Coleção pessoal de flaviamenegaz

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⁠(outono)


tire suas expectativas das minhas palavras pois já sou quase outono


brincávamos de emaranhar sufixos atrás das árvores

minhas raízes se fixaram nas suas redundâncias

foi quando comecei a sussurrar fotossínteses

meus verbos explodiram em sentidos múltiplos

nunca exagerei tanto uma floração

mas acordei sozinha entre calafrios e premonições em amarelos

meu corpo cheira à molhado

um vento gelado incendeia minhas folhas de dentro para fora

arrancando meus pecados com seus gritos

você não se lembra porque tinha os olhos abertos

o chão está coberto de pecados coloridos

úmidos

eles se decompõem em expectativas

⁠(reversos p.17)


hoje minha pele é só silêncio e deserto

nenhuma poesia dela

escapa ou brota
transpira ou chora

nenhuma poesia em mim é espontânea


nem as alegrias
nem as tristezas


Flávia Menegaz

⁠Passagem


Entre a fantasia e a realidade
invento cores

Entre a solidão e a lágrima
eu canto

Se a verdade queima meus sonhos
e a dor arde insuportável
eu choro até a noite acabar

Depois eu lavo meu rosto
tomo meu café
e saio de bicicleta

à procura de outros caminhos.


Flávia Menegaz

⁠Dois minutos de nirvana com Davi
(País de Gales, março, 2018)


estou aprendendo a voar
voos internos e calmos

no jardim dos silêncios
brotam respostas transparentes

na sintonia dos seres infinitos
brotam encontros transparentes


Flávia Menegaz

Em certo sentido, a direita tem razão quando se identifica com a tranquilidade e com a ordem. A ordem é a diuturna humilhação das maiorias, mas sempre é uma ordem - a tranquilidade de que a injustiça siga sendo injusta e a fome faminta.

A liberdade de eleições permite que você escolha o molho com o qual será devorado.

Jesus escolheu, para nascer, um deserto subtropical onde jamais nevou, mas a neve se converteu num símbolo universal do Natal desde que a Europa decidiu europeizar Jesus.

O nascimento de Jesus é, hoje em dia, o negócio que mais dinheiro dá aos mercadores que Jesus tinha expulsado do templo.

Assovia o vento dentro de mim. Estou despido. Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contravento, e sou o vento que bate em minha cara.

Vivemos em plena cultura da aparência: o contrato de casamento importa mais que o amor, o funeral mais que o morto, as roupas mais do que o corpo e a missa mais do que Deus.

Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem. Ou seja: Ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca.

Se um homem não descobriu nada pelo qual morreria, não está pronto para viver.

O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.

A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar.

Uma das coisas importantes da não violência é que não busca destruir a pessoa, mas transformá-la.

O perdão é um catalisador que cria a ambiência necessária para uma nova partida, para um reinício.

Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos.

A verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio.

A infelicidade é um estado de espírito. E com isso quero dizer que não é a resultante necessária de uma causa específica.

Realmente, eu não gosto da natureza humana a menos que esteja toda temperada com arte.

Mas se algum dia você não vier depois do café da manhã, se algum dia avistar você em algum espelho, talvez procurando por outro homem, se o telefone toca e toca em seu quarto vazio, então depois de indizível agonia, então - pois não tem fim a loucura do coração humano - procurarei outro, encontrarei outro você. Nesse meio tempo, vamos abolir com um sopro o tiquetaque dos relógios. Chegue mais perto de mim.