou orgulhosa, sou o julgamento precoce, sou medrosa...
Sou do dia e da noite, sou das festas, sou da dança, sou da embriaguez pela alegria que me consome. Sou da praia e da piscina, sou carioca, sou brasileira, sou do frio e do calor, sou de lua.
Sou crítica, sou insatisfeita, sou a opinião forte, a persuasão e a literatura. Sou a luta, a intransigência, o caminho que tracei, o nome que fiz, o que pensei e divulguei.
Sou as vitórias que obtive, sou as cidades que conheci. Sou justa e sincera até na mentira.
Sou a memória da infância, a boneca com que brinquei, a tartaruga que criei, os pássaros que amei, os amigos que tive e até os que inventei. Sou a educação que obtive, sou da família.
Sou de amar. Sou roxo e lilás, mas as unhas, vermelhas. Sou dos olhos cor de mel, do cabelo preto, bem preto e comprido, bem comprido.
Sou dos sonhos, da ilusão, sou do príncipe encantado. Geralmente sou a Bela, mas de TPM, não tarda, viro Fera.
Sou autêntica, sou além do que você pensa ou espera.
Sou a imagem que fazem de mim, como posso não ser, basta acordar e querer mudar.
Sou o que quero. E gosto muito disso.
Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer.
Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi o apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.
Perfume de você
Um fascínio misterioso
Sensações nem sei de quê,
É poesia, é doçura,
Nenhum sabor de amargura,
É o perfume de você...
Um enigma a desvendar,
Sua chegada antevê...
Antecipa as delícias
De suas fatais carícias
O perfume de você...
Um mistério que arrebata,
Quando a gente se revê...
Mesmo após remir a chama,
Permanece em nossa cama,
O perfume de você...
Delicado e colorido
Como as flores num buquê,
Companheiro de verdade,
Em presença ou na saudade,
É o perfume de você...
Eternamente, a exalar
O amor que a gente crê...
Inebriante como agora,
Sentirei na vida afora,
O perfume de você!
O OUTONO E NÓS, SERES OUTONAIS
Foi-se embora o espalhafatoso verão!
De dentro do eterno ciclo da natureza retornou o outono, sereno e calmo!
“La belle season” é como batizaram os franceses esta estação que nos descortina as renovadas-vestes-da-divindade presentes na natureza.
Outono é uma parábola de nós mesmos, seres outonais! Suas manhãs são mais poéticas e os seus crepúsculos são mais filosóficos. Aquelas são belas em sua melancolia. Estes são melancólicos em sua beleza. Assim, somos todos nós.
Creio que é no outono que entendemos melhor o ensinamento de Oscar Wilde: “ser como crianças, para não esquecermos o valor do vento no rosto e ser como velhos para que nunca tenhamos pressa".
Isso é sabedoria. E se nos tornarmos mais sábios, já não precisaremos mais ter medo de envelhecer. Afinal, a vida também é um eterno renascer.
Coisa que só o outono ensina. O resto são folhas mortas.
Amo
Amo o silêncio das tardes cinzas de outono
o desenho das aves gravado no céu,
amo andar por estes caminhos, entre árvores
a balançar na brisa que vem do mar...
Amo as horas paradas do tempo em
que o mundo parece ter estacionado numa praia,
onde as ondas fazem graça na areia branca.
Amo as tardes com suas aragens frias,
que buscam seu agasalho na alma,
amo o verde esperança das matas,
o azul pacífico das inquietas águas,
a natureza de tantas cores da ilha,
as mil cores imaginadas e vividas,
cores de doçura e de força,
numa prece que é pura natureza.
Quero alguém que me ame demais
Não quero amor de primeiro dia, amor de verão, amor de outono, primavera, inverno..
quero estações completas, apaixonas e sinceras. Quero ter a certeza - e senti-lá - de que tudo é mesmo real e de que eu mereço.
Quero alguém que me abraçe forte, e que me diga o que pensa, que não tenha medo de ficar calado, ou de falar. Quero alguém que não me diga o que eu quero escutar, mas o que eu preciso.
Não quero uma vida inteira, quero momentos. Rir quando a vontade bater, e deixar as lágrimas rolarem quando as emoções forem fortes.
Quero um muro, uma rocha. Algo como certeza, força, grandeza. Não quero beleza, nem dinheiro. Quero jeito.
E quero ser capaz de ser tudo isso também.