Coleção pessoal de FRANCISCOJUVANSALES
SOMOS PEDAÇOS DE QUASE TUDO QUE EXISTE NA TERRA
É preciso observar atentamente os contrastes e conflitos de cada um de nós para compreendermos como somos multipedaços de quase tudo que existe na Terra. Vivemos constantemente em transformações sendo agentes do ocaso, do acaso e do caos. Não observamos tudo de imediato e simultaneamente, mas podemos ver muito mais do que se percebe e se acredita através do nosso cotidiano existencial de que somos um animal imperfeito, mas um animal especial dotado de razão, inteligência, reflexão, com capacidade de pensar sobre um modo inteiramente diferente que as outras espécies de animais.
Nenhuma ciência, filosofia, religião ou qualquer outro campo do conhecimento é capaz de definir a profundidade e complexidade da existência humana. Somos, de fato, compostos por elementos que se encontram em toda a Terra e no universo. Nossa capacidade de transformação e adaptação é notável, e isso nos torna agentes tanto do acaso, do ocaso e do caos.
Embora não possamos observar tudo de imediato e simultaneamente, nossa percepção e entendimento do mundo ao nosso redor são ampliados pela nossa capacidade de reflexão e raciocínio. Como seres humanos, somos imperfeitos, mas essa imperfeição é parte do que nos torna únicos e especiais. Nossa inteligência e habilidade de pensar de maneira complexa e abstrata nos diferenciam de outras espécies.
Tudo na espécie humana é múltiplo, fragmentado, não podendo haver certeza, objetividade, segurança, mas espectros específicos em relação às definições, às ideias que mostram em permanente mudança as maneiras próximas de se apropriar da coisa-homem. E os saberes se constituem e têm uma história de contrapontos em uma série de opostos irreconciliáveis sobre os seres que somos.
A espécie humana é, de fato, marcada pela multiplicidade e fragmentação. Nossa existência é composta por uma infinidade de experiências, perspectivas e contextos que tornam impossível alcançar uma certeza absoluta ou uma objetividade completa. Em vez disso, navegamos por espectros de entendimento e interpretação que estão em constante mudança quanto, por exemplos, os tópicos descritos abaixo.
Cada indivíduo possui uma história única, moldada por suas vivências, cultura, educação e ambiente. Isso resulta em uma vasta gama de perspectivas e interpretações sobre fragmentação, multiplicidade, diversidade de experiências. O conhecimento humano dividido em inúmeras disciplinas e subdisciplinas, cada uma com suas próprias metodologias e paradigmas, reflete a complexidade do mundo e a nossa tentativa de compreendê-lo nos leva à subjetividade, e consequentemente, à incerteza. Subjetivamente, nossas percepções e interpretações são influenciadas por nossos valores, emoções e contextos pessoais. Isso significa que duas pessoas podem ter visões completamente diferentes sobre o mesmo fenômeno. Relativamente à incerteza, a ciência e a filosofia nos mostram que nossas certezas são temporárias, portanto, sujeitas à revisão. Novas descobertas e ideias estão em permanente renovação do nosso entendimento sobre o que é velho e novo, enquanto o velho ainda não é arcaico.
Concluindo, as definições e ideias sobre o que significa ser humano estão em constante evolução. Questões como identidade, gênero, e ética são reavaliadas à luz de novos conhecimentos e contextos sociais e a maneira como nos aproximamos e nos apropriamos do conceito de humanidade é dinâmica. Utilizamos a arte, a ciência, a filosofia e outros campos do conhecimento para explorar e redefinir o que significa ser humano. E essa complexidade e dinamismo são o que tornam a experiência humana tão rica e fascinante.
OS DESAFIOS DA REALIDADE CONTEMPORÂNEA
A realidade contemporânea pode ser descrita como um verdadeiro turbilhão de caos e desafios. Vivemos em um mundo onde guerras, tragédias, catástrofes climáticas, crimes cometidos por grupos terroristas, tráfico de drogas, violência, corrupção e disputas políticas e econômicas globais se entrelaçam, criando um cenário de instabilidade de difícil controle.
As guerras e conflitos armados continuam a devastar regiões inteiras, causando sofrimento humano incalculável e deslocando milhões de pessoas. Tragédias, como desastres naturais e acidentes, ocorrem com frequência, exacerbadas pelas mudanças climáticas que intensificam eventos extremos como furacões, inundações e incêndios florestais.
O crescimento desenfreado de crimes, especialmente aqueles ligados ao terrorismo e ao tráfico de drogas, adiciona uma camada de complexidade à segurança global. Esses crimes não apenas ameaçam vidas, mas também corroem a confiança nas instituições e no estado de direito.
A violência, tanto em nível local quanto internacional, alimenta um ciclo de medo e desconfiança, problema este de difícil combate, pois se alimenta da promiscuidade de muitos interesses dos grandes monopólios tecnológicos, econômicos e políticos que mantêm o controle mundial.
As disputas que ocorrem hoje entre os grupos potenciais tecnológicos, políticos e econômicos globais talvez sejam os que mais contribuem para a instabilidade do planeta Terra, hoje, quando a competição, a ganância entre eles por recursos, influência e poder podem levar a tensões internacionais e conflitos comerciais incontroláveis, afetando a economia global e a vida cotidiana das pessoas em todo o mundo.
A corrupção, por sua vez, mina a eficácia dos governos e a confiança pública. Quando líderes políticos e econômicos se envolvem em práticas corruptas, a governança se torna ineficaz e os recursos que poderiam ser usados para o bem público são desviados em benefícios fraudulentos pessoais. Isso cria um ambiente onde a desigualdade prospera e a justiça social é comprometida.
Concluindo, a realidade atual é um turbilhão de problemas interconectados que exigem uma abordagem multifacetada e colaborativa para serem resolvidos. Portanto, diante desse cenário, a busca por soluções globais se torna essencial. A cooperação internacional, o fortalecimento das instituições democráticas e a promoção de políticas sustentáveis são passos cruciais para enfrentar esses desafios. Além disso, a conscientização e o engajamento da sociedade civil são fundamentais para pressionar por mudanças e responsabilizar os líderes por suas ações. Somente através da união de esforços e da implementação de soluções inovadoras e justas poderemos navegar por esse caos e construir um futuro mais estável e próspero para todos.
A REALIDADE COMO IMPERATIVO CATEGÓRICO
Com o presente texto tento refletir alguns aspectos da realidade como ela é no mundo de hoje – e sempre foi em todos os tempos da existência humana -, enfocando a sua intensidade do tudo ou nada entre o bem e o mal, sem meio termo de escolha, quando o seu imperativo categórico de princípios e regras nos regula e nos obriga obedecê-lo em detrimento de nossa sobrevivência.
Por ser a realidade do mundo de hoje complexa e multifacetada, marcada pelos avanços tecnológicos, pelos desafios ambientais, pelas mudanças sociais e políticas e outros fenômenos do dia a dia da nossa vida, parecem-nos que parcelas de fragilidade de nossa essência, como a liberdade, a independência e outros aspectos inerentes à existência do ser humano, podem estar comprometidas. Por outro lado, é possível ver que essas mudanças rápidas e constantes ganham novas formas de ser e existir, como é o caso da tecnologia, que nos conecta e nos faz sentir mais de maneira incrível agora. Pode ser que estejamos perdendo parte inerente da condição humana, como a conexão com a natureza, a simplicidade da vida cotidiana, ou algo mais devido as mudanças de uma evolução tecnológica. Essa evolução implica estamos constantemente nos adaptando e encontrando novas maneiras de viver e interagir com o mundo em que vivemos. Talvez, ao invés de perdermos algo, estamos simplesmente transformando e redefinindo o que significa ser humano em um contexto moderno.
No entanto, enquanto vários sinais dessa realidade global nos mostram aspectos positivos de novas oportunidades de desenvolvimento e crescimento sociais e econômicos com a possibilidade de nos proporcionarem sustentação de progresso, outros sinalizam ameaças e desafios significativos quanto a uma condição sustentável de melhoria na qualidade de vida, como as crises que impactam negativamente as áreas de alimentação, saúde, educação e meio ambiente, que requerem a necessidade de ações urgentes e coordenadas por parte de todos que vivem sobre a Terra a fim de superarmos esses obstáculos e garantirmos sustentação significativa para nós e o planeta no futuro próximo.
Outra questão é a sobrevivência humana que envolve várias dimensões, desde as necessidades básicas (alimentação, água, abrigo etc.), segurança (proteção contra morte, agressões, assaltos e outras violências físicas), estabilidade financeira e um ambiente seguro de garantia à sobrevivência), educação (uma nova forma de pensar frente os problemas, dificuldades e adversidades sociais, econômicos e políticos), sustentabilidade, até questões éticas nos meios públicos e privados. Esses elementos são interdependentes e essenciais para garantir a sobrevivência humana em um mundo cada vez mais complexo e desafiador.
Como vimos, a realidade é feita de muitas competições, disputas, confrontos no dia a dia mediante oportunidades sem meio termo na escolha. É o tudo ou nada, o oito ou oitenta. Essa intensidade intempestiva de combates pode ser exaustiva, mas também é o que torna a vida tão vibrante e cheia de possibilidades para decisões que podem mudar o curso da nossa vida em um piscar de olhos.
CONFIANÇA EM SUAS CRIAÇÕES
Se o artista (o escritor, o poeta, o artífice etc.) tem dúvida em sua criação é de pouca importância que ele se preocupe acerca das apreciações, avaliações, análises, exames, julgamentos, pareceres, opiniões, comentários ou coisas que os valem sobre ela, pois nada mais inapropriadas à duvida de qualidade de seu ofício do que as críticas, que mais resultam em mal-entendidos do que boas considerações que o levem à frente.
Relativo à criatividade, as coisas estão longe de ser tangíveis e dizíveis quanto cremos. A maior parte da inventividade, imaginação, inspiração ocorre num espaço em que nenhuma palavra seja capaz de alcançar. Menos suscetíveis ao alheamento do público do que qualquer outra coisa são as obras de arte, esses seres misteriosos fecundados para perdurarem além das nossas vidas efêmeras.
Na incerteza, descrença, suspeita de que suas invenções não possuem feições próprias, se são tão só acenos discretos e velados de fatos isolados, de que não têm expressão e forma independentes, explicações ou definições suficientes, implícitas, o que menos o inventor poderá fazer é olhar para fora de si a fim de obter uma resposta quanto à expressividade ao seu cultivo. Se as manifestações dos apreciadores forem afirmativas, se a resposta à interrogação sobre a insegurança quanto à aceitação pública for um forte sim, então construa os seus engenhos com mais tranquilidade de suas vidas.
Com as suas dores mais aliviadas, aproxime-se da natureza para dizer a que veio ao mundo, com vive, ganha ou perde em vida, pois precisa de uma força grande e amadurecida para se produzir algo de proveitoso no domínio em que há boas tradições, usos e práticas brilhantes. Necessário se faz fugir dos motivos gerais para aqueles em que a sua existência lhe proporcione. Trabalhe conforme seus desejos, seus pensamentos, sua fé, com afeto e beleza, tudo com íntima e humilde sinceridade. Exprima as imagens dos seus sonhos, dos objetos de acordo com a sua cosmovisão existencial, mesmo que todos os ruídos do mundo lhe cheguem aos ouvidos, não lhes dê atenção. Procure soerguer sua personalidade, alargando-a e transformando-a durante a transição do dia para a noite, onde o ruído passe longe, sem nele penetrar. Se depois deste ensimesmar-se, a criatividade brotar com ímpeto, então, não mais pensará em perguntar seja a quem for se a criatura será boa. Nem tão pouco tente compensações por seu trabalho, pois há de ver nele um pedaço de sua voz e de sua vida.
Sua obra deve ter um apelo universal que transcende fronteiras culturais e linguísticas. Os temas, atemporais e significados de cores vibrantes que encantem gerações. Pinturas, histórias que nos levem a um mundo mágico e encantador que nos convide a encontrar beleza nas coisas mais simples da vida.
Em resumo, à obra de um grande artista não poderá faltar a força que inspire e encante milhões de pessoas em todo o mundo. Sua arte é uma celebração da vida, da imaginação e da criatividade humana, e um testemunho duradouro de poder transformar o mundo. Assim sendo, caso venha saber o que significa ser um artista, então aceite o destino e carregue-o com seu peso e a sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora. Sua criação, com efeito, deve ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza a que se aliou.
VIVER ENTRE MUNDOS DIFERENTES
Viver em mundos diferentes, entre sonhos, fantasias, introspecções e a realidade - é mais comezinho do que pensa a nossa vã filosofia. A coexistência de diferentes mundos na nossa vida começa cedo na infância e se estende com nossos pensamentos inquietos da juventude, dos tempos de adultos e com mais intensidade na velhice. Por serem assim, esses mais diversos casos são tratados pela ciência, pela filosofia, pelas artes e por muitos outros campos de conhecimentos.
A psicologia, através de Sigmund Freud, explora o papel dos sonhos, sugerindo que eles são uma janela para o inconsciente. Carl Jung também investigou os sonhos, mas focou nos arquétipos e no inconsciente coletivo.
A filosofia, como Platão, refletiu sobre a natureza da realidade e a distinção entre o mundo dos sentidos e o mundo das ideias. Enquanto Descartes questionou a certeza do conhecimento sensorial, propondo o famoso “Cogito, ergo sum” (Penso, logo existo).
Nas artes, Franz Kafka em “A Metamorfose” tratou de mundos surreais que coexistem com a realidade cotidiana. No cinema, filmes como “A Origem” e “Matrix” investigam a linha tênue entre sonho e realidade.
Esses diferentes campos de conhecimentos e muitos outros não menos importantes mostram que a interação entre os mundos internos e a realidade é uma parte intrínseca da experiência humana, influenciando nossas emoções, comportamentos e percepções de maneiras complexas e interconectadas.
É fato que os sonhos interferem em nossas ideias e cenários sem as limitações da lógica e da realidade. Isso pode nos levar a pensamentos mais livres e criativos, permitindo que a mente experimente novas possibilidades. No mundo dos sonhos, as emoções são intensas e as experiências vividas têm um impacto direto no nosso estado psicológico, deixando uma marca na mente e no coração.
Ser alguém que existe em outros mundos mais intensamente do que no mundo real, explorando aspectos de si mesmo – paixões paralelas que não deixam oportunidade de alguém não poder expressar na vida cotidiana uma forma de escapar das pressões e limitações do mundo real, que não se permita ser quem realmente é, sem julgamentos ou restrições, essa dualidade é desafiadora. A linha entre sonho e realidade é tênue, e se alguém não questiona o que é real e o que não é, pode ser difícil equilibrar as duas vidas, especialmente se os sonhos começam a influenciar as emoções de sua identidade, tal fator se torna empecilho para encontrar um equilíbrio entre fantasia e decisões racionais no mundo real.
Essas pessoas que pensam assim vivem uma profunda e verdadeira introspecção. Pensam e se envolvem com ideais de beleza, de sucesso e felicidade, com vidas ilusórias de imagens esculpidas, efêmeras, tangíveis com as quais estão inclinadas a conviver. Vivem de simulação, onde os signos e os símbolos substituem a realidade por representações não verdadeiras da essência das coisas, pois carecem de profundidade e significado, onde a aparência se sobrepõe à realidade, criando uma desconexão entre o ser e o parecer. Vestem seus rostos com máscaras que não mostram um ideal tangível na busca de uma vida autêntica e significativa, uma existência baseada, nas suas próprias vulnerabilidades e não na verdade e na liberdade de uma vida factível.
Assim, o confronto das ilusões de mundos diferentes projetados pela nossa mente. nos tira a profundidade da experiência humana de vivermos de acordo com nossos valores e verdades mais profundos.
AS LUZES DOS ARTISTAS
As luzes dos artistas (escritores, poetas, pintores etc.) iniciam-se no momento de criação, a partir do seu estranhamento do mundo, da sua percepção do mundo e de si próprio, passando pela percepção de uma nova interpretação, e finalmente na criação de sua obra original, inédita que reproduz as ideias mediante pura emoção, com muita vibração telúrica, o essencial e permanente dos fenômenos do mundo, com a mais perfeita objetividade, orientação do espírito, espelho luminoso da essência de vida, sob inspiração do sol que abrilhanta o um mundo de fantasia, alargando o seu horizonte bem acima da realidade com os objetos belos da natureza.
Os poetas criam ou recriam um mundo de verdades que não são mensuráveis pelos mesmos padrões das verdades factuais. Os fatos manipulados em nada se comparam com os da realidade concreta. Muitas vezes se constituem em profecias. Por isso que eles são chamados de “profetas”. Seus versos falam de verdades humanas, sentimentos de experiência, de compreensão, de julgamento das coisas, dos sentidos da vida, de conhecimentos, em suma, uma representação individualizada de um determinado assunto. A obra poética é una e indivisível, porque cada expressão é uma expressão única. Eles transfiguram a linguagem para fazê-la dizer algo, mas esse algo não existe antes, aquém, depois, além do poema, pois é o próprio poema. Mensageiros do amor, dos sonhos, das esperanças, das desilusões, dos desejos e paixões, sua arma é a escrita que não fenece e ninguém pode calar.
O esquecimento de um artista, ou a popularização de algumas obras não pode ser vista apenas como um processo de edição e impressão, o caminho até a imortalidade de uma obra, se inicia no momento de criação do autor, a partir do seu estranhamento do mundo, da sua percepção do mundo e de si próprio, passando pela percepção do leitor com sua obra, dando a ela uma nova interpretação, e finalmente dos intelectuais, professores acadêmicos, críticos literários, enfim, que são os responsáveis pela transmissão e distinção deste conhecimento de acordo com as marcas e os interesses de cada grupo social.
Aquele ser que reproduz as ideias apreendidas mediante pura emoção, com muita vibração telúrica, o essencial e permanente dos fenômenos do mundo, com a mais perfeita objetividade, orientação objetiva do espírito, espelho luminoso da essência de vida, sua dedicação incansável, sua permanente procura de objetos novos e dignos de consideração, esse é o gênio, “imortal”, embora “morrível”, quando seu nome atravessa os tempos sempre lembrado pelos seus feitos em prol da humanidade.
Enquanto para o homem comum é a lanterna que ilumina o seu caminho, para aquele que nasceu sob a inspiração é o sol que abrilhanta o seu mundo de fantasia, alargando o seu horizonte bem acima da realidade com os objetos belos da natureza.
Os poetas criam ou recriam um mundo de verdades que não são mensuráveis pelos mesmos padrões das verdades factuais. Os fatos manipulados em nada se comparam com os da realidade concreta. Muitas vezes se constituem em profecias. Por isso que eles são chamados de “profetas”. Seus versos falam de verdades humanas, sentimentos de experiência, de compreensão, de julgamento das coisas, dos sentidos da vida, de conhecimentos, em suma, uma representação individualizada de um determinado assunto. A obra poética é una e indivisível, porque cada expressão é uma expressão única. Eles transfiguram a linguagem para fazê-la dizer algo, mas esse algo não existe antes, aquém, depois, além do poema, pois é o próprio poema. Mensageiros do amor, dos sonhos, das esperanças, das desilusões, dos desejos e paixões, sua arma é a escrita que não fenece e ninguém pode calar.
SAUDADE
Saudade é feita de tudo um pouco. De pessoas, lugares. São memórias daquilo que ficou para trás, mas que vive agora por todo o sempre. Por algum tempo permanece silenciosa e de repente chega sem avisar; se aconchega na mente, tirando-nos o sossego e, sorrateiramente, sem nada nos avisar, de repente desaparece, deixando-nos olhando para cima na falta de sua companhia para mais tarde reaparecer. São lembranças de natureza surpreendentes: nos trazem dores sutis, que não cicatrizam nunca; que vêm em forma de risos e até de gargalhadas. Não nos deixam esquecer o passado de criança e juventude, parecendo estacionar no espaço onde o velho não chegou e o novo ainda não surgiu; carregam recordações dos lugares onde nascemos, por onde passamos, das pessoas com quem cruzamos, de quem nos deu a mão, nos aqueceu e nos acalmou o coração, e de quem também nos largou. Enfim, saudades que nos maltratam, que nos fazem rir, chorar, mas nunca matam nem morrem.
Saudade é mais que um sonho que nos aperta o coração. É sentimento profundo que nos faz pensar em alguém que está distante e que queremos a sua presença o mais breve possível. É tudo que fica daquilo que já não é mais tangível. É a ausência de quem deixou um vazio tão grande dentro do coração, que aperta tanto o peito da gente que acaba transbordando e escorrendo pelos olhos. Sentimento que nos traz de volta pessoas distantes que gostaríamos de revê-las para recordar tempos felizes que vivemos e que não retroagem, para atiçar lembranças de coisas e lugares, de ciclos concluídos e outros interrompidos, que, talvez, não se completam mais. Saudade tem coisas de música que, em som e imagem, abalam as nossas emoções, nos tiram do nosso conforto, desarrumam a nossa vida que estava quieta. Na ocasião, precisamos estar inteiros quando ela bate à porta e senta conosco no sofá da alma.
Hoje se transforma numa mera lembrança que logo deixará de existir, dando lugar a uma nova manhã incerta misturada com o ontem. Mas até que ponto caminhamos e de onde chegam essas memórias distanciadas do que vivemos dentro desse imenso labirinto de sentimentos? Teremos chegado aonde jamais imaginamos chegar, teremos nos perdido em lugares tão distantes, impossíveis de serem encontrados?
CHÃO DE ESTRELAS
Chão de Estrelas, de Silvio Caldas e Orestes Barbosa, é quanto basta para que ainda haja sobre a terra alguns poucos fascínios despertados pela saudade como nos versos que se seguem.
Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de doirado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações
Nosso barracão no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje, quando do sol, a claridade
Forra o meu barracão, sinto saudade
Da mulher pomba-rola que voou
Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda qual bandeiras agitadas
Pareciam um estranho festival
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros malvestidos
É sempre feriado nacional
A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua furando nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
Tu pisavas nos astros distraída
Sem saber que a alegria desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão.
Há saudades de diversos tipos e graus: umas que podemos matar e outras que nos matam; umas que nos fazem rir, e outras a chorar. Mas sempre serão memórias que nunca morrem.
UM SONHO FANTÁSTICO
Sonho estando num vasto cenário onde imensas cadeias de montanhas se erguem majestosas, brilhando como ouro refletido da luz do sol. Suas formas geométricas brilham tanto que parecem joias esculpidas por um artífice de extrema habilidade. Cada pico e vale refletem a luz de maneira única, sob o brilho intenso da luz do sol em forma de cascatas, criando um espetáculo deslumbrante de multicores que hipnotizam qualquer observador. É como se a própria natureza tivesse sido transformada em uma obra de arte preciosa e meticulosamente trabalhada.
Ao longo do percurso desse meu sonho, percorro regiões desconhecidas, onde contemplo imagens fantásticas de paisagens de grande intensidade e sutileza, cenários de imensas montanhas, vales e desfiladeiros íngremes de rara beleza sobre a Terra, à minha volta as encostas são cobertas por florestas densas de árvores altas e multicores que parecem tocar as nuvens.
Caminho por trilhas sinuosas com riachos e lagos cristalinos com peixes de espécies nunca vistas que são captados facilmente e entregues a mim por uma pessoa que aparece na sena do sonho. De repente, chego à beira de um abismo profundo, onde o chão parece desaparecer sob os meus pés. A vista é fascinante, mas assustadora com penhascos íngremes em que desço levitando até o chão, onde há muitas riquezas preciosas inexistentes num mundo real.
Ao longe, avisto mais e mais montanhas imponentes. Atravessá-las parece um desafio, mas a promessa de novas paisagens do outro lado é irresistível. O vento sopra suavemente, trazendo consigo o aroma fresco das flores silvestres e o canto dos pássaros de plumagem sem igual. Este lugar de contrastes com suas alturas vertiginosas e profundezas misteriosas é um cenário de sonho que mistura beleza e aventura, convidando-me a explorar cada canto e descobrir os segredos guardados em seu recôndito. A Coragem e a curiosidade são companheiras necessárias para explorar um lugar tão deslumbrante e cheio de mistérios como esse. Imagine atravessar desfiladeiros desconhecidos e descobrir o que há do outro lado. Talvez cachoeiras escondidas, cavernas secretas e ainda muitas coisas mais espetaculares para serem vistas.
À medida que caminho, percebo que o abismo é um labirinto intrincado de túneis e passagens, e cada curva parece me deixar confuso. Tento marcar a minha trajetória, mas sinto estar desorientado no espaço. Transito por becos sem saída, passagens estreitas e salas vastas, mas sem pista de uma saída a vista. A sensação de estar perdido se intensifica, e o medo começa a tomar conta do meu estado de desespero. Os corredores do labirinto em que me encontro mudam a cada momento mantendo-me preso em seu interior. Cada tentativa de encontrar uma saída é frustrada, a esperança começa a desvanecer e a sensação de desespero cresce.
Após o que parece uma eternidade, chego a ambientes maiores, onde uma luz brilha em toda sua extensão das paredes e no centro. Aproximando-me, vejo uma fonte de água cristalina, com uma pequena chama flutuando acima dela. A chama parece pulsar com uma energia própria, e aqui sinto uma conexão de calma com a natureza. As paredes do labirinto começam a se transformar, revelando passagens ocultas e caminhos que antes estavam escondidos. Com essa nova visão, caminho pelo labirinto com mais confiança.
Continuo a jornada pelo abismo. Cada passo agora é guiado por uma intuição. Percebo que o abismo está respondendo à minha determinação e coragem. Finalmente, após muitas voltas e reviravoltas, ao olhar para trás, percebo que o abismo não era apenas um lugar físico, mas uma jornada interna de autodescoberta e superação. Com um novo senso de propósito, sigo em frente, pronto para enfrentar os desafios da vida com renovada força e sabedoria.
A SAGA DE UMA MOÇA RETIRANTE
Altura mediana, fina e frágil; cabeça bem formada; cabelos claros ondulados lhe escapava pelos ombros indo até os quadris; olhos intensos, cor de mel de tons amarelo âmbar ou dourado transparente; faces rosadas, sorriso cativante, predicados de beleza que faziam dela a moça mais bonita do lugar em que morava.
Mergulhada em uma vida de modéstia, recatada, reservada, era uma moça romântica, sentimental, inteiramente relaxada pela ociosidade, livre de tudo, vítima fácil de sedução pelo drama da pobreza e da ingenuidade por parte dos amantes de ocasião.
Caminhava por caminhos tortuosos de aclive áspero, solo pedregoso, pouco fértil pela escassez de chuvas, farnel ao ombro, a túnica arrepanhada à cinta, beirando as margens dos riachos secos com cacimbas de águas salobras e escuras pelas folhas dos arbustos e pelos gravetos retorcidos. Voltando os olhos por extensão sem fim, viu a noite baixar o seu manto escuro pela vastidão do espaço, onde só se ouvia o cantar agudo e alto da cigarra nas árvores de mata seca. Saiu-lhe do coração um suspiro profundo, quando a lua e as estrelas iluminaram radiosamente o céu com pequenos lumes que piscavam no alto do céu.
Acordou num certo dia, sentindo um silêncio sepulcral em seu entorno, pôs o saco nas costas e foi-se embora para a cidade grande e nunca mais retornou à terra natal.
Na nossa caminhada diária, vamos nos afastando lentamente, vagarosamente, pausadamente e, num certo dia, percebemos que a nossa presença ou ausência não faz diferença.
No final, restam-nos a roupa que confeccionamos com os fios que tecemos com esforço e a casa de madeira como pecúlio perpétuo.
Antes, merecemos desfrutar as coisas boas que nos são emprestadas aqui na terra.
A ideia da vida me instiga, me incita - não no sentido de querer compreender a espécie ou natureza humana antropologicamente, ecologicamente ou nos demais campos de estudo científico -, mas naquelas situações em que a metade da nossa vida depende de nosso controle e a outra metade escapa do nosso monitoramento, quando todas essas circunstâncias são complexas, complicadas ao entendimento do homem comum, pois tudo está misturado, coligado em seus elos de difícil domínio por nossa parte. Mas o que está ao alcance da minha ignorância, tento rabiscar as mais simples apresentações de ocorrências existenciais, quando possível, de maneira comparativa a diversas formas como se manifestam ou ocorrem.
Comparo a vida com um rio, porque ambos têm nascente, corrente e foz.
A vida também é muito semelhante à uma árvore quando ambas nascem de uma semente, criam raízes, desenvolvem o tronco, produzem caules, folhas, flores e frutos, florescem e reflorescem muitas vezes e, finalmente, retornam à terra, como é o propósito da natureza da vida.
OS FIOS QUE TECEM A VIDA
Não é nada fácil entender a vida diante os incontáveis laços que se conectam no mundo inteiro, quando são muitos os fios que tecem suas tramas múltiplas e complexas que desafiam a capacidade humana em encontrar soluções para as diversas versões do jogo da realidade nua e crua e a sutileza do imaginário de sonhos e ilusões.
Ao desenrolar os fios do novelo chamado vida, esta é como um labirinto, cheio de entradas repletas de curvas e paredes, que nos levam - diferente de Teseu que conduzia um novelo de linha para sair do labirinto - a caminhos desconhecidos e a novas alternativas sem a certeza de superação dos desafios.
Na luta constante da tecelagem cotidiana dos inúmeros fios necessários à fiação, semelhante a navegar em mar revolto, a pergunta que se faz necessária é: qual o porto seguro do continente, da cidade, da ilha ou do abrigo, indicado no mapa do atlas da vida, a ser seguido pela humanidade, pela sociedade nesse trânsito inseguro da violência que banaliza o crime e a morte e faz terra arrasada na infinita provisoriedade da vida do ser humano, nos tirando a calma, o sossego e a tranquilidade?
Na eterna busca pela sobrevivência, os homens se mostram Prometeus teimosos, com semelhanças e diferenças, ao transgredirem os limites da harmonia social e da felicidade individual. Tudo o que o homem pode fazer, ele está fazendo, cedo ou tarde, a custo e risco elevado para sociedade, que alguns dizem não está ainda preparada; outros, que sim.
A principal consequência desse processo é permitir que os fios sejam tecidos através das tecnologias e ligados com maior profusão até agora não vista à uma rede infinita de máquinas inteligentes com novas possibilidades de manipulação da natureza, acarretando possíveis riscos irreparáveis a todas as espécies de vida do planeta.
O HOMEM E A NATUREZA
A natureza não pode ser vista simplesmente como um conjunto de belas paisagens, animais, plantas e elementos naturais. Evidente que a definição de natureza depende da percepção que temos dela, de nós próprios, da finalidade que damos para ela, não se restringindo apenas aos animais, às plantas, aos rios, às montanhas etc., mas também ao modo como enxergamos essas coisas, integradas a um conceito que chamamos de natureza, referindo-se a toda matéria e energia do universo físico contidas em um processo dinâmico de regras próprias estudadas pelas ciências naturais, como a física, a química e a biologia.
Homem e natureza estão em íntimo relacionamento de encontros e desencontros, por isso precisamos ousar travessias mais arriscadas através da reflexão sob uma superfície firme no propósito de um caminho certo e garantido sem a crença única num destino pré-determinado.
É a experiência que nos ensina o valor dos encontros e desencontros que a vida permite com o todo. Por isso talvez nada mais seja do que uma provocação do disso e daquilo associados à ideia do amanhã cheio de interrogações, de tantas perguntas que o tempo não respondeu ou que teremos qualquer garantia de uma resposta adequada.
Pelo fato do homem e a natureza não serem perfeitos, estamos em constantes partidas e chegadas, idas e vindas, seguindo à deriva como num barco à vela içada pelo vento entre tempestades e calmarias, altos e baixos, nos surpreendendo todos os dias com situações diferentes de escolhas sob os riscos de erros e acertos que a vida nos proporciona, parecendo que cada ser vivo cuida de sua própria vida, sem influenciar ou ser influenciado por outros, não há dúvida nenhuma de uma íntima interdependência entre os seres vivos e a natureza com um todo.
De que nos valerão o dinheiro, o ouro, os diamantes, palácios, ciência, tecnologia e riquezas outras, quando não existirem mais florestas, montanhas, rios, enfim, atingirmos a ruptura entre o mundo natural e o social, para só aí abrirmos os olhos e enxergarmos os problemas que não existiriam caso não chegarmos ao consenso para a solução possível entre desencontros e encontros da natureza e do homem?
O CAMINHAR PELA VIDA
Como imaginamos ser hoje a nossa vida?
Essa pergunta não me parece fácil de resposta, pois de repente a vida vai ficando para trás como estivéssemos observando uma estrada através do espelho retrovisor do carro em que viajamos, pois quanto mais seguimos à frente mais as coisas ficam para trás. Com o carro sempre andando sem parar e as imagens se distanciando, dando lugar a novas paisagens às quais tendemos nos adaptar a cada viagem da nossa existência.
Em nosso caminhar pela vida, as coisas normalmente não aconteceram de acordo com o que acreditávamos que elas fossem. Desejamos muito “sucesso” e possivelmente já tenhamos experimentado o que desejávamos tanto tê-lo.
Quanto aos planos traçados – na época passava um turbilhão de coisas nas nossas cabeças - podemos identificar algumas realizações pelas quais nos orgulhamos de ter feito ou participado. Mas também muitas perguntas com respostas parciais e até mesmo sem resposta. Entre essas perguntas, quais os passos dados em direção à realização dos nossos sonhos? Quais os limites que a vida nos impôs quando poderíamos ter feito tudo o que queríamos e não fizemos? Quais as situações ou obstáculos que simplesmente achamos intransponíveis? O que realmente pesou no nosso dia a dia? Foi uma tarefa, uma atitude ou uma condição qualquer que nos impossibilitou aliviar das costas o peso do fardo que carregamos?
A essa altura da vida, podemos até ter identificado algumas coisas como, por exemplo, a perda de tempo que nos privou descobrir o caminho mais iluminado em nossos passos a procura do nosso objetivo. Nossas dúvidas ou hesitações certamente serviram de obstáculos às nossas realizações ou na verdade optamos pela leveza insustentável quando o peso da responsabilidade falava mais alto na subida da montanha.
Aprendi que a vida não nos dá limites, mas sim obstáculos. Os limites são impostos por nós mesmos. O maior obstáculo da vida é achar que não conseguiremos vencê-lo e a fuga dos problemas é a maior enganação que podemos nos impor quando, ao contrário, devemos nos fortalecer nas dificuldades e nunca sermos vencidos pelos obstáculos ou pelas limitações de nossas crenças inconfessáveis.
A VIDA É O MAIOR LIVRO
O título VIDA É O MAIOR LIVRO deste texto tem o sentido mais amplo do que o período decorrente entre o nascimento e a morte da espécie humana, significando o estado de atividade incessante comum a todos os seres que já existiram e existirão.
Desse modo, a vida é o maior e o mais eloquente livro do mundo. Para ele tentei encontrar as palavras que pudessem dar uma definição exata do seu conteúdo, mas não encontrei uma definição clara, concisa, exata devida a sua incomensurabilidade e complexidade. Então, apelei à sensibilidade, à imaginação, à inspiração da simplicidade, da intuição e conclui - mas nunca a resposta intuída será a certa ou próxima da verdade - que o livro em foco não se serve do código linguístico escrito, esse normalmente utilizado pelos grupos sociais para efetivarem a comunicação, quando é necessário descodificar os signos para a obtenção da mensagem a ser dada. Ficou-me entendido que não foi com a invenção da palavra escrita que o maior livro – a vida – começou a ser escrito. O seu início não fora escrito em nenhum lugar, e o que foi escrito a muitos séculos atrás, fora destruído pelo tempo, uma grande parte permanece enterrada, está sendo procurada e ainda não encontrada. Então, diferente do modelo convencional dos livros usuais, no livro da vida não é possível separar a introdução do desenvolvimento e o seu final ou a sua conclusão, lógico, não temos previsão nenhuma como será.
Também não conhecemos o real significado de tudo que foi ou está sendo escrito pela autora. Temos apenas uma tênue ideia do seu roteiro, do enredo, dos personagens, pois incontáveis páginas são acrescentadas em cada momento ao seu conteúdo composto de incontáveis, ilimitadas partes de todos os saberes conhecidos pela humanidade e, como principal entre elas, os livros menores escritos por cada um de nós, que se juntam ao livro maior e aqui ficarão para sempre. Ou não?
Na escola, em que o livrão é adotado, estamos todos previamente matriculados. As lições são autoexplicativas. Os ensinamentos transmitidos ao mundo têm a marca, o timbre distintivo da experiência (sabedoria), não que seja a única, mas, talvez, a melhor que temos.
O que nos basta é inteligência para interpretarmos as matérias lecionadas em suas aulas pela mestra-mor - a mais sábia, culta, erudita - e fazermos os exercícios, os trabalhos que nos competem como alunos inteligentes e responsáveis pelo cumprimento de seus deveres.
Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.
Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução, alguns dizem que assim é que a natureza compôs as suas espécies.
VIDA: UMA VIAGEM DE ESTAÇÃO À ESTAÇÃO
A vida é assim: começo, meio e fim, também uma sequência, sem intervalo. Dada a partida, percorremos estação por estação até chegar à última, onde descemos para descansar, sem retorno.
Viagem fascinante onde percorremos estradas, lugares, vales e montanhas, vislumbrando paisagens e imagens encantadoras que só terminam na linha longe do horizonte. Os caminhos são planos, íngremes, retos e sinuosos. Os lugares com seus tons coloridos, seus sons e seus cheiros e sua gente. Os vales e montanhas com seus cimos e abismos, suas flores em cores e fragrâncias mil.
Nessas viagens percorremos diferentes estações efêmeras marcadas em todos os momentos por suas características específicas em que se faz necessário saber chegar, ver, aprender, ousar, conquistar a sobrevivência em ocasiões de calmaria e tempestade, de calor e frio, de dor e sofrimento, quando em cada uma as paisagens se modificam, as pessoas mudam, as necessidades se alteram, mas o trem segue adiante de estação à estação.
A primeira estação é a infância, estádio de inocência e proteção; a segunda, a adolescência, época de intranquilidades, de mudanças e incertezas constantes; a terceira, período da maturidade, onde flutuamos entre estabilidade e instabilidade; e a quarta, a velhice, tempo de experiência e sensatez.
Além dessas quatro estações de passagem obrigatória, há as estações intermediárias, aquelas em que pensamos que a vida poderia ser outra e não somente outra, mas um número infinito de opções, como uma vida em outro lugar com pessoas diferentes, pensando e fazendo outras coisas. Então, descobrimos que a cada momento temos inúmeras possiblidades e aí nos damos conta que fazemos uma única coisa, que é aquela de percurso de rotina automática, operando de segundo a segundo, numa simplificação cruel, feroz, atroz, desumana ante as infinitas possibilidades de mundos possíveis e não uma única e rudimentar vida. Isso é como renunciarmos a todas as opões possíveis e optarmos por aquela que conseguimos encontrar como solução de vida melhor. Então, se é assim, sabemos o que queremos e onde queremos chegar. Ledo engano.
Em cada estação, o caminho nunca é em linha reta e não temos o controle total do tempo. Muitas vezes, chegamos fora do horário e, no espaço de alguns minutos, perdemo-nos no decurso da nossa estada, ficando inelutavelmente esperando numa determinada estação em que cada minuto é precioso e a vida passando inexoravelmente com seus mistérios profundos, sendo absolutamente impossível sabermos contar a nossa história por limitados que sejam os fragmentos em que nos dividimos.
Independentemente da estação em que nos encontramos, é importante lembrar que a vida é uma jornada em que cada dia o sol nasce e se põe em seu crepúsculo na linha do horizonte entre o azul do céu e o manto da escuridão clareada pela lua e pontilhado pelas estralas, quadra para aprendermos com as mudanças, seguirmos em frente e aproveitarmos em uma delas, se possível, sentados no trem, com as nossas amizades, amores, paixões e as saudades.
ILHA DE BELEZA ALÉM DA IMAGINAÇÃO (2ª VERSÃO)
O título deste texto é uma tentativa minha de reproduzir um sonho que tive de uma ilha encravada no meio de um oceano, circundada por montanhas espessas de florestas, vales e desfiladeiros íngremes, de suave atmosfera, onde havia uma cidade em forma de um condomínio de casas luxuosas e habitantes muito ricos. O lugar era de exuberante riqueza e inigualável beleza, cujo título diz, reflete, justifica bem o sonho, que ora descrevo.
Encantador é o adjetivo que se refere a algo que encanta, fascina ou envolve qualquer ser humano pela emoção da magia do caso descrito abaixo. Portanto, esse foi o termo mais apropriado que achei neste momento para classificar o lugar maravilhoso, admirável, arrebatador, atrativo e repleto de beleza exuberante, como a ilha com a qual sonhei.
No sonho, o acesso à ilha era feito exclusivamente por iates de muito luxo, e todo o lugar combinava com os habitantes do local que levavam uma vida suntuosa, opulenta, ostentada, cenário só comparável aos exibidos em filmes de ficção.
Sendo tudo fora do comum naquele lugar, um fato inusitado me chamou a atenção, que merece destaque. Entro numa casa desabitada, parecendo ter sido abandonada pelos seus proprietários, com muitas portas e janelas, todas abertas, os itens do mobiliário eram milionários e muito bem conservados, entre estes um piano de cauda de altíssima qualidade, que reproduzia ininterruptamente uma música que preenchia todos os ambientes, cuja sonoridade era a mais pura pelo encanto de emoções ali existentes. A sensação era de uma cena representada por um concerto mais prestigioso do mundo.
Em outra ocasião, tendo eu retornado ao imóvel, encontrei dois homens furtando tudo o que se encontrava em seu interior, deixando a casa completamente vazia, enquanto ninguém se importava com a ocorrência do fato.
Acordei e o sonho foi interrompido. Quem nunca teve um sonho diferente, que instiga a nossa curiosidade sobre o que ele quis dizer?
De acordo com os psicanalistas, incluindo Freud, os sonhos significam nossos desejos reprimidos, uma espécie de alucinações, uma válvula de escape de ânsias insatisfeitas. Para mim são semelhantes a filmes de engenhosas concepções insólitas, fantásticas, esquisitas, confusas, assustadoras, truncadas, surpreendentes, obscuras, surrealistas e misteriosos que, na manhã seguinte, quando tentamos reproduzi-los, oral ou por escrito, só restam poucas imagens obscuras.
A VOZ DO INDIZÍVEL
O indizível é um sentimento que fascina e desafia nossa compreensão e capacidade de comunicação. É algo que está além das palavras e da linguagem, sendo muitas vezes associado a experiências emocionais profundas através da meditação, da contemplação da natureza, da prática e da apreciação da arte como a pintura, escultura, música, poesia e muitas outras expressões com a capacidade de evocar emoções e sensações que sentimos, mas que não somos capazes de externalizá-las com toda a pungência escondida em suas entranhas.
O indizível é aquele espaço vazio da experiência vivida, quando inesperadamente nos faltam as palavras no momento em que mais necessitamos para dar vazão as nossas emoções de sentimentos profundos que nos tocam o coração, quando na ocasião fortuitamente surge aquele hiato, intervalo, vácuo, omissão, para dar o recado da história inteira. Imaginemo-nos diante de uma paisagem deslumbrante, no topo de uma montanha, onde sentimos uma profunda admiração e conexão com a natureza, quando é custoso encontrar as palavras certas para descrever essa experiência num texto escrito ou falado, essa sensação se torna algo que se apresenta além da linguagem, isto é o indizível comum ao escritor, poeta e a outros amantes do pensamento além do comum.
A expressão do indizível é mais visível quando as palavras são limitantes em nossos enlevos, arrebatamentos, espantos, êxtases e fascinações, onde o silêncio nos convida a estarmos presentes e a nos conectar com o indizível de uma maneira mais eloquente, quando nos calamos como estivéssemos anestesiados por força maior dos sentidos.
A beleza do indizível reside na capacidade de nos lembrar da vastidão e complexidade da experiência humana de que nem tudo pode ser explicado ou compreendido através da linguagem, e que a riqueza de emoções, experiências e ideias estão além das palavras, que dizem quase tudo, mas não suficientes para falar do inefável que se encontra abaixo do estrato de muitas coisas existentes, mas que não estão tão claras nas nossas comunicações, quando imprescindíveis, essenciais.
Mesmo que o indizível não possa ser totalmente expresso através das palavras, isso não significa que devemos desistir de tentar a busca pela expressão do indizível, parte essencial da experiência humana. Para isto temos à nossa disposição as figuras de linguagem, como metáforas, as alegorias, os símbolos, enfim as artes, que também são formas de comunicação não verbal e que servem para transmitir nossas mais íntimas sensações veladas, latentes, obscuras, sentidas pela nossa alma e nosso coração, quando o indizível se faz presente.
Texto inserido no meu segundo livro ainda não editado.
NOSSA CAMINHADA PELA VIDA
A nossa vida não tem um propósito específico. Ela é uma oportunidade para experimentar a existência em sua totalidade e que cada indivíduo deve encontrar seu próprio caminho para a realização pessoal. A vida é uma jornada de conhecimento e crescimento pessoal, que cada um de nós deve buscar sua própria verdade individualmente, estando presente no momento necessário e consciente do que está acontecendo ao seu redor.
A vida é uma oportunidade para experimentar a existência em sua totalidade no que fazemos ou deixamos de fazer, como experimentamos cada momento de nossa existência. Importa-nos vivermos o momento presente e estarmos conscientes do que está acontecendo ao nosso redor. Às vezes perdemos a vida por estarmos presos ao passado ou preocupados com o futuro.
Temos a nossa experiência interior e ela é uma parte do todo de nossa vida, desde a origem até o fim. Se conhecemos esta fração da nossa natureza acontece é possível mergulharmos nos mistérios do universo da vida e enxergarmos suas variáveis de várias maneiras possíveis.
A ideia é buscarmos, aprofundarmos a nossa busca, perguntarmos de todas as maneiras e ângulos, insistirmos na obtenção das respostas. Se dizemos "eu não sei", então vamos atrás da possibilidade de conhecer as questões abertas de nossa vida.
O mais importante propósito da vida é encontrarmos felicidade – implica alegria, saúde e paz - e isso só pode ser alcançado quando estamos bem consigo mesmo e com o mundo, evoluirmos e crescermos como seres humanos na busca do conhecimento, da sabedoria, conscientes e dignos em nossa caminhada pelos caminhos e pouco tempo a nós reservados.
“Uma das trágicas coisas que eu percebo na natureza humana é que todos nós tendemos a adiar o viver. Estamos todos sonhando com um mágico jardim de rosas no horizonte, ao invés de desfrutar das rosas que estão florescendo do lado de fora de nossas janelas hoje.”― Dale Carnegie
AÇUDES QUE SANGRAVAM SEMPRE
As memórias latentes, insondáveis, da infância rebrotam como imagens projetadas em telas grandes de cinema e uma dessas eram os açudes de paredes de areia erguidos com as mãos quando a água da chuva corria pela terra, o que representava uma grande emoção do meu mundo infantil.
Grande era felicidade do menino vendo a água presa alongando-se ao longe. Mas, de repente, o açude arrombava; reconstruía-o e, logo depois, vinha outro arrombamento, e assim, mesmo após repetidos esforços, a parede encharcada não sustentava a correnteza, indo tudo de água abaixo, ficando só o cadáver da barragem sangrante para a tristeza do menino construtor de ilusões.
Quanta semelhança tinham esses açudes com a vida de todos nós. Vivemos invariavelmente erguendo as paredes da nossa existência, enquanto a correnteza nos escorre rapidamente. Isso mesmo, os caminhos são difíceis e as andanças não nos deixam dúvidas que os açudes estão sempre arrombando e as calafetações das sangrias, indubitavelmente incompletas.
A vida tem muito de uma pintura em estado inacabado.
Olhando para trás, sinto que as dores sentidas eram lufadas de ventos acariciando a minha face, sem vislumbrar a corrosão que estava para chegar com a tempestade ou o fim da chuva. Não há como não chorar nas noites tempestuosas, sem a esperança de um sol radiante no dia seguinte.
Não sei para que serve o retrocesso, mas gostaria de ver essas imagens do tempo como lembranças ternurosas e não como sonhos esgarçados por aí para recompormos a nossa infância que se perdeu na caminhada da vida.
Tento obter respostas para a existência tão efêmera e vejo que não tenho mais tempo para pensar nela, pois tudo é muito fluido por entre os dedos.
O fato é que nada se sustenta, tudo se dissolve no ar, ficando apenas a imagem da correnteza que levava as construções de areia, só ficando poucas raízes agarradas à terra, que ainda não se deixaram ser levadas, que nada mais são do que visões de sonhos durante sonos profundos.
Nada melhor para expressar o que balbuciei acima do que os dois tercetos extraídos do poema Prelúdio, de Bernardo Guimarães, que transcrevo abaixo:
“Quando o presente corre árido e triste/E no céu do porvir pairam sinistras/As nuvens da incerteza, Só no passado doce abrigo achamos/E nos apraz fitar saudosos olhos
Na senda decorrida”.
O presente texto faz parte do meu primeiro livro intitulado REFLEXÕES TECIDAS EM PALAVRA, editado pela Amazon, tanto digital como impresso.
NO BAR OU À SOMBRA DA CASTANHOLA
Anos atrás, havia uma taberna à beira de um açude que um homem a frequentava, sempre aos sábados e domingos, ali permanecendo do amanhecer ao entardecer, bebendo na mesa ou à sombra da castanhola e o olhar fixo na paisagem, diante do seu dilema de sentimentos e emoções, não havendo para tais sensações palavras que o exprimam, pois não tenho os recursos necessários de linguagem para representarem fidedignamente a percepção de tudo em sua forma e conteúdo, no seu conjunto, em sua síntese, de seu entorno.
Terra, céu, sol, água, tudo era encontrado com abundância naquele grande lago que empolgava o coração e a alma de quem vivenciou todos os elementos ali dispostos.
Essa paisagem parece não ceder em seus pensamentos, no espaço e no tempo de sua vida existencial. A história pessoal é semelhante a um filme que não sai da nossa mente, nos perseguindo com severidade pelo que fizemos ou deixamos de fazer, onde cada um encontra o seu próprio significado ou o propósito do movimento e oscilações de seu mundo individual, conforme sua própria compreensão, experiência e seu código de valores.
Todos nós trazemos marcas da vida, principalmente ferradas no corpo e na alma pelos momentos de alegrias e tristeza, dores, perseguições, falsidades, inveja, decepções etc., também oportunidades de novos desafios para recomeços para irmos em frente.
Tudo que tem ou faz relação à nossa terra natal são flagrantes imprevistos transfigurados de momento a momento pela varinha mágica da natureza de tudo o que existe, mostra-se e manifesta-se em nosso mundo, que nada mais é do que um grande teatro, onde todos somos apenas espectadores.
Quem tem a mania, o jeito severino de se encantar com as belas coisas da sua terra, onde conhecemos sua gente, seus cantos e recantos de mil encantos, sente, sim, muito orgulho por aquilo que ela representa em nossas vidas.
Vão rareando cada vez mais as oportunidades de visitar esse lugar, mas que de todo não se apagou o gosto do passado em que o homem teve ocasiões e oportunidades preciosas para conhecer histórias genuínas contadas por pessoas com as suas mais variadas experiências de vida.
Nesse quadro remoto no tempo, moro junto com as minhas lembranças de momentos bons do passado que não voltam mais, podendo ser chamadas saudade, que me acompanha silenciosamente em todos os passos até o último dia de vida.
Hoje, o boteco já não existe no local. E, à sombra da castanhola, jaz um monumento de um peixe (tilápia) que não olha nem vê o cenário com os mesmos sentimentos de enlevo como fazia o homem de outrora.
O texto acima faz parte do meu primeiro livro intitulado REFLEXÕES TECIDAS EM PALAVRAS, editado pela Amazon, tanto digital como impresso.