Coleção pessoal de FrancielleCovaleski
Uma saia preta média e uma blusa branca, cabelo escuro e um batom vermelho. Eu estava indo à Universidade, dirigindo eu aumentava o volume do rádio do carro sem prestar atenção no trânsito sentindo uma dor insuportável pressionando minha cabeça e me jogando para um lado do carro. Acordei e notei que a porta do lado do motorista estava à cima. Não pude mover minhas pernas, depois de um imenso esforço saí do carro pela janela que se localizava naquele momento acima de mim. A parte frontal da minha cabeça sangrava junto com minhas mãos. Ao sair do carro me arrastava até o canteiro da via, com o cabelo jogado para o outro lado, pude ver carros imóveis e pessoas me observando como se fosse algo catastrófico. Ao ver um carro parar, e esse eu conhecia. Ele correu até mim. Sentou-se no chão e me abraçou, cantando uma música de ninar, querendo me acalmar do acidente. Pude sentir meus olhos se fecharem aos poucos sem força alguma de abri-los o que me fez perceber que além de eu não vê-lo mais, minha vida não se estenderia mais. Ouvi as batidas do seu coração, meu rosto pressionado ao seu peito quente. Seu perfume, o qual eu estava com saudade e de forma alguma esqueceria. Passou uns instantes e a sensação era de estar deitada sentindo sua mão na minha. Ao despertar, observei meus pais. Eu estava em um hospital, notei que as paredes eram brancas e havia máquinas em torno. Eles conversavam comigo e eu não dizia uma só palavra e depois ele veio, não disse nada, apenas segurou minha mão por instantes e saiu da sala. Dias depois, eu estava melhor, sentada na sala de minha casa com meus pais e minha prima, a mais velha da família, um carro havia parado na frente de minha casa, e a única coisa que ouvi da pessoa que sempre amei foi uma proposta. A qual mudaria nossas vidas.
A cada dia eu me afogava nos pensamentos encontrando uma lembrança ruim, um erro, uma lição. Um castigo infindável e inconsolável. A vida me ensinou sobre a efemeridade das coisas e do tempo, uma delas era ser forte, crer apenas em si, porque você é seu melhor amigo. Nunca pensei que haveria um dia em que eu pudesse sorrir por alguém novamente até que ele veio de volta concomitantemente com o olhar e o sorriso irradiando o mundo, cujo ele parou, no instante em que o vi. A cada batida do coração dizia "encare seus medos antes que seja tarde". O medo mesmo era o de amar, não sei se é amor, mas ele teria que provar a cada. Seus olhos refletiam nos meus a mais pura sinceridade, perdê-lo era como perder a oportunidade de amar novamente. Era viver um sonho daqueles que você não acorda, e se acordar, você percorre o mundo para tê-lo de volta. O tempo se encarrega, esperar parecia doloroso e crucial. Mas não dependia de mim, nem dele. Só espero que as testemunhas digam que não era apenas um sonho, mas estrelas não se enganam.
Meus pais eram pesquisadores, e na última expedição, meu pai faleceu. Eu era bebê e fui abandonada pela minha mãe Kassie. Após dezenove anos me encontrava no aeroporto com meu parceiro e minha mãe adotiva. Ao partir para o Canadá e reencontrar minha mãe biológica e minha avó paterna Anna, a rejeição era imensamente dolorosa. Ela havia adotado um rapaz e este não entendia a cena de desprezo de Kassie . Minha avó expulsou-a da casa e fiquei dias na casa de Anna e Charlie, o rapaz adotado por Kassie. Conheci-os por dias. Aventuras passavam por despercebidas e de forma que não se lembrasse do desprezo que a própria mãe tem por sua filha. Mas a dor de rejeição foi inteiramente guardada nos pensamentos. Minha mãe adotiva me ligava para saber como estavam às coisas e meu parceiro não ligava o que me fez perceber que o que sentíamos pelo outro não era autêntico e sim uma longa efemeridade. Charlie ocupou um sentimento maior do que o anterior. Percebi que o rumo das coisas estavam mudando e de certa forma mudando minha vida. Voltei a falar com Kassie e por não me rejeitar desta vez, me explicou mantendo controle do seu temperamento. Explicou-me a razão de não conseguir encarar a real história da sua vida. Sentiu-se culpada pelo abandono e ao mesmo tempo um peso se seguisse a vida do meu lado. Ali veio o arrependimento. A nossa relação se construiu com amor. Minha família ficou unida, Charlie e eu, simplesmente ficamos juntos o que me fez ver a essência de que o mundo deu voltas e imprevisivelmente mudou completamente a minha vida. Duas mães, uma avó e uma pessoa que passará a sua vida junto da minha. -sinopse-
Eu estava dirigindo, estava nublado e repentinamente senti uma luz extremamente forte fechar meus olhos. Tive a sensação de me colocarem em uma maca e um tubo de oxigênio em minha boca para que eu pudesse respirar. Parecia um sono sem fim.
Quando acordei, vi minha mãe aparentemente alegre no momento em que abri os olhos. Não entendi o porquê de eu estar ali. Eu estava sedenta de dúvidas que pareciam me corroer por dentro.
Ela me perguntou se eu lembrava dela, então concordei. Não me lembrava das coisas recentes que haviam acontecido. Consequentemente nem do nascimento da minha prima. Meus pais foram me recordando com o passar do tempo. Algumas pessoas e coisas me falhavam a memória porque simplesmente perdi uma boa parte dela. Descobri pelos meus pais que fiquei internada em coma por dois meses.
Depois de alguns dias, em uma tarde de sábado, minha prima e eu - um pouco mais velha que eu – estávamos pesquisando no computador algumas informações sobre mim e tentando recordar senhas que se apagaram no acidente. Mamãe me convidou para ir ao supermercado. Depois de um tempo, estávamos empacotando as compras, nesse instante, um rapaz estava me observando incredulamente por quase dez minutos, logo o encarei. Mamãe viu a troca de olhares e os interrompeu me chamando para irmos para casa. Ela parecia fugir e de certa forma sabia de algo a respeito. Ouvi um grito e o rapaz veio apressadamente em minha direção. Com muito impulso parou em minha frente e beijou minha boca, naquele instante, várias lembranças vieram concomitantemente e velozmente em meu pensamento, tive uma sensação forte, criando uma grande confusão na minha cabeça. Fique muito assustada, e então o empurrei. Caminhei às pressas com a perspectiva de fugir para casa.
Ao sentar em frente ao computador pesquisei pasta por pasta até achar algo a respeito daquele estranho, logo me deparei com diversas fotos bem guardadas desse rapaz junto a mim. Ao recordar quem era ele e o que aconteceu entre nós, tudo voltou. A dor insuportavelmente degradante que me atormentava. Descobri que era a pessoa que eu mais amava.
Coloquei minhas mãos desesperadamente com força sobre meus lábios e as lágrimas escorriam abundantemente pelo rosto. Mamãe havia chegado e abraçou-me forte sem dizer sequer uma só palavra.
Passaram algumas horas, dias e semanas. Consecutivamente, toquei a campainha de sua casa, ao abrir a porta se deparou com meu breve olhar e sorriso levemente estampado de, “eu me lembrei de você”. Já que tudo não se passou de um sonho.
Tínhamos tanto o que planejar, preencher mais as lacunas. Havia ainda grandes espaços. Não sei se ele era a pessoa ideal na minha vida. Apenas sei que, nos amávamos. Isso bastava. Deixando cicatrizes do que era real, um passado que era presente. E o futuro carregado de marcas que me aguarda.
Ele não existia, ele definitivamente se foi porque não teve tempo suficiente para despedidas. Está em um perfeito esquife. E eu, aqui, vivendo, ou melhor, tentando. E de certa forma, lutando de um pesadelo infindável.
Ele precisava adormecer com o carro em movimento? Fui completamente responsavel pelo consequente, por não pegar o volante naquelas alturas. Era letal a ponto de ser lenta e perversa a cada segundo que passava. Comprometedor e irreversível.
Às pressas que o tempo tem de levar tudo consigo, de grandes desesperos até doces momentos. O nosso intermédio, é ele. Aquele que está comigo. A lembrança que me faz levantar todos os dias daquele passado extraordinariamente inconsolável que fica guardado dentro dos meus pensamentos. Era tolice minha, mas eu estou aqui por um único motivo. Ao me recuperar do temeroso e traumático acidente que resultou no término de nossas vidas. Ouvi a situação se repetir. Mas dessa vez, perdi seu filho.
Eu não sentia, não comia, não era visível, não era ninguém, pois eu apenas adivinhava o que estava por vir, pois nem sempre eu acertava, mas garantia essa afirmação, como o tempo.
Nesse ponto eu era uma pessoa inexistente mesmo estando viva em máquinas, eu já tinha ideia de estar dentro de um esquife há sete palmos debaixo da terra.
Eu não quero que ele se comprometa com uma transformação tola.
- A hiperatividade tomava conta de você! –murmurou ele.
Isso que ele havia dito, parecia que eu não vivia, era doentio. Que tolice minha, ele nunca mudará, mesmo depois de tantos anos. Mas o que eu jamais o contarei, era a minha evidência de sentir seu coração bater vagarosamente a cada instante que eu estava ao seu lado.
O dia estava tão embaçado e o céu nevoento pela chuva e então foi o último dia que nos vimos ingenuamente. E assim entramos em caminhos diferentes, não houve mais cartas ou telefonemas, emails ou contatos. Nada. Embora tivesse sido a última gota de chuva que eu vira.
Apenas sonhos e momentos que eu relembrava. O bloqueio dos meus pensamentos era tão divisório quanto minha família e os que estavam enterrados profundamente na minha mente, certamente ele constava na lista profunda.
Eu estava lá. A casa estava em chamas. O fogo era intenso e um grande choque para mim. O dia estava nublado e eu assistindo aquele teatro doloroso dentro do carro melancolicamente em que desperta na alma e no olhar vislumbre, seja discreto ou simplesmente patético. Em que o fogo se desfazia, pouco a pouco, eu atrevidamente ligava o carro e devagar e dirigia. Minhas pobres lágrimas a princípio despediam-se piedosamente daqueles coitados que meus olhos haviam observado durante toda minha existência.
Para ele era tudo muito fácil, e rápido como o evidente, talvez eu em seu lado não seja fácil como morrer e viver ao mesmo tempo, a não ser no tempo errado, na hora errada.
"A noite havia passado longamente e ele estava dormindo. Eu estava sentada em sua cadeira perto da porta observando seu sono gracioso e tão diferente quanto os que eu já vi.
Era tão bom vê-lo dormir, parece uma paz, eu pensando, “como eu queria estar ali no momento!”. Mas é impossível. Nesse instante tudo é impossível para mim."