Coleção pessoal de fuadcaetano

Encontrados 13 pensamentos na coleção de fuadcaetano

⁠Lobo

Lobo cinzento de pelo turvo e olhar de vigia
Com sangue entre os dentes e alma sombria.
Lobo que ladra, morde e mata sozinho
Criatura maligna que cruzou meu caminho.

Lobo cinzento de olhar fosco e amarelo,
Me amedronta e apavora de jeito sincero.
Lobo que perfura, rasga e devora,
Lupino profano que só teme a aurora.

Me amaldiçoa com escárnio e prazer,
Me transforme em Lupino do submundo.
Da matilha agora o mais novo ser,
Lobo cinzento de jeito imundo.

Sem sol, na lua, renascerá o homem caído,
Chama calada, forma lupina, toque ardente.
Seja brilho e guia de mais um perdido,
Chamando meu corpo, uivo. Alma que mente.

⁠Poço

Os arranhões na parede do poço
Mostram como tentou subir um dia,
Não conseguiu pela culpa, embora moço,
Poderia chorar até transbordar, e sairia.

Sucumbe aos delírios da solidão,
Cansado, machucado e um dia caído,
Busca ao longe ajuda, sorriso ou mão
Alguém que lembre que tenha vivido.

E na corda que poderia subir
Resolve apertar o nó do pescoço,
Mas a tristeza não deixa voar e cair.

Transbordando as lágrimas de desgosto,
E os arranhões na culpa do moço,
Mostram a parede, embora no poço.

⁠Lar

Se a casa é onde nos sentimos bem,
Faço ao seu lado minha morada.
Jamais passarei fome ou frio, além
De estar no coração de minha amada.

E pelo seu feitiço deveria ser queimada,
Tal qual as bruxas há anos atrás.
Fez-me um servo em sua jornada
Sou um escravo, mas vivo em paz.

Quando quiser me assassinar, se despeça
Não consigo viver sem teu carinho.
Mas me mate, e que não seja depressa,
Prefiro ser torturado, que estar sozinho.

⁠Ninguém

Sou o grito mudo no vazio,
Nada pode acalmar a dor.
Ninguém.
Pode.

Sou o sorriso amarelo no escuro,
Busco na sombra o afago.
Ninguém.
Vem.

Sou o escárnio da nobreza,
Vivo pelos becos da miséria.
Ninguém.
Espera.

Vê?
Ninguém.
No fim se importa com nada.
Sou o tempo perdido angustiado.

⁠Hineni

Glorificado e abençoado seja seu nome,
Santificado e eterno seja o seu perfume,
Mil velas acenderei, o fogo não consome,
Prefere o silêncio, como de costume.

Hineni, minha Deusa!

Com olhar de luxúria, insisto.
Eu cobiço, confesso e conquisto.
Vou até o fim, não resisto.
Eu luto, me entrego e desisto.

Hineni, minha Deusa!

Cobiçado e amaldiçoado,
Coberto de ódio e horror,
Vilipendiado e satirizado,
Eu estou pronto, meu amor.

Hineni, minha Deusa!

⁠Morto

Sinto que perdi um pedaço
Talvez
É difícil manter o quebra cabeças
Montado
Sempre exibido a todos.

A moldura não é firme
As peças não se seguram sempre
As pancadas, toques, quedas
Fotos
Desgastam a forma completa.

Fecho os olhos e
Cubro meus ouvidos
Vejo e ouço meu interior
Vomito
Sou muito podre para meus sentidos.

Uma parte de mim morreu hoje
Tentei reanimá-la
Sem sucesso
Acho que perdi minha melhor parte
A parte que me amava.

⁠Tentador

Meu amor é pecaminoso,
De jeito sagaz e sedutor,
Alguns acham desvirtuoso
E tantos outros tentador.

Avanço com língua e letras,
Escorro entre dedos e boca,
Além de papel e canetas,
A paixão rompe como louca.

Como a maçã do paraíso de Eva,
No calor e aconchego do leito,
Seja claro, penumbra ou treva,
Amor proibido clama meu peito.

⁠Cuide


Cuidando se mostra o quanto ama,
Então me deixe tocar sua pele macia,
Cubra-me entre teu ventre e tua cama,
E traga luz nesta página sombria.

Ilumine essa forma perdida,
Floresça e me banhe de perfume,
Adoro seu carinho, como de costume,
Complete-me e sempre me dê vida.

E nas linhas curtas de amor puro,
Faça-me sorrir e crie meu reino.
Nos seus braços me sinto seguro,

És radiante, como sempre veio.
E no toque simples e carinhoso,
Ame e cuide de jeito virtuoso.

⁠Migalhas

Assim torna-se impossível o simples ato de dizer
Palavras não são ditas, os beijos não são dados,
Os amores são perdidos e os corpos velados,
Nada mais que cinzas, dores e prazer.

Lágrimas adoçam o amargo da boca,
Nos jogos de Deus, eu vadio, tu louca,
A timidez se vai com uma taça, e
Em nosso leito o que é puro se desgraça.

Como dois não dividimos apenas o manto
E as migalhas brilhantes do céu impuro,
Mas compartilhamos planos e amores do futuro.

Quando cai o alvorecer rubro no firmamento,
Você lua tímida nega-me o sorrir,
Eu como sol me vou, só admiro o que queria sentir!

⁠Malus

Meu amor é como a alvorada,
Inevitável, vermelho e sedutor.
Busco ao longe minha amada,
Como o sol no horizonte sonhador.

Meu coração é negro como a noite,
Envenena da forma mais fatal.
Sua ausência é como um açoite,
Profanando essa forma carnal.

Meu toque é frio como inverno,
Matando esperanças por prazer.
Sigo com deboche pelo Eterno,
Dissipando o que Ele fez crescer.

Meu pensamento é como fogo,
Destruindo todos ao meu redor.
Sou a matilha de um lobo,
Devorarei a carne até do menor.

Sou os sete pecados todos unidos,
Irrompendo amores a toque de fole.
Me elevo à desgraça dos perdidos,
Beberei teu prazer até último gole.

Divertiu-se com o mal errado,
Subestimou o demônio principal.
Torturarei seu futuro e passado
E esta será a lembrança de teu final.

⁠Devaneio

Eu me tornei demoníaco e cruel,
Perdi as chaves de nosso céu.
Quebro os portões ainda com esperança,
E destruo cada vez mais a confiança.

A busca de poder dominou a carcaça,
Antes o que era homem, hoje desgraça.
Sou o péssimo exemplo julgador e
Sigo com meus pecados, sem amor.

Mais um copo tragado com ansiedade,
Dos menos tolos, aprendi com a idade,
Aguardo que quem sabe um dia,
Possa ser metade do homem que seria.

⁠Tempos Idos

Ainda uso a coroa de espinhos quebrada
Lembrando-me dos bons e velhos dias
Aqueles que tivemos durante a jornada
Antes de nos perdermos por estas vias.

Me diga, por favor, o que aconteceu?
Estou acabado e tomado pela dor.
Se o homem que fui se perdeu
E restou somente este triste trovador.

Tentando recuperar meu velho amor,
No labirinto secreto do esquecimento,
Me calo em meu próprio rancor

E me guia somente um pensamento:
No brilho dos teus olhos, como arrebol
Eu sempre te amarei, faça chuva ou sol.

⁠Gotas

Vivo neste mundo em branco e preto,
Iluminado somente pela tua luz charmosa,
Deixe brilhar em mim tua gota formosa
E colora com graça esse soneto!

Voz macia e pele em mármore talhada,
Olhos como mel, simples corpo formoso,
Com lábios finos e de traço estiloso.
Fujamos de nos mesmos, preciosa amada.

Gotas cálidas de orvalho diurno,
Chama preciosa de Círio sagrado.
Sejas meu anjo, sempre abençoado,

E cobrirei seu ventre de amor soturno.
Olhos nos olhos, pele na pele, boca na boca,
Embriagar-me-ei com teu prazer, gota por gota!