Coleção pessoal de gettin-laid
Estavam deitadas na rede observando o azul escuro possuir lentamente o céu, enquanto o primeiro pisco luminoso das estrelas começava a enfeitar tudo como diamantes. Havia uma brisa mansa, ela conseguia ouvir o som de uma queda d’água não muito distante dali, o cheiro metálico no ar indicava que em breve teríamos chuva. Ouvia o riso das crianças e o latido incessante de Purina, e agradecia a Deus por ser tão generoso com ela.
E lá estava ela, naquela velha rede florida, com a mulher da sua vida recostada no seu ombro. E tudo estava perfeito. Aquele sofá suspenso, aquele jardim que sempre à dava bom dia com a fina camada de orvalho da manhã brilhando encantadora, aquelas madeiras que rangiam brincalhonas ao simples pisar do pé, todas aquelas velharias que faziam um contraste perfeito com o rosto infantil dela.
"Eu te amo, meu amor."
Ela tinha aquele jeito de fazer o mundo inteiro parecer certo, sabia ser séria quando era necessário, mesmo que a seriedade não a atraísse. Eu adorava acordar cedo e ir para a varanda espera-lá, adorava vê-la subindo a colina íngreme pela chuva junto com o sol preguiçoso das manhãs de inverno. Com o cabelo preso em trança, aquelas botas de montaria. Adorava sentar-me à mesa com ela e ficar conversando apenas com olhares, enquanto esperava algum sinal de vida dos nossos pequenos anjos, que não demorariam a aparecer.
E é perfeita a vida, perfeita combinação, perfeita harmonia, perfeita felicidade.
E felicidade plena, porque tenho você. Posso não te ter comigo em presença, mas te tenho em coração, em amor, em pensamento. Te tenho, a todo momento.
E a nossa casinha vai ser assim, pequena, simples. Mas enorme, gigante, pra caber o nosso amor. Como dizia Shakespeare: é pequeno o amor que pode ser medido. Teremos um jardim secreto, onde o vento canta e o sol faz poesia. E de manhã, quando você estiver sentada na varanda observando o orvalho da manhã e o lindo nascer do sol no horizonte, eu vou chegar da granja com alguns ovos pro café e uma jarra de leite fresco. E de repente, vemos uma coisinha miudinha com os cabelos de tão louros quase brancos, arrepiados e arrastando um ursinho velho e esgaçado pelo braço, e com uma voz quase tão doce quanto a sua ele diria: “mamãe?” e você com seu sorriso contagiante e delicado o pegaria o nolo e levaria-no para a cozinha enquanto eu acordaria nossa filha. Levaríamos eles para a escola e perceberíamos que o amor não tem idade, porque se tão jovens que nos conhecemos nosso amor sobreviverá o tempo que precisar. Não teremos um final feliz de jeito nenhum, pois não teremos um final. Livros, papeis, músicas, ideias e amor. Isso vai ter de sobra. Você estará trabalhando em um livro e eu compondo um prelúdio no piano quase tão sagrado quanto nosso lar. Nossos filhos terão a infância perfeita, clm machucados, arranhões, brigas, reconciliações, natureza e risadas. E no fim do dia, eu ligaria para meu pai para saber se as crianças estão bem na casa do vovô. A gente sentaria na sala e veria o sol bater nos vitrais coloridos da janela e formar cores que jamais sonhamos em um dia ver. E na manhã de Sábado eu acordaria com o sol irritando meus olhos e apreciaria o sol batendo em suas costas e dando cor às curvas. Ficaria ali deitada olhando com uma idiota tanta beleza contida em uma pessoa só. Correria para a cozinha e faria panquecas com chocolate e suco de laranja, com a mesa de cama enfeitada com flores. Te acordaria com cócegas e você gritaria comigo, sem me importar com os tapas e os xingões, te calaria com um beijo apaixonado, assim como nos filmes. Depois de comer você passaria o dedo no prato sujo e passaria em meu rosto, nós brincaríamos e riríamos até a barriga doer. Levantaríamos e faríamos o almoço para quando seus pais e o meu chegassem tudo estivesse em seu devido lugar. Tudo seria perfeito, jamas haveria monotonia. A nossa casinha seria perfeita e se encaixaria perfeitamente em nossa vida, assim como você se encaixa em mim. Como feijão com arroz, chantilly com morango e quebra cabeça de criança.
Ele tinha aquele misto no olhar quase indecifrável,
tinha no som das palavras tudo que faria você sonhar;
tinha no olhar uma confiança de que era tudo o que você necessitava para ser plena e infinitamente feliz.
Tinha nos lábios uma coisa envolvente, quase assassina, que fazia você desejar beijá-lo loucamente.
Tinha algo em seu corpo que fazia você desejar entregar-se a ele;
E isso tudo assustava bastante, esse secreto poder que ele trazia no seu ser.
Mas, ah, tinha algo de maravilhoso nisso tudo.
Era um sentimento que sufocava, mas um sufoco tão bom.
Quando ele cruzava as mãos e caminhava calmamente até você, mantendo contato visual direto, ele nem piscava. Ele te amendrontava de uma forma caliente só pra ver até onde você aguentaria, ah, grande filho da mãe! Sempre soube que eu sou falha, que aos teus encantos, Romeu, esta pobre Julieta não reluta!
Ao meu Romeu, sem culpa, sempre fui muito entregue. Fui dele sem ter consciência disso. E de arrependimento não padeço, pois sei que nunca fiz algo de errado em relação ao nosso amor.
Meu Romeu. Romeu de olhos brincalhões, cabelos loiros e mãos fortes.
De pele branca, lábios bons o bastante pra fazer viajar no êxtase a novata Julieta.
Não sei se me atrevo a dizer que Romeu me tem a todo momento, mas ele sabe que em momento integral, eu sou dele. Mesmo que negue, que fuja, que queira me soltar da prisão dos braços dele em torno de mim, ele não solta. Não solta porque sabe que não quero que solte, não quero por motivos óbvios. Para quê? Sair da minha fortaleza, de onde esqueço meus problemas, onde somos só nos, naquele momento íntimo, onde apenas existe eu e ele, ele e eu, homem e mulher, Julieta e Romeu.
O toque de tuas mãos, Romeu, desperta em mim o mais viçoso sentimento;
Teu cheiro sempre teima em ficar em mim, por mais que eu use perfumes, no fim da noite, é o teu cheiro, Romeu, que teima em ficar na minhas vestes.
E ah, Romeu, as noites.
Noites por aí, olhando estrelas, conversando coisas futéis, ficar abobada olhando minha mão entrelaçada na tua, e depois querer chorar quando me trazes em casa.
Quando vejo que amanhã não te terei, Romeu, e conto com a incerteza do destino pra te ver de novo.
E te amo, Romeu, e como amo. Amo com a força e a intensidade de uma super-nova! Quero que saibas, Romeu, te digo em deleite, que meu sentimento por você é a coisa mais magnânima que já senti, a flor mais delicada que já brotou no mundo. Uma rosa entre pedras, lembra?
Tua, única e eternamente tua, Julieta Capuleto
A vida por si só ultimamente já parecia bem ruim de novo. Menina mimada, só queria saber da vida quando lhe sorriam, eu pelo menos, não a culpo. Eu jamais a culparia. Enfim, o caso é que eles não estão mais juntos. Ou estão? Eles não sabem dizer. O caso é também que os monstros dela a assustam demais, a assustam às três, quatro da manhã, a derrubam da cama. Amor é coisa tão complicada... Talvez a pior parte de ter um coração partido, é não se lembrar como você se sentia antes disso. E era exatamente assim que ela se sentia. “Ele já havia dado o que tinha que dar”, pensava ela. Ele sempre ia longe demais. Ele sempre a magoava demais. E o fato dela o perdoar sempre tava deixando ela maluca. Não, maluca, mas sim, maluca. Ela queria ir embora, de verdade, mas esse amor meio doente que ela tinha não deixava. Ele é simplesmente o ar da vida dela. Mas não está bem. Eu vejo isso nela, vejo isso no que ela fala, no que ela diz sentir. E morro de pena, morro de pena de ser tão jovem e ser tão assim... Tão marcada. Ela só queria uma vida normal, sabe? Ter filhos, construir um futuro bacana... Mas parecia que tudo conspirava contra isso, era basicamente impossível isso pra ela, e ela lutava contra essa pré-destinação, ela queria provar a algo ou a alguém que ela era capaz de ser feliz, mas sempre algo a travava. Era como viver presa na marcha ré. Ela sentia raiva porque ele sabia que ele poderia ir embora, pra onde quer que fosse, que ela ainda sim estaria ali, e isso a deixava mais com ódio que nunca, porque ela QUERIA ir embora, mas ela não conseguia. Enquanto ele poderia ir embora a hora que quisesse. Mas será? Será que ele conseguiria ir assim, tão bem?
Melhor um contar um breve resumo da história deles só pra você não ficar totalmente perdido. Ele traiu. De novo. Ela perdoou. De novo. Ele acusou ela de não amá-lo mais, sendo que um dia anterior ele tinha a traído. E traído de novo. E escrevendo isso eu me sinto um lixo, porque eu de certa forma sinto o que ela sentiu. E ainda sente. Ele, de alguma forma, destruiu tudo de bom que havia dentro dela, que já não era muita coisa. Infelizmente, isso mudou muita coisa dentro dela, porque ela sente que todo dia se deita numa teia de aranha, fina e prestes a arrancá-la pra um buraco fundo e negro. Dramático, né? Mas é exatamente como ela se sente. Ela vive com medo de que ele cometa mais algum erro, porque eu acho que ela simplesmente não iria aguentar mais. Ela já se sente mal o suficiente por ter perdoado ele, mas sabia que tinha que perdoar, sabia que ela precisava dele. Porque ela o amava tanto. Mas por outro lado, ela tinha todas essas coisas dentro dela que ela jamais diria a ele porque morre de medo de magoá-lo, em contra-partida que muitas vezes ela pensa que ele não tem esse medo. Quando ela se lembra de tudo, de tudo, ela vai ficando pequena, ela vai implodindo de novo... Bem devagarzinho. Ela vai vendo a vida correndo diante dos olhos dela, sem conseguir reagir. É tanta coisa nessa cabeça dela, que eu nem me atrevo a dividir com você. Porque você não entenderia, você nunca entende.
Ela está tão apaixonada que não aguenta deixá-lo ir, e ele ainda diz que ela apenas é uma obsessão. Ele diz que não, não é amor. É apenas sede de uma coisa que ela não tem. Imagina, ouvir isso da pessoa que você ama? Nada estava contribuindo mais. Ela tava cheia demais disso tudo. Ela precisava gritar umas verdades na cara dele sem que ele fosse embora. Ou sem que ele ficasse com raiva demais e a traísse de novo. Era como viver pisando em ovos. Ela, se possível, não se importaria em tê-lo pra sempre, em dividir sua vidinha com ele, do jeitinho que ele quisesse. Lavaria a roupa do jeito que ele gosta, faria a comida que ele gosta, ia até fazer as vontades esquisitas dele, se assim o deixasse feliz. Desde que ele a valorizasse, desde que ele não a magoasse mais, porque ela simplesmente tava acabada. Ela fingia que tava tudo bem, mas ela via pelos pesadelos que ela tava se enganando, e enganando a ele ao dizer que ela estava bem. Mentira. Ela não tava. Mas ela queria estar, porque não queria irritá-lo com tudo isso. Ele já tinha stress demais na vida dele, e ela não queria ser mais um, até porque todo mundo apenas quer se livrar dos estresses diários, e ela não queria que ele se livrasse dela. Ela não queria ser um problema pra ninguém, ela queria ser um ponto de paz, pra ele; assim como ele, de certa forma, era o dela. Ficava tudo bem quando eles estavam juntos, ela conversava, ria, ela fugia de uma realidade que ela anseava por mudar. Mas aí quando ela tava sozinha, às 3h, 4h da manhã, hora que ele pensa que ela tá dormindo, e na verdade ela tá sentada no banheiro chorando, ela vê que ela precisa fazer alguma coisa. Ela vê que não tá bem. Ela vê que ela precisa de ajuda. Ela precisa de algo que a salve de novo. E ela precisa que seja ele. Ela precisa que ele tenha paciência, ela precisa que ele não vá embora. Mesmo que ela mande ele ir, mesmo que ele queira ir, ela não queria que ele fosse, ela não quer ficar sozinha. E isso é tão triste, sabe? Porque um dia ele sabe que ele vai acabar se cansando dela. Ela sabe que, um dia, Belchior não vai tocar mais nele. Sabe que, um dia, fumar vai ser um hábito normal, não uma coisa meio deles. Ela sabe que, um dia, ela vai cair no esquecimento dele, sei lá... São tantas as coisas que acontecem às 4h da manhã, segundo ela.
Mas apesar de tudo, ele era o amor da vida dela. Ela desejava acordar com ele todo santo dia. E os não santos também. Queria nos dias frios se enrolar com ele, debaixo de um monte de cobertor. Ela queria escutar os problemas dele, e escutar as alegrias. Ela queria fazer coisas simples com ele, como ir ao mercado. Como cozinhar juntos. Como ver um filme juntos. Porque pra ela, o que cativava mesmo era a simplicidade. O que cativava, pra ela de verdade, era o amor sincero. Não aquele faz viagens todo santo mês, que precisa de coisas caras e um monte de enfeites. Claro, isso às vezes era bom, mas o que a agradava de verdade era a simplicidade. Era um pôr-do-sol juntinho. Era aquele plano pro futuro meio sem pé nem cabeça, era aquele beijo de forma inesperada. Pra ela, o que mais cativava era a cara dele amassada quando ele acorda de manhã, era aquela voz grossa ao pé do ouvido, às 7h da manhã. Pra ela, era isso o que valia. E era isso que tava salvando ela esse tempo todo, era saber que ele realmente é uma boa pessoa. E enquanto houver razões, ela não vai desistir, porque sabe que no fundo, por ela, ele sente o maior amor do mundo.