Coleção pessoal de FernandoArataque
A felicidade surge para aqueles que choram. Lutar por aquilo que ama é fundamental; saber perder é nobre. Aceitar a derrota e partir para outra batalha é, muitas vezes, a única opção.
Há aquela velha e boa fábula que conta a história do menino que sempre alarmava um falso ataque do lobo às brancas indefesas ovelhas. O Pastor, prestativo e atento, sempre acreditava nos falsos avisos do garoto. Quase sempre, um dia o Pastor se cansou. Justamente no dia em que o ataque era verdadeiro. O menino desesperado gritava pela ajuda do Pastor enquanto as ovelhas eram mortas.
Outra versão da fábula, mas com o mesmo efeito moralizante, é a do beija-flor que sempre dava enganosos alertas de incêndio na floresta. A inconsequente ave divertia-se ao ver toda a fauna mobilizar-se a fim apagar o que nunca existiu. Até que um certo dia... todos sabemos o que aconteceu.
Transpondo a fábula à realidade, apesar de não ser o garoto ou o beija-flor, por muito tempo emiti falsos sinais. Distribuí indícios e promessas de algo grandioso. Expressei, amiúde, (com uma dissimulação de fazer inveja a Capitu) sentimentos de bem-querer. Manifestei e fiz transparecer um amor sem começo nem fim.
Tal como o beija-flor ou o garoto, talvez tenha agido com o intuito de suprimir a pungente pequenez a que estava fadado. Fomos, eu e meus personagens, por muito tempo o centro das atenções. Nos divertíamos às custas da credulidade alheia. Crédulos que, por inocência ou ignorância, sempre guardavam na memória lembranças daquilo que, de fato, nunca existiu. Exceto em sonhos.
Hoje, por ironia do destino, minha história vai terminando como a de meus caros companheiros, o garoto e o beija-flor. Somos iguais em descrédito e desgraça. Hodiernamente, por mais sinceras e eloquentes sejam nossas palavras, ninguém mais dá ouvidos a elas. Eu não matei nenhuma ovelha. Quero, assim como o Pastor, cuidar do meu rebanho de um só exemplar. O que, no entanto e infelizmente, é impossível. Transformei-me no Lobo da história.
Eu tampouco quero apagar essa chama que sempre fantasiei ter, mas que só agora a conheço verdadeiramente. [Almejos sem meios. (Sonhos vãos). Não voltam.] O beija-flor que sempre fui, apesar de ter experimentado tantas rosas, apaixonou-se por uma flor intocável. Delicada demais para um lobo; grande demais para um pequeno e dissimulado beija-flor.
E o final dessa história... eu quero mudá-lo.
Nem todas as flores têm a mesma sorte: umas nascem para enfeitar a vida; outras, a morte.
É triste habitar em vários corações, mas ter o próprio vazio. É angustiante ver aquela placa de "doa-se um coração" enferrujada pelo tempo. Ninguém gosta de morar em áreas inseguras. Um dia o beija-flor se cansa e, por ironia do destino, apesar de ter conhecido tantas flores, morre solitário entre espinhos.
O grande amor da nossa vida não passou de paixão. Murchou como as rosas que simbolizaram um dia o amor de duas almas que por um tempo se completaram. Não dificilmente restaram somente alguns espinhos... aparados com o tempo.
Não aponte o dedo, estenda a mão!
Apontar o dedo, julgar as ações alheias é fácil, condenar, mais ainda. Buscar entender as circunstâncias e o contexto como um todo, no entanto, requer dedicação, esforço e paciência. E, cá entre nós, quase ninguém se preocupa com os outros no sentido de somar. Pelo contrário, muitos utilizam a desgraça alheia como uma forma de subtrair a própria. Por isso não é tão custoso sair apontando os desacertos dos outros. Todavia, poucos são os que se importam de fato e procuram ajudar, estender a mão.A estes, muito obrigado; àqueles, que Deus lhes dê tudo em dobro!
As coisas acontecem quando tem de acontecer, na hora exata. Não adianta desistir na primeira dificuldade, tampouco insistir em algo que se sabe ser impossível sua realização. Talvez melhor a se fazer, é nada fazer. Isso mesmo. Deixar que as coisas fluam naturalmente. Arriscar na hora certa e recuar quando preciso. Como saber quando fazer cada coisa? Nunca se sabe, os livros não ensinam. É algo que aos poucos vai se aprendendo, mas nunca tem fim.
Apesar da discreta tristeza, há explicitamente calado um sonho que suplica por voz. Um projeto de vida que é diariamente construído, hora a hora alimentado. Uma causa nobre é o que dá forças a essa tão distinta mulher. Ela é decidida, persistente, dura na queda. Ela, incrivelmente, consegue ser ao mesmo tempo séria e engraçada. Onde chega é o centro das atenções, não só e simplesmente devido à beleza; sobretudo destaca-se seu caráter, seu jeito de ser mulher. Seus discursos optativos são sinceros, os abraços são verdadeiros e as intenções sempre as melhores.