Coleção pessoal de FilipeFeros
LUCIDEZ
Se vivo um sonho, que angústia me pôs a dormir?
Em que martírio descansei minha cabeça?
Qual desamparo me tirou a realidade?
Essas respostas, vejo em teus olhos,
ó Morte súbita.
Morte que rasga a carne da presa,
e come os ossos.
Minhas lágrimas, já não me queima o rosto,
a tristeza não é mais um fato,
o desastre está por vir, e o espero bater em minha porta,
sentado sobre meus próprios desejos.
Enterrei meu passado debaixo da língua,
o cobri com as pedras da minha saliva,
não há quem ache o corpo.
Na minha casa só há culpa nas encanações,
com ela mato a sede,
com ela escovo os dentes,
com ela lavo o rosto
com ela me banho.
Sinto frio, e neste quarto,
só há mentiras para me cobrir de razão.
Meus olhos fendam a aurora da alegria,
minha última felicidade, foi quando me vi sofrer,
já não sofro, pois, eu sou o sofrimento.
Contém um espelho gritando meus medos,
já não consigo me encarar como antes,
perdi-me nas minhas faces.
Meus sonhos são baratas,
e neles, piso,
pois, não os quero em minha companhia.
Sou o mesmo de ontem,
o hoje é uma farsa e o amanhã uma mentira.
A vida é cômica, e eu sou dramático,
por isso ela ri da minha cara,
usa-me como piada,
consegue me transformar em um palhaço,
para que todos os valores possam me humilhar.
Detenho as vontades dos meus sentimentos,
minhas ações contradizem o que falo,
as palavras se molharam nas minhas lágrimas.
A rotina me acorda dos sonhos com uma arma na cabeça.
Despertei.
Já não aceito presentes de um futuro que não ira existir,
pertence ao passado qualquer dor que sinto.
Desordem acumulada em minhas vísceras,
não consigo arrumar a bagunça do meu coração,
o pensar se faz hóspede onde mora minha negligência.
Acordado vejo, escuto, bebo
da minha morte cotidiana,
que me faz refém do mesmo sentir.
PRIMEIRA EPÍSTOLA: APOTEOSE AO DESESPERO LÚCIDO
No estandarte da noite bizarra,
corto os pulsos de minha quimera,
com a mesma lâmina que tiro os pelos do meu rosto.
O dia despertou de meus sonhos, somente para bater em minha cara.
Senti a volúpia do seu desespero,
enquanto me perfurava com seus olhos de flechas, tendo fogo em suas pontas,
me fizeste queimar minha última carta de amor,
meu último poema
e meu último repulso.
Remotas gritarias em meu interior,
são silêncios para quem tem esperança,
um surdo compreende melhor o que digo,
do que um versado.
Tenho andando por um deserto, tendo que beber o veneno de minha saliva,
para matar a sede por vingança.
O único direito que possuo, é o de segurar as lágrimas,
para não fertilizar o solo com minha tragédia.
Faca enferrujada gravada em minha garganta,
golpeando lentamente minha respiração,
solto em segundos, a sensação de um animal sendo sacrificado.
O desespero é axiomático até se olhar no espelho,
não há dúvida maior que ele,
quem escuta o grito do meu reflexo do outro do espelho?
Qual dos meus cantos irá quebrar o espelho?
Que vida levo em frente ao espelho?
Maldito vidro quebrado em meus olhos, a dúvida é o axioma absoluto.
Prisão perpétua significa poeta,
no dicionário de dores.
Fui crucificado em uma cruz de papel,
tendo as mãos e os pés presos e perfurados por canetas,
furos que me mostram o outro lado do sofrimento.
Através dos vazios que preenchem minha carcaça,
constato o infortúnio de está vivo.
Arrasto os meus sentimentos, sobre uma tábua com pregos,
está que sustenta o arcabouço do meu caos.
Estou a cada poema, com a língua mais áspera,
o gosto amargo está cada vez mais intenso
e a agonia roubando minha visão.
A noite me deixou viúvo, suicidou-se em meus pesadelos,
deixando-me sem ilusões de adormecer.
A guerra não cessa no meu sono,
há um novo ápice a cada piscada de olhos.
O dia continua bofetando minha cara,
ela já está tão deformada,
que nem minha mágoa me reconhece!
Destino inexorável, impiedoso,
imperfeito.
Nem aspirina supre meus problemas,
pelo contrário, ela os desperta
como feras esfomeadas,
se alimentando de meu descanso.
OUTREM
Observando o local onde moro, percebi que não tenho casa,
não tenho paredes para sustentar meus delírios
não tenho chão para deitar minhas mágoas,
não tenho teto para proteger meus problemas,
o que me resta é a bagunça interna.
Sou um verdadeiro mendigo de sentimentos.
Escondo-me atrás de dívidas, essas que nem minha vida paga,
não há ouro na terra para quitar minhas ilusões,
tenho fugido das ameças de agiotas,
esses que me cobram amor.
Sou um rapaz alto, o suficiente para ser notado por uma legião de ignorantes,
sou também franzino, desnutrido de esperanças,
tenho sobrevivido me alimentando apenas de desejos,
disso não tenho o que reclamar,
sou dono de volúpias fartas, de carnes magras e de boas plantações que não dão frutos.
Realmente, não tenho o que reclamar dos meus desejos por tragédias...
Tenho uma rotina preguiçosa, ao acordar entrelaço meus punhos aos calcanhares,
no café da manhã, a refeição mais importante do dia,
recebo chicotadas de meus atos, preciso me alimentar do remorso de minhas decisões,
pra ter forças para me torturar.
Minha única obrigação, é ser vítima de mim mesmo,
fazer o meu próprio drama, ofício que não reconheço.
Para ser sincero, tenho outras obrigações,
mas fujo delas, para que no fim do dia,
eu possa me arrepender por não realiza-las.
Não tomo banho, a conta de água está atrasada,
não vejo necessidade em paga-la,
para quê água se tenho saliva em minha boca?
Os humanos são muito tolos,
só sabem viver e negam a importância da sobrevivência,
são infelizes com seus falsos amores,
refletindo em mim, suas frustrações excessivas,
depressões e problemas mentais.
Não...Eu não me responsabilizo por suas lágrimas derramadas,
desconheço a culpa de tuas tristezas.
Meu único dono é a noite, sentimento lúgubre sinto por tal momento,
nos lugares mais altos da cidade canto em tua louvação.
Solto de minha garganta, toda aflição e agonia
que sinto por está vivo.
Rasgo o descanso das almas cansadas com minha voz aguda,
timbre que recebi da morte.
Me atiram paus e pedras, por seguir o meu instinto,
tenho que me diminuir para caber em espaços vazios,
não desvio dos arremessos, continuo em sua mira,
e mesmo assim, essas pessoas arrogantes,
insistem em errarem minha existência.
Não há leis que me cabem e nem regras que preciso seguir,
brinco com a minha liberdade antes de engoli-la,
nunca estou satisfeito, tenho fome de novos horizontes,
para eu poder me deitar,
independente de onde esteja o caos.
NECRÓPOLE ECUMÊNICA
Fui ao campo esses dias,
tenho ido para ocupar através da visão,
aquilo que me esvazia.
Ando sobre a grama cor de sangue e com a temperatura de meu inferno emocional,
sem me preocupar com o modo que chegarei ao céu.
Ouvir os pássaros cantando seus prantos,
enquanto vejo as árvores balançarem contra o vento
por teimosia do encanto,
é um eterno espetáculo a ser visto de olhos fechados.
Nesse campo, há flores mortas gritando um último suspiro de vida enfeitando toda a paisagem.
Nas trilhas passeiam famílias,
sempre com as mesmas roupas, mesmos rostos e mesmos sentimentos.
Fui de forma contínua a três dias,
tenho me sentado no mesmo banco,
no mesmo horário, às três horas e trinta e três minutos da madrugada, para ser exato.
Em cada dia, acendi um cigarro e sentou-se ao meu lado três senhoras, cada qual me dando um concelho...
A primeira, vestida de todas suas mágoas e nós olhos talismãs,
chegou como o vento batendo em meus cabelos.
Pediu-me um cigarro e falou:
"Guarda-te em teus olhos o alvorecer que está por vir,
nele ira cantar os pássaros presos em sua garganta.
A tempestade do seu oceano vai cessar, as tribulações se acalmarão no fim de teu choro.
Não és hora de chuva, há uma primavera querendo teu nome,
basta seguir a luz do farol que vem do consciente."
Ela então se calou, acendeu o cigarro com a língua.
No primeiro trago, sumiu com a fumaça,
seguindo a ventania de seu vestido.
A segunda senhora, essa no segundo dia,
estava vestindo as lágrimas de sua culpa, tendo sangue nos lábios como batom.
Chegou como a sombra de um pássaro pairando minha cabeça.
Pediu-me um cigarro e falou:
"Pare de golpear teu coração com o garfo que enche tua boca.
O amor lhe nega, então aceite, já não és tempo de insistir.
Quantas e quantas vezes tu recebeste um não ao convidar alguém para dançar!?
Dança-te no salão de tuas frustrações, tendo como companhia teu reflexo.
Quem te ama, não te entende.
Assim, beije sua solidão e rasgue todos os convites."
Ela então se calou e guardou o cigarro em sua bolsa,
pediu para eu pensar na pessoa em que amo.
E sumiu-se entre minhas ilusões.
A terceira senhora, essa que vestia o desespero e usava como anel sentimentos,
chegou como o calor de um dia sob minha pele.
Pediu-me um cigarro e falou:
"Onde nasce teus delírios, é o mesmo lugar onde jaz tua razão,
então, cultive apenas o que cresce em tua terra.
Não deseje a semente que estraga teu solo,
saiba escolher o fruto.
A colheita farta é aquela que enche teu peito, não a mesa de teu banquete,
todos nós temos fome daquilo que não cresce em nossa plantação.
Desse modo, aprenda a se satisfazer com o que tem em teu quintal."
Ela então se calou e me devolveu o cigarro,
como se não fosse digna de um.
Então, sumiu com a lua quando viu o sol nascer.
Nesse campo que se chama "Cemitério das Almas Perdidas",
encontro o ar de meus pulmões e o sangue de minhas veias.
Passeando calmamente por cada lápide de um ente indesejado,
sinto-me completo de virtudes e conhecimento,
assim, me reconhecendo.
Continuarei indo, com o intuito de abrandar minha existência.
Meu lugar é entre os mortos, aqueles que vivem de sua dor.
DIVINA DIABRURA
Quando a noite deita ao meu lado
Brinca na minha aura um menino travesso,
Órfão de ilusões
Desconhece sua origem
E suas únicas palavras...
São piadas sobre meus sentimentos
Mergulha no vasto vão que guardo a sete bocas
Espiona as Inocências de minhas dores
Tomando banho em minhas lágrimas
Não respeita nenhum tempo exigido
Pelo meu espírito
Age como se não fosse ninguém,
Como se não houvesse vida dentro de si
É tão egoísta quanto seus atos
Não se cansa até ouvir um não
A repressão é bálsamo para suas perversidades
Recusa a própria imagem
E assim espera ser tratado pelos outros
Mas dentro de mim, além do vazio
Existe apenas ele
Sendo a negligência de si próprio
Não o amo, muito menos o odeio
Guardo em mim somente por pena
Apesar de tamanha desordem causada por essa peste
Não sinto incômodo
Ele me ajuda
Ocupa o tempo em que a escuridão domina minha mente
Meu sono a chama para brincar de ciranda
Ele é resultado de uma emoção inexistente
Esse menino sente medo da realidade
Assim, fugindo da noite solitária
Que lhe mostra seu reflexo,
Perdoo sem ele me pedir desculpas
Tenho compaixão por cada ferida que contém em sua alma
Pois, esse menino,
Sou eu
AMORFA
Hoje o papel me perguntou:
— Você novamente? O que queres agora de mim?
Reclamando através de minhas letras
Tendo nojo da tinta com que escrevo
Rasgando-me a mão
Gritando VINGANÇA
Aos meus pecados
O pesadelo bate na minha porta
Senta-se ao meu lado
Acompanha-me no café da tarde
E me conta seus sonhos...
O papel conjuga isso a traição
Sente ciúmes dos meus piores traumas
Humilha-me e me guarda em seus rabiscos
Não tenho escolhas, para que eu coma
Preciso dividir o pão com Satanás
A fumaça do meu cigarro perfura a ferida que contém no meu sangue
Meus sentimentos sofrem diariamente hemorragias
Onde ardem minhas paixões
Amo a mim mesmo... E qualquer dor que há na minha carcaça
Os abutres se deliciarão comendo minhas visões
Quem dera eu comer meus próprios restos
E queimar meus próprios poemas
Sinto o nada
O vazio é a única moradia que recebe meu remorso
Preciso encarar o papel com os mesmos olhos
Que mato o espelho
Devido às calúnias que contei a alma
Se deita comigo o adeus
(DES)NASCIMENTO
Temi a chegada do hoje, e agora ele me encara como se houvesse fome em suas mãos
Deseja tudo que há em mim, para alimentar um sonho que não me pertence
Diante de tantas guerras interpessoais, o ego é o único que vence
Alimentando as enfermidades da alma com míseros grãos
A fera que devora meu interior se soltou, vagando despida de qualquer culpa pela minha liberdade
Golpeia com seus dentes qualquer sentimento existente que movimenta meus campos
Seu único propósito é cortar qualquer veia que me liga aos planos
Me fazendo à qualquer custo vomitar na face da verdade
A muralha que erigi todos esses anos entre o Eu e o Ser desabou
Caiu sobre mim os destroços da minha existência
Mesmo ferido pela própria personalidade, tive que recolher cada peso que esmaga minha consciência
E para erguê-la terei que gastar o tempo que já se esgotou
Infelizmente o hoje chegou, precisarei lhe receber com o sorriso mais falso que contenho por inútil simpatia
Já me sinto cansado apenas de imaginar as consequências dos meus novos comportamentos
Não tenho mais vida, apenas momentos
Que precisarei desfrutar sem temer a agonia
SENTIDOS
No estandarte da noite sem clarão, ouço uma voz que aparece nos meus sonhos
Não a conheço, jamais me desejou um bom dia
Apenas amaldiçoa meus ritos de sonos
Batizando a miséria de minha retina com as lágrimas da agonia
O sol entrelaçando meus pés, tropeçando nos infestos do vale
Se faz feo diante do carniçal
Ao alvorecer digo; MORTE | Ao crepúsculo me fiz males
Desbrioso é o conflito contra a injúria espiritual
A mão de um destino caótico perfura com a língua meu coração
Chove no seco de meus sentimentos, mas não os molham
Se cobre a relva do peito com as causas da destruição
Que comove a mufina dos quais me olham
Adoeci minh'alma diante dos cânticos do inferno
Joguei-me no abismo do meu ego
Procurando o amor que cura meus versos
Aposentando da garganta todos os pregos
OMINOSO
Hoje me fiz refém do ontem e exitem olhos fechados olhando meu corpo nu sobre a cama
Sinto por dentro a morte com um gosto familiar jamais provado
Nefando mais uma vez, importuno a solidão que tanto me difama
A execração da alma é o início de um novo passado
O dia dorme em meus sonhos, vagando pelo meu vazio, implorando um prato de comida
A miséria agoniza uma dor que pertence a mim, dizendo que tem empatia por meus pêsames
Pretendia acreditar que isso é um aviso, mas tenho recebido sinais mais fortes da vida
Agora observo meus passos tropeçando em meus pés, implorando para que o caos beija-me
A felicidade é uma visita ilustre, insensata e principalmente...Indesejada
Não quero que venha a mim o que não é de mim
Soltei minhas veias de meus braços, dando a liberdade que sempre quis ter ao sangue em uma facada
Devolvo na mesma face à angústia demolindo o ruim
Novamente estou perdido, não por falta de caminhos, mas por desânimo de continuar andando sobre minhas lágrimas
Há um peso no toque dos sentimentos que carrego
Minhas vontades não suprem a necessidade de dá migalhas para as lástimas
Alimentando apenas as piores partes do ego
CISMA
Minhas letras são livres enquanto as palavras morrem presa em sua liberdade
E junto ao verbo, a ação contradiz o ato
Não conheço o sabor do inteiro, apenas o desconhecimento da metade
Crio atalhos para percorrer mais rápido, as entrelinhas do passado
A única justificativa para o esquecimento, é o repúdio das memórias não vividas
O ganho de uma guerra causa desglória aos mortos estando em vida
Antes de qualquer perca, janta em minha mesa
O ciúme e comemos juntos as vontades da ironia
Sou testemunha do divórcio do meu sentir com o meu pensar
Porém, não consigo carregar o peso de tal tragédia
No contrato, um ficou com a humilhação e o outro com a índole de não falar
Entre as benévolas da maldade, não há quem faça ter-me com a paz trégua
A matéria implanta no espírito o que não pode ser contido no corpo
Assim não posso negar as razões cordiais do tormento
Quando se envelhece um desejo, matamos os motivos para ter um novo
Pois, breve são as desvantagens do triunfo de um momento
REVÉS
Minha existência é a maior opressão de minha vida
Vem de mim o caos que rodeia meu ser
Cobro do espírito uma dívida que eu jamais pagaria
Compreendo que não sei entender
A prefação da carne é o proêmio do declínio pessoal
Além de todo holocausto do provérbio não dito
O sôfrego do sentir reflete a resolução do mal
Fazendo o ábdito contradizer o mito
Pêsames são cânticos para a minha cognição
Tenho como castigo suportar o peso do tino
Jamais senti o gosto da retidão
Muito menos li as linhas do meu maldito destino
Diante de tantos infortúnios, meu coração é lânguido
Manifestando o feitio da desventura
Vejo que tal descrença não merece as risadas do espanto
Então fiz uma rebelião contra minhas próprias torturas
FESTIM
Suspiro a fantasia do perfeito
Engasgo-me com as migalhas de axioma que recebo
Exalo utopias vastas, deixadas pelo meu encerramento
Grandiosa é a clausura que envolve meu padecimento
Tenho segredos que escondo até de mim
Verdades que guardo entre as endrôminas da alma
Não respeito minhas cláusulas
Janta comigo as mágoas, e o meu fim
Engulo o que nem deveria mastigar
Me dão de beber minhas próprias razões
Limpo o prato que como com meu cuspe
Preparo meu alimento com os espantos das ilusões
Há de eu vomitar o que não contém em meu exterior
Não suporto mais o que não me cabe
Estou cheio de lástimas e vazio de rancor
Salvo qualquer amparo antes que o Eu me mate
Importuno minha fome a temperando com o feo de minha mente
Não com o fel de minha existência
Existem diversas diferenças,
Que degusto sem sentir o prazer deprimente
RE/SINTO
Quando vi que mundo estava perdido
Encontrei em meus malogros um motivo
Para continuar desistindo de mim
E outro para avançar ao desespero
Se não fosse a minha loucura eu já teria enlouquecido
Depois que escrevi um brado de socorro a Deus
Tornei-me responsável pela sua depressão
Quanto mais grito, percebo o silêncio que faço em meus versos
Em comunhão com a solidão, vejo que meu tormento é polivalente
Penumbre são minhas decisões
Que me acedem e apagam o desejo da morte
Desperto e adormeço no mesmo pesadelo
O sonho se tornou meu inimigo
Não existe tristeza mais triste do que eu
Preencho-me com vazios e doses de veneno
Que bebo enquanto beijo meus pecados
Embriago minha mente com as mentiras que não acredito
Nada sai como planejo, pois desisto antes mesmo de pensar
Meu único erro é ser eu
Fracasso diariamente tentando me enganar
Não sei nem o que escrevo, não sei quem sou
Mas tenho certeza que morto estou
ANACORETA
Cometi a mim mesmo o maior pecado criado por uma imaginação
Vendo o dinamismo da ilusão,
Suicidei qualquer esperança de mim completar
Não há quem me diga uma mentira em que eu já não tenha me tornado
Cego pelo escuro do passado, o devaneio de um futuro próspero
É o maior medo que tenho
Sozinho fiz o que ninguém faria ao meu ego (o Eu)
Além de tudo, consegui cair sem desejo de levantar
Devido ao meu corpo presente enquanto minha alma ausente
Percebi a mândria do meu ruminar
Sem o vazio não sobraria nada de minha existência
Negando minha aparência, sou o reflexo do ermo
Pensando bem... Sem a solidão eu não seria o mesmo
CONTUSÃO
Sacrifico o corpo valente com a força que o medo me dá
Com pusilanimidade consigo ver, as vantagens de perder
Ele me faz gritar um silêncio que se espalha na imensidão do vazio
Com os traumas, curo as feridas que não feri
Chagas que nunca existiram
Mas sempre que nasço, sangram
Eu poderia deixar de viver...Morrer
Por um motivo menor que minha vida
Todavia com toda ânsia, a angústia é maior que a crueldade do meu existir
Além do que vejo
Meus olhos fecho, a cada visão
Escondo-me da realidade que não estou
Mudo é meu coração
Que escuta o que não digo a mente
Sendo frequente, a queda do que me equilibrou
DESVENDAR
Andei de olhos abertos por vales vazios
Neles vi o que não devia
E quando os olhos fechei
Divisei os traumas de meu caminho
A cada passo é um novo motivo para desistir
Continuei sem o direito de ir
A um metro de retroceder ao avanço
Recorri ao último falhanço
A causa do meu cair
Antes que me levantasse, olhei tudo ao meu redor
E quando me levantei, o caminho já estava cheio
Repleto de motivos para prosseguir
E eu não o segui
Troquei de estrada
Mudei a velocidade
Vaguei pelo nada
Guardei por medo minha mentalidade
Revendo velhas dores, me senti hodierno
Fiz das lágrimas adubo para o terreno
E de tanto pensar, cai novamente
Vi o sentimento latente
Que de tanto lembrar, esqueço
Nessa viagem, não me falta receios
Falta coragem
E nessa passagem
Termino sem início e fim
Apenas com meios
SACRIFÍCIO
Peço a quem não tem coração
Que não fale, nem cante
Apenas escute o que não tenho a dizer
Estou de luto, mataram-me
Hauriram minhas ilusões
Sorviram minhas surpresas
Como se estivessem bebendo meus delírios com gelo de razão
Tiraram de minha boca a deliciosa quimera
Que preparei usando minhas mágoas
Tendo como resultado de tal imolação,
A miséria iludente incarna o gosto do aziúme
Degustando assim, a índole de infesto
Tenho fome do que não existe
Sede do que não há de ser
Peço que temperem meu corpo com o fel da mentira
Fazendo da minha carne, comida para os cachorros da rua
Mas que nunca comam ela crua
Envolvido pela envolta carnal
Fiz do conflito com o espírito
A maior justiça falsificada com tinta da cor do delírio
Aos muitos e os poucos que me seguem, digo-lhes que é inútil:
Qualquer briga
Qualquer guerra
Qualquer luto movido pela morte da tolerância
Afinal, isso não é um direito, é apenas uma tolerância
E assim, dei continuidade ao sofrer
Até mesmo o fato de sermos uma mentira válida, contradiz a maior certeza que temos,
A que estamos mortos, e que um dia todos nós viveremos a verdade
O Eu é a incógnita do existir em vida plácida
Não existe bonança com a presença do que não somos
O pseudo que aplicamos em nossas vontades, é tão vergonhoso quanto nosso sangue
Seguimos uma linha de raciocínio multi paralelo, que nós faz duvidar até de si mesmo
Fazendo assim, a maior burrice a busca pelo autoconhecimento