Coleção pessoal de fredericoamitrano

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Liduína
Frederico Amitrano
Teu nome, Liduina
É um forte nome de mulher
Um raro nome de menina
Não nega a origem nordestina
Daqueles que vieram te colher
Doce flor de cajuina
O teu nome me encanta
Cada letra me fascina
Que lindo nome de santa
Fosse essa a tua sina
Mas que doce nome de amante
É o teu nome, Liduina

Eu jamais desejei você
Nem sonhei com seus beijos
Sua voz me traz bocejos
Meus olhos não querem lhe ver

Eu jamais me lembrei do seu perfume
Nem ainda sinto ciúmes
Se alguém olha pra você
Inclusive, eu nem tenho por costume
Ao ouvir o telefone
Ir correndo pra atender

Eu jamais desejei voltar
Nem tampouco lhe falar
O quanto eu gosto de você

Se sem você eu não seria
O que serei eu sem você?
Tentarei ser pela vida
Tudo o que você me fez ser

Que posso dizer se sou assim?
Quando começo uma coisa, vou até o fim
E se quero uma outra
A tomo pra mim
Que posso dizer se sou assim?
O meu tempo é agora
Não há não, só há sim
E se não digo na hora
Espere por mim
Pois irei noite a fora
Ruminando assim
Como um boi que demora
A engolir o capim
Que posso dizer se sou assim?
Compulsivo, dominador… Isso é bom ou ruim?
Se a vingança então
É saber que a obsessão
Se alimenta de mim

Abrace-me com esses braços
Que um dia me embalaram
Beije-me com esses lábios
Que um dia me ralharam

Me leve pro seu leito
E me deixe chorar
Depois me nine no seu colo
E deixe eu lhe abraçar
Prá relembrar aqueles tempos que nunca vão voltar

Se eu pudesse escolher a minha mãe
Assim como Jesus fez
Escolheria você
E voltaria tudo outra vez

Estreou numa manhã de Maio
Nunca fui o mesmo depois dela
Penetrou em minh’alma como um raio
O seu nome? Ana Rafaela

E como hábil pianista
Tocar tecla por tecla do seu corpo
Deixando Fluir livremente
O som de uma antiga melodia
Que só nós dois conhecemos…

Amigo, palavra cara
Feliz quem pode achar um
O nome é muito comum
Mas a coisa é muito rara…

A gente já não tem assunto
E tanta coisa pra falar
Nem tampouco estamos juntos
Mesmo no mesmo lugar
Olho teu olhar e deixo
Tanta mágoa no olhar
Beijo tua boca, o teu queixo e me queixo
Tantas queixas nessa forma de beijar
Acho que ainda te amo, mas as palavras se gravaram em mim
Ou tudo é um engano ou é o começo do fim
Um dia ainda te falo num tempo que ainda não conheço
Onde não haja brios e nem mágoas
Muito menos o fim do começo

Aquele menino que driblava certo com as pernas tortas
Tinha um olhar diferente
Chave de todas as portas: Sua maneira inocente
Caçando passarinho
No esplendor da natureza
Garrincha voa, pobrezinho
Exibindo sua beleza
E num gramado iluminado
Iluminadamente ele está
Deixando muito “João”
Sentado na grama pra descansar
O mundo inteiro gritou e agora grita de novo
“- Garrincha, Garrincha, a alegria do povo”
Hoje Garrincha voou nas asas da solidão
Mas a camisa que ele suou
Não tem substituição
Nossos corações pararam
Na parada de seu coração
Não tem mais bola no pé
Ele já não pisa no chão
Uma coisa eu grito com fé, garra e emoção
“- Garrincha era Mané, mas nunca foi João”

O céu está tão lindo
A lua sorrindo
Estrelas caindo
E ela dormindo
Seu sono é tão profundo que entorpece o ar
Embalada nas voltas do mundo
Ela nem sonha acordar
A noite vai passando sem ela sentir
O silêncio é o acalanto
Que faz Ana Letícia dormir

Tem poesia na moça da cidade e na moça da favela
Num clássico de Beethoven e num samba da Portela
No sangue que corre pelas veias dos valentes generais
E no sangue que escorre das tão cheias notícias de jornais
Tem poesia em uma criança que nasce e em seu comemorativo porre
Em uma pessoa que esvai-se e lentamente morre
No operário que luta pelo seu pão
No pobre salafrário que acaba na prisão
Nas águas que inundam o sul e se esquecem do sertão
Nos batuques, nas cachaças que rolam pelos botequins
Nos preconceitos sem graça dos cabelos pixains
É poeta quem aprecia e solta
Não fica mudo
Quem vê a poesia
Em todos e em tudo

É madrugada
Silêncio me faz acordar
Breu dando forma ao lugar
Chego à janela, olho o luar
E as estrelas ao léu
Cheiro salgado no ar
Como é bonito o céu à beira mar…

O poeta é como um missionário
Que prova dos sabores de sofrimentos de versos
Como a madeira que se transforma em objeto direto
Das lixas das mãos de Deus, seu marceneiro

Pois quando um poeta cria
De simples palavras cruas
Uma simples poesia
Ele lixa cada frase
Exclama, virgula, pontua e põe crase
Nas mínimas lembranças suas

De amores impossíveis são feitos os poemas
Que germinam da mente desse asceta
Que não reclama e nem blasfema
De sua sina de ser poeta

Deus os chamou para a mesma caminhada
Unidos nesse mistério
Uma alma na outra embalsamada
Um mistério no outro mistério
Dentro de suas almas enluaradas
Canta uma doce canção, o saltério
Uma com a outra marcada
Num compromisso solene e sério.
Desfaçam-se canções como sonatas aos luares,
Eternizem esse amor que não se mede
E o depositem em Deus, em seus altares
Acharam o amor, maior descoberta do que a de Arquimedes
O amor de vocês seja como o de Cantares
O amor entre Eline e Fred

O que será que ele pensa
Quando fica assim tão sério?
Há um véu de mistério
Que me deixa um pouco tensa…
Quem será que ele é?
Será que é casado? Viúvo? Divorciado?
Será que tem filhos? Mulher?
Quem será que ele é?
Ou melhor, quem será que ele é pra mim?
Qual lugar lhe é devido?
Se parece com meu pai
Ou será com meu marido?
Eta dúvida sem fim
Meu analista é assim
Às vezes penso nele
Com raiva… Em outras, com carinho…

Saudade é ler
Os poemas de um poeta morto
Saudade é um barco que sai do porto
Saudade é sentir a dor da despedida
Saudade é chorar na partida
Saudade é voltar sozinho
A um inesquecível lugar
Saudade é ir pra nunca mais voltar
Saudade é cantar uma antiga canção
Que faz lembrar uma linda paixão
Saudade é sofrer
Saudade é padecer
Enfim, saudade é o que eu sinto de você

Falo ou não falo?
Não falo ou falo?
Essa e a luta
Lutar pelo falo
Falo ou não falo?
Não falo ou falo?
Esse e o desejo
Possuir o falo
Quem manda tem falo
Quem desmanda, também
Há mulheres com falo
Alguns homens não têm
As bandeiras são falos
Nos mastros de além
Cada país quer fincar
O seu falo em alguém
Falo ou não falo?
Não falo ou falo?
Uns cantam de galo
E outros se calam
Tudo depende
De com quem tá o falo
Falo ou não falo?
Não falo ou falo?
Se falo o que falo
Fá- lo com o falo

Meu amor, lhe espero eternamente corcovado
Lá no céu petrificado, braços abertos pra você
Minha flor, meus desejos São Conrado
De um caminho apaixonado que o Joá me faz viver
Quero beber sua garoa e lhe aquecer com meu verão
Fazer de nós uma lagoa na Avenida São João
Mas a dor de pensar em quem se ama
Quase sempre nos engana ou então nos faz sofrer
O sabor do sal de Copacabana
Escorrendo dos meus olhos quando penso em você
Ah, que esse amor só me machuca
E esse sal me faz penar
Eu vou lhe dar meu pão de açúcar
Só pra você se lambuzar!

O que é? O que é?
Uma coisa que só no Brasil se faz?
Quem pensou em samba, não é
Nem futebol, nem café…
Responda-me quem for capaz
Agora vou dar uma resposta sagaz
Ora, o que só no Brasil se faz
É claro que são os brasileiros
Pois em nenhum lugar do estrangeiro
Mesmo com muito dinheiro
Um brasileiro se faz
Mas como se faz um brasileiro?
Mais uma pergunta tenaz
Alguém tem alguma receita
Ou uma vaga suspeita de, enfim, como se faz?
Vou tentar dar o meu pitaco:
Cuíca, sanfona, cavaco
Um pouco de balacobaco
Inda assim não se faz
É preciso misturar as cores:
Branco, preto, amarelo
Todo tipo de cabelo
E uma teimosia pertinaz
Mesmo assim um brasileiro
Não é só assim que se faz
Tem que ter algo além
Um pouco de pimenta cai bem
Ou um tempero mais audaz
Um “mexe- mexe” demais
Aí não tem pra ninguém
Boa dose de alegria, bom humor, simpatia
Mas, todavia, porém
Inda assim não se faz
Creio que pra se fazer um brasileiro
O verdadeiro, daqueles que só no Brasil se faz
Nem precisa ser cozinheiro
É só misturar o mundo inteiro
Numa grande receita de paz