Coleção pessoal de Franciscodeolivas

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Bomba Atômica

Morrer, então é um pesar?
A bomba veio caindo das estrelas,
E tudo que pude pensar
foi nelas mesmas.

Não foi no tempo,
Nem no que deixei de fazer.
Só senti em meu rosto a brisa de um vento
E só de senti-la...! senti o amor de viver.

Caída do 21º Andar

ai!
como
eu
odeio
poema
que
cai.
ai!!
imagina
minha
inveja
por
hai
kai
e
soneto
que
não
se
des
faz.

Máscara

Eu odeio
ser ninguém.
odeio o fato
de eu não ver
alguém

Histórias de Rua

Foi se deitar cedo
O garoto pobre e ledo.
Exime de todas as virtudes
que uma criança deveria viver.
O dia é uma amplitude que só a infância enxerga!
Mas cedo deitou, pois a noite não queria o ver.

E o jovem risonho e pomposo
Acordara depois de anos para perceber
O contexto fugaz de jocoso
Que vivia teu amanhecer.
Hoje não sabe se ri, trabalha ou chora.
"feche o ar. Venta muito lá fora...".

Sou corriqueiro
vou aonde o tempo me levar
caminho ligeiro sem tempo à traçar.
Caminhos descalços, pés cansados
dessas pedras na vida, desses passos parados.

Uma tarde que me abraça em fogo
De um jogo do tempo e da brasa.
A dança de uma chuva que seca,
o orvalho da luva de areia.
O tempo não desencadeia.

Diário - 13 de Maio de 1888

liberdade? liberté!
chicotadas.
enfim francês
fujo
ciladas, ciladas
animal sujo

igualdade? égalité?
senzalas!
o choro do bebê.
filas. sabujos.
lei estagnada
negro sem pátria.

Carta de amor

Escrever cartas de amor:
símbolo do vulgo platonismo.
Escrito na guerra quando choramos calor
ou quando distantes estamos entre um abismo,
que separa meu coração
do teu, da dele, da tua.
Mas, por que me torturas, Platão?
Enquanto escrevo, para lá já é lua.

A saudade que existe dentro
talvez culpa da poesia
não sei porque me contento
com a comum dor da filosofia.

Do lado de fora

Lá fora garoa...
possuo estes quadros empilhados
e esses tenros rostos em fotos de pessoas.
São a minha curta vida! os passos molhados.

Na vida, no lá fora, trovejaram tristes sonhos.
Tomo chá; perco a hora com poetas nublados risonhos.
O agora longíquo no tempo é uma epifania no presente,
o que é antigo (amor) conduz um raio vidente.

E floresce a janela com orvalho nas gotas.
Onde velar no mar um mar de memórias?
Já se enxurraram-se, na parede balançam soltas.
Lá fora, um vento; uma tempestade de histórias.

Homenagem

O Poeta
na floresta,
A Mãe
que o contesta
Lenta e minuciosamente.

Estão chorando
rios de água doce
e queimando
raízes de sangue branco.
Índio, onde Tupã está?

"Onde está meu verso Mãe?"
Na árvore de corpos, em seu coração.
Na natureza dos humanos
hei de encontrar a poesia
Esta nutrida de toda nação

Contradição

Folhas do outono
Tão paradas quanto o tempo
Sem rumo, sem dono
Se não fosse pelo vento.

Ah! O vento que arrasta minhas dores
Seca minhas lágrimas, leva letras aos leitores.
Sou a folha de outono
Sem rumo sem dono.

E a maldita hora
Para sempre marcará meia noite de outono
E eu não saberei dizer sobre o vento de fora
Ou qual folha hei de ser dono.

Abelhas na Barriga

Meu estômago não tem borboletas,
são apenas flores.
Cheias cheias de abelhas.
Agulhas que me causam dores.

Ansiedade?
Talvez medo dessa ferocidade!
Essa idade suficiente para perder beleza
crescer e competir com a velha natureza.

Quando o sol raia, prefiro por dia morrer;
os casulos crescem.
Mas a noite, ah a noite! na lua quero renascer
As borboletas florescem.

Um Breu de Mundo

num mundo escuro
espreita docilmente uma voz
trens passam, as pessoas andam
sempre correndo, esbarrando no coração
do meu peito.

há um breu de sensação,
Mas só no meu peito...
talvez fosse apenas mais um vento.
Oh, mas que saudades do tempo!

Plurais

A saudade é tamanha grande
Que as saudades tem até um plural.
Mas é de rir mesmo, não?
Como o ser humano é paradoxal!

E o que falar da dor?
Para vários, são dores, mas a mim eterno eclipse,
Pois retorno aos meus horrores tal qual uma elipse.
Foi alma ou lua que disse sobre meu coração de antítese?

E mesmo assim, apenas um caixão para enterrar,
Mas se a vida é assim tão frágil como uma flor
Que rosa será você nas pétalas da vermelha cor?
Hei de fielmente exclamar: meu amor por você é deveras singular.

Família

Sempre fui a pessoa que acendia o fogo
Agora o fogo e a brasa sobrava para eles,
Ou sobrevoava sobre minha ferida alma
Que não amava, vivia avoada.

Como era criança para me tocar!
Que até as frutas da cozinha ouviam o silêncio soar
E cresci para um frio incêndio tornar
De um poema ou pomar do que foi um dia meu lar.

Para Roma à Marte

Amar-te é mais fácil que amar à Roma,
meus anagramas se encontram e namoram palavras ao contrário.
Minhas favoritas antíteses; almas opostas.
Roma, amoR?
Vida espelhada no lago da Lua
Até a lava e a fogueira de Marte!
Amor que queima de tão distante...
Amar-te é simples, Roma meu amor.
Marte é linda, seu fogo esplendor!

Os seus tantos caminhos viajantes...
Todos os caminhos levam à Roma,
Mas como chegar para o amor,
Se há muito espaço à Marte?
A poesia, os poetas, os planetas me ensinaram
Que o poeta é um ser "amador".
Ama tão profundamente
Que chega a transbordar de amor,
a dor que não mais sente.

De: Roma, com amor.
Para: Marte, à amar-te

Teria um nome

Cansei de escrever tanta porcaria
Quero mesmo é viver de poesia
Se dependesse disso estaria com fome
Mas tudo bem, teria um nome.

Surrealismo Realístico

Ela faz história como se fosse pincel.
Para ela não há limites entre a arte, o céu e a celulose do papel.
O sangue tão vermelho como tinta
E ela que se sinta
Surrealista como Dalí
Como se nem quisesse ser dali.
Personifica o quadro de minha sala
Com o contemporâneo amor que sua alma iguala.
Abraçado ao meu e o meu
Corpo pintado ao teu.

Noite Oblíqua

Se eu te contasse
Que sou o último homem da Terra?
E a última alma que respirou?

Chorarias?

Através da Natureza-morta das Frutas

Numa cesta se encontram maçãs
Belas, avermelhadas e suculentas maçãs!
Junto, uma recheada rachada romã,
Pela tarde ensolaradas laranjas
Maduras e verdes mangas;
O tempo passou...
O tempo se alargou...
O tempo sem o tempo enfim acordou.

Moscas pousam nas maçãs pretas
Na romã, apenas pálidas sementes
As laranjas agora dia a dia mais azedas
E as mangas enrugadas em seus ventres.
Uma natureza morta
tal qual uma humanidade
Que caminha torta, torta, torta...
Um descaminho sem idade.

Maldito seja quem tenha comido a maçã!
Que não percebeu as passagens do tempo,
E alimentou-se sem consciência sã.
Condenara sua própria espécie ao desalento.
Agora resta-nos apenas decompor,
Na mãe terra e em seu vão,
Afundar e acabar com a dor;
Esperar novas flores renascentes de seu chão.

Amantes

Sob o brilho da luz da rua
E a escuridão pálida da lua
Caminha Solidão opaca,
Negra e com ressaca
Após arrastadas bebedeiras,
Com pessoas sorrateiras
Na noite sem estrelas
Sem amor e sem belezas

Sob o brilho da luz da rua
E a escuridão pálida da lua,
Caminha um homem opaco
Meio a meio Mulato.
O homem do dia a dia
Sentindo a ressaca da ironia
Em noites sem estrelas encontra-se com Solidão
Sem perceber apenas sua ingênua traição.

Sob o brilho da luz da rua
E a escuridão pálida da lua
Os Outros se assombram por uma janela
No quarto escuro acendem uma vela
Rindo do Mulato até doer
Do quão banal é ter que o olho ver
Pessoas tão ignorantes
Em nosso mundano mundo repleto de amantes.