O destino é uma linha recta
Que se vai divertindo no caminho
Fazendo meandros no rio
O destino é um fruto incerto
Sobre uma árvore na madrugada
Esperando os sortilégios do sol
O tempo é uma sombra fugidia
Passando em geometria
No girassol dos olhos
No filão das palavras
Os garimpeiros são os poetas
Escravos da sua liberdade
Seguindo um rumo à deriva
Só depois de pisado
Se saberá se o chão é firme
As rugas profundas da pele
São os vales dos rios
Que nos levaram para a foz
A idade é a arte
De respirar o chão tangível
E os ecos do seu sopro
O homem inventou as letras
E estas retribuíram
Inventando o Homem
Porque é mais leve
Que as folhas das árvores
O corpo do poeta é levado no vento
O poeta é um mágico
Capaz de transformar palavras
Em candeias de luz na noite
A poesia não é o final do atalho
É o próprio caminho
E o seu odor silvestre
As rosas são belas
Até ao momento em que os acúleos
Nos rasgam a pele
Vencer é resistir à vertigem
No equilíbrio vertical
Que contraria as leis da gravidade
Os espelhos quebrados
Desfocam o mundo
Contando a vida em fascículos
O dente do siso
E o sexto sentido
So se revelam com a idade
Quando quebramos os espelhos
Passamos a ser vidro
Em fragmentos de nós
Semelhante à terra arável
O corpo desfaz-se
Restando a verdade do chão
Moldo na lama argilosa
As mãos do adeus
Que endurecerá em barro
Subi sem asas
Ao alto da torre
E agora apetece voar
O amor é um jogo de xadrez
Nos olhos feitos de vento
Inventando a primavera