Coleção pessoal de Gesiel_Modesto
No final, a morte é um professor que ensina o valor da vida. Quando em luto, tua alma sofre um dano severo e irreversível, que te faz melhorar, pois agora sabes que qualquer um pode esvair-se da existência nos próximos segundos. Essa é a vontade de existir: ignorar teus limites e medos pelos teus sonhos e, embora pareça apático, doar o amor não dito a quem ainda resta amar.
Agora entendi o porquê de a vida ter se tornado um peso para mim, e em como participar de uma vida que não quero viver. Eu morri aos 16, e quando ressuscitei aos 19, as únicas boas novas que encontrei foram palavras ardilosas, proclamando-me nada mais que culpa. Mas eu já tinha morrido aos 9, quando quem me mantinha neste mundo se fora. Quando meu propósito se esvaeceu e quando minha alma se fragmentou que, em uma ação desesperada, segurou meu cadáver, com medo de perder o que lhe protegia.
Agora arrasto as correntes gélidas desse pesar, com o único objetivo de redenção à vida: alimento vermes com minha carne. Ora, que alma boba e tola. Seria o mesmo que uma árvore dar um machado a um lenhador e, após sua decadência, abraçá-lo, dando-lhe conforto e dizendo-lhe que não foi sua culpa — mas que, ainda assim, ele queimaria a lenha para suas próprias vontades.
Sou instável, em busca de uma redenção confusa e incerta, e muito provavelmente inalcançável. Busco um futuro não palpável, pois o presente já não se torna um presente para minha alma.
"Até o oceano me rejeita."
Pego-me vagando em meus pensamentos,
Aquele momento em que o tempo para.
Os ventos cessam sua brisa fria,
E o silêncio arranca de mim
Os suspiros que já não existiam.
As nuvens fogem, levando consigo
A chuva que poderia apartar
As chamas vívidas da luz guardiã,
Aquela que persiste mesmo à noite
E me protege dos males da escuridão.
Mas quem disse que não gostaria
De cegar-me com o breu?
De andar sem preocupações,
Ferindo-me aos cacos de garrafas quebradas,
Dos inocentes bêbados eufóricos,
E entregando-me aos lobos famintos,
Finalmente tendo um propósito?
Embora venham com mentiras ardilosas,
Dizendo que meu destino é iluminar o mundo,
Eu sei: meu reflexo está distorcido.
Os demônios solares, sedentos por lúmen,
Corroem minha carne e alcançam minha alma.
Busco então refúgio no azul profundo,
Sob o manto do mar,
Esperando apagar a chama que consome
Minha essência.
Mas até o oceano, que abraça todos os naufrágios,
Me rejeita.
Ele conhece meu peso, minha dor...
Mas devolve-me à superfície,
Como um pedido que o universo se recusa a ouvir.
Resignado, aceito: não há lugar para mim.
Passo a vagar, uma existência pífia,
Ociosa para mim, mas viciosa
Para aqueles que sugam o que resta da minha alma.
E naquela vasta noite fria dominada pelo azul semblante da lua, o espelho prateado que reflete o espírito taciturno dos melancólicos; ao céu estrelado, pintei-o de vermelho — a cor de minha alma, dita maculada pelos vermes impositores: os parasitas de uma inata frenesi da alma rasa. Pois agora, a vastidão do infinito forja um roxo resiliente aos céus; mas um vazio roxo para mim, que me guia em um vasto mar até a borda do universo, onde aceito a solidão da resignação lúdica da vida.
Meu desespero não é o que poderia ser,
Nem o que poderia ter sido,
Mas sim o desespero
Dos infinitos caminhos
Que posso escolher.
Alguns demasiadamente ruins,
Outros demasiadamente bons,
Mas nenhum completamente estável.
Isso define a vida:
A instabilidade que aparecerá
Quando menos se espera.
E isso nos define como humanos:
Sempre procurar sermos estáveis,
Mas ainda assim falhamos.
Pois esse é o mal da sociedade:
Um inevitável desacordo social,
Uma troca injusta do bem pelo mal.
Um mal disfarçado de egocentrismo.
E aqueles que o evitam
Tendem a ser o dobro do sonho,
Precisam ser demasiadamente menos humanos.
E sempre será o mesmo caminho para todos
Ao olhar para si no reflexo
De um espelho fragmentado.
Assim, percebo que não há
Como sermos humanos de fato,
Pois ser humano é não ser humano.
“Aquele que, em quaisquer situações de ruína, contempla a vida com um caráter simpatizante e ainda o reparte aos que precisam é um ser de outro patamar; um virtuoso solene, o mais próximo da perfeição.”
E após a vida tirar-me aquilo que era mais importante, eis o que restou de mim:
um mísero vagalume, forçado a viver numa imensurável casca repleta de vazio
Fui o poeta mais tolo
por ter escrito, das mais diversas poesias,
para as mais diversas pessoas,
de forma genuína e presenteada.
O valor delas, que agora
transformaram-se em pseudo,
são meras ilusões passageiras,
daquilo que deveriam ser:
potências mediadoras de transformação.
No entanto...
No... en-tanto...
hei de deixar essa enganação generalizada,
pois minhas obras são descartadas,
não por serem imperfeitas,
pois a imperfeição jaz em todos os poemas,
e isso chama a própria vontade do homem,
que é imperfeito,
e sempre será imperfeito,
como era no princípio do universo.
Ao deixar-vos, poderão finalmente ver
a pequena fagulha da mísera, porém extraordinária,
luz de minha atomicidade,
implodindo e explodindo incessantemente,
para avisar a todos,
a perceberem, no fim,
a realidade cruel,
agora iluminada
por minha esplêndida e infinita luz cósmica.